quarta-feira, 30 de maio de 2007

E não é que Murphy tinha razão!

Quem via Walter e Letícia, percebia neles um casal perfeito. E de fato
eram mesmo, um completava o outro. Eram unha e carne, sempre estavam
juntos e quando não estavam a galera perguntava onde o outro estava.
Namoraram por três anos e não demorou muito casaram. Algum tempo depois
do casamento veio a pequena Aline, o orgulho e mais uma das razões da
união inabalável do casal.
Aline era a alegria da casa. Os três formavam uma daquelas famílias de
comercial de margarina. A mãe linda cuidando da filhinha e o maridão boa
pinta chega em casa a garotina corre em direção a ele, isso tudo sob o
olhar atento da mamãe orgulhosa. Tudo é uma beleza, um mundo perfeito.
Walter trabalha em uma seguradora, ele e mais um sócio, também investe
na bolsa. Letícia é artista plástica e faz seus trabalhos em casa, mas
costuma fazer exposições na galeria de uma amiga da faculdade. Ele tem
uma agenda complicada, mas nunca abre mão de ficar com a mulher e sua
filha. Sempre arruma tempo para um passeio no parque ou uma visita na
casa da sogra e de sua mãe.
Com o tempo a relação deles estava em crise. O ciúme de Walter e a
instabilidade do mercado financeiro começou a afetar as coisas em casa.
Depois de meses de discussão, Letícia pede o divórcio e Walter não
aceita, quer tentar de novo. Ele ainda acredita nos três juntos
novamente, sempre diz que eles devem tentar juntos e que mudaria para
não ficar longe da filha.
Mas na segunda vez que Letícia propõe a separação ele aceita, mesmo
apaixonado por ela não quis ver a filha crescendo num lar cheio de
brigas. Letícia ficou muito mal após a separação e precisou de ajuda da
irmã, Cláudia, por um tempo. Walter foi morar em um apartamento no
centro da cidade perto do trabalho, não demorou muito a crise familiar
fez com que ele não agüentasse a barra e dois anos depois a sociedade
foi desfeita.
Seis meses depois ele teve que procurar emprego, batalhou bastante mas
pouca coisa aparecia para ele. Até que certo dia recebeu uma ligação,
era para uma entrevista de emprego. Walter foi muito bem e conseguiu o
emprego, tinha tudo para recomeçar. Ele estava realmente empolgado com o
novo emprego. As coisas pareciam que voltavam a dar certo, era véspera
de feriado e ele foi para a casa da Letícia, pois ia passar o final de
semana com a sua filha.
Chegando lá encontrou Letícia com um cara que aparentemente se arrumava
para sair. Um nó na garganta e uns três segundo que não tinham fim,
sensação de impotência e um sentimento de perca. Meio sem jeito ele
pergunta "quem é esse cara? O que ele está fazendo aqui? Onde está a
Aline?" disse Walter aos berros.
O clima ficou tenso e Walter perdeu a noção, suas atitudes mostravam que
ele não tinha superado nem um pouco a separação. O ex-casal começou a
discutir, quando Marcos (o outro cara) quis dizer alguma coisa, os dois
juntos mandaram ele calar a boca. A discussão ficou feia e os vizinhos
chamaram a polícia. Walter foi levado e na delegacia teve que assinar um
termo de compromisso para não causar mais tumultos na casa da Letícia.
Ele perdeu a oportunidade de passar o final de semana com sua filha, em
casa tenta se acalmar pois na segunda começa no novo emprego. Passou o
sábado e o domingo em frente a tv, não atendeu o telefone, não comeu
direito até na segunda de manhã. Na segunda levantou cedo, tomou banho,
fez a barba e foi conhecer o novo emprego. Quando entrou na sua nova
sala, viu na mesa do lado uma foto da sua ex-mulher, da sua filha e do
cara que estava na casa da Letícia.

Fim

/*Qualquer semelhança com o clipe do Keane, é verdade/

terça-feira, 29 de maio de 2007

Carta ao amigo francês

Caro Pierre,
Lamento muito sua decisão de não vir mais morar no Brasil. Fiquei até desapontado quando sua mãe me contou da cara de susto que você fez ao ler o noticiário daqui. Logo você, um rapaz tão esclarecido, tão lúcido. Pois saiba que tudo o que você leu é mentira, tudo invenção da mídia.
Todos esses escândalos, maracutaias, balas perdidas e afins são pura ficção, são simplesmente história da carochinha para entreter o povo. No Brasil as coisas funcionam tão perfeitamente que é preciso inventar problemas para quebrar a monotonia. A gente cria essas parábolas para ter o que discutir no bar, depois do expediente.
Aposto que aquele seu jornal preferido, o Le Monde, noticiou há algumas semanas que um grupo de franceses foi assaltado logo que chegou no Rio de Janeiro, certo? É mentira, Pierre. Eles apenas participaram de uma pegadinha. O problema é que não esperaram até o momento dos atores anunciarem, rindo, a piada para as câmeras de TV.
Isso é tradição no Brasil: os turistas chegam, são abordados por uma equipe de profissionais armados e ouvem que estão sendo assaltados – e olha que isso é tão comum que as emissoras, acredite, travam uma verdadeira "guerra" para ver quem chega primeiro aos visitantes. Infelizmente eles ficam assustados e entregam tudo o que têm aos atores. Depois correm de volta ao seus países sem nem conversar com o apresentador do programa.
Se apenas um destes estrangeiros voltasse, qualquer dia que fosse, viraria celebridade instantânea por aqui. Daria centenas de entrevistas, participaria de almoços beneficentes, festas badaladas, jogaria futebol com os artistas e até mesmo namoraria com algum famoso. Se fosse bonito, então, teria grandes chances de ganhar um bom dinheiro posando nu. Sem falar na tarde de autógrafos que viria depois, com certeza super concorrida.
É uma pena que vocês, estrangeiros, não entendam a cultura do Brasil. Somos um povo criativo por natureza. Basta ver o título das nossas mais recentes histórias: Sanguessugas, Vampiros, Mensalão, Condor, Tridente. Outro dia até saiu uma em língua estrangeira, matéria de exportação mesmo. O título foi Huricane.
Enfim, espero que com isso você reveja seus conceitos sobre meu país e reconsidere sua mudança para cá. Eu até poderia citar outros exemplos da nossa criatividade, só não o faço por falta de espaço e, principalmente, de tempo – afinal estou atrasadíssimo para conferir a gravação de mais uma de nossas historinhas, que dessa vez estão chamando de "Operação Navalha".
Um abraço, Maycon.
P.S.: Se você decidir vir, não se esqueça da pegadinha. É só entrar no jogo dos atores que tudo acabará bem.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Em Curitiba, mínima de 2ºC

O frio... ah o frio! Conforme planejado, ele chegou. Com certo atraso, claro, mas chegou. Bem como prometeram as moças do tempo. Houve até quem dissesse que ele nunca mais fosse aparecer, por causa do derretimento dos pólos. Mas ele veio, ele está aí. O frio é infalível. O frio é implacável. Implacável e inexplicável.
Hoje olho pela janela exatamente como fazia há dois meses, quando ainda era verão. A janela ainda é a mesma, o céu mantém o mesmo azul daquele tempo, os infinitos carros da Visconde de Guarapuava continuam refletindo todo o sol do mundo bem no meio do meu rosto, a imensa bola de fogo se mantém imponente por sobre nossas cabeças... Só que, mesmo assim, mesmo com tudo isso de verão, está frio. Está frio, caramba! Como pode?
É estranho acordar, olhar pela janela e não ver nada além de neblina sobre o rio Barigüi. Mais estranho ainda é saber que, justamente por isso, virá um belo dia de sol pela frente. Estranho pra acabar é ter certeza de que esse sol não vai servir para nada! Aí tomo um banho – pelando, claro –, visto as duas meias, uma ceroula, a calça, o sapato, uma camiseta, uma blusa de lã, outra blusa de lã e, por fim, mas não menos importante, uma jaqueta, uma bela duma jaqueta. Eis, então, que entram os primeiros raios de sol pela janela. Só que continua frio, muito frio.
Mas o inverno tem seu lado bom. Tudo tem um lado bom. Tudo tem que ter um lado bom. Até o frio. Ora, afinal dá um gosto danado ver os trajes de inverno das pessoas saindo do armário. São tão mais chiques, tão mais elaborados, tão mais elegantes. As mulheres, então, ficam deveras mais apaixonantes – se é que isso é possível. Claro: uma que é magra – muito magra – fica idêntica àquela que tem, digamos, algo mais nas laterais do abdome, exatamente pelo excesso de pano por sobre os corpos. No fim, o fato é que nós, homens, ganhamos mais opções com quem sair e tomar um vinho.

Agora agüenta, cagalhão
Com a iminente chegada desse maldito equinócio de inverno, voltam a minha cabeça aqueles terríveis pesadelos com o sofrimento que passo desde minha primeira vez, em julho 88. Sonho com aqueles pavorosos dias em que acordo as seis da manhã e preciso tomar banho. O desgraçado do chuveiro não esquenta de jeito nenhum, e ainda insiste em manter a água em frios, gelados, polares, glaciais 60ºC. E meus dentes lá, tremulando incessantemente, quase que na mesma frequência dos joelhos. É nesses dias eu torço pra que chegue logo o tão anunciado aquecimento global. Nem que seja só aqui em Curitiba. Nem que seja só na minha casa, durante o inverno e na hora do banho matinal.
Tem horas que nem luva de couro serve. Nesses dias você apela pra uma meia de lã – ok, duas meias de lã –, saco plástico e bota de couro mas mesmo assim o pé fica que nem um picolé. Sai de casa se achando ridículo por estar usando quatro blusas e um jaquetão. No fim das contas, se sente mais ridículo ainda exatamente por sair apenas com um jaquetão enquanto todo mundo está usando jaquetão e sobretudo.
Arre! Quero meu calor de volta! Preciso do verão! Às favas as roupas chiques; às favas as mulheres elegantes e a conseqüente inflação no mercado de companhias; às favas o quentão, a touca de poliéster e os edredões de paina. O inverno não tem lado bom! Não comprei três bermudas no fim do mês passado para deixá-las encostadas até setembro no meu guarda-roupas. Frio só serve em geladeira, frigorífico e peixaria. Quiçá o frio serve para São Joaquim e, convenhamos, só para os curiosos que querem ver neve. Saco.
Enfim, o frio chegou e agora agüenta coração. Vão ser uns longos e tenebrosos três meses de sofrimento. E vamos às comprar: luvas, gorros e cachecóis serão bem vindos, porque os piores dias ainda estão por vir. Sem falar que já estamos quase em junho, ou seja, faltam poucas semanas para o início oficial do inverno, que é quando o bicho pega de verdade. Só quero ver como a Skol e a campanha do "ah, o verão" vão se safar dessa.

Porpeta

Pra onde você foi? Pra onde você vai? Me mantenha informado, por favor. Quero estar nos mesmos lugares que você, mesmo que sozinho. Quero ficar te olhando, escondido, analisando todas as ações.
Quero ser enganado. Deitar na cama à noite satisfeito por ter passado o dia ao seu lado, mesmo que sozinho. Quero olhar o anel que você escolhe e pensar que fui eu quem deu. Quero te ver saindo do cinema toda sorridente para poder pensar que a piada foi minha.
A maior expressão da angústia pode ser a depressão, algo que você pressente. Mas não, essa noite não. Essa noite vou dormir ao seu lado, mesmo que sozinho. Vou acordar, olhar para o lado e ver seu rosto. Você ali, ao meu lado, deitada, sonhando.
Basta uma ligação, um telefonema, e a ilusão.. bem.. valerá, tenha certeza, pra toda vida.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Casal Perfeito

Ela, moça morena de 30 anos, estatura mediana, excelente saúde, emprego estável, função desejada, família unida, varias amigas e, ao que se sabe, nunca teve um ataque histérico. Menstrua impreterivelmente a cada 28 dias, sem cólicas ou TPM. Nunca bateu o carro ou reprovou na escola. Lê pelo menos um livro por semana e joga boliche todas as quintas-feiras com as colegas que se formou na faculdade. Quando procurava uma empregada para ajudá-la nos afazeres domésticos – já que faz questão de fazer a comida e arrumar as camas – encontrou uma velhinha viúva, sem filhos, super simpática e de extrema confiança. Acabou contratando-a para ser governanta da casa e são melhores amigas. Mariana e o marido planejam ter o primeiro filho em dois ou três anos.
Ele é um rapaz de 33 anos, formado, pós-graduado, mestre e doutorando. Com muito senso de humor e sinceridade. É honesto até no truco que joga depois do futebol, sagrado, de todo domingo com o pessoal da firma. Não bebe, não fuma, não joga valendo dinheiro e nunca chegou em casa depois das 20h sem avisar. Joga xadrez contra o pai uma vez por mês. Um fim-de-semana por ano segue em viagem com o irmão – padre – em visitas de cunho social. Pratica natação três vezes por semana, além do futebol, e só come alimentos orgânicos. Seu corpo é perfeito e a saúde, exemplar. Nunca traiu, nunca se atrasou no trabalho e nunca quebrou o braço. Saraiva e a esposa planejam ter o primeiro filho em dois ou três anos.
Enfim, eles não têm qualquer história para contar.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Alô Negócios

O papel da imprensa, pelo menos no Brasil, nunca foi bem definido. Ou definitivo, sei lá. Bem, não há um consenso sobre a nossa mídia. Não sabe se é, de fato, uma formadora de opinião ou apenas um veículo de transmissão de informação. Ou até mesmo um grande show.
Falando especificamente do jornal impresso, é triste ler estatísticas sobre a quantidade de leitores do país. São tão poucos que nem dá vontade de escrever.
Aí lançaram os jornais populares, a preços ditos "irrisórios". Ou custam cerca de um real – que no mês dá R$ 30,00, ou seja, quase 8% de um salário mínimo – ou são distribuídos de graça – e só têm matérias de assessoria de imprensa (leia-se propaganda).
Considerando que o "pobre" do Brasil ganhe esse salário mínimo há pouco citado (o que, convenhamos, não é verdade), significa que infelizmente não será nem em curto nem em médio prazo que teremos uma leva de leitores assíduos nesse país tropical.
Eu leio jornais. Esse é meu trabalho – ou pelo menos uma parte dele. Eu fuço tablóides inteiros até achar alguma notícia sobre certa pessoa. É chato, mas ao mesmo tempo gratificante. Assim, pelo menos, tenho a chance de sempre estar informado.

Mas esse intróito todo foi apenas para comentar um lance. Queria chegar nesse ponto que estamos agora, só que sem deixar de fazer uma contextualização. O que pretendo é lhes fazer uma grande análise de discurso.
Cá estou eu, 8h da manhã, sentado e com um jornal na mão. Alô Negócios é o nome. E não estou no banheiro.
Alê Negócios não é bem um jornal. Tem formato de jornal, papel jornal, textura de jornal, preço de jornal, periodicidade de jornal, mas não é um jornal. Tem editor-chefe, gerente de publicidade, diagramador, assistente de fotolito, departamento comercial, mas não é um jornal. Tem até editorial, mas... Bah!
Alô Negócios é um caderno de propagandas. Há 17 anos que é assim. É um Mercado Livre das antigas. Ali você compra e vende de tudo. De tudo mesmo. De filhote de schnauzer até apartamento duplex em Blumenau.
Mas vamos à análise.

Como dizia, estou eu com um exemplar na mão. Mais exatamente o de "22 a 24" de maio e 2007. De número, impressionante, 1645. Custa R$ 2,30, mas para o meu trabalho vem de graça. Enfim, o que quero apresentar-lhes é a capa. De brilhante diagramação, diga-se.
Tá, é mentira. Na verdade ela é muito engraçada. Não sei nem por onde começar.
Com grande destaque, tem um anúncio em verde, sob o título, escrito, pasmem, "Porque você ainda é careca ?"
Bem... Eu fui gentil com vocês. Na verdade isso está tudo escrito em caixa alta e o "careca", especialmente, está em negrito, itálico AND sublinhado.
Abaixo desse simplório título, uma apresentação, bem ao estilo Organizações Tabajara: "Chegou a revolucionária Loção Capilar Esperança (sic)". Claro que em letras bem mais, vejamos, chamativas.
[Nota do autor: aos que não sabem, (sic) é um advérbio em latim que quer dizer "assim". É usado entre parênteses depois de qualquer palavra ou frase que contenha um erro gramatical ou um dito absurdo que o redator quer deixar claro que não é dele, mas da pessoa que falou ou escreveu aquilo. Em resumo: ao colocar o (sic), você mostra ao leitor que é assim mesmo que estava no original, por mais errado ou estranho que pareça. Enfim, quer dizer "acredite-se-quiser!!!" em latim.]
[Nota do autor, número 2: Como tudo, eu disse TUDO, nessa capa é, pelo menos, absurdo – e quero deixar claro que nada é de minha autoria, mas do piadista que criou –, doravante subentende-se que em tudo entre aspas estará seguido de (sic), fechado?]
[Nota do autor, número 3, e última, espero: doravante é como se fosse "daqui em diante".]
"Agora chegou o condicionador Esperança, assim você pode por fim em sua calvície. De duas a três semanas você começa a ver os resultados". Desse jeito, assim, absurdo.
Acredite.

Depois vem um quadro de uma revendedora de veículos usados. Desse aí é inacreditável ver a chamada para o "Ford Ka Image Completo (-) ar". O que quer dizer isso? Um carro "completo" MENOS o ar? Você compra um carro completo e ele vem com (-) o ar? Menos? Ave Maria...
Em compensação tem o "Palio EX 00 cinza completo – ar + rodas". MENOS ar, MAIS roda. Sei lá. Você dirige no vácuo, mas pelo menos com cinco ou seis rodas.
Seguimos com o "Quer vender seu instrumento usado? Pagamos à vista, no ato!!!". Pois é, assim mesmo, com três exclamações. Eu li mais ou menos assim: "pelamordedeus venha nos vender seu instrumento!!!".

Depois tem um anúncio que deve ser o melhor negócio do mercado. Segue completo (é uma pena que não dê para colocar na forma com que está escrito. Ia ser muito mais engraçado): "Dinheiro!!! Faça dinheiro financiando até 100% do seu próprio carro ou de 3º. Mesmo com Dívida, com a melhor taxa do mercado em até 60X. Compramos veículos nacionais acima de 98! NÃO FAÇA SEU NEGÓCIO ANTES DE NOS CONSULTAR!"
Acho que dispensa comentários... Pena que eu não resisto!
Faça dinheiro financiando seu próprio carro? Se o carro é meu, vou financiar como? Só se for vendendo para alguém. Vender em financiamento significa parcelar. Seria isso um investimento a longo prazo?
E o carro de 3º? Seria carro de "terceiros" (que, penso eu, seria daquela tia velha ou do cunhado mala), carro de "terceiro dono" ou carro de "terceira mão"? Mistério.
"Mesmo com Dívida". Assim mesmo, Dívida com letra maiúscula. Deve ser uma bela duma dívida. Resta saber se é Dívida de quem vende o carro ou da "CdAutomóveis", que é o nome da loja.
Por fim, "NÃO FAÇA SEU NEGÓCIO ANTES DE NOS CONSULTAR". Antes de ir ao banheiro, levante a mão e peça autorização para a professora.

De mais, digamos, simples, tem o anúncio do "RR Cartuchos". Repare bem nesse nome, daqui a pouco ele vai levantar questões pertinentes.
No anúncio está escrito "RR Cartuchos! Mp3 1GB Foston R$ 90,00; Mp4 1GB Foston R$ 135,00; Mp5 1GB Foston R$ 370,00".
Pelo amor dos meus filhinhos! (sic), (sic), (sic) nisso aí!
O "RR Cartuchos" vende Mp3, Mp4 e Mp5. Cadê os cartuchos? Quero tinta para minha impressora, têm? "Não, mas temos belos mp3's"... Dio Santo!
E olha que no meu tempo mp3 era uma simples extensão de arquivo de Windows.
Bem, pelo menos a entrega é gratuita.

Por último, mas não menos importante – aliás, o mais importante; o mais engraçado; o que me fez querer compartilhar esse momento com o mundo; o que está me fazendo rir há mais ou menos 10 minutos – o da CASTRAÇÃO.
(sic) dobrado nesse aí, por favor.
Assim mesmo: "CASTRAÇÃO de pequenos animais". Precisam ver a diagramação. O "pequenos animais" é bem pequeno mesmo. E tem uma foto de um cachorrinho, daqueles pintcher eu acho, com um óculos de grau. Muito engraçado! Tudo a ver com castração.
Eu adoro esses publicitários em começo de carreira.
E o texto do anúncio: "Clínica Veterinária especializada em cirurgias de castração de machos e fêmeas pela técnica do 'Gancho' (menor corte, menos sofrimento)".
A técnica do "Gancho" . Sem mais.

Bem, o que mais esperar, né? Estamos falando do Alô Negócios, "onde a boa oferta é a melhor notícia".
Com esse slogan, afinal de contas é um jornal.
E eles também fazem sua propaganda: "3360-3333 ANUNCIE GRÁTIS", e embaixo, bem pequenininho, eu disse BEM pequenininho, escrito "obs: mediante consulta".
Isso é melhor que o livro de piadas do Ari Toledo.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Quem é esse cara?

- Dae cara!
- E ai beleza?
- Tranqüilo e você?
- Na boa.
- Então, o que anda fazendo da vida?
- Vixi... um monte de coisa. E você?
- Estou trabalhando com meu pai, jogo bola nas quartas e sábados. Nada
de mais.
- Bacana.
- E você, que monte de coisa você faz?
- Po cara, consegui um trampo numa revista de colecionadores de selo,
tiro umas fotos para um site e também tenho um trampo a noite.
- Caraca, ta ralando mesmo.
- Pois é.
- E ai namorando?
- To com a Gi.
- Gi???
- É a Gi, você não lembra.
- Não.
- Não?
- É, não.
- Como não?
- Não ué!
- Pérai, você não é o Maurício?
- Não, coé Bruno. Ta maluco?
- Bruno? Eu sou o Lucas. Quem é você
- Meu nome é Alex.
- Caraca que vacilo!(risos)
- Poutz! Vacilo duplo.(risos)
- Então falo cara.
- Só, falo meu!

Fim

A artes de Maciel

Não raro, Maciel levava bronca da mãe:
- Maciel, meu filho. Porque você continua fazendo essas coisas, menino? Mamãe já não te disse pra parar? Venha! Deite aqui que agora você vai levar umas belas dumas palmadas.
Mas mesmo depois das surras, o rapaz não mudava. Vivia se metendo em encrencas e criando confusões. As vizinhas diziam que ele tinha o "diabo no corpo".
- Acho que mimo demais esse meu filho, Soninha. Esse menino não toma tento! Não sei mais o que fazer – queixava-se D. Rosa com a comadre.
Uma vez Maciel juntou a turma toda da sua rua para brigar com os caras da rua de baixo. Foi aquela algazarra, mas a "Gangue do Maciel", como eram chamados, saiu com a vitória. A surpresa é que, quando subiram de volta à rua, as mães já os esperavam na frente de suas casas, armadas de chinelas, cintos ou varas de marmelo. Todas menos a mãe de Maciel, que empunhava um pau de macarrão – desde que o filho parou de reclamar do cabo de vassoura, ela teve de apelar.

Clínica
D. Rosa achava que Maciel tinha problemas psicológicos. Vez por outra conversava com o médico:
- Ah, Doutor, esse meu filho não tem jeito! Além de arteiro ele agora é tarado. Ontem deu um jeito de levantar a saia da filha da D. Marisa na frente de todo mundo. Não sei mais o que fazer.
E o médico:
- Pois é, D. Rosa. Esse garoto está cada vez pior. Nem os remédios estão adiantando. Acho que já é hora de levá-lo comigo para tratar, que acha?
Mas ela era uma mãe muito coruja. Era muito protetora e não podia ficar sem fazer as vontades do filho. Não queria se separar dele e mandá-lo para uma clínica. "Afinal é uma criança", ela dizia.
- Não, não. Nada de clínica, Doutor. Eu vou resolver isso na conversa – despistava.
Só que nada fazia.
Quando D. Rosa tinha essas conversas com o médico, Maciel adorava. É porque sempre depois disso a mãe abrandava. Ficava umas semanas sem ligar para o que o rapaz fazia. D. Rosa tinha medo de que, se a vissem brigando com o filho, por exemplo, quisessem levá-lo à força para um hospital.
E ele seguia com suas estripulias.

Ponto final
Mas um dia não houve jeito. Definitivamente Maciel passara do ponto. Até a associação de moradores reclamou com D. Rosa. O garoto passou a ser odiado em toda a vila.
- Esse moleque tem que ir preso! – dizia a velha viúva "sabe-se lá de quem".
Cartazes foram colado em frente a casa da família depois do incidente. "Morte ao monstro!", "Maciel é um bandido!" e "Queremos tranqüilidade!" eram alguns dos dizeres. Realmente já não o queriam mais por ali.
D. Rosa deixou de condolências e chamou o filho num canto:
- Maciel, meu filho. Agora não dá mais. Você precisa parar com isso tudo.
- Ih, lá vem a "véia" com aqueles papos de novo – Maciel só chamava a mãe assim. E sempre em terceira pessoa.
- Não, querido. Dessa vez é sério. Cansei de deixar que você faça tudo o que quer. O pessoal da vila está até querendo te pegar depois do que você aprontou ontem.
Maciel ficou quieto dessa vez. Sabia do que a mãe falava e, dessa vez, realmente teve medo. D. Rosa continuou:
- Vou mandar você para a casa as Alagoas. Eu te mimo muito! Seu pai vai saber o que fazer com você. Ele vai te colocar pra trabalhar, tenho certeza. Quem sabe assim você aprenda a ser um homem adulto. Está na hora. Você já tem 25 anos, poxa.
E, jogando as roupas do rapaz na mochila, ela foi derradeira:
- E trate de deixar as figurinhas do Campeonato Brasileiro. Pelo que seu filho falou, você ganhou dele no bafo justamente as que faltam para completar o álbum.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Daquela janela

Já fazia muito que não a via! E para falar a verdade tento esquecer. Mas é como diz aquela música 'o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer' (no meu caso o contrário). O tempo parece que se desfaz quando ela aparece. Agindo como um fantasma, ela não precisa chegar perto, nem falar comigo e nem tocar em mim. Basta aparecer, só isso uma simples aparição, mesmo que de longe, é capaz de me deixar como se estivesse dentro de um navio no meio de uma tormenta. Cheguei a pensar que nunca mais sentiria isso, me sentia confiante. Mas agora não é o que parece.Não que seja culpa dela, e sei bem quem é o culpado. Mas hoje foi diferente, estava almoçando naquele restaurante (que você sabe bem qual é). Estava sozinho, eu e meus pensamentos, como diz o poeta 'cabeça vazia é a oficina do Lúcifer'. Dessa vez nem Deus nem o Diabo tiveram nada a ver com isso. Criei essa situação sozinho, porque ir naquele restaurante, naquela mesa em frente daquela janela...Na mesa com três lugares vazios, sem ninguém para conversar ou incomodar. Mas alguma coisa me dizia que era para eu almoçar sozinho. Talvez se estivesse acompanhado, quem sabe eu perderia a poesia do momento.Já quase terminando de almoçar, perdido em pensamentos que não tinham uma lógica certa, fico olhando os carros e as pessoas apressados na praça Tiradentes. As pessoas parecem que não tem rosto, e os carros também parecem os mesmos.Do meio das muitas pessoas ela surgiu, com a mesma graça de outros tempos. Vejo ela aguardando o sinal abrir, aqueles quarenta segundos me perdi em lembranças, umas boas outras nem tanto, como se o tempo parasse. Diferente maneira que ela surgiu, assim de repente, aos poucos foi sumindo meio da multidão. Fiquei algum tempo seguindo com os olhos aquela blusa verde, que se destacava entre o cinza e marrom das roupas de frio das pessoas. Parecia de propósito, não sei.Como quem acorda, olho para o lado e vejo que o casal percebeu que eu estava com o pensamento longe. Sorrio e como se fossemos conhecidos me despeço do casal. 'Quem será esse maluco?' Eles devem ter pensado. Esse maluco aqui é só um cara normal que erra muito, mas que sempre errou tentando acertar.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Furo

Existem coisas que acontecem e mudam pra sempre nossa vida. E olha nem precisam ser aquelas coisas grandes, como um acidente de carro ou uma morte na família. São as coisas pequenas, aparentemente insignificantes, que fazem toda a diferença.

Não se preocupe. Não é auto-ajuda. Vai ser só um breve relato.
Ok. Vejamos: coisas pequenas são até piores. Claro! Elas acontecem e a gente não dá bola. Elas surgem do nada e a gente nem percebe, nem presta atenção. Mas lá no fim, no ápice do acontecimento, no êxtase de tudo, no clímax da história, no punctum da fotografia, no cheiro do ralo, no... Enfim, no final é esse pequeno incidente que define se sim ou se não.

Lembra daquela ligação que não deu tempo de atender porque você estava no banheiro, lavando o rosto? Ou daquele código de barras da pasta de dentes que você esqueceu de mandar para o Faustão? Sei lá, Freud explica. São escolhas – ou, às vezes, não – que mudam um pouquinhozinho a rota dos acontecimentos. Não fique frustrado, acontece com todo mundo. Ora, podia ser seu dia de sorte. Podia ser a ligação do Roberto Justus, querendo te contratar.
Mas não foi o acaso que me fez comentar esse assunto. Freud explica.

Outro dia aconteceu algo que mudou minha vida.Na hora eu não percebi, afinal foi algo tão pequeno. Um acontecimento ínfimo, reles, diminuto, mas que ontem cheguei à conclusão de que foi o ponto crucial de toda a história. Dá até raiva de lembrar que era só aquilo, que um furinho mudaria minha vida.

Isso mesmo, um furo. Um mísero furo numa camiseta que sequer era minha. Um furo de mais ou menos um centímetro de diâmetro, quase que na altura do pescoço, perto da axila esquerda.
Eu olhei  e pensei "ora, um furo, e daí". Achei que fosse apenas um lapso de atenção, ou então que ela se enroscou no alambrado durante a aula de educação física. Ou até que ela ainda nem soubesse que aquele furo estava lá, senão o teria escondido. Mas não.

Na outra semana eu voltei e ele estava lá. O furo, o mesmo furo, no mesmo lugar, na mesma camiseta. E ela? Na maior naturalidade. Um furinho, na altura do peito, meio que sobre o coração. O que isso mudou minha vida? Ora, um furo, e ela nem liga.

Exatamente.

Exatamente!

Um furo, na camiseta, e ela nem liga! Quer coisa melhor? Um furo, que todo mundo vê e não tem escapatória. Um furo que é até bonitinho, mas não deixa de ser um furo. Enfim, ela usa camiseta furada. ELA USA CAMISETA FURADA!

Eu só poderia adorar esse fato. Ela caiu do pedestal. Ela é normal, como eu. Ela usa camiseta com furo. Ela deve dormir com o pijama velho só porque está sem elástico, como eu. Ela é normal. Eu sou normal. Somos o casal perfeito.

Ela...

Ah!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Biscoito

Querido e mimado por todos, assim vivia Biscoito, o cachorro trapezista
do Circo do Magralha. Os palhaços lhe davam comida o dia todo e Biscoito
retribuía a gentileza tomando conta do trailer dos palhaços. Mas os
outros artistas circenses também gostavam de Biscoito.
O treinador de Biscoito, costumava ser truculento com Biscoito quando
ele não acertava alguma coisa no treino. Se errasse durante um
espetáculo então, nem os palhaços conseguiam salvar o couro de Biscoito.
Ficava de castigo numa caixa de papelão de castigo. O treinador fazia
isso, mas depois se arrependia e para fazer as pazes dava bife na
manteiga para o Biscoito.
Biscoito estava treinando um novo truque que iria revolucionar a
participação canina em circos de todo o mundo. Teria que passar por uma
roda de fogo, andar na corda bamba, equilibrar dois copos em um pedaço
de madeira e tudo isso com as patas traseiras amarradas.
Durante o treinamento tudo correu bem. Magralha ficou maravilhado,
ordenou que bife na manteiga fosse a refeição oficial do Biscoito. E
assim ele foi tratado como um rei, todos adotaram Biscoito como ícone do
circo. Os ensaios de Biscoito eram os com maior presença de outros
artistas do circo. Todos estavam enciosos pela estreia do novo truque.
Na estréia do novo truque 'McGiver' do Biscoito ela seria atração
principal, a multidão se apertava nas arquibancadas para ver o grande
truque de Biscoito.
É chegada a hora, o Magralha avisa que depois dos tigres será a tão
esperada vez do Biscoito entrar no picadeiro. Os tigres saem de cena sob
o aplauso da platéia,o domador acena para a multidão e vai com os tigres
em direção a saída. Quando o Biscoito estava quase entrando no picadeiro
um dos tigres abocanha o cachorro-malabarista. Ele foi o último bidcoito
do circo.

Fim

terça-feira, 15 de maio de 2007

Série Lendas - O Velho Boca

Dizem as más línguas que o velho da velha casa amarela nunca saia de casa, não tinha amigos, não falava mais do que o necessário com a moça da padaria. Ele não comprava jornal para não saber da vida de ninguém.

Certo dia um sujeito foi pedir uma informação para ele. O velho, como de costume, deu um sermão que arrepiou os cabelos de todo mundo que passava na rua. Perguntou porque o sujeito tinha que falar logo com ele, falou que se ele não sabe onde ficava o lugar que procurava, por que saia de casa sozinho. Foi uma situação constrangedora para o rapaz que só queria saber onde era o edifício tal.

Mas o velho teve que pagar por ser tão ranheta, teve um mal-subto e caiu perto da porta de sua casa. O carteiro Abelardo ouviu um gemido e foi ver o que era, ajudou o velho. Chamou uma ambulância que levaram o velho para o hospital, lá o Dr. Alvarenga receitou repouso e disse para o velho abandonar a mania de ser tão rabugento. O velho saiu do hospital contrariado e bufando com raiva dele mesmo.

Já em casa o velho fez um exame de consciência e viu que talvez fosse hora de ser menos birrento mesmo. Foi comprar pão e antes de pedir disse ‘bom dia’ e a atendente surpresa nem respondeu. Na banca de jornal a mesma coisa, o velho cumprimentou o Seo Peçanha que só balançou a cabeça e deu um sorriso amarelo.

No caminho de casa, com os pães e o jornal na mão o velho foi acenar para os senhores que conversavam sobre política, religião e futebol no café e acabou escorregando. Quando viu os sujeitos do café rindo dele, começou a xingar todos como de costume. Xingava e xingava, mesmo caido, sem parar, até que morreu. Ali mesmo, naquela calçada bem perto de casa.

Dizem que é por isso que chamam a Rua XV de Boca Maldita, as más línguas dizem que o velho era conhecido como o Boca Maldita.


Fim

O Crime

Ela abriu a torneira com as mãos ainda trêmulas. Não podia crer que tivesse feito aquilo. Quando a primeira gota d'água tocou seus dedos, Sara fez uma cara de horror que denunciava o arrependimento. Mas já era tarde. Marcelo havia gritado com tanto desespero que toda a vizinhança devia ter acordado. O que ia dizer aos filhos? Agora estava trancada no banheiro, atormentada com seus pensamentos.  Lavava a mão com a ânsia de quem acredita que toda a culpa descia pelo ralo junto com a sujeira. Ela sentia o coração palpitando cheio de amargura, sentia como se nunca mais pudesse sair daquele banheiro e encarar alguém de frente. Fora horrível o que fizera. Sara esfregava por entre os dedos nervosamente, incessantemente. Queria apagar qualquer prova que pudessem ter contra ela. Agoniada, só pensava no que fizera com o marido: "Ele vai me matar. Marcelo vai me matar! Nunca mais faço fio-terra nele... Nunca mais!" 

segunda-feira, 14 de maio de 2007

PQP fui tomar bezetacil

Dor de garganta é uma das piores desse e de outros planetas. Semana passada tive uma crise dessas e sinceramente achei que passaria dessa pra melhor. Acho que foi isso que extinguiu os dinossauros da terra. Dois dias de cama, até para tomar remédio a garganta arranhava quando eu bebia água parecia que era ácido. Foi horrível, não desejo isso nem para o cara que inventou o exame de próstata. Tudo bem esse cara merece algo mais sádico.

Em meio a febre e a deficiência temporária de não poder falar muito, minha mãe me convenceu de ir ao médico. Com todo respeito, mas aqueles médicos que olham a roupa que você veste ou da uma olhada no seu batimento cardíaco e faz o diagnóstico não dá né não!? Chego para minha consulta, aguardo a minha vez e tento um papo com a minha mãe. Mas ela está muito preocupada com seu filhinho enfermo (eu no caso). Ela só me pergunta o que eu quero comer, se eu vou para aula, diz para eu largar a birita todo final de semana (pelo menos pegar mais leve).

Chega a minha vez, entro na sala e o doutor diz: Então Alexandre, o que você me diz

- Caraca doutor, to podre! Dor em todo corpo, isso deve ser gripe. To com a garganta escangalhada, nem a corestina o melhor remédio do Brasil ta dando jeito, mas ainda dá barato.

- E você sente mais alguma coisa?
-
Para coroar uma dor de cabeça desde quinta feira de manhã.
- Hummm...
- To indo pras cucuias?

- Não não, vamos ver essa garganta. – pega um aparelho tipo uma lanterna, mas é um daqueles produtos que só médico tem.

- Ahhhhhhhhhh...ahhhhhhh

- É Alexandre, você está com problema na garganta. Bebeu alguma coisa gelada?

- Só uma cervejinha. – lembrei que assisti o jogo do Flamengo (Mengão 2x0) com um camarada no boteco e comecei a ficar bolado.

- Vou ter que te receitar aquela famosa.

- Famosa quem? – ele começa a rabiscar algo quase ilegível.

Por acaso você está falando da bezetacíl?

- Essa mesmo. Você pode fazer um tratamento com antibiótico, mas isso vai te dar um trabalhão. E com uma dessas você melhora rapidinho.

- Fazer o que né.

Não entendo a minha mãe, acho que ela gosta de me ver sofrer. Depois que mostrei a receita, ela deu uma risada e disse que quando eu era menor até chorava quando tinha que tomar injeção. Ah tá, e quem não chora. Eu era um garotinho como qualquer outro, pra quê dar injeção? A medicina poderia fazer o mesmo conteúdo de uma injeção mas que fosse para tomar via oral, pra quê fazer a criançada sofrer. E a minha mãe lá com aquele sorrizão.

Passo na farmácia e peço a mardita, não a ‘marvada’, a mardita da bezetacil. O cara da farmácia me olha com cara de quem pensa: “xiii esse ta fudido!” e me entrega a parada. No caixa a mesma coisa, a mocinha olha o nome do produto na tela, depois olha para mim com a mesma cara do sujeito do balcão. No hospital a moça da recepção queria que todos soubecem que eu iria tomar uma injeção. Falava alto ‘ah uma bezetacil’ ‘ah você já trouxe o medicamento’ ‘ a enfermeira já vai te aplicar a bezetacil’. Percebi as pessoas me olhando com um certo pesar. No dos outros é refresco né, pensei.

Entro na sala onde vou ser... medicado digamos e não tem ninguém lá na sala. Nem um minuto depois uma senhora, devia ter uns 55 um pouco mais talvez pelos cabelos grisalhos, olha para mim e diz: - É você então.
- É, não estou muito bem ultimamente.

- Já tomou essa daqui alguma vez?

- Só quando era criança.

- Então você já sabe como é.

- Sei, e não tenho boas lembranças.

- Ta bem, agora abaixe um pouco a calça e relaxe!

Como assim, você deve concordar comigo que é no mínimo difícil relaxar numa hora dessas.

Foram os cinco segundos mais longos de toda minha vida.
- Pronto, pode levantar a calça. Pode levantar moço.

- Eu só estou esperando a dor passar.

- Relaxa acabou.

- É difícil relaxar. Estou me conformando, só isso.

Sai de lá com uma puta dor na bunda, ainda com a garganta escangalhada e a dor de cabeça que não vai acabar. Fiquei em casa de repouso, pensando na vida, tentando lembrar a hora de tomar o remédio. Mas tudo bem faz parte, o que me incomoda agora é que a velhinha que viu meu traseiro até agora não ligou não mandou e-mail nem nada. Fui só mais um nas mãos dela.


Fim

Pianinho

Aquela vez, na praia, foi quando eu me apaixonei. Nos encontramos por acaso, e você era tão quietinha. Eu falava pelos cotovelos, e liderava rodas de prosa, e me fazia de entendido, e contava piadas do Ari Toledo. E você lá, quietinha.
Eu fazia brincadeiras, você ria. Eu discursava sobre Sócrates, você concordava. Eu falava de flores, você sorria. Quietinha.
Eu não percebi na hora, mas como era incrível aquele seu olhar. Sei que não era pra mim – especialmente para mim –, mas tudo em você era perfeito. O seu sorriso, a risada, a forma de mexer nos cabelos. E que cabelos.
Mas como as coisas mudam. Agora sou eu quem te observa liderando rodinhas de pessoas. Sou eu quem concorda quando você adora Montesquieu. Sou eu quem ri das suas piadinhas prontas.Logo eu, outrora tão falante.
Agora fico de longe, só olhando, quietinho.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Festerê

Que beleza de idéia que eu tive. Essa porcaria de festa. Só pra minha cara! Olhe em volta. Todo mundo está bêbado, quebrando coisas, jogados pelos cantos. Porque minha mãe foi viajar? Uma casa livre pra um jovem só podia dar nisso! Que besteira.

Ali no canto tem um vômito, provavelmente do Betinho. Nem vou limpar esse, já são tantos. Que zoem com a casa toda agora. O besta aqui limpa tudo amanhã. Fui eu que tive a idéia, fui eu que convidei toda essa galera pra "curtir um som" aqui na minha. Bah! Desgraça. Agora guenta, otário.

O Cebola chegou dizendo Cara, que festa maneira. Maneira pra você, seu ridículo. Não é tu que vai limpar tudo amanhã. Eu quase disse isso. Quase. Preferi ficar quieto e sair pra comprar mais gelo.

Vendo tudo de fora parecia pior. Tinha  mesa de truco até no meio da rua. Não sei como esses vizinhos não reclamaram. A música está no máximo, repetindo Cowboy Viado pela quinta vez. Que festa horrível. Minha festa.

Quando voltei do posto com o gelo parecia que tinha chegado mais gente. Na minha casa, bolas. Tudo lotado, gente em todos os quartos fazendo todo tipo de coisa que se possa imaginar. Amanhã eu limpo tudo. Amanhã eu tenho que limpar tudo. Que idéia de jerico.

Chegou o Beronha dizendo que seu irmão vomitou da sacada. Que se dane! Não quero saber! Por mim que todos fossem embora naquele instante. Foi ridícula essa idéia de fazer festa. Porque fui pensar nisso? Festa. Otário.

Daqui da rede nem parece que a festa é minha. Não parece nem que eu estou na festa. Fico só olhando os caras que já estão sem camisa dançando Poperô pras menininhas mais novas. E eu balançando, pra lá e pra cá. No meu mundo, pensando porque, ó Deus, porque fui fazer isso!? Nesse momento só dá pra ouvir o barulho das centenas de latas jogadas no chão que eu terei que limpar amanhã.

De repente parece que tudo melhorou. Sei lá, a música agora é boa, o pessoal está jogando o lixo no lugar certo. Até definiram a banheira como vomotódromo. Menos mal. O que será que está acontecendo? Jorginho, logo ele, me traz um copo do ponche que a Laurinha fez. Que delícia. A festa está ficando boa, será? Ou eu é que estou bêbado?

Não.

Foi ela que chegou. Ela, trazendo consigo seu lindo sorriso. O mais lindo do mundo. Seus cabelos brilhosos formam uma cachoeira no sinuoso leito do seu corpo. Ela veio! Toda essa festa foi feita para isso. A festa, a minha festa. Eu só queria que ela viesse e conversasse comigo dois minutos que fosse. Ou nem isso. Bastava estar no meu campo de visão que tudo já valeria a pena. Agora eu podia limpar todos esses vômitos com a minha camiseta. Ela chegou. Ela veio. Minha festa. Que festa linda, ó Deus!

Pega ladrão

Eu sou a favor da redução da maioridade penal.
Agora, por favor, releia o parágrafo anterior. Releia, aprecie, deguste. Foi realmente duro conseguir escrever isso. Releia.
Não faz muito tempo ganhei o direito de ser preso. Sou um jovem rapaz, com meros 19 anos, cheio de idéias revolucionárias e nenhuma atitude. Fizeram-me decidir sobre o que penso da redução da maioridade penal. Ora, se é assim, sou a favor da redução da maioridade penal.
Eu, com essa idade toda, não consigo formar uma opinião. Preciso de alguém que me explique as coisas, que me convença do certo e do errado. Até pouco tempo atrás minha mãe fazia isso por mim, agora não. Tenho que ler os jornais, conversar com pessoas, ir à Boca Maldita e escutar seus velhos pensadores. Sou grande o bastante para dirigir, mas ainda não sei nada sobre a vida. O primeiro parágrafo. Leia, por obséquio.
Como todo mundo, tenho meus acessos de raiva. Fico irado quando, por exemplo, perco uma partida de futebol no vídeo game para um colega ou recebo ordens sádicas de meu supervisor de estágio. Nem que por alguns instantes, faço deles meus inimigos mortais. Quero esganá-los, botá-los na forca, dar-lhes tiros no meio do nariz. São processos instantâneos, que eu consigo controlar, que eu aprendi a controlar. Mas e se os faço? Se esgano meu superior ou atiro no pâncreas do meu colega que me venceu? Vou preso, afinal estou apto a isso. Tenho 19 anos e, pela lei, já entendo o sentido da vida. Posso ir preso.
Mas eu não entendo. A vida ainda é uma grande incógnita para mim. Eu seria preso considerado como adulto, ainda que sem as certezas que surgem em tal estágio da vida. Fui preparado, fiz o caminho certo. Cada coisa em seu tempo, cada tempo um aprendizado. Sou um caso de quem viveu sob todos os direitos assegurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Pois bem, mas esse é o meu caso.
Releia o primeiro parágrafo. Foi difícil.
Eu fui um filho pretendido. Minha mãe desejou que eu tivesse nascido. Me amamentou com amor e carinho, me levou para brincar nos parques e praças da cidade. Quando criança, fui para a escola e aprendi as palavrinhas mágicas. A tia me ensinou a rezar antes das refeições e formar fila para descer no escorregador. Tive uma vida de criança.
Na adolescência, fui ao colégio. Jogava futebol contra outros times de garotos, ia ao cinema com as garotas. Estudei química, física, biologia, ética, filosofia, religião. Tive uma vida de adolescente. Agora estou aqui. Com 19 anos e começando a viver a vida adulta.
Não esqueça do primeiro parágrafo.
Nem todo mundo teve essa vida. Nem todos têm a vida exatamente como prevê o estatuto da criança e do adolescente. Moro no Brasil. Não sei se moro muito bem ou muito mal, mas sei que as oportunidades não são para todos.
Imaginemos outra criança. Ela foi odiada desde o momento de sua concepção. Um filho de uma adolescente de 15 anos, estuprada por um mendigo enquanto voltava da escola para sua casa numa favela qualquer. A menina fez de tudo para que a criança não nascesse. Tomou remédio, tomou purgante, deu socos na própria barriga, quase morreu numa clínica clandestina tentando realizar um aborto. Mas nada deu certo: nasceu um menino, já cheio das marcas da vida, mesmo tendo vivido alguns minutos dela.
Ele foi odiado pela mãe. Ela quis jogá-lo no rio dentro de um saco plástico ou doá-lo para uma equipe de tráfico internacional de órgão. Cogitou até a hipótese de mandá-lo para um orfanato, mas desistiu quando lembrou que no futuro ele poderia procurá-la e exigir algum carinho. Enfim, o menino teve mesmo que viver e continuar no barraco. Ele e mais oito pessoas, num casebre de três cômodos, feito de placas de outdoor.
Nunca foi à escola. Do zero aos dois anos, passava o dia como símbolo de pobreza no colo da mãe enquanto ela trabalhava pedindo esmola no sinaleiro. Dos dois aos cinco, ele próprio o fazia, depois de dançar uns passos de hip-hop na faixa de pedestres. Aos cinco arrumou um emprego: aviãozinho do tráfico no morro. Levava a droga da boca ao asfalto, e ainda fazia a contabilidade. Aos oito, perdeu o emprego – o terceiro, já que foi “vapor” e “cargueiro”, depois de aviãozinho – porque juntou uns amigos para assaltar uma vendinha da região, o que desagradou o chefe.
Eu ainda estou no primeiro emprego, um estágio. Enfim, releia o primeiro parágrafo.
Aos doze anos, o menino já tinha matado, cheirado, roubado. Era sujeito homem. Tinha sua própria boca de fumo, que vendia só maconha, por enquanto. Nunca estudou, mas fazia a contabilidade, contratava funcionários, preparava uma logística de vendas e mantinha um recursos humanos. Aos 13, começou um guerra quando perdeu sua virgindade com a mulher do chefe do tráfico do morro vizinho. E venceu. Aos 13, o garoto já sabia o que queria.
O primeiro parágrafo. Leia.
Segundo a legislação brasileira, qualquer pessoa com menos de 18 anos não têm o desenvolvimento capaz de compreender exatamente a natureza da sua conduta, não estando, portanto, apta a ser condenada a uma pena de reclusão. Em casos graves, entretanto, este menor necessita de internação em estabelecimento adequado a formá-lo para a vida social. Ser “ressocializado”. O que eles não dizem é que isso só serve para as situações ditas ideais, onde criança é criança e adolescente é adolescente.
Eu cresci sendo preparado para a sociedade, o garoto não Quando era pra ser criança, eu fui criança. Quando era para ser pré-adolescente revoltado, eu fui pré-adolescente revoltado. Agora estou no caminho para a fase adulta, seguindo passo a passo todas as etapas. O outro personagem nasceu precisando ser adulto. Ele não foi preparado, pulou etapas.
Desde que veio ao mundo teve que trabalhar, passar fome, conseguir dinheiro para as contas da casa. Não pôde estudar, não pôde almoçar aos domingos na casa da avó, não pôde jogar futebol com os amigos. Não pôde sequer ter amigos. Ele sempre foi obrigado a ter convicção do que queria. Sabia que ninguém nunca iria decidir qualquer coisa por ele. Sabia que não poderia errar e depois pedir desculpas. Se errasse, estava morto. Ninguém nunca o ensinou a controlar seus acessos de fúria.
Se ele matar alguém, foi pensado. Ele já sabe o que quer. Tendo 14, 17 ou mesmo 19 anos, ele sabe o que quer. Ele teve sempre que saber o que quer. Ele é adulto.
Ser adulto não é um status adquirido, não tem a ver com a idade. Ser adulto é estado de espírito, é estado de consciência. Os adultos dizem que o são por terem certeza do que querem da sua vida, mesmo sabendo que isso é mentira. O garoto sabe o que quer da vida: ele quer é viver.
Ora, matando alguém, ele estará cometendo um crime, tendo 14 ou 19 anos. Deve ser preso. Preso para manter a ordem pública, não para prepará-lo para a ressocialização. Adultos já sabem viver em sociedade.
Agora leia novamente o primeiro parágrafo. Só que ao invés de "sou a favor da redução da maioridade penal", leia "sou a favor da maioridade penal, desde que só adultos sejam presos".

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Você sabe do que está falando?

Aproveitando o momento-protesto ou momento–boca-no-trombone do Maycon contra o cacique do estado, vou pegar uma carona e mandar o meu pitaco na visita da Santidade o Papa (esse menos pop que o outro).
Agora só se fala da visita do Santo Padre ao Brasil. Claro que não é um evento que as pessoas devam ignorar, mas calma ai. Quem paga a conta? O que ganhamos com isso? Tudo bem não tenho nada a ver com isso, mas uma coisinha me chamou a atenção.
E ele vem com direito a plumas e paetês para falar, impor, mandar, persuadir, enfiar goela abaixo, trazer a mensagem, enfim discursar sobre alguns assuntos importantes para o bom andamento da vida dos cristãos, mas um deles não tem como ele (o Santo Padre) ser expert. Ora como um padre (ainda mais ele, o Santo Padre) falar sobre sexo? Ele não faz, não fez e se tudo der certo (como manda o figurino) nem vai fazer. Então por que raios ele tem que se intrometer na vida das pessoas e dizer se é certo ou errado usar ou não camisinha? Isso é loucura! Não da para levar o que a igreja católica diz com verdade suprema e absoluta, eles não sabem do que falam.

A não ser que eles queiram discutir os casos dos garotos abusados por membros da igreja.

Fim (ou não)

Palhaçada

E não é que o ônibus sorteado pelo Ilustríssimo Sr. Requião para os deputados era de brinquedo? Bem bonitinho até, mas de brinquedo. Isso nos dá duas perspectivas de análise, uma otimista e outra real, digo, pessimista.
Digamos que isso seja bom. Um brinquedo, um gracejo para estimular a presença dos deputados na "escolinha" do governo. Tudo muito bom, tudo muito bem. Uma piadinha para descontrair, quem não faz? Não é só porque os assuntos por lá tratados são sérios que não se pode fazer uma graça de vez em quando. Dizem os palestrantes – os bons palestrantes – que uma boa apresentação começa com uma piada para entreter os espectadores. Entretêm-se, conquista-se a confiança e só então são tratados dos assuntos sérios. Pela visão otimista, foi o que fez nossa corte magnânima, o governo. Ponto.
Pela visão pessimista, ou realista, ironicamente fica tudo mais engraçado. Vejamos: já li por aí que este episódio do sorteio classificou nosso governador como inconseqüente, irresponsável, oportunista e ditador; que a chamada "Escola de Governo" se desvirtuou e virou simplesmente um talk show de Sua Excelência, o Requião; que o governo estadual virou um Estado-Novo regional, vítima dos inúmeros desbundes de seu chefe máximo. Enfim, tudo como numa perfeita descrição do perfeito caos. Não é nada disso, pessoal.
Roberto Requião de Mello e Silva nada mais é do que um contador de histórias. Para tudo isso que têm acontecido só cabe uma descrição: piada! Nosso governador é um fanfarrão, um gabarola, um farrombeiro, um pábulo, enfim. E nós também, convenhamos. Aceitar tudo isso com essa conivência de Magro para Gordo, de Pink para Cérebro só corrobora para mostrar que os antigos revolucionários se tornaram preguiçosos e que os novos sempre o foram. Eu próprio tive minha gangue pré-adolescente de guerrilheiros preguiçosos.
O fato é que precisamos todos nos juntar, os novos e os velhos, os Pinks e os Gordos, para, pelo menos, reclamar dessa babilônia que ocorre no Palácio Iguaçu. Nem queremos que o monarca Requião seja queimado em praça pública ou afogado no chafariz da praça Ozório, basta que ele pegue seu fardinho de cuecas e vá morar em outra granja. Aconselho até que ele compre um trailer e siga turnê com o Circo Garcia, transvestido de Palhaço Mamona, para a alegria da criançada.
O pior é que, segundo um palhaço me explicou – o Alípio, profissional, daqueles que usam máscara (de verdade, diga-se) e roupas coloridas –, existe dois tipos de palhaço: o "branco", que é o líder, que faz graça zombando do companheiro, o dominador, o Cérebro, o Magro; e o "augusto", que é o bobalhão, o de sapatos grandes, o que leva as tortas na cara. “Pink, venha. Hoje a noite nós vamos dominar o mundo”!
Infelizmente, nesse caso, palhaço “branco” é o Requião. A nós sobra apenas o “augusto”.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Chun Lee a poliglota

Chun Lee trabalhava como guia turística, seu trabalho era mostrar para os turistas o que que a baiana tem, levar-los para fazer coisas de turistas, aqui no Brasil. Sua vida e trabalho eram bacana e tranqüilo, solteira convicta admirava amarula, dançar e feijoada. Mas o que gostava mesmo, era do frango chop-suey do seu avô Ling Lee. Um ancião que deve ter uns 700 anos pela sua sabedoria e paciência, que como todo bom chinês, no Brasi,l torce para o Mengão.

A bela Chun Lee só trabalhava com grupos de apenas um mesmo país, para não ter que trabalhar numa Torre de Babel (como ela dizia) e para que ela conseguisse fazer um trabalho de melhor qualidade. Chun Lee falava alemão, francês, inglês, mandarim, espanhol, italiano e guarani. Guarani ela estudou por diversão, já os outros idiomas por ossos do ofício. A única coisa que Chun Lee não gostava era quando faziam piadinhas com seu nome, mas conta para todo mundo que a Chun Lee do Street Figther foi criada em homenagem à sua mãe, Shang Lee.

Numa bela tarde no verão de 1992, Chun Lee recepcionou um grupo de alemães que estava chegando em Recife. Logo nas primeiras horas algo chamou sua atenção, dos quinze alemães, cinco pareciam não entender bulhufas do que ela falava. E isso começou a irritar a nossa querida Chun Lee.

Ela da um jeitinho de afastar os cinco dos demais alemão e pergunta o que esta acontecendo e o que ela pode fazer para tornar a viagem deles mais agradável. Eles ficam olhando para ela como se ela fosse um ET. Um senhora com um chapéu engraçado da uma cutucada, com a bengala, na canela de seu acompanhante. Ele um sujeito com a cara do do Mário Bro's, chama Chun Lee e pergunta.

- Escuta aqui rapariga, a senhorita só estais a falaire em alemão, como queres que eu e meus patrícios estejamos a vontade aqui, sem entender patavinas raios!



Fim


segunda-feira, 7 de maio de 2007

Caos da Segunda-feira


(Sem tempo no trabalho, uma anedota curta, bem curta)

O garoto Rui estava de partida para a guerra no Iraque. Para manter os contatos, perguntou nome e endereço dos amigos mais próximos. No fim da rua tinha um velhinho polonês, com quem passava tardes e tardes trocando dedos de prosa.
- Seu Wenceslaw... Como é mesmo o seu sobrenome?
- Por quem, meu filho?
- Para que eu lhe mande cartas lá do Iraque. O senhor sabe, estou indo para a guerra.
- Ah sim. É Chikenplutgyoscher-tsciechamayowinski.
O rapaz ficou, digamos, perplécto.
- E como é que se escreve, Seu Wenceslaw?
E o velho:
- Com tracinho no meio!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Chutando o balde

Já passava da meia noite e Joilton não conseguia pregar o olho. Rolava
de um lado para outro da cama e nada de conseguir dormir. Tentou contar
carneiros, prender a respiração, contar até mil e dezessete, enfim
tentou várias coisas e não teve jeito. Quando achava que ia pegar no
sono logo vinha a lembrança de que teria que levantar cedo do dia
seguinte e lá se foi o sono de Joilton.
Quase duas da madruga e finalmente o sono vem chegando, Joilton já com
aquele ar de quem está mais pra lá do que pra cá. Ele vê um unicórnio e
pensa: estou sonhando, então estou dormindo finalmente. Puft! Ele
acordou na mesma hora que pensou isso. Irado levantou, foi até a cozinha
tomou um copo d'água, olhou no espelho viu que já estava com olheiras
por causa da sua falta de sono.
Deita-se novamente e dessa vez parece que o sono vem. Com os olhos
pesados ele vê o relógio marcando três e vinte. Mas não fica preocupado
pois finalmente parece que vai conseguir dormir. Na hora em que ele
começa a acreditar nisso, leva um susto com o telefone tocando. Atende
achando que deve ser algo importante ou que aconteceu alguma coisa
grave, para alguém ligar a essa hora.
- Alô!
- Oi, me desculpe a hora, mas a Brigite está?
- Não tem nenhuma Brigite aqui.
- Mas ai não é do Cabaré Gaiola das Loucas?
- Não.
- Ops! Foi engano, foi mal!
Com muita raiva, Joilton quase quebra o telefone. Olha mais uma vez para
o relógio e já eram quatro e quinze. Aflito ele desiste de dormir, vai
até a sala liga a TV e deita no sofá. Do jeito que caiu no sofá pegou no
sono, dormiu como uma criança. Mas não o suficiente, acordou atrasado,
mesmo com o despertador berrando do seu lado perdeu a hora. Tomou um
banho rápido, se arrumou e saiu correndo para o trabalho.
No caminho lembrou da reunião e também da pasta com o relatório, que
deixou em cima da mesa para não esquecer. Puto da cara, voltou para casa
buscar a pasta com o tal relatório e depois de uma correria chegou no
trabalho. Gabi, a secretária, avisou que a reunião tinha sido adiada
para depois do almoço.
- Mas o que houve? O chefe tava boladão por causa desses relatórios.
- É eu sei, mas ele mudou o horário por causa do seu atraso rotineiro e
da sua cara de sono que dura até depois das onze.
- Mas hein!? Ele disse isso?
- Foi o que ele me falou.
- Aquela velha raposa felpuda disse isso é!?
Joilton rasgou os relatórios, beijou Gabi, foi até a sala do chefe, fez
um bunda-lelê, balançou o bilau na frente do chefe e foi embora para
nunca mais voltar. Hoje ele trabalha no turno da noite em uma
multinacional e trocou o dia pela noite. Nunca mais teve problemas para
dormir.

Fim

O Barbeiro Infeliz

Sem que nada acontecesse, Sávio resolveu se impor:
- Ei, filha! Estou mandando me dizer o que se passa entre você e Anselmo. Anda!, agora!
Discutiam a relação da pequena. O pai queria saber a que ponto estava o namorico entre Juliana e o barbeiro da esquina. Ela, acuada, permanecia calada.
- Então vê se me escuta, minha filha. Te digo desde já que não quero te ver com esse rapaz. Não quero, me ouviu bem?
Então ela saiu, cabisbaixa, terrena, desiludida. Ora, porque será que o pai não a queria com Anselmo? Que foi ele ou ela fizera para serem vítima de tamanha injustiça?:
Pensava, consigo mesma:
- Ora, veja. Agora mesmo é que vou me casar com ele.
De pirraça, foi-se encontrar com o rapaz.

O Encontro
Anselmo tinha a aparência de um toureiro espanhol. Aqueles cabelos negros e brilhosos denunciavam sua ascendência. Seu porte robusto anunciava um esportista. Mas Anselmo passava os dias entre tesouras e navalhas, cortando cabelos e aparando barbas.
- Juliana, meu amor. Que saudade!
Ela não respondeu. Estava imóvel, pensativa. Só sua mente trabalhava incessantemente as palavras há pouco ouvidas do pai. Ele percebeu a inquietação:
- Que foi? Teve a tal conversa com seu pai?
Como ela não respondesse, Anselmo se preocupou. Teve de insistir até que ela falasse:
- Meu pai não nos quer juntos, Anselmo.
- Não quer? Como assim? Porque?
Nem Juliana sabe porque, mas saiu correndo no mesmo instante. Deixou Anselmo para trás, e com ele seus sonhos e planos para o futuro. O rapaz ficou a observá-la correndo, sob a chuva que iniciara.

A Notícia
Juliana foi pra casa e se trancou no quarto, inquieta, pensando no que tinha feito.
- Jesus! Porque eu falei daquele jeito com Anselmo? Que vou fazer agora, meu Deus?
Ela percebera que tinha sido rude. Estava arrependida. Sabia que amava Anselmo, tinha certeza. Amava mais do que tudo que existia no mundo. Não era só porque o pai não aprovava aquele relacionamento que ela deixaria o barbeiro.
De noite, Sávido chega em casa. De mansinho, entra no quarto da menina, que ainda chora.
- Oi filha. Encontrei D. Terezinha na rua. Já soube do Anselmo.
Ela pôs-se a chorar ainda mais, e bradou aos quatro ventos, como que se fosse para a vizinhança inteira escutar:
- Eu não queria ter dito aquilo! Me arrependo, escutou? Eu vou voltar e me desculpar. Eu amo Anselmo mais do que tudo nessa vida!
O pai estava imóvel. Olhava Juliana com os olhos baixos, meio que desconfiado, meio que irritado. Ela ainda esperava uma resposta.
- E então, pai? Não vai dizer nada? Acabei de lhe informar que vou me casar com Anselmo, custe o que custar. Eu sei que o senhor não aprova, mas eu o amo, entendeu? Amo!
E Sávio:
- Não vai não, minha filha. Anselmo está morto. Ele foi encontrado há pouco com uma navalha enfiada no pescoço. O delegado tem certeza de que foi suicídio.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Baseado em fatos reais

1- Um casal de namorados conversa na frente do portão, o rapaz deixa a sua moto na calçada sem preocupação nenhuma, afinal ele mesmo está ali tomando conta.

2- Um outra moto com dois caras passa, faz a volta e o sujeito que está na garupa da moto desce e aponta um arma na cabeça do rapaz.

3- O rapaz pede calma ao ladrão.

4- O comparsa (e também ladrão) do ladrão que está na moto grita: mete um tiro na cara dele, se ele não entregar a chaves.

5- Ouço o choro da garota.

6- O bandido com a arma (ainda) na cabeça do rapaz diz: se a mina correr eu atiro, se você não me entregar a carteira eu atiro. Me da as chaves logo!

7- O rapaz derruba a chaves da moto no chão, o bandido se irrita, o bandido que esta na moto fala para seu comparsa meter um tiro na testa do rapaz.

8- A garota se abaixa, pega a chave e entrega na mão do ladrão.

9- Os bandidos saem, a garota chora e após o susto o rapaz em um acesso de raiva atira o capacete na rua.

10- O rapaz liga para a polícia. -Senhor eu acabei de ser assaltado. Na frente da casa da minha namorada. Rua Luiz Tramontin. Eu já disse, dois caras roubaram minha moto. É agora mesmo, o cara colocou uma arma no meu rosto e levou minha moto. Rua Luiz Tramontin. - sem ter o atendimento esperado ele se desespera e quase joga o telefone no chão.

11- O rapaz perde a paciência: muito obrigado, por não me ajudar. Muito obrigado mesmo, quantas vezes tenho que repetir o nome da rua e o que aconteceu comigo? Será que já não deu tempo para os pilantras sumirem?

12- Os bandidos sumiram com a moto do rapaz. A namorada ficou muito assustada. O rapaz ficou sem moto. E a polícia...


Fim

Rúgbi: Esporte Para Crianças

Depois de ler o texto de hoje do excelentíssimo Luis Fernando Veríssimo meus pensamentos foramlonge. Ele falava sobre uma partida da rúgbi, aquele esporte bem estranho vindo lá das Ilhas Britânicas.
Dias desses eu assisti a uma dessas partidas. Eu estava em casa, naquela modorra, zapeando pelos canais daquela inutilidade chamada TV a cabo. Num dos tantos canais de esporte passava, acho, a final do mundial de rúgbi. Oh!, grande coisa. Mas que seja.
A partida era entre Nova Zelândia e, sei lá, Congo – os Lions. Na verdade, lembrei: era semifinal, porque me recordo do narrador anunciando que depois viria a grande e decisiva partida entre Austrália e Ilhas Fiji. Entretanto isso agora não vem ao caso. O fato é que assistir àquela partida me lembrou intensamente da minha infância. Mais precisamente os meus sete ou oito anos. Exatamente.
Explicar-lhes-ei um pouco do jogo: são 15 marmanjos que têm que atravessar o campo para colocar a bola – também oval mas bem maior do que o do football e sem costuras – do outro lado do campo, no espaço chamado in-goal. Quando um dos jogadores pegam na bola, todos os do time adversário que estiverem por perto partem para cima daquele. Pulam em cima, agarram a bola, chutam, se abraçam. Enfim, é aquela zoeira.
Mas, as vezes, outro jogador da equipe daquele que está com a bola consegue pegá-la e passar – nunca lançando, sempre jogando para trás, e com as mãos – para outro, desmarcado. Este, por sua vez, a coloca debaixo do braço e corre. Corre até fazer o gol. Ou até que algum ou todos ps outros adversários o agarrem pela camisa.
Aliás, pode-se lançar a bola para frente desde que com um chute. Com aquela bola oval, o chute normalmente sai sem direção.
É claro que as regras não são só essas. Têm várias particularidades que até tornam o jogo um pouco interessante. Mas por que uma coisa dessas me lembrou a infância? Ora, essa é a exata descrição de como eram meus jogos de futebol (o nosso, o soccer) quando criança, mais exatamente aos sete ou oito anos. Precisamente.

Tinha o campo lá perto da casa da Vó. Um campão de areia, que na época parecia ter uns 200 metros de comprimento (mas que hoje, eu sei, não tem nem 50). Juntávamos toda a piazada e íamos jogar. Naquele campo que não tinha fim, sempre ficava uns 15 pra cada lado. A bola era velha, já meio ovalada e sem alguns gomos (sem costura). E era sempre do Rafael, o riquinho da rua.
A gente até se organizava em campo – "você e o Japa jogam atrás. Eu e o Polaquinho mais na frente e o João mais o Homer pelas laterais. O resto pega o meio" –, mas isso durava só até o pontapé inicial.
Quando o primeiro pegava na bola, todos os adversários que estivessem por perto pressionavam, pulavam em cima, agarravam a camisa, chutavam a bola, se abraçavam. Mas, às vezes, a bola sobrava para aquele que ainda não tinha chegado no bolo de piás. Aquele que não gostava muito de contato físico e ficava só olhando, esperando justamente essa sobra. Aí ele saía correndo até que fizesse o gol ou alguém o derrubasse. De vez em quando até rolava uns lançamentos. Mas no ponto futuro, sabe? Sem direção.
Rúgbi e futebol de crianças: qualquer semelhança não é mera coincidência.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Amnésia

Na sexta feira eu tinha um post bacana, sobre alguma coisa interessante
para colocar aqui, mas devido aos acontecimentos etílicos do feriado não
lembro mais.

Fim