quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Novela Andrade

É duro ser torcedor do Flamengo e ter algum senso crítico. São coisas completamente antagônicas. A gente sai uma inexplicável fila de 17 anos em um campeonato no qual deveríamos incondicionalmente comandar e onde se afunda o clube? Num lindo e cheiroso mar de rosas? Não. Afunda-se na mais profunda e demoníaca crise.

Sim, crise. Chamem do que quiserem, mas para mim essa novela da renovação do Andrade é mais crise do que ameaça de rebaixamento em Campeonato Carioca. Veja só: o cara é ídolo eterno dentro e fora das quatro linhas; amado e adorado por jovens e idosos, diretoria e jogadores, torcedores e imprensa; levou o Mengão ao hexa da injusta e já supracitada fila; e, além de tudo, foi escolhido o melhor treinador daquele que foi considerado o melhor Campeonato Brasileiro dos últimos tempos. Precisa de mais? Estão esperando o quê? Dêem 250 mil de uma vez para o nosso Tromba. Dêem 300, se precisar! Só não deixem essa oportunidade escapar.

Aí caímos em outra discussão: merece um treinador de futebol receber tanto dinheiro por mês? Não, definitivamente não. Resposta curta e grossa. É óbvio a todos que os salários no futebol são superultrafaturados. É revoltante um cara que teve a sorte de ter um bom empresário (e não estou me referindo sarcasticamente ao Belleti, do Chelsea) receber milhões de libras por ano enquanto nós, reles mortais, pagamos em média oito reais mais o dinheiro da cerveja para jogar uma partida de futebol society com amigos pernas-de-pau numa quinta-feira às onze da noite.

Mas essa é a realidade e temos de aceitá-la. É nisso que infelizmente o futebol se tornou, nesse negócio sujo e inescrupuloso. Não há mais romantismo, não há jogador vestindo a camisa de um clube porque realmente o ama. Fazem-no porque são pagos. E não é o Flamengo que vai mudar isso. Não é o Flamengo que vai convencer o mundo de que um técnico que ganha 50 mil reais por mês pode ser multicampeão e durar décadas à frente de um time à la Sir Alex Fergunson.

Bom, talvez até seja o Flamengo que venha a fazer isso um dia, já que ele é o doutrinador-master do futebol mundial. Mas esse dia não precisa ser hoje. Esta não é a hora certa de mostrar esse tipo de serviço, diretoria! Não é hora de fazer "política pé-no-chão", visando balanço favorável no final do ano. Balanço favorável para clube de futebol é título na estante e torcida ao seu lado. Balanço favorável para clube de futebol é time forte nas mãos do treinador. Vocês têm isso agora -- acordem! Ficar nos assustando com a possibilidade de perder o nosso interino é jogar contra o próprio patrimônio.

Fiquem tranquilos que qualquer salário dado ao Andrade será pago rapidinho com o apoio da Magnética rumo ao bi da Libertadores. Agradar a torcida é o maior investimento que o Flamengo pode fazer.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Reestréia

Voltar a escrever não é fácil. Essa coisa de juntar palavras, coisa que outrora parecia tão simples, tornou-se aquilo que os simplistas chamam de "bicho de sete cabeças" (agora sem os hífens). A malfadada página branca, que até para um treinado é assustadora, agora me botou em desespero. Tomou-me duas semanas para ter a coragem de começar a digitar alguma coisa. Só nessas primeiras linhas, para citar um exemplo esdrúxulo, já apaguei e enxertei uma centena de idéias diferentes e ainda não consegui me dar por satisfeito.

Tá achando ridículo isso de "conversar" com o leitor? Nem queira saber o que estava escrito antes então. Quem me conhece sabe que este é meu último recurso, coisa que só faço uso quando apelar para a escrita em primeira pessoa já não está mais dando conta da falta de inspiração.

Para quem não sabe da novidade, eu estava viajando. Foram oito meses bem vividos na terra dos leprechauns, vulgarmente conhecida como Irlanda. Não vou comentar sobre a viagem porque certamente não interessa a ninguém. Além do mais, já estou envergonhado o suficiente com o uso e abuso desses "eu's", "mim's" e afins. Só o que precisam saber é que foi uma viagem como qualquer outra, com toda a diversão e perrengue que elas têm. Com o agravante de ter como personagem principal eu, Maycon Dimas, o que torna tudo consideravelmente mais chato que o normal.

Fato é que ter viajado me afastou da escrita. Sorte de vocês, porém essa é uma das pouquíssimas coisas que eu gostaria de fazer para ganhar dinheiro na minha vida. Lá eu deixei de escrever primeiro porque não tinha computador, e um escritor moderno não se dá mui bem com canetas em geral; e segundo porque fiquei sem ler livros em português por um bom tempo, o que praticamente eliminou qualquer traço de inspiração que ainda me restava.

(Quê? Vai dizer que alguém achava que aquilo tudo vinha da minha cabeça? Era tudo cópia, irmão. Tudo cópia.)

Agora estou de volta. De volta para os meus livros, de volta para o meu computador. Agora tenho jornais para ler todos os dias (porque apesar de moderno eu não troco um bom jornal de papel sujo por tela nenhuma nesse mundo). Agora tenho o vizinho sonhador para me dizer sobre o que escrever na semana que vem. Foi uma ótima experiência e admito que gostaria de ainda estar por lá, mas também é bom estar de volta. Azar de vocês que terão novamente que me aturar,

Ao menos o "vocês" a que me refiro diz respeito a menos de 10 afortunadas pessoas.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A curiosidade matou o gato

Quando ia passando em frente ao restaurante que sempre almoço vi um pequeno burburinho, fiquei pensando se parava ou não e resolvi seguir o meu caminho. Não gosto de aglomeração, só em estádios de futebol. Todo estádio lotado é um sucesso, ainda mais se for com a torcida do Mengão. Agora voltando ao que eu vi na rua, tudo bem que não era uma aglomeração muito grande. Mas passou de cinco pessoas já é aglomero.

Ao todo eram oito pessoas duas velhas, um casal, uma criança, uma moça e dois caras. As velhas estavam vestidas com roupas parecidas, saia comprida e casaco de lã. As duas com guarda-chuva aberto para protegê-las do sol, bem coisa de senhorinhas mesmo. A que usava chapéu tinha uma bolsa de couro preta e calçava sapatos vermelhos bem chamativos. Enquanto a outra segurava uma revista, dessas revistas que falam de celebridades, bbb’s e quem está pegando quem no mundo televisivo. Digo isso porque vi que tinha uma foto do Pedro Bial (Bial para os íntimos, eu to fora) na capa.

O casal estava voltando da academia, certeza que estavam. Ainda mais, com aquelas roupas só podiam estar voltando da academia ou de algo parecido. Cooper talvez. Ela devia ter uns trinta anos e ele um pouco mais novo, vinte e cinco talvez . Ela de calça de ginástica e com uma blusa amarrada na cintura e tênis. Ele também calçava tênis de corrida, bermuda e camiseta. Ela fazia cara de assustada, ele segurava a mão dela tentando acalmá-la.

Achei aquela movimentação muito estranha. As outras pessoas passavam sem dar muita atenção ao que estava acontecendo ali. A criança com uniforme de escola se esforçava para ver o corpo caído no chão. A moça devia ter acabado de buscá-lo na escola, pois estava segurando uma mochila do Ben 10. Ao mesmo tempo em que tentava fazer a criança não olhar, se esticava para ver o que estava acontecendo naquele zum-zum-zum.

Os dois caras aparentavam uns dezoito anos, no máximo. O careca usava alargador na orelha esquerda, tinha um furo na parte de trás da bermuda e tinha uma daquelas correntes que prendem a carteira. O outro usava boné, que tinha uma caveira bordada. Estava com uma camiseta engraçada, que tinha a frase ‘não fui eu’ estampada. O careca estava fumando, o de boné se espichava para ver o que tinha acontecido.

Confesso que fiquei com vontade de ver o que eles estavam olhando. Mas como não sou curioso, fui embora sem ver o que tinha acontecido.

Fim

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

As Suas Gírias São Idiotas

Quando estou com a minha turma de amigos a gente costuma dizer que “não confia” em certos tipos de pessoas. “Não confio em quem não bebe” foi a primeira das máximas, mas já houve adendos como “não confio em quem torce para dois times” e até “não confio em maestros” – esta, aliás, vai até virar uma comunidade no Orkut porque um camarada aposta a própria honra que muitos além dele não acreditam no “homem da batuta”.

Mas esse não é o ponto onde quero chegar. Quero chegar ao seu ponto G, gata. O negócio é que outro dia eu disse numa roda “não confio em quem não bebe” e uma gaja fez o que ninguém tinha ousado fazer até então: perguntou solenemente o porquê da minha não-confiança.

Caríssimos e pouquíssimos leitores, não sei se isto já aconteceu com vocês, mas ser perguntado do motivo pelo qual você fala uma coisa que já diz há tanto tempo é desesperador! Você fica imaginando quantos outros já não devem ter achado aquilo completamente idiota e só não tiveram coragem ou interesse em confrontar. O pior é que, passada esta fase, você se põe a pensar em todas as outras coisas que costuma dizer e achar normal e que na verdade não fazem o menor sentido para aqueles que não falam as mesmas coisas que você e têm o desprazer de ouvi-las.

E uma coisa eu lhes digo: toda galera tem suas frases e/ou gírias que não parecem idiotas para o grupo (porque “tem um contexto”), mas que na verdade são ridículas e ordinárias mesmo para aqueles do próprio grupo que um dia se põem a pensar ao menos um pouco nelas. É que quem ta de fora ouve e não discute, até porque nunca tem argumentos necessários para isso – “ele está fora do contexto” elimina qualquer possibilidade de o intruso convencer a turma de quão imbecis eles estão sendo –, e quem ta na turma aprende a imbecilidade sem fazer muitos questionamentos porque... bem, porque está na turma, oras, e essas coisas começam sem muitas explicações lógicas.

Antes que alguns xiitas entre vocês venham me xingar por estar “falando mal” da sua turma usando gírias ridículas, devo dizer que a minha é a pior de todas. Nós, os caras da minha galera, é que falamos mais coisas bestas por cada frase com sentido no Brasil. A gente pode falar e rir de todas pessoas num ônibus sem que ninguém saiba que está sendo alvo de chacotas. Então, meu caro, eu não estou te criticando – e muito menos a nós mesmos. Estou apenas constatando um fato. Isso foi fruto de muita observação empírica.

É. A muita raiva que passei indo em churrascos de galeras alheias às minhas e escutando aquele bando de asneiras que não tinham a menor graça (para mim).

Sobre a pergunta citada no começo do texto, ela só serviu mesmo de mote para pensar em tudo isso. Eu consegui responder prontamente e convencer a menina de que não se deve mesmo confiar nas pessoas que não bebem – o que prova que pelo menos esta nossa frase-gíria não é tão sem sentido assim. Explico o lance todo para vocês na próxima semana.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Amor Era Lindo

Então, do nada, o telefone tocou. Era Suzanna.

Suzanna é uma ex-namoradinha de infância que resolveu voltar de repente. Não sei, parece que se apaixonou de novo. Maldito Orkut, que permite estes reencontros – digamos – macabros.

O fato é que hoje Suzanna não é mais a mesma. Quando crianças éramos daqueles “namorados” que planejavam até o nome dos filhos. Trocávamos cartas de amor, Suzanna e eu, que chegavam a ter mais de dez páginas! Para meras criancinhas isso era muito, muito mesmo. Ela era maravilhosa; o amor da minha vida.

Mas o tempo passa, minha gente. E como passou para meu ex-amor-eterno: fora os vários quilos a mais que ela resolveu ganhar nesses últimos 9 anos (coisa que, dependendo, a gente pode sempre relevar), seu cabelo virou algo parecido com uma folhagem de milho, seco, duro e muito arrepiado. Além disso, ela deve ter literalmente apanhado bastante na vida, pois pude notar, durante o nosso fatídico reencontro há pouco mais de um mês, pelo menos três buracos na dentição da moça – sem contar os dentes do fundo.

É… o amor era lindo.

O celular vibrava no bolso da calça. Relutei, relutei, mas atendi. “Oi; não desliga”, disse ela antes que eu pudesse falar alô. “Preciso mesmo falar com você”. Aquela voz parecia a de alguém que chorou compulsivamente por mais de dez horas. Tremia, gaguejava, pigarreava. Senti uma ponta de preocupação – mas nenhum pingo de compaixão. Disse-lhe “precisa mesmo ser agora? Estou ensinando umas coisas de adulto para o meu irmão. Sabe como é, o piá tá crescendo”. Jogávamos Winning Eleven.

“Sim, precisa”, ela gritou, e nessa hora até pausei o jogo. Olhei para o meu irmão e fiz sinal que esperasse. Meu coração estava apertado; o que aquela criatura estranha queria comigo, àquela hora? Certamente iria dizer que me amava, que sempre me amou e que não podia viver mais um minuto sequer sem mim. Nada mais óbvio.

E diria mais, pensei. Diria que, se eu não fosse até ela naquele exato momento, saltaria do 15º andar direto para o meio da linha do trem, para não dar chance de o suicídio falhar. Temi pelo que seria pior: se ela se matasse eu certamente seria indiciado e preso por não evitar a morte de uma jovem.

“Sim, precisa!” Depois daquela frase o telefone ficou mudo por longos segundos. Pareceu que aquele grito assustara aos dois. Se de um lado se escutava a respiração ofegante de uma moça em vias de colapso, de outro só se ouvia o som vibrante de uma torcida em tela de pause. É, definitivamente eu não estava nem aí. Talvez um pouco preocupado com o fato de ela querer se matar, mas só um pouco.

Finalmente, depois de outros cinco longos segundos, ela continuou: “sabe que gosto muito de você, né?” Pronto; bastou isso para confirmar todos os meus medos. Ela realmente me amava e certamente já estava sentada no parapeito da janela com uma perna para fora. Senti minhas mãos suarem. Essas coisas sempre começam com um “te adoro” e acabam na hollywoodiana frase “não consigo mais viver sem você”, além de um corpo estirado na calçada.

Fechei os olhos e quase me pus a chorar; tudo o que eu não precisava naquele instante da vida era de uma feia suicida apaixonada por mim. Essas são o tipo mais difícil de se livrar sem que haja qualquer conseqüência.

Então lhe disse “fala, mas cuidado com o que você vai falar”, e logo me arrependi. Tinha acabado de dar uma brecha para ela dizer tudo o que se passava naquela cabeça tola. Fiz-me de interessado, o que pode ser muito perigoso se sua interlocutora já sonhou com aquele momento centenas de vezes na vida.

Senti a respiração ofegante cessando do outro lado. Ela falou “sabia que você iria me escutar”, e até pareceu mais animada. Pensei comigo que deveria ir até o fim, já que falei besteira. Tinha que agüentar. Suzanna então respirou fundo, como quem se prepara para mergulhar numa piscina gelada, e disparou:

- Sabe, Carlos, já faz dez horas que eu to chorando. Não agüento mais! Terminei com meu namorado hoje cedo mas ainda gosto dele. Muito. Terminei por pena, sabe? É que eu o traí o Marcelo com aquele ator da novela que estava aí na cidade, sabe? E fiquei com muito peso na consciência. Você me entende, não entende? Eu não agüentaria vê-lo como um corno. Eu o amo, e só o traí porque era o galã da novela e ele deu em cima de mim. Não foi a primeira vez, admito, mas foi a única em que me bateu o remorso. O quê que eu faço? Me ajuda, Carlos!. Me ajuda!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Enrolar-te-ei

O que fazer quando já se tentou começar a escrever cerca de dez vezes um texto – e com assuntos diferentes – mas nada deu certo? Suicídio seria uma boa opção; quebrar o computador também. Desistir? Nunca. É por isso que vou lhes mostrar aqui uma arte milenar subliminarmente ensinada nos cursos de jornalismo: a enrolação.

Sim, porque na faculdade eu precisava fazer provas. E muitas provas, aliás; não dava tempo de estudar para todas. E as provas de jornalismo, meus caros, nada têm a ver com essas de engenharia que se vê por aí, não. Quando a questão envolve números é psicologicamente mais fácil: é ou não é, ou você sabe ou você não sabe. Não existe meio certo, quase certo; simplesmente existe ou não existe, ou você acerta ou vai pra lama. No jornalismo, e imagino que nas cadeiras humanas em geral, a sua nota depende de muito mais fatores do que a sua incrível capacidade de reter 200 fórmulas diferentes na cabeça.

Vamos a um exemplo prático. Certo dia estava eu todo serelepe respondendo as questões de uma prova aparentemente fácil de uma matéria qualquer. Escrevi as sete primeiras respostas com certeza absoluta de que tinha acertado tudo. A última era uma questão do livro. Pensei com meus botões: “que livro maldito será esse, meu deus do céu?” Eu não tinha idéia alguma de qual era o livro em questão. E olha que às vezes só o título já serviria de embasamento para uma resposta-enrolação, mas desta vez nem o nome do autor eu tinha idéia.

Enfim, parei de cagar nas calças e me pus a ler a maldita pergunta. Era algo como “o que fez Fulano de Tal naquele fatídico ano de 1930?” Olhei para os céus e disse alto o suficiente para que todos na sala pudessem me ouvir: “obrigado, Dionísio!” Foi o meu momento de fé, mas na mesma hora o professor se levantou, correu endiabrado em minha direção, puxou minha prova e disse: “suma da minha classe, seu coladorzinho dos diabos. Você e esse seu amigo Dionísio”.

Ok, este último parágrafo foi quase todo mentira. Enrolei vocês. Continuando.

A questão era mesmo aquela: “que fez fulano naquele conturbado ano de 1930?” Consultei meus parcos arquivos cerebrais e vi que tinha 50% de chance de acertar: ou fulano apoiou o golpe do tio GG ou ele viu que a barra ia pesar e meteu o rabo entre as pernas. Escolhi que ele não só apoiou Getúlio (até porque ninguém escreveria um livro sobre a vida de um covarde) como foi por ele dada a primeira notícia de que a movimentação pela deposição do presidente Washington Luis estava sendo deflagrada (afinal era uma prova do curso de jornalismo). Arrisquei, admito, mas, já que eu não sabia nada mesmo, era melhor enrolar com detalhes que isso pelo menos deixaria a resposta mais bonita, e as pessoas gostam mais das coisas bonitas – até mesmo os avaliadores.

No fim das contas, ao receber a nota da prova, vi que das sete questões que eu tinha respondido com certeza estavam mais da metade delas erradas. E a do livro, a big-enrolation, surpreendentemente foi a única completa dentre todas as provas da turma. A única que recebeu nota integral. Certamente os outros se limitaram a dizer que o Fulano apoiou a revolução e só. Ou então consideraram o protagonista do livro maricas. Tolos. Maricas não deixam história para contar – sobretudo em um ano conturbado como o de 1930.

Só pra constar: Fulano de Tal era Osvaldo Aranha, a primeira pessoa que telegrafou para o Rio de Janeiro, então capital federal, a notícia de que a Revolução havia sido iniciada.

Se você chegou até aqui, bravo!, mas imagino que deva estar se corroendo por dentro com a pergunta de um milhão de dólares: “onde estará o maldito desfecho da proposta original, que era mostrar esta tal arte jornalística, explicando como ela é ensinada apenas subliminarmente”. Bem, te digo que não há explicação – é tudo muito subliminar, dã. Você terá que entender por si mesmo. E não se esqueça de uma coisa super importante: você foi enrolado até aqui, então… ponto para os homens!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Seu Celular e o Mp3

Para os apaixonados por músicas como eu, estes celulares com mp3 são o topo da cadeia alimentar. Não porque eles têm players ultra-modernos ou fones de ouvido que anulam ruídos externos e o escambau; isso é um mero atrativo a mais, apenas mais texto para as propagandas. Bons eles são simplesmente pelo fato de rodar o bom e velho mp3. Explico.

O player pode até ser útil, numa viagem ou quando seu vizinho de mesa insiste em botar o rádio-relógio do departamento naquela rádio evangélica, mas ele não substitui de jeito nenhum um tocador de mp3 propriamente dito. Os mp3 players já são feitos para isso – e muito mais bem-feitos, diga-se, até porque não precisam se preocupar com agenda de endereços, calculadora e jogo da cobrinha (ou pelo menos, penso eu, não deveriam).

Fato é que o grande atrativo dos celulares que rodam o mp3 é que se pode usar suas músicas preferidas nas funções do aparelho. Botar aquele seu funk predileto como toque quando uma amiga liga, de alerta de mensagem ou até mesmo despertador é uma maravilha – mas é bem aí que mora o perigo.

Colocar sua música preferida como despertador pode ser um grande tiro no pé. Sim, acordar é a pior hora do dia! Ou você acha que odiava aquele pipipi dos rádio-relógios antigos só porque era um barulho irritante? Poderia ser um cântico dos anjos que mesmo assim você odiaria. Há quem odeie até a própria mãe quando ela por ventura inventa de acordá-lo.

Eu, por exemplo, pus outro dia a música La Cumparsita, do Gerardo Matos Rodriguez, numa das suas tantas versões, como toque de despertador. Essa empre foi uma canção top 10 do meu iTunes. O que aconteceu então? Agora eu mais que odeio a dita-cuja. Não posso sequer ouvir o primeiro ré da partitura que tenho calafrios.

Moral da história: voltei para o ruim e sempre odiado pipipi dos velhos rádios-relógios. Sim, é melhor acordar com aquele barulho irritante – e que sempre foi irritante – do que passar a odiar os grandes clássicos. Mp3 no celular, agora, só para toques personalizados e alertas de mensagem. E olhe lá.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rei do Pendura

Já tinha visto aquele cara aqui no restaurante, só não lembrava de onde. E por algum motivo acho que ele vai arrumar confusão. Ah sim, esse foi o miserável, que arrumou uma confusão fenomenal aqui e todo mundo saiu sem pagar. Em 88 ou 89 eu acho. Dureza é que não tenho como provar que foi esse puto quem armou aquela balbúrdia toda. Bom, vamos deixar isso para trás, vida que segue. Ainda mais que ele parece estar bem tranqüilo com o filho.

- Boa tarde, já escolheram?
- Não chefe, ainda não. O que você está querendo comer filho?
- Batata frita, que batatinha frita pai.
- Perfeito! Por favor, uma alcatra no ponto para nós dois, batata frita, uma cerveja e um guaraná.

Anotei o pedido e fui buscar umas torradas e manteiga, um agrado que a minha mãe serve aos clientes. Achei que foi um acidente mesmo o que ocorreu no dia da briga, ele não parecia que estava aprontando alguma. Pelo modo como tratava o garoto, parecia ser um bom pai. De onde eu estava, podia ouvir ele contando a história de alguma vitória do Flamengo. Fui até a mesa levar as bebidas e as torradas, quando ele dizia...

- ...um time chileno. Não lembro o nome, o jogo decisivo foi no Uruguai. – dizia ele com as mãos na cabeça.
- Cobreloa – eu falei – Cobreloa do Chile.
- Isso, isso mesmo. Eu estava contando pro garotão aqui, como o Mengão foi fantástico naquele jogo, contra aqueles chilenos briguentos.
- Verdade, bons tempos.
- Bons tempos mesmo e a gente ganhava tudo.
- Pois é, naquele tempo a gente dizia que o Nunes era ruim de bola, mas ele fazia uma penca de gols e tinha uma raça de dar inveja. O nosso time agora...
- Hahaha... mas vai melhorar. Acredite.
- Eu acredito, estou na torcida.

Servi as torradas e as bebidas e voltei para o balcão. Comentei com o Marcel, que trabalhava comigo, que nem parecia aquele maluco da briga. Nem ele acreditou que o sujeito que arremessava cadeiras, poderia voltar para o nosso restaurante e ainda acompanhado do filho. Em pouco tempo a alcatra estava pronta, quando servi o garoto ficou impressionado com o tamanho do prato. Mesmo assim comeram toda a carne, e ainda pediram sorvete de sobremesa. O garoto repetiu o sorvete.

Quando eu voltava com a segunda taça de sorvete o sujeito me perguntou se celular funcionava normalmente dentro do restaurante.

- Sim, nunca tivemos problemas com isso. – respondi.
- Não sei, é que meu telefone está sem sinal aqui dentro.
- Não quer ir ali fora tentar, vai que funciona.
- Será?
- Sim, ou quer usar o telefone do restaurante.
- Não precisa, vou ali fora mesmo. Volto num instante, com licença.

O camarada disse ao garoto que já voltava. Saiu segurando o celular na mão e com um semblante preocupado. O garoto comia o sorvete pacientemente e eu fui atender outra mesa. Dez minutos se passaram e o sujeito não voltava. Mas como o garoto estava ali, fiquei tranqüilo. Acreditei se tratar de uma ligação importante. O tempo foi passando e o sujeito não voltava. O menino com ar de assustado, veio perguntar pelo, suposto, pai. Respondi que não sabia e perguntei se ele não tinha dito onde ia.

Foi então que me ocorreu que o sujeito que julguei ser bom pai, estava dando um calote. Confirmei isso quando perguntei ao garoto se o sujeito era o pai dele. O garoto me contou que não conhecia o viado caloteiro e que ele tinha dado as roupas e ofereceu para pagar um almoço. O garoto até se ofereceu para lavar a louça, mas me senti enganado deixei que ele fosse embora. E claro, o sujeito nunca mais voltou aqui.

Fim