terça-feira, 25 de março de 2008

Se o dinheiro falasse

Já parou para pensar por onde andou o seu dinheiro? Não que está no banco, mas essa nota de um real que tens no bolso. Pois bem, olhei para minha carteira e vi que entre todos os meus reais (que não são muitos), uma cédula em especial chamou mais atenção que as outras três (uma de cinco, uma de dez e outra de um novinha). Uma nota de um real velha, suja, maltrapilha e maltratada, com um furo no meio e com a esfinge de “óculos escuros” e bigode. Na hora pensei: e se essa nota falasse!

Em pouco tempo admirando aquela nota que estava (e ainda está) em frangalhos, comecei a imaginar diversas situações sobre o fabuloso destino desta nota. Desde que saiu da casa da moeda e foi para um banco. Do banco foi para as mãos (ou bolso) de alguém, quem sabe de uma velhinha que foi comprar pão. O garoto do caixa da padaria ao dar o troco para uma bela senhorita rabiscou o seu telefone na nota que a velhinha pagou pelos pães.

Na seqüência a nota foi para na banca de jornal, sem que a garota levasse a sério o galanteio do rapaz do caixa da padaria. Da banca de jornal foi para o cobrador do ônibus, quando o jornaleiro foi embora. Do cobrador a nota foi para um estudante do ensino médio que colocou os óculos escuros na esfinge, antes de passar a nota para frente. E assim a nota de um real foi circulando de mão em mão.

Foi lavada dentro do bolso da calça de algum esquecido. Usada por um garoto para comprar figurinhas do campeonato brasileiro de 1997. Foi apostada numa partida de caixeta. Foi parte do pagamento de uma rifa que concorria a uma cesta de páscoa. Foi doada como esmola. Serviu de pagamento para uma dose de cachaça. Passou pela Casa China. Algum moleque filadumaquenga resolveu fazer um saque, direto na conta do papa, através da santinha que vai de casa em casa no lares católicos e pegou essa nota.

Claro que tudo isso são apenas suposições de por onde essa nota pode ter passado, mas não é muito diferente disso. Quem garante por onde o nosso dinheiro já andou? E aqui está a nota de um real toda mulambenta, estropiada, furada e com um poema rabiscado. Não resisto em transformar a esfinge que estava de óculos escuros em um daqueles caras do Kiss.

Fim


O artigo 290 do Código Penal, diz ente outras coisas que é crime inutilizar nota, cédula ou bilhete representativo de moeda.

Assunto obrigatório

A malandragem no trânsito é a maior das incongruências do comportamento humanas – principalmente em Curitiba. Eu não sou nenhum santinho, admito. Forço alguns sinais amarelos (por que acredito que se deve ter esperança até o fim), dou minhas "picotadas" entre os carros e uso os 15 minutos da vaga da farmácia para ir à panificadora ou  à banca de revistas. Nada de tão grave, porém é a tal da ambivalência brasileira: faça o que eu falo mas  não faça o que eu faço.

Alguns caras exageram. E digo caras porque os malandrões do trânsito são sempre homens entre 18 e, vá lá, 30 anos. Nunca se vê uma mocinha pilotando um Ford Ka vermelho a 120 por hora na Visconde de Guarapuava. Elas estão sempre que podem se maquiando no espelho retrovisor. Que não me levem a mal, mas é talvez por isso mesmo que elas são mais educadas na direção. Nada têm a ver com os adesivos de florzinha, Betty Boop, Hello Kittys e afins que elas colam sobre a tampa do porta-malas.

Um dos casos mais emblemáticos é o momento de arrancar no sinaleiro. Eu não perco nunc... Digo, todo homem acha que consegue arrancar antes do veículo imediatamente ao lado. E não importa se há alguém na frente ou se precisará atravessar a pista para entrar à esquerda na primeira rua após o cruzamento: a espera pelo sinal verde é um breve momento de tensão. Os malandrões pisam fundo, roncam os motores, intimidam os vizinhos e, quando o sinal finalmente abre, correm, aceleram como se nada houvesse de mais importante do que chegar antes do "adversário". Mas... Chegar onde? Justamente no próximo sinal fechado, onde você, motorista prudente que arrancou calmamente e seguiu com velocidade segura e compatível com a via, chegará apenas alguns pouquíssimos segundos depois.

Mas o que mais irrita este que vos escreve são as benditas faixas de conversão obrigatória. Sabe, como aquela na Bento Viana, onde quem está na faixa da esquerda é obrigado a entrar na Avenida do Batel? Ou então para quem está na faixa da direita da Visconde de Nácar, logo após a Vicente Machado, e é obrigado (quase induzido, pois ali é um movimento praticamente natural) a entrar na Comendador Araújo? Essas faixas são quase que isoladas das outras por aquelas tartariguinhas, muito bem sinalizadas e, principalmente, NÃO CONTINUAM depois da rua onde se é obrigatório fazer a conversão. Mas o que fazem os malandrões? "Wooow"!, são muito espertos e ultrapassam todos os bobos que ainda esperam para seguir reto na faixas – digamos – mais convencionais.

Particularmente tenho uma técnica supimpa que serve, se não para educar os malandrões, pelo menos para deixá-los profundamente irritados. E garanto a vocês que é uma técnica empiricamente comprovada. Funciona assim: logo que o espertalhão entrar espertamente na sua frente, oriundo de uma dessas faixas de conversão obrigatória, tasque-lhe um jóia pelo seu pára-brisa. Sim, aquele mesmo jóia que se faz para cumprimentar o colega do outro lado da rua. Mas preste muita atenção. É preciso colar na traseira do indivíduo e ter certeza de que ele viu o jóia por algum dos espelhos. Admito que é uma técnica perigosa, mas a risada, no final, compensa todas as agruras desse trânsito caótico. Ah, e é muito importante conferir se o malandrão é mesmo um malandrão. Às vezes acontece de um motorista novato ou senil (esses são peritos nisso) estarem na faixa errada e PRECISAREM entrar na sua frente. Só que aí a história é outra.

Mas, espera aí. Será que estes motoristas senis, que por muitas vezes acho-os estúpidos em todo o âmbito da palavra, não foram os malandrões da sua época e estão usando toda sua malemolente velhice para passarem a pernas nos bobocas aqui? Sinto que fui enganado.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Sustentando o vicío

Imagine-se num distante país qualquer. De preferência num desses que "não existem", tal como Ossétia do Sul, Abecásia ou a República do Palau (são tão longínquos e desimportantes que nem o word os reconhece). Você, por algum motivo que não merece explicações, está representando o Brasil numa visita oficial. E o Brasil, por incrível que pareça, acaba de ajudar o referido país a conseguir a tão desejada independência sobre os imperialistas do Turcomenistão. Resumindo: você está sendo tratado como rei.

Entre um aperto de mão e outro, a fome começa a apertar. Você olha no relógio e ainda faltam pelo menos duas horas para a próxima refeição. As perspectivas não são boas: a fila para abençoar os fiéis (sim, criaram uma igreja evangélica dizimista onde você é deus) some da vista, descendo o serrote até pelo menos a cidade baixa; todas as duas emissoras de TV locais e as três de rádio querem lhe fazer entrevistas exclusivas; e, finalmente, a assessoria do Imperador do paisinho (diminutivo de país) foi lhe informar que o almoço seria servido somente dentro de longuíssimas três horas.

Em três horas sua fome será de refugiado de guerra, de recém-nascido abandonado pela mãe no matagal do Jardim Botânico. O estado será tão crítico que você verá imensos T-bones suculentos e flutuantes ao invés das vacas e cachorros que circulam pelas ruas. Mas uma coisa o acalma: o almoço certamente será digno de príncipe etíope, com tudo o que de melhor o país tem a oferecer e – o mais importante – em fartura. Muita fartura.

Mesa posta, você se vê em meio a todas as autoridades locais – alguns em formato de coxa de galinha, devido ao avançar do instinto. As bandejas começas a entrar e o estômago arde, de tanta fome. Você fecha os olhos e sente o aroma... Finalmente comerá, depois de infindáveis horas de abraços, autógrafos e entrevistas. Enquanto o Imperador e o Ministro de Guerra fazem seus discursos, seu pensamento é apenas no que virá debaixo daquelas lustrosas tampas. Imagina uma grande panela de arroz, uma bandeja repleta de picanhas malpassadas fatiadas, um pote de farofa de milho temperada e uma cumbuca de feijão abarrotada de bacon e paio.

Dada a ordem, os serviçais avançam até as bandejas e puxam-lhes as tampas. À primeira vista, seus desejos se realizaram: você vê o arroz, o feijão, a picanha e a farofa. Mas é apenas uma miragem. Forçando a vista para enxergar a realidade, vê um singelo coelhinho com uma maçã na boca, que os criados anunciam como "Lebre Virgem ao Molho de Ostras". Um pouco mais ao lado, uma mistura verde e grossa que expele gosmentas bolhas de ar é anunciada como "Molho Típico de Ervas Grossas". E antes que você pudesse pedir licença para vomitar, um jovem serviçal sobe numa cadeira e anuncia, a plenos pulmões, o que diz ser a especialidade do país: "Filhote de Gambá à Milanesa". A multidão à mesa vai ao delírio; você, finalmente, desmaia.

Um vício nunca é saciado com novidades e invencionices. E convenhamos que comer, pelo menos num estado de fome terminal, é um vício físico e psicológico, muito mais atormentador do que a abstinência de cocaína ou de video game. Esse seria um caso em que você chegaria num restaurante qualquer e pediria o famoso PF, que NUNCA varia da combinação arroz, feijão, macarrão, salada e carne à escolher. Na hora da fome, nada é melhor do que isso. Não me venha com água-viva cozida, canário-da-terra assado ou anta grelhada: o que eu quero é sustança.

(Graças ao Lucas Mário)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Se a vida lhe der limões...

De saco cheio de não ter amigos e nem para quem ligar, Luana Inocêncio começou a trabalhar como operadora de telemarketing. Hoje vive feliz pois todos os dias tem para quem ligar. O seu desejo atual é que as pessoas liguem para ela.
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Cansado de sua vida solitária, a falta de emprego e da sua virgindade que durava vinte e poucos anos. Clóvis Marçal, largou a frieza dos relacionamentos na internet e foi fazer filmes adultos, pela Brasileirinhas. Agora faz o que sempre teve vontade, ganhou um nome artístico (Clóvis Peróba) e ainda ganha para isso.
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Vinícius do Amaral, adorava futebol. E como todo garoto sonhava em jogar no seu time de coração. Porém quis o destino (esse brincalhão) que Vinícius não nascesse com o dom de ser bom de bola. Vinícius não deu bola (hã hã hã) ao destino e hoje trabalha orgulhoso, no seu time de coração. É gandula profissional há doze anos do Esporte Club Birolauense, o Dragão da Serra.
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Dêmia Gonçalves, queria ser modelo. Porém a beleza nunca foi o seu atributo que mais a destacava. Mesmo depois das plásticas no nariz, olhos e orelha. Mais os implantes de silicone aqui, ali e acolá, Dêmia não ficou exatamente bela. Mas hoje faz uma série trash onde ela é a heroína e também a mais bela das atrizes do seriado.
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Depois de ser motivo de chacota a vida toda, Cleriston Bingolau resolveu dar um basta nas chacotas que sofria. Começou a usar as piadas que faziam dele em um show de comédia stand-up. “Agora olha quem está rindo por último!” diz ele.

Fim

Quase um déjà vu

Foi ócio, admito. Minha semana (essa que passou) foi de completo ócio. Mas, como dizem, foi o tal do ócio produtivo. E ócio produtivo, no meu caso, significa MUITA leitura. E isso não é especialmente bom.

A cada livro que leio, fico impressionado. Me atento principalmente aos clássicos, é certo, mas – raios! – como podem escrever coisas tão boas? Cada página é um verdadeiro chute no saco. Acho que tudo que valia a pena ser escrito já foi. Será possível escrever algo tão bom ou melhor do que Dom Quixote? Acho improvável.

Não há mais nada de novo a ser escrito. O futuro nos reserva apenas releituras de velhos clássicos. É o fim da história (sem trocadilho). No mundo nada se cria, na se destrói; tudo se transforma.

O mesmo vale para a produção musical. As músicas vêm sendo sistematicamente catalogadas desde pouco mais de 400 anos. E num mundo extremamente burocrático como o nosso, o que não está catalogado não existe. A inspiração nunca irá acabar? Não seria o funk uma prova de que a produção musical de qualidade está em vias de extinção? Provavelmente no futuro só teremos versões de antigos clássicos.

Aliás, será que esse texto já não foi escrito antes?

O bom e velho ele

De repente, instalou-se a crise. Mental, que fique registrado. No mais está tudo bem: com os amigos, com a família, com o trabalho. O problema é a cabeça e os velhos questionamentos sobre a existência e, principalmente, o porquê dela. Nada que fará seu mundo perfeitinho ruir, mas incomoda na hora das conversas mais fúteis.

Os pensamentos variam da descrença nos ideais de sobrevivência à idéia de que a vida é apenas um rito de passagem. As angústias, veladas, fazem eco nas atitudes, nas palavras. Há um certo rancor no ato da convivência social. As regras... Não está certo. Nada está certo.

Alguém lhe disse, certa vez: "A vida é curta, rapaz. Aproveite enquanto é tempo". Hoje ele se pergunta por que isso. A vida é curta comparada a quê? O planeta tem milhões e milhões de anos. Se comparado a isso, a vida é curta mesmo. Mas uma mosca vive dois, três dias. E então?

Mas, na verdade, o que é a vida? Seria ela um direito adquirido? Ou então uma grande sorte de loteria? Até um azar, talvez. O fato é que vivo ele está; sente dores e suas variações; sente sabores, gostos, sons e formas; sente preguiça, ira, avareza a luxúria. Só não entende os motivos disso tudo.

Explicações. Ele quer explicações.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Marketing agressivo

Domingo cedo, estava com uma ressaca considerável assistindo o Esporte Espetacular, com seus jogos que exaltam o patriotismo brasileiro. Pois sempre tem um “desafio internacional” de alguma modalidade esportiva, em que o Brasil enfrenta algum adversário meia-boca e dá aquela impressão de que o Brasil não é só futebol. Mas o que me traz a escrever estas linhas é um fato do mundo marketeiro futebolístico de fora das quatro linhas.

Pois vejam a audácia da diretoria do São Paulo. Esses geniais senhores tiveram a pachorra de traçar um plano de marketing para que um dia quem sabe, o São Paulo tenha a maior torcida do Brasil. Isso mesmo, os sumpaulinos querem ter uma torcida maior que a do Flamengo. O projeto é inovador, tenho que concordar, mas tem um detalhe. O plano, a lá Dick Vigarista, pode até dar certo. Contudo as condições para que o clube paulistano obtenha sucesso são um pouco improváveis, duas delas são eminentes.

Um destas condições é a de que o clube paulistano continue a fazer campanhas vencedoras, como vem fazendo ultimamente. O que para quem acompanha futebol, sabe que o Brasil não é a França nem a Alemanha, onde um único clube reina absoluto por décadas e sem ser incomodado pelos rivais. Aqui sempre há uma certa rotatividade de clubes no topo da cadeia alimentar.

Outra condição, depende dos adversários. Pois nada impede o Flamengo, o Ipatinga, o Corinthians (é timão mano), o Palmeiras, Fluminense, Bacalhau entre outros de menor expressão, de fazer uma campanha igual ou parecida com essa. A tal campanha de marketig é válida, mas não vejo muito futuro nisso não. Ao menos vale o fato de o clube paulistano ser lembrado como a vanguarda da idéia.

Outra coisa, pelo menos a campanha do São Paulo é mais racional do que a que um comentarista esportivo, muito imparcial e corintiano disse na TV um tempo atrás. Dizia o comentarista, incomodado com o Corinthians (é timão mano) ter a segunda maior torcida do Brasil:- Você corintiano, depois do jogo vá para casa e faça mais um corintiano. Assim logo teremos mais torcida que o Flamengo.- É mole!? Esse sim é um brincalhão, como diria outro comentarista imparcial de acha que sabe tudo.

Voltando à campanha do sumpaulo, se eles acham que vão sair por ai roubando torcedores do Mengão, já vou avisando que estão muitíssimo enganados. Pois já estou fazendo a minha parte, para frustar as intenções malignas do tricolor paulistano. Meu sobrinho, Murilo um figurinha, estava assistindo comigo, e no alto dos seus recém quatro anos, me perguntou o que era aquilo. “Aquilo” era um sujeito careca vestido de mascote do São Paulo.

Como o dever de todo tio é zelar pela boa educação e principalmente ensinar o caminho do bem ao sobrinho amado, disse a ele que aquilo que o sujeito careca estava fazendo era colocar roupa de menina nos meninos. Perguntei se ele queria uma camiseta daquelas, sem pensar muito disso: - Eu não, é de menina.- Garoto esperto, sabe das coisas. Sem pressão nenhuma deste que vos escreve ele já sabe quem é e quem foi o Zico. Até quando vê a camisa do Atlético-Pr diz que é a camisa do Zico. Tudo bem ele só tem quatro e deu essa moral para o Atlético por causa das cores. Em breve estará vestindo a camisa do Mengão para orgulho do tio coruja aqui. E isso não tem marketing
que supere.

Fim

sexta-feira, 14 de março de 2008

Questão de prioridades

O governador de Nova York, Eliot Spitzer foi pego, descobriram que o sujeito andava, e por muito tempo, com a boca na botija, com a mão na massa, ou seja, descobriram que o governador era chegado nos serviços das profissionais do sexo. Dizem que era uma profissional de luxo, e de fato era mesmo, pelas fotos divulgadas pela mídia. Mas alguém esperava que não, governador que é governador, não usa serviços que não sejam luxuosos, ainda mais os serviços desta natureza.

Se bem que o Bill Clinton deu aquele tchuplec-tchuplin naquela estagiária, que não era assim uma brastemp, e até hoje é lembrado como o presidente que pegou a estagiária gordinha(na época). Mas apesar dos pesares, Clinton continua firme e forte apoiando a esposa Hillary na corrida pela Casa Branca. Voltando ao Sr. Eliot Spitzer, depois que vasculharam o histórico do seu computador (tremenda sacanagem), descobriram que o governador era muito chegado numa sacanagem e com um pouquinho mais de empenho verificou-se que o governador gastou 80 mil dólares com serviços das profissionais de luxo.

A pressão foi tanta que, Spitzer renunciou o cargo de governador, não agüentou, pediu pra sair, fez cara de choro e prometeu não fazer isso de novo (me engana que eu gosto). É engraçado essa coisa puritana dos políticos americanos, depois de descobrirem as suas sacanagens, chamam a família, convocam uma entrevista coletiva, pedem desculpas ao povo e fica por isso. Mostram a fragilidade do ser humano. Assumem que a carne é fraca, só falta dizerem que “foi sem querer”.

Já que eles dão tanta importância para a fornicação, o que falta para pedir desculpas pelas agressões no Afeganistão e no Iraque. Só para começar.

Fim

terça-feira, 11 de março de 2008

Peça uma e ganhe outra

Tem uma coisa que me deixou bolado outro dia no restaurante. É que em cima de cada mesa tinha um pequeno quadro de propaganda, do restaurante, que de um lado dizia que aquele era o restaurante mais lembrado pelos entrevistados do Top Of Mind. Do outro lado tinha uma espécie de convite/promoção, para os clientes voltarem mais vezes ao restaurante. A promoção era a seguinte, nas terças o cliente que pede uma cerveja Heineken, ganha outra.

Percebeu a pegadinha do malandro? Não? Pois explico, imagine o sujeito que aprecia uma Heineken, ao chegar no restaurante é gentilmente recepcionado pela bela moça que o acompanha até a mesa que melhor o agrade. Em seguida um garçom vai anotar o pedido da bebida. Logicamente o sujeito pede uma Heineken, pensando na promoção. Antes que o garçom volte com a cerveja ele vai se servir. No buffet pega uma saladinha, um pouco disso, um pouco daquilo, um tantinho daquele outro e volta para a mesa.

Ao sentar-se na mesa o garçom vem com a cerveja, porém para espanto do cliente, ele não traz uma Heineken. O garçom serve uma cerveja de outra marca. O cliente chama a atenção do garçom, dizendo que deve ter havido algum equivoco. Mas o garçom diz que fez exatamente o que o cliente pediu. O sujeito fica confuso e pergunta sobre a promoção da Heineken. O garçom educadamente explica: - Veja bem, não servimos Heineken. E está bem claro no panfleto. PEÇA UMA HEINEKEN E GANHE OUTRA. Entendeu? Você pede uma Heineken e leva uma cerveja de outra marca.

O cliente pode retrucar falando, que estava escrito que o cliente GANHA outra. E quem ganha não precisa pagar.

Fim

sexta-feira, 7 de março de 2008

Passionacionalidade

De repente a euforia e a esperança, num instante torna apreensão e angústia. Aquele entusiasmo de certa forma serviu de combustível para que a esperança não se fosse de uma única vez. Porém em instantes outro fato deixaria a esperança “respirando por aparelhos”. Mesmo assim ainda havia esperança, e não é que ela é realmente a última a morrer. Quando tudo dizia que não ia dar certo, aquele resto de esperança iluminava e de certa forma acalmava a angústia que já se fazia presente nas expressões faciais. No pedido de mais um chope. Era a esperança dando sinais de fraqueza.

Minutos depois, mais um golpe que leva a esperança à lona. Mesmo assim eram os últimos suspiros daquele restinho de esperança. Agora a angústia tomava conta do ambiente, ninguém dizia nada, apenas resmungavam lamentos e grunhidos de raiva. A raiva surge como se já estivesse pairando no ambiente a algum tempo. A esperança em estado terminal e em diminuindo cada vez mais, só fazia aumentar o sentimento de nó na garganta. Angústia, nó na garganta e a sensação de impotência em não poder ajudar.

Mais duas fatalidades seguidas e a esperança “sobe no telhado”, com o rosto enfiado entre as mãos. Um olhar distante para o nada, desvio o olhar para a tela e vejo que minha angústia, o nó na garganta, o desconforto e o sentimento de não poder ajudar iriam durar mais vinte minutos. É como se você estivesse amarrado e na sua frente alguém agredisse alguém que você preze muito. Tamanha tristeza no ambiente que até um uruguaio, e torcedor do Nacional, não se empolgou muito com a vitória do seu time. Sentiu-se culpado pela dor no coração dos presentes e tentou até atenuar o sofrimento alheio. Disse em portunhol: - Tranquilo, no fim seremos nós e Flamengo classificado. Tranquilo.

Perguntei a ele, como se sentiria se a situação fosse inversa. Nós no Uruguai e o Flamengo vencendo o time dele. O gringo respondeu que ficaria tranqüilo, pois sabia que se classificariam com o Flamengo para a segunda fase. Disse a ele, que essa é a diferença, uma derrota do Flamengo é muito maior e mais triste para nós do que uma derrota do Nacional para eles.

Fim

Viaje o Mundo com a FCC

- Mas o Brasil é um lugar do mundo, não é?
- É, sim senhor. Mas a promoção que o senhor ganhou dá direito a uma passagem internacional, e não nacional.
- Pois não. Mas no panfleto dizia que se eu ganhasse teria direito de ir para qualquer lugar do mundo.
- Ok, senhor. Isso significa que o senhor pode escolher uma passagem de ida e volta com acompanhante e tudo pago para qualquer lugar do mundo. Paris, Roma, Berlim, Praga...
- O Brasil é um lugar do mundo!
- É sim, senhor, só que a promoção que o senhor ganhou só dá direito a viagens internacionais.
- Chamava-se "Viaje o Mundo com a FCC", não é?
- Sim, senhor.
- Pois então eu quero ir para Salvador. Eu ganhei, eu escolho.
- Sim, senhor. Mas para ir a Salvador o senhor teria que ter ganhado na promoção "Viaje o Brasil com a FCC". A sua promoção só dá direito a viagens internacionais.
- Mas de que me adianta conhecer o resto do mundo se nem meu país eu conheço?
- Pense bem, senhor. O senhor terá a chance de ir para os países mais ricos do mundo, conhecer outras culturas, aperfeiçoar idiomas...
- Nenhum país é mais rico do que o Brasil. A riqueza não é apenas o dinheiro. E eu não conheço a cultura da Bahia. Além do mais, nem o português eu sei falar direito!
- Seria um desperdício do seu tempo e do nosso dinheiro ir para Salvador ao invés de Nova Iorque.
- Desperdício? Você está querendo dizer que conhecer o meu país é perda de tempo?
- Não foi isso que eu quis dizer, senhor. O senhor precisa entender que ganhou uma promoção dos sonhos de qualquer pessoa. Conhecer qualquer lugar do mundo, não é formidável?
- Excelente! Eu quero conhecer o Brasil.
- Eu já lhe expliquei, senhor: essa promoção só lhe dá direito a viagens internacionais. Que tal ir para Sidney? Conhecer os cangurus, a Opera House...
- A senhora já viu uma anta?
- O senhor está me ofendendo.
- Não é isso. Eu falo da anta mesmo, o animal. O maior mamífero do Brasil.
- Não, senhor. Nunca vi.
- Então para que conhecer um canguru? As pessoas não olham nem para o seu próprio quintal!
- Mas, senhor, a questão agora não é essa...
- A questão é essa sim! A construção da identidade nacional. O Brasil é muito lindo, porém desunido. Somos recebidos em outros estados como estrangeiros. Estrangeiros na própria terra... Quanta canalhice.
- Desculpa, senhor, mas eu recebi ordens para te ligar e combinar os detalhes da sua viagem. Infelizmente só posso te oferecer viagens internacionais.
- Então vamos fazer assim: eu vou de ônibus para a Argentina e de lá pego um avião para Salvador. Ok?
- Não sei te responder, senhor. Aguarde um minuto que vou estar te transferindo para o setor responsável.

*****

Parto hoje para Fortaleza-CE. Coisas novas deste que vos escreve só a partir do dia 17 próximo. Prometo voltar com a mente limpa de preocupações.

Os dilemas continuarão, mas a iminência do suicídio cessará por uns tempos.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Mas eu me mordo

Estava tudo indo muito bem, a Camila é uma menina sensacional. E sem falsa modéstia, sou um bom namorado. Estamos juntos a um ano e meio, raramente brigamos. E quando isso ocorre é sempre por questões como o controle remoto da TV ou que sabor de pizza pedir, nada de grave. Ela é muito querida na minha família e a família dela também me trata muito bem. Nos conhecemos numa fila de banco e disso não ficamos mais sem se ver.

Ela estuda odontologia de manhã e faz natação a tarde, eu trabalho numa agência de publicidade e tento jogar futebol nas terças e quintas. Não por obrigação, mas por prazer mesmo eu costumo levar a Camila no cinema, toda quarta feira. Só quando tem jogo do Mengão que não, e ela entende isso. Se bem que ela não seria louca de me contrariar.

Fazemos programas bem diversificados, nunca deixamos de visitar os amigos e procuramos ter o maior número de amigos em comum. E talvez esse tenha sido o princípio da inquietação que corrói a cada minuto. Nunca fui de ter ciúmes, mas confesso que ultimamente eu me mordo de ciúmes. Tudo por causa das nossas concessões de namorados descolados que se amam. Porém dessa vez isso me pegou desprevenido.

Tudo começou depois de uma reunião etílica na casa da Carla, irmã da Camila, em que ela mandou chamar todo mundo. Tinha tudo para ser uma festa bacana, mas o problema é que foi todo mundo. Todo mundo mesmo, tinha gente de todo tipo. Sumidos apareceram, os de sempre, como sempre estavam lá, enfim foi um sucesso. Carla disse que nunca tinha dado tão certo um convite desses.

Voltando ao meu causo, a festa estava maneira. Muita bebida, churrasquinho, risadas, gente fazendo graça, gente fazendo fiasco, era uma festa descolada. Lembro que enquanto a Camila revia e matava as saudades das amigas de antigamente. Malandro que sou, fui jogar um carteado. No truco meu parceiro foi um sujeito que não conhecia. Marcelo era um cara animado, o apelido dele era Cerebelo. A Camila já tinha falado desse sujeito anteriormente. O cara não parava de falar quando estava jogando. Irritava os adversários e demorou para que perdêssemos um jogo. Quando perdemos o Cerebelo foi zoado demais, achei engraçado.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem até que a Camila viu o Cerebelo. Se cumprimentaram com um abraço apertado, e ela me apresentou a ele. Foi aquela situação famosa “oh, mas vocês já se conheceram”, disse que jogamos truco. Ficamos eu, a Camila, a Carla e o Cerebelo, que é amigo de infância das duas, conversando numa mesa. Até que de repente, não mais que de repente surge uma conversa estranha de que o tal Cerebelo e a Camila tiveram um affair. Pronto, era o que faltava para estragar meu dia. Minha namorada dando gargalhadas com o ex-namorado. Cerebelo, vê se isso é apelido que se preze.

Depois da festa a Camila me explicou que eles foram namorados, na verdade aqueles namoricos de criança, quando eles tinha cinco anos. E que eles não se viam há mais de quinze anos. Tudo bem, posso estar sendo um tanto exagerado, mas não vejo como não ser. Até queria levar uma vida moderninha, mas eu me mordo de ciúmes.

Fim

terça-feira, 4 de março de 2008

Assunto: amor (adivinha!)

Lá vem ele de novo falar sobre amor. Logo ele que não ama, um sujeito que não tem sentimentos. Coração de pedra feito guerrilheiro desbravador. Praticamente um tropeiro macho, sujo e durão. Quase um forasteiro no Velho Oeste.

Juro, meus caros... Não é minha vontade! É inevitável; algo que surge como que de geração espontânea. O mundo está repleto de amor, e não há dúvida: o assunto é inesgotável.

Há um diálogo no livro "A Idade da Razão", de Jean-Paul Sartre, que ilustra bem minha relação com o dito sentimento:

- Gosta de mim?
- Gosto – disse Boris com uma careta.
- Por que faz essa careta?
- Porque você me perturba.
- Por quê? Não é verdade então que você gosta?
- É verdade.
- Por que não diz isso espontaneamente? É sempre preciso que eu pergunte.
- Porque não sei. Acho que essas coisas a gente não diz.
- Desagrada a você que eu diga que te amo?
- Não, você pode dizer, se isso vem espontaneamente, mas não deve perguntar-me se te amo.
- Querido, é tão raro eu te perguntar alguma coisa. O mais da vezes, basta-me olhar e sentir que eu te amo. Mas há momento em que é o teu amor que eu quero.
- Compreendo – disse Boris com seriedade. – Mas você deveria esperar que acontecesse sozinho. Se não é espontâneo, não tem sentido.
- Mas, meu tolinho, se você mesmo diz que você não diz se não te pergunto!
Boris riu.
- É verdade, você me faz dizer asneiras. Pode-se ter um grande sentimento por alguém e não falar.

Isso é tudo, por ora.

segunda-feira, 3 de março de 2008

O primeiro segundo beijo

Era basicamente uma turminha comum de pré-adolescentes nouveal rich numa tarde de domingo. Sentados esparramados e espalhados pela calçada ao lado do mercadinho, conversavam sobre futebol, desenhos animados e o mundial de skate. Garrafa era o único que estava quieto, como que completamente imerso em seus pensamentos. Olhava fixo para a ladeira no fim da rua, como se de lá viesse algo que lhe chamaria a atenção. Mas não pensava em nada, e seus olhos sumiam atrás das lentes grossas. Lembrou-se que já nem precisava mais deles, mas não haveria sentido o apelido se por ventura parasse de usá-los. Até pedira para a mãe tirar os graus da lente para que pudesse usá-los sem comprometer mais a visão. Sentia-se mais inteligente com os óculos no rosto.

Garrafa era uma espécie de líder carismático da turma. Talvez por morar bem no centro da vila, exatamente no único caminho para o campo de areia da prefeitura, ninguém esquecia dele na hora das brincadeiras. Era também o único ali que já tinha beijado uma garota na boca, e constantemente repetia isso – o que apenas lhe confirmava a condição de líder. Fora há dois anos, sim, e com uma prima, mas era o único que sabia explicar como é encostar uma língua na outra. A maioria da piazada ainda nem ligava para, pois aos 12 anos jogar caçador menino-contra-menina parece mais divertido do que encostar numa garota, mas alguns já chegavam aos 13 e a possibilidade de parar de puxar os cabelos das meninas já lhes parece bem aceitável.

Sempre de chinelos estilo papete, bermuda de sarja e camiseta pólo, Garrafa parecia mais velho do que os outros da sua idade. O bigodinho ralo, conseguido à base de muita gilete "para engrossar os fios", também lhe dava ares de precoce. E, afinal, já havia beijado, enquanto todos os seus amigos ainda treinavam as técnicas com uma laranja ou um copo de gelo. Sentado no meio fio, ainda olhando para o fim da rua, Garrafa começou a ficar com uma cara preocupada; não disse para ninguém, mas o que queria naquele momento era beijar mais e mais, entretanto não sabia como fazer. Sua primeira vez fora com a prima Lúcia, na despensa da casa da avó; não teve que falar nada, nem antes e nem depois.

Para resolver o imbróglio de uma vez por todas, propôs, então, ao Pequeno, que morava no condomínio da esquina e tinha um salão de festas imenso, que promovessem uma festinha americana, com direito a globo de espelhos alugado e um potão de ponche alcoólico (escondido dos pais, lógico).O Pequeno, claro, aceitou, afinal era a oportunidade que ele esperava para ficar mais conhecido na vila, e até, quem sabe, descolar o primeiro beijo. Ligou para o pai e tudo foi esquematizado: sábado seguinte, no salão de festas do condomínio do Pequeno, festa americana a partir das 19h. Meninas levam comidas e meninos levam refrigerantes.

Globo de espelhos alugado e posicionado, ponche alcoólico devidamente "mocado" (feito pelo irmão do Chaliça, mais velho e gente finíssima) e o som com entradas para iPod num canto, a festa estava pronta para começar. Garrafa escolheu sua melhor roupa, com o lustroso sapato de ir à missa nos pés e um lenço vermelho estrategicamente posicionado no bolso da camisa. Entre papos e goles, as meninas começavam a chegar e a se juntar em grupinhos. Não se misturavam, meninos e meninas. Várias rodinhas no salão, eles batendo os pés no ritmo da música e com um copo na mão, elas cantando e dançando o Créu até o chão.

De repente, Garrafa viu Marcinha. Morena, com os cabelos bem lisos caindo suavemente até o meio das costas, era uma das poucas ali que já tinha feito 13. Parecia desconfortável, no canto, de braços cruzados e olhando para o chão. Assustou-se com a chegada repentina do rapaz lhe oferecendo uma dança. "Mas está tocando funk", ela disse. Ele a puxou para a pista e lhe disse no ouvido que já estava tudo preparado. Não tinha idéia de como tinha conseguido fazer aquilo – ir até a menina, falar com a menina e, acima de tudo, tirá-la para dançar –, mas, quando se deu conta, já estavam abraçados ao som de Fugees, que Borbolla colocou quando alcançaram o centro da pista, conforme fora combinado.

Garrafa sentia que Marcinha tremia. Ela, por sua vez, sentia a mão dele suando nas costas. Não ousaram se aproximar e muito menos conversar. Estavam sozinhos na pista, afastados quase um palmo um do outro e balançando para lá e para cá, totalmente fora do ritmo. Quando Borbolla apagou a luz, alguns outros casais se juntaram à dança: Cesinha do prédio verde e a Sônia, filha da Terezinha; Tadeu Capixaba com a Bianca; Xerife, filho do Major Marcelo, da polícia militar, com a Telminha do colégio São Francisco; e finalmente Borbolla e Ingrid, que no clubinho é chamada de Greca. Mas para Garrafa não havia mais ninguém, aquele momento era só dele; só havia luz sobre ele e Marcinha, e tudo o resto eram somente nuvens.

Ia aos poucos tentando uma aproximação. Quem o impedia de chegar mais perto não era Marcinha, e sim seu coração, que batia tão forte que teve medo de se encostar e ela se assustar. Torcia para que a música não acabasse mais: o Ipod que estava tocando era do Marco, o que dava grandes chances de a próxima canção ser um rock progressivo e isso quebraria todo o clima. Precisava agir rápido, pensar no que falar e no que fazer. Imaginava se ela o beijaria ali na frente de todo mundo ou se gostaria de ir até o jardim, esconder-se. Formulava mentalmente frases de efeito para usar de acordo com as respostas de Marcinha. Quando finalmente ia falar alguma coisa, a música parou.

Os cinco segundos entre uma canção e outra pareceram eternos. Ambos soltaram as mãos, mas não saíram da pista e nem de perto. Ao primeiro acorde da próxima faixa, porém, ela disse quase engasgada "vou ao banheiro" e virou sem olhar mais para trás. Com ela – coincidência ou não – foram todas as meninas que dançavam. A pista ficou com Garrafa, Cesinha, Tadeu Capixaba, Xerife e Borbolla se olhando e sem ação. Não sabiam se deviam conversar ou tomar alguma coisa ou dar uma volta ou até ir ao banheiro. Ficaram todos parados, na mesma posição, durante alguns segundos. Então Borbolla virou as costas e foi até o ponche; Cesinha e Xerife se cumprimentaram e saíram em direção ao som; Tadeu Capixaba olhou para o banheiro e andou, mas acabou sentando numa cadeira pelo caminho. Só ficou Garrafa na pista, sozinho e ainda sem se mexer.

Marcinha saiu do banheiro já quase no final da música. Viu Garrafa ainda sozinho no meio do salão e baixou a cabeça. Ele andou em sua direção; ela sabia, mas fingiu não perceber. Finalmente, quando se encontraram, ele perguntou se ela queria sair no jardim, olhar as estrelas. Já tinha tudo programado. Lá fora diria que "a lua só não é mais bonita que seus olhos" e que "todas as estrelas do céu juntas não embelezam mais a noite do que você", para depois finalmente beijá-la. Já do lado de fora, seu coração parecia na boca e as mãos tremiam. Ele até pensou em pegar na mão de Marcinha, mas quando criou coragem já estavam sentados no gira-gira.

Postaram-se um de frente para o outro. Ele pensava "tenho que falar, tem que falar agora", e ela fitava-o nos olhos pela primeira vez. Garrafa tinha a testa molhada de ansiedade; imaginou aquele momento durante a semana toda. Deslizou a mão pelo assento até seus dedos encontrarem os dela. Marcinha não se esquivou, bom sinal. Entrelaçaram as mãos, ainda sem falar nada. Ela mexia nos cabelos, ele olhava para os lados, nervoso. Ela olhava para baixo, mordia os lábios; ele pôs a mão no joelho dela. Quando do salão surgiu a música de Bryan McNight, Garrafa e Marcinha se beijaram. Não foi preciso falar nada nem mandar flores nem convidar para jantar. E também não foi a música que criou a vontade repentina. Eles desde o começo sabiam que aquilo ia acontecer. Nada acontece mais naturalmente do que beijos entre pré-adolescentes.

Um mito besta a menos

Outro dia, estava eu assistindo um jogo qualquer da Libertadores. Digo jogo qualquer, porque não era um jogo do Mengão, logo é um jogo qualquer. Foi uma partida um tanto cansativa sem muita emoção e poucos lances de perigo. E viciado no esporte bretão que sou, fiquei a reparar nos detalhes do jogo, ou melhor, da transmissão. O narrador era o genial, incomparável, sabe tudo e professor de deus: Galvão Bueno. O que é quase certeza de pérolas durante a transmissão.

O jogo começa e a torcida do time da casa não para de cantar. Nosso ícone do microfone manda das suas. “Canta que canta a torcida Nacional” e continua “olha Falcão, não parece a torcida do Boca? É a torcida do Boca que canta assim” essas frases me fizeram pensar numa coisa, talvez nem seja importante. Mas será que as torcidas do River Plate, Estudiantes e de outros times argentinos não cantem igualmente a torcida do Boca.

Mas não para por ai, as torcidas dos clubes sul-americanos tem essa maneira de torcer, principalmente na Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. Eles cantam músicas intermináveis num mesmo ritmo, isso enche o saco. Mas sabe como é, cada um na sua. Aqui a torcida gremista (os gaúchos, não do Grêmio Barueri ou do extinto Grêmio Maringá) talvez por proximidade e admiração aos argentinos se comportam e cantam como “a torcida do Boca” o que é chato barbaridade tchê! Brasileiros são criativos, não deveriam imitar ninguém, muito menos esses chatos de galochas.

Voltando ao mestre Galvão, principalmente da maneira que ele disse “eles não param de cantar, é impressionante. Parece a torcida do Boca”, calma lá, segura sua onda garotão. Só porque é jogo da Libertadores vossa senhoria vem com esse papinho de Boca isso, Boca aquilo. A torcida do São Paulo, que não é das mais sinistras, passa o jogo todo cantando, do jeito deles, mas cantando. E vai dizer para eles que eles estão imitando a torcida do Boca. O que todos devem perceber é que todas as torcidas cantam, isso mesmo. Todas as torcidas cantam, até a do Coxa canta (teste para detectar leitores) o jogo todo.

E cantar aquelas músicas chatas dos argentinos é mole, e são as mesmas desde de tempos atrás. O que é legal mesmo é a criatividade das nossas torcidas. Aqui nessa Brasila, a todo momento surge uma música nova, um novo hit de sucesso. Já teve até versão de uma do Padre Marcelo que virou moda de várias torcidas ( O senhor é rubro-negro, rubro-negro eu também sou..) e o senhor não foi só rubro-negro, ele também foi alvi-verde, colorado, tricolor e sei lá mais o quê. A torcida do Mengão cantando poeira, é empolgante Até a vil torcida do vice (que não chora) cantando a versão de Ana júlia, é ruinzinha, mas é animada. Os corintianos cantando uma versão de farofa, cheia de trocadilhos. Isso só tem aqui, é uma explosão de sucessos.

Enfim a torcida do Boca e as genéricas deles, são chatas pra caramba. Eles cantam aquelas músicas sem fim e acham legal, imaginem algum estádio do Brasil inteiro cantando “O Diário de um Detento” ou “Faroeste Caboclo” seria sofrível, não pelas músicas, afinal tem quem goste. Mas elas não terminam nunca. É muito mais legal a galera cantando o Créééééééééuuu (nas cinco velocidades), E ninguém cala, Poeira e demais cantos tupiniquins, que são mais criativos e empolgantes. Só me falta o mestre dizer que só a torcida do Curintia (é timão mano) é a única que é fiel.

Fim