quarta-feira, 30 de abril de 2008

Um chinelo e modernidade

Ontem comprei um chinelo novo. Sei que alguns dirão que isso não é um fato muito relevante para a sociedade e não tem nem porquê eu estar comentando, mas mesmo assim achei importante compartilhar. Não é nenhum absurdo comprar um chinelo novo, hora ou outra todo mundo acaba tendo que fazer isso; convenhamos, também, que, apesar de parecer um ato simples, não é algo que ocorra tantas vezes na vida de um homem.

Para mim, foi um marco. Voltei às legítimas Havaianas depois de muito tempo. Já fazia alguns anos que eu usava o chinelo antigo, um pesadão, daqueles que se ganhava de graça numa promoção do shopping. Não estava exatamente velho, a tira ainda nem tinha arrebentado e o solado aparentemente estava inteiro. Jamais me deixou na mão (ou, no caso, no pé), aquele chinelinho. Durante seus quatro anos de vida, dei-lhe o prazer de conhecer mais de dez cidades em cinco estados diferentes, sem que ele nunca tivesse tentado fugir a nado pelo mar ou de tiras dadas com uma azaléia qualquer.

Fui ao mercado calçando-o alegremente, como sempre fiz. Nunca me deu vergonha, o chinelo. Ao meu ver, era como se eu tivesse acabado de recebê-lo das mãos daquela modelo no balcão da loja. "Parabéns, você fez 300 reais em compra no nosso shopping e ganhou este lindo chinelo". Lembro-me como se fosse hoje. Tinha muito valor, aquele chinelo. Pelo menos 300 reais. Peguei as Havaianas na estante já com uma ponta de remorso corroendo o fígado. Branca de tiras azuis, a clássica. Tamanho 41/42, contrariando todas as teorias de que Havaianas precisam ter números maiores do que usamos nos tênis e sapatos. No caminho até o caixa, ainda peguei uma mortadela e um pote de requeijão, mas acho que isso não tem muito a ver com a história.

O ponto culminante (e, para o meu coração, fulminante), foi a hora em que o código de barras das Havaianas passou na máquina registradora. Naquele instante senti meus pés pesados como chumbo. Era como se estivesse com eles enfiados numa poça de lama, todo sujo e sem nenhum movimento. Olhei para baixo e senti asco – aqueles pés envoltos numa tira de plástico tão velha quanto uma copa do mundo. No exato momento em que as Havaianas apareceram registradas no computador do mercado, meus chinelos antigos se tornaram sumariamente obsoletos.

Mas, ora, se até aquele momento eu não tinha nenhum problema com os velhos chinelos de promoção, por que eles ficaram assim, sujos, de repente?  É que comprei um produto substituto num momento em que eu ainda nem precisava, e isso tornou o chinelo velho, bem..., velho mesmo. Qualquer semelhança com um impulso consumista não é mera coincidência. Já sabia que essa praga existia e estava por aí, levitando no ar, mas não esperava – mesmo! – que ela fosse atingir um chinelo. Meu chinelo.

A moda é o exemplo mais prático dessa obsolescência programada. Quando você finalmente termina de pagar aquela jaqueta verde-limão com bordados em amarelo da coleção outono/inverno 2007, vem um novo Crystal Fashion e as tendências das cores puxando para o cítrico se tornam ultrapassadas, demodê. Sua jaqueta se tornou out depois de apenas uma mísera estação. E, pior: se você usa uma jaqueta verde-limão com bordados em amarelo enquanto todo mundo está de sobretudo azul-turquesa, você é ridículo. Ridículo e sem noção nenhuma de moda.

As coisas já não são mais feitas para durar. Não só materialmente falando, mas também na idéia de conceito. A linha que separa o que é bom do que é ruim hoje em dia é muito tênue, completamente maleável. Basta ver os modelos de carros: não se passa três anos sem que uma reformulação seja feita, nem que seja para trocar um farol ou uma curva no pára-lamas. E digo mais: até os vidros de hoje são mais finos que antigamente, só para que em no máximo cinco anos seu carro esteja em frangalhos e seja preciso trocá-lo por um novo. É o mercado se alimentando de si próprio, os próprios produtos estimulando sua recompra.

Eu farei parte da resistência. Não vou deixar que essa sede por novidades tome conta de mim. Prezarei sempre pela qualidade enquanto ela ainda existir. Não quero nada efêmero, apenas produtos duradouros. Ao invés de ter um Ford Fusion 2008, comprarei um Monza 1981 porque ele ainda têm pára-choque de ferro e farol de vidro. E quanto aos meus chinelos, guardarei o novo no armário, dentro da caixa, e usarei o velho tanto quanto for possível, até que ele se desintegre completamente ou finalmente arrebente a tira. Nem que para isso acontecer eu tenha que usar uma tesoura com ponta.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Bem na hora H

Faz menos de uma semana, tive uma oportunidade de registrar algo muito raro. Tive a chance de fazer algo que teria um valor sentimental, documental entre outros valores, que me deixaria orgulhoso para o resto da vida. Mas do jeito que o fato acorreu, nem fiquei tão fustrado. Tenho certeza que na próxima, se é que vai haver, estarei mais atendo e hei de não vacilar.

É aquela história de aprender com erros. E não é que a gente aprende mesmo, talvez seja como diz aquele ditado:- macaco velho não põe a mão em cumbuca. Ou como falam aqueles caras, que andam aos bandos e vestem roupas largas em cores duvidosas (rosa claro e azul bebê):- agora tô ligado véio. Agora estou esperto e pronto para não perder outra chance daquelas.

Bom vamos ao fato. Semana passada, o Flamengo jogou pela Libertadores. E como o jogo era num horário alternativo (19:30), ao menos para os padrões televisivos novelísticos brasileiros, fui no Bar do João tomar uma e torcer pelo Mais Querido. Parecia que naquele começo de noite, o time estava disperso, preguiçoso e sem vontade. De fato o time atuava de uma maneira que ia contra as tradições flamengas, como diz o Sr. Arthur Muhlenberg. O jogo estava ruim, muito ruim mesmo.

Mas é nesses jogos, que um lance pode mudar tudo. O jogo seguia embolado no meio, cheio de chutões para o alto e os torcedores acompanhavam mais pela obrigação cívica e moral de todo flamenguista. Porém, no apagar das velas, quando tudo se encaminhava para um zero a zero dos mais safados. Eis o lance que poderia mudar o rumo da partida.

Falta na entrada da área. Trinta e tantos do segundo tempo. Na hora me lembrei do Zico, com ele em campo dali era gol na certa. Mas logo caí na real e hoje em dia o Mengão não tem um bom aproveitamento nesse tipo de jogada. Esse ano foram dois gols dessa forma, até então. Os torcedores no estádio gritavam o nome de Bruno (A Muralha) como forma de protesto, já que a maioria do time parecia pouco afim de jogo naquela noite.

Então vem a minha falta de experiência, essa era a hora H. Bruno (The Wall) foi para a cobrança atendendo o pedido da galera, que estava no estádio e para a surpresa dos que assistiam pela TV. No bar a rapaziada toda não acreditava muito, mas eu sim. Sabia que aquele poderia ser o momento. Nunca na vida, vi um goleiro do Mengão fazer gol de falta. No bar, tal como no estádio, todo mundo ficou em pé. Eu rapidamente, todo malandrão, me preparei para registrar o lance histórico.

Peguei meu celular, tinha certeza que o Bruno faria o gol. Não sei explicar, mas eu sabia. Sei lá, coisa de flamenguista. Tudo tem um motivo, aquele jogo estava ruim demais e terminar num zero a zero seria comum demais. Alguma coisa tinha que acontecer. E um gol do nosso goleiro transformaria aquele jogo, ninguém comentaria que o jogo fora ruim. Mas todos se lembrariam do dia que o goleiro do Flamengo fez um gol de falta. E lá foi o guarda-metas do Mengão para cobrança, eu acompanhava pelo visor do celular. Quando ouvi o trilar do apito, apertei o botão capturar...

Capturar! Capturar! CAPTURAR!?! No visor do telefone ficou a imagem congelada do goleiro indo para a bola. Ocorreu que o gênio aqui, em vez de gravar a cobrança de falta, acabou fotografando. Fiquei bolado, tanto que nem ouvi os gritos em comemoração do gol de goleiro.

No final das contas, o Bruno salvou o jogo de ser um fracasso total. O Obina fez um gol, provando por A mais B, que ele é melhor que o Eto’o. O Mais Querido terminou como o líder do grupo e eu... fiquei felizão. Afinal o Flamengo venceu mais uma!

Fim

Outono

Rubem Braga, o cronista-mentor de boa parte dos cronistas brasileiros, uma vez escreveu, sem deixar qualquer brecha para questionamentos: "o outono do ano de 1935 começou ontem, 15 de março, exatamente às 15h48". Não tenho muita certeza nem do ano e nem do dia, quem dirá da hora, mas foi mais ou menos assim. Quando vi isso, pensei com meus culhões: "como pode esse tom tão profético, tão intrépido?" Pois bem, acreditai; vos afirmo, sem sombra de dúvida, que o outono de 2008, pelo menos em Curitiba, começou ontem, 28 de abril, exatamente às 17h46.

Para quem tem memória fraca, permita-me a lembrança. Ontem fazia sol, muito sol. Aquele sol de verão que ainda insistia em queimar nossas cacholas. É certo que ele foi suplantado recentemente durante alguns dias por uma chuva ruim, uma chuva má, que inclusive foi muito comentada por aqui, mas ela durou pouco. Era apenas uma chuva de verão, tanto que o calor propriamente dito não passou. Só que ontem foi diferente, ontem foi o dia da mudança. Eu vi o equinócio de outono. O atraso em relação ao de 1935 é de mais de um mês, mas isso é culpa tão somente da poluição (que foi causada pelos seres humanos que são blá blá blá).

Estava eu voltando para casa depois de um longo dia de intensos afazeres burocráticos segunda-feirais (que bonito isso). O sol já tocava a linha do horizonte, quase vermelho, e na rua em que eu estava ele dava sua graça exatamente na altura e direção dos olhos do motorista. Até aí tudo bem, um pôr do sol normal num dia de verão qualquer como quase todos os outros que estávamos tendo até agora. Porém ontem era dia de mudança, e nada seria completamente igual. Nada poderia ser como dos outros dias.

No rádio tocava – e não me importo se isso é relevante ou não – I've got to see you again, da Norah Jones, e o display acusava 17h46. A rua era uma alameda, cheia de árvores de todas as espécies, mas, principalmente, ipês. E aí bateu o vento. Voaram papéis de bala e outros tipos de lixo para todos os lados; as saias das moças levantaram, mostrando-lhes as pernocas envoltas nas mais belas cintas-liga; os chapéus do velhos, dos intelectuais e dos jornalistas caíram, indo parar quase do outro lado da rua; e, na minha direção, velozes e furiosas como os carros nos filmes, milhares de folhas e flores voaram. Quando eu falo muitas, caro leitor, são muitas mesmo. Tanto que, por puro reflexo, eu me abaixei e pus a cabeça entre as pernas, como ensinam as aeromoças. Sabe-se lá por que, mas foi esse meu primeiro instinto. Passado o susto, pensei "vai chover", e essa foi a senha para a chegada do outono austral.

Não deu outra. Menos de meia hora depois, o que parecia ter chegado era o fim dos tempos. Para dar uma idéia, meu irmão foi afobadamente correndo até mim e falou: "olha para fora, Maycon, está chovendo granito". Definitivamente, pensei, aquele deveria ser mesmo o apocalipse. Raios, trovões, temporal destruidor e granizo: a combinação perfeita para colocar minha mãe encolhida debaixo do edredom, tremendo feito vara de pescar e prestes a começar a chorar.

De repente, de um minuto para o outro, como se fosse mágica, a bonança se instalou novamente. Fez até calor, eu acho. Quando saí de casa para ir à aula, parecia que não havia chovido uma gota de água sequer. Pensei, e tenho certeza de não ter sido o único, que tínhamos visto apenas mais uma chuvinha de verão. Mas não. Fora de casa, a atmosfera era diferente. A forma de se respirar havia mudado, tinham mais plantas nas ruas e as pessoas já não sorriam tanto quanto algumas horas antes. O verão havia acabado, finalmente. O outono chegara àquele minuto em que a primeira rajada de vento levantou a saia da moça. Com ele vieram a melancolia, o frio, a solidão.

O outono chegou. Entristecei, portanto.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Papiros, hieróglifos e penas

A forma mais interessante de se escrever é com a mão. Experimente! Cansa, mas é um exercício muito mais instintivo e performático do que com o mecânico teclado QWERTY. Cheguei a essa conclusão depois de tanto escrever no computador, até começar a odiá-lo. No PC tem essa tela entre você e o papel, e é como se ela te eximisse de muitas das culpas. Pelo menos inconscientemente.

Dois motivos me fizeram chegar a essa máxima. Explico-os: no computador é muito mais fácil errar e apagar. Só para ter uma idéia, já escrevi o primeiro parágrafo deste texto três vezes (e ainda não estou satisfeito). Acabou-se a aura, é a obra de arte na era da reprodutibilidade técnica. Hoje, para ser escritor, a virtude mais fundamental já não é mais a criatividade. É preciso ter paciência. Paciência para escrever, apagar, rescrever, apagar de novo, re-rescrever, e assim sucessivamente. Facilita aos perfeccionistas, porque para apagar tudo basta uma tecla. O computador te dá muito tempo para pensar e repensar no que escreve, e isso evita que o autor crie sentenças conclusivas.

A outra coisa juro que esqueci, e esse é um outro problema do computador que eu já nem considerava mais: há muita distração disponível num monitor só. Ainda mais para mim, que sei aproveitar como poucos as possibilidades de diversão e entretenimento que a internet oferece. Num textinho de meia hora qualquer (que é como mentalmente classifico essas crônicas sem conteúdo profundo e de estética desprezível), paro para jogar ou ler alguma coisa pelo menos umas três vezes. Sem falar na paradinha pro café, nos minutinho de conversa fiada, no tempo para pensar na morte da bezerra...

Agora lembrei. O outro motivo que me levou à conclusão de que escrever com a mão é melhor não é um problema do computador, e sim um mérito da dupla papel e caneta. Não se pode enxertar parênteses ou floreios no meio de uma escrita à mão, o que te faz pensar muito mais. No papel, as palavras não vão correndo para a direita conforme você coloca alguma coisa a mais no meio da frase. Só o Word faz isso. São as facilidades do mundo moderno. E isso acarreta que para pôr as idéias no papel, elas já precisam estar inteiramente formuladas no ser cérebro. Pelo menos as frases. Aqui, você escreve-apaga-escreve; lá, meu irmão, se for já era.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Por favor chuva ruim, não molhe mais todos nós assim

Eu gosto de chuva. Minto: não gosto, mas é um mal necessário. Se tem que chover para ter água no reservatório Piraquara II, que chova. Mas só! Podia chover só lá, inclusive. Mas já que isso não é possível, dois ou três dias de chuva por mês é mais do que suficiente – e que pelo menos dois desses três dias sejam domingo, por favor! E bom chover quando eu to de férias, na praia, e posso sair cantando e dançando pelas ruas só de sunga. Em dia normal, em que se usa terno e gravata para ir ao trabalho, não. Mas o pior de tudo em dia de chuva é o que? Sim, o trânsito.

Não fico resignado no trânsito quando chove. Não penso que aquilo tá ruim daquele jeito por causa da chuva. Tá ruim porque as pessoas são burras. Burras! Basta cair um pingo d'água do céu para a média de velocidade nas ruas cair consideravelmente. De 50 km/h para 30 km/h, o que não é pouco. A maior parte da culpa, nesse caso, é dos velhos, coitados. Não os culpo: sem os reflexos de antigamente, eles não podem sair por aí á toda ("no máximo 60 km/h, meu filho") com os vidros embaçados e os retrovisores molhados. Mas, puxa vida, se você é velho e tem um carro, não saia de casa em dia de chuva!

A outra parcela de culpa é das mulheres. Não me culpem, moças, mas é verdade. E, como sempre, não estou generalizando (só um pouco). Ser ruim no trânsito é conseqüência de algumas qualidades exclusivamente femininas: a calma, a prudência, o instinto maternal e o amor ao próximo. Mulher pensa muito mais no vizinho de pista do que o homem. No vizinho de um lado, do outro, no da frente, no de trás... Elas pensam até no carro que acabou de ligar os faróis para sair da garagem. E isso, mulheres, as deixa preocupadas em não atrapalhar, apesar da preocupação seguir uma ordem hierárquica. Explico: fui hoje, como sempre, levar meu irmão para o colégio de manhã. Chuva forte, buzinas, luzes acesas... Nem por isso eu teria que deixa-lo num lugar diferente do habitual, não é mesmo? Com chuva ou sem chuva, faço-o andar pelo menos duas quadras até a porta do colégio (e digo que seriam três, se ele fosse de ônibus).

Mas nem todo mundo é assim e eis que vejo uma mãe parando em fila dupla. Isso, por si só, já é revoltante, mas vá lá; imagino que ela vá sair do carro com uma criancinha de colo e entregá-la aos inspetores. Aí ela sai do banco do motorista, toda pimpona, abre o guarda-chuva cor-de-rosa e dá a volta no carro. Enquanto isso, o sinal aberto e uma horda de carros buzinantes logo atrás. Ela abre a porta do passageiro e não é que de lá sai um gurizão que parecia um mano? Mais alto do que ela, com o boné virado para trás e uma mala virada do avesso e toda pichada. Não posso mentir que isso alegrou meu dia, apesar de tudo. Fiz um jóia para o garoto, ri da cara dele e segui alegre e contente o resto do percurso.

Moças: ter prudência e se preocupar com o bem-estar de todo mundo é ótimo. Faz parte das regras de boa convivência em sociedade. Mas reconsiderem! Preocupação demais, no trânsito, atrapalha.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Beijo roubado

Beijo é que nem celular: cada um tem o seu e tanto faz se é um iPhone ou um Pronto T, desde que cada dono se contente com o que tem. Eu, por exemplo, não preciso de um telefone que entre no MSN, rode Prince of Persia 3D e emita raios-laser nos inimigos da rua de baixo. Para mim, basta que ele faça e receba ligações, mande e receba mensagens de texto e tenha agenda de contatos e compromissos. Só. Mais do que isso, é supérfluo.

Há beijos que se "encaixam". É clichê dizer isso, mas é verdade. Há beijos que se "encaixam". E não pense que eles são iguais. Não são. Se fossem, ia ser uma tal de bateção de dentes, fortes mordidas despropositadas nos lábios e cãibras nas línguas que vou te contar. Os beijos que se "encaixam", na verdade, são totalmente opostos: enquanto uma língua vai, a outra volta; enquanto um mordisca, o outro simplesmente se deixa mordiscar. São uma espécie de contrato não-assinado e não-verbal, onde cada um sabe o que fazer sem que o outro precise falar. Como uma dança.

Aí o garotinho chega e fala "você é uma menina chata, feia, boba e burra, e eu nunca vou gostar de você". E a menina responde "você que é chato, e eu é que nunca vou gostar de você – você nem sabe jogar futebol". Ele pensa em socar-lhe a cara, mas a olha e acha-a tão linda... Então os dois se beijam, desajeitados, sem saber muito por quê e muito menos o que fazer. É assim no primeiro beijo, e continuará assim até o fim da vida. Só variarão (existe isso?) as mentiras que os homens contam.

O beijo, quando desejado, é uma das coisas mais sinceras que existe. Não falo daquele beijo de piazão em balada, que só serve como estatística. Sincero é aquele beijo que normalmente demora para rolar; que você passa noites em claro imaginando como acontecerá, criando fórmulas e imaginando diálogos. Beijo de verdade, com os lábios e, principalmente, o coração.

Sabe que estou escrevendo isso para você. Sim, você mesma. Como diriam alguns pitboys que conheci, "eu te quero e vou te ter". Não há escapatória. E será em breve: no máximo, no máximo em dois anos. Quem viver verá. É assim o amor, fazer o que. Desde que me convenceram que ele existe, descobri que esta sempre foi minha insistente e misteriosa doença. Menos mal.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Chove chuva

Finalmente chegou a chuva. Depois de semanas e mais semanas de secura e dos olhos ardidos por causa do pó, ela chegou. Não que eu esteja agradecendo, muito pelo contrário. Nem tenho lavoura de arroz ou plantação de morangos silvestres para precisar dessa água toda... Aliás, foi por causa dela que demorei quase uma hora para andar os quatro quilômetros que separam minha casa do trabalho. Odeio-a. Chuva só é bom em três situações: para molhar as plantinhas, para os índios (não sei por qual maldito motivo tenho a impressão que os índios adoram a chuva) e para as canções de amor.

Sim, senhor. Para as canções de amor.

Sei lá por quê. Deve ser por causa da natureza meio esotérica do verbo chover. Na escola a gente aprende assim: "Ontem choveu. Cadê o sujeito dessa oração? Não existe. Não, ele não está oculto. Ele simplesmente não existe. Joãozinho, cala a boca!" Talvez o fato de não ter sujeito exima a chuva de qualquer culpa. Pode ver que a chuva sempre molha alguém nas canções. Enquanto o Falamansa diz "oh, chuva, peço que caia devagar/só molhe esse povo de alegria", Caetano Veloso "se beija e se molha/de chuva, suor e cerveja". Sem sujeito, a culpa não recai sobre nenhuma pessoa. Alguém dirá que a chuva é obra de São Pedro, mas eu que não serei o primeiro louco a processá-lo.

Nessa curta e rápida pesquisa sobre as músicas que falam de chuva e amor (e viva o Google!), uma coisa me deixou intrigado. Tenho a impressão de que o amor – e aqui falo do sujeito amor, o ser amado – nessas canções, além de cego, é burro. Ou será que minha insensibilidade chegou a tal ponto que não vejo mais romantismo numa camiseta molhada? É que, na verdade, algumas dessas letras me dão a impressão de que o sujeito apaixonado está seco e aquecido numa sala bem iluminada, com lareira, TV de plasma, cascata de camarões e de frente para o mar, enquanto o objeto da sua paixão está no meio da rua, com frio e molhado igual a um frango de granja. Veja o exemplo de Sandy e Júnior na música Cai a Chuva: "cai a chuva/e molha meu amor/cai a chuva/vai molhar o meu amor". Apesar da construção da estrofe parecer simples – OK: é simples –, ela dá uma impressão de deboche. É como se tivesse um "otária" subentendido ali. Tipo "ei, chuva! Vai lá molhar o meu amor, aquela otária", e aí vem uma risadinha sarcástica. Com a entonação que o neto* de Francisco dá, então, fica parecendo uma tiração de sarro, quase que uma entrevista do Pânico.

Um exemplo mais óbvio – e que não poderia faltar – é do grande Jorge Ben. No final da música Chove Chuva ele canta "por favor chuva ruim/não molhe mais o meu amor assim". Com certeza é um pouco mais romântica do que a poesia do Júnior, mas ele não deixa de estar devidamente abrigado e aquecido enquanto ela está no meio da rua, sob um toró descomunal, sem guarda-chuva e desviando dos carros que lhe atiram a água barrenta das poças. Nesse caso, a palavra que fica subentendida é "coitadinha", que, convenhamos, não é muito mais nobre do que "otária". Mais suave talvez, porém mais nobre nunca.

Se você quer saber, tomei chuva sim. Me sinto um coitado de um otário. Ou um otário coitado. Enfim, morram.

*Para mim, todos os seis da velha guarda são os filhos de Francisco. Portanto, se você é filho dos Amigos, você é neto de Francisco.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Cyber velhinho

Outra manhã o Velho me ligou. Reconheci-o imediatamente por causa da voz rouca, que ele diz ser resultado de tanto uso nos bares e esportes radicais da vida. Não tenho outros amigos velhos, só parentes, e a eles reconheço por causa da convivência mesmo. Imaginei meu amigo num daqueles antigos telefones beges, com disco, gancho e cadeado. Qual minha surpresa quando ele disse para falarmos rápido porque a bateria do celular estava acabando? Sempre esqueço que meu Velho não é tão velho assim.

Ele ligou porque queria me convidar para um programa de velho, conforme ele mesmo disse. Fiquei esperando que me chamasse para jogar xadrez na praça ou para ir dançar polca no baile do SESC, mas não. Disse que ia levar o neto na lan-house, para ensinar o garoto a jogar CS. Achei aquilo muito estranho e perguntei por que levar o neto na lan-house era um programa de velho. E ele, calmo como sempre, respondeu "ora, meu Jovem, por acaso você já viu algum jovem levar o neto em algum lugar?"

Adoro sair com o Velho. Ele tem uma experiência verdadeira em tudo. Não é daqueles que sabem muitas coisas porque leram em livro. Sabe porque esteve lá e viu as coisas com olhos que a terra há de comer (em breve). Certa vez fomos fazer o passeio de trem pela serra e ele foi daqui até lá contando como era o caminho na época que ainda não havia poluição. "A viagem até Morretes durava mais de duas horas, mas ninguém se importava. Tínhamos que ir devagar porque havia muitos animais no percurso. O maquinista não queria atropelar nenhum bicho. Além disso, o trem parava quando a paisagem era bonita; ou seja, toda hora". Sempre que o Velho pára para contar suas histórias, uma multidão se aglomera em volta.

Chegamos na lan-house e dezenas de rostos viraram para nós. Note que é quase impossível tirar a atenção de um gamer em plena atividade, mas o Velho era realmente uma atração. Além do mais, ele chegou botando banca: "quer ver algum piazão ganhar de mim nesse joguinho". Nenhuma risada, talvez por respeito a idade do desafiante, talvez por causa dos imensos fones de ouvido certamente no último volume que cada cabeça ostentava. Sentamo-nos nas duas últimas máquinas do recinto, o velho com o neto em uma, eu em outra. Quando finalmente consegui conectar ao servidor do jogo (nunca havia jogado o tal de CS), já ouvia o Velho gritando "toma, papudo" lá do outro lado do salão.

Não há moral da história nesta crônica. O único fato pitoresco é que o neto acabou passando a manhã inteira assistindo o avô jogar CS na tela do computador. Ensinar que é bom, nada. Ah, e eu, que levei uma bronca memorável por atirar sem querer na cabeça do personagem do Velho no jogo, que por acaso era meu aliado. "Head shot!"

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Vou estar transferindo sua ligação

Coitado do gerúndio! Até pouco tempo atrás ele era usado apenas para designar ações correntes: estou jantando, estou escrevendo, estou jogando. Na escola aprendi assim, pelo menos. Mas eis que inventaram o telemarketing e, por conseqüência, seus manuais. Traduzidos mal e porcamente ipsis litteris do inglês, esses roteiros de bom atendimento transformaram I will be transferring em vou estar transferindo. Os tradutores só não levaram em conta que o inglês é uma língua anglo-saxã e o português é latino: a tradução nem sempre pode ser feita palavra por palavra. Bom para nós, os não-atendentes de telemarketing, já que com isso tudo vieram inúmeras piadas.

Enfim, este não é o assunto desta crônica. Ou é, se levarmos em conta que a moda do tal “gerundismo” encobre outra grande mazela da cultura do brasileiro, que atinge especificamente o jornalismo pós-mercantilização-da-notícia: o “futurismo do pretérito”. OK, eu sei que essa expressão nunca foi dita; foi cunhada por mim, agora mesmo. Mas o “gerundismo” também não existia, não é verdade? Aposto que se fosse um bã-bã-bã da notícia tivesse escrito “futurismo do pretérito”, isso logo cairia na boca do povo. Quando essa expressão virar corriqueira, quero meus royalties.

O problema de tudo está nesta guerra sem limites que é a economia de mercado. A notícia hoje é objeto, vendável como um carro ou um pacote de farinha. Ganha quem mostrar as novidades primeiro. Portanto, no afã de querer “furar” os concorrentes, os jornais publicam tudo, inclusive – e acho que principalmente – especulações. E é aí que entra o “futurismo do pretérito”.

Quem nunca leu, principalmente no Terra Gente & TV (anônimos, criticai-me), títulos do tipo “Fulana teria beijado outra na boca”? Pensem: o que quer dizer esse “teria”? Talvez “teria beijado, se fosse verdade”; ou então, e mais provavelmente, “teria beijado, se eu tivesse certeza disso”. Entendem o que isso significa? Estão publicando qualquer suposição, só para dar a notícia antes dos adversários. Se der certo e o fato for confirmado, ótimo: somos melhores que vocês. Se der errado, basta apagar do servidor e nunca mais tocar no assunto. É tão banal que nem desculpas se pede mais.

O futuro do pretérito já vem com um “se” subentendidamente (gostaram dessa?) acoplado. É um verbo que naturalmente precisa de uma explicação; tal coisa só teria acontecido se isso e aquilo tivesse provocado, tal pessoa só teria se matado se o tal pai-de-santo tivesse pedido. Um exemplo concreto é o da Gazeta do Povo, que hoje deu uma notícia sobre a morte da menina Isabella. Assinada Agência O Globo, mas deu. São nada menos que cinco verbos no futuro do pretérito. Cinco! “O buraco na tela de proteção por onde Isabella foi jogada teria sido feito por uma pessoa destra”. Sim, teria, mas por quê? Porque só uma pessoa destra tem força suficiente para cortar os fios? Ou então porque um canhoto nunca alcançaria a posição do buraco? Então escreva isso, raios! “O buraco na tela teria sido feito por um destro, pois os canhotos nunca desenvolveram a habilidade de cortar barbantes”.

Isso estaria menos confuso se eu não estivesse com tanto sono.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Seqüestro na Rua do Limoeiro

Posso dizer com convicção que meu primeiro professor de português foi Maurício de Souza e que aprendi a ler "elado". As minhas primeiras palavras e frases formadas sem a ajuda da "tia" foram nos gibis do Cebolinha, Mônica, Cascão e sua turma. Até minha letra, quando ainda era feia que dói, foi melhorada por eles; mamãe me mandava copiar todos as falas dos balões dos gibis no caderno de caligrafia. Tive assinatura das revistinhas da "Turma" por cerca de cinco anos, e tenho certeza de que foi a melhor época deles: quando leio, hoje em dia, um almanaque do Chico Bento, só tem histórias que já conheço, que foram publicadas na minha época. E uma coisa posso afirmar sem pesquisa de campo: não estou sozinho nessa.

Numa conversa de bar, basta alguém citar Xaveco ou Zé Luiz para começar a sessão nostalgia. Um lembra de uma história em especial, outro daquela revistinha antológica. Há também aquele que é fã do Doutor Olimpo e o que ainda tem sua assinatura (mas diz que deu para o irmão mais novo). Invariavelmente, todos os da minha idade, que gostam verdadeiramente de ler, começaram com a Turma da Mônica. E, bem, admito que até hoje não posso ver uma capa da Magali que corro para ler. Posso estar atrasado para qualquer compromisso sério, coisa de adulto, mas perco cinco minutos folheando aquelas benditas páginas coloridas. Leio as histórias antigas e rio como se fosse a primeira vez, igual criança. Acreditem: tem muita piada lá que foi feita para somente um adulto entender.

E não é que seqüestraram o filho e a ex-mulher do meu professor Maurício de Souza? Já os libertaram, graças ao Deus (esse é o apelido do tenente da polícia que comandou a operação de resgate), mas serviu para assustar mais ainda a população. Será que são só os jogos modernos e realistas, cheios de tiros e sangue por toda a tela, que geram violência na sociedade? Ora, afinal de contas ninguém seqüestraria a família do Maurício de Souza por dinheiro. Duvido que ser cartunista no Brasil dê dinheiro. Nada que gere cultura e educação, no Brasil, tem apelo mercadológico.

Quem conhece a História (com "h" maiúsculo) da Turma da Mônica sabe que os personagens dos quadrinhos são inspirados em pessoas próximas ao Maurício. A Mônica, a Magali e a Marina, por exemplo, são algumas das filhas dele. O Marcelo, o filho seqüestrado, também deve ser, só que com outro nome. Tem que investigar se na revista personagem dele (ou ele, como queiram) não fez mal para o Humberto, o Rolo ou o Do Contra; um fã alucinado pode ter sido tentado a se vingar. Proponho às autoridades que se investigue bem quem são os mandantes desse crime: se eles tiverem menos de 20 anos, o motivo foi alguma ação do personagem na revista, pode apostar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O velho

Peguei o primeiro bonde do dia e fui para o centro. Era uma manhã gelada e clara, desperta do sono pelo canto dos pássaros. No banco ao lado do motorista havia um senhor de parcos cabelos brancos, provavelmente um aposentado buscando diversão, segurando uma antiga e longa bengala de madeira. Cada passageiro que entrava no veículo era saudado pelo velho com um sorriso sincero e um caloroso "bom dia". Na minha vez respondi "bom dia, velho" e ele me estendeu a mão, ostentado um sorriso maior ainda. Adoro chamar velhos de "velhos", pois dá a impressão de que sua condição de idoso não interfere em nada. E de fato não interfere. Ao contrário daquele falso respeito das pessoas que chamam a velhice de "melhor idade", chamá-los de "velho" não aparenta que o fato de sê-lo seja um catalisador da sua condição de nada no mundo. Velhos são engraçados.

Desembarquei quase uma hora depois no centro novo da cidade. Aqueles edifícios arranha-céus me impressionaram. Pensei com meus culhões o quão perigoso seria morar num bichão daqueles. Toneladas e toneladas de concreto apoiados sobre uma fina camada de terra (embaixo existem galerias de esgoto) e sustentados por uma simples viga de aço e cimento. Olhei para o velho que chegara com dificuldades ao meu lado e falei "você moraria num lugar desse?" Ele pensou sem tirar os olhos do topo do prédio; coçou a cabeça e disse "na minha idade, meu filho, você já não duvida mais das capacidades técnicas do ser humano". Entendi aquilo como um sim e convidei-o para tomar um café na lanchonete da esquina.

Era um velho muito simpático. Aparentava ter pouco mais de oitenta anos, e sua saúde era impecável. Via seus olhos brilharem a cada vez que o chamava de "você". Chamo velhos e autoridades de "senhor" quando a ocasião exige. Numa condição de igualdade, como quando somos apenas bons amigos tomando café da manhã, não há tratamento mais respeitoso do que "você". Não dissemos nossos nomes; ele era apenas o "velho" e eu apenas o "jovem". Nos entendemos bem assim. Ele me contava histórias, eu o contava planos. O velho já tinha feito muitas coisas que eu ainda nem sonhava em fazer. Esteve na guerra do Paraguai, no lançamento do rádio, na posse de vários presidentes. Foi remador do Flamengo, artista de circo e alpinista nos Andes. Acho até que oitenta anos era pouco para ele.

Passado um bom tempo desde que sentamos na lanchonete, finalmente perguntei o que ele estava fazendo àquela hora no centro da cidade. Ele me respondeu sem tirar o sorriso do rosto que tinha um velório a ir. Era um grande amigo que tinha partido, veterano da guerra como ele. "Tem uma época na vida em que você conhece mais gente morta do que viva", me falou. Questionei-o, então, se não estava triste com isso e ele me disse resignado "de jeito algum; ele finalmente completou seu ciclo". Tentei não entender e pedi para acompanhá-lo até o cemitério. Ele disse que sim, então pagamos a conta e saímos ao encontro da morte.

Já nem lembrava mais o motivo da minha ida ao centro. Eu era apenas o "jovem", amigo do "velho", que estava indo junto prestar as últimas homenagens ao amigo falecido. Fui para tentar entender o que pensam os velhos sobre a morte. Chegando na capela, não vimos mais do que cinco ou seis vivalmas. Todos velhos, inclusive os filhos do morto. Ninguém chorava, todos riam e contavam histórias. Na hora da morte, todo ser humano é bonzinho, mas ali, entre os amigos, isso era mais do que da boca para fora. Era um sentimento puro e sincero. O velho no caixão sorria. Todos em volta riam das suas peripécias. Naquela hora tive certeza de que ele era um sujeito querido e fanfarrão.

Meu amigo "velho" pediu licença para se despedir daquele corpo inerte. Me apinhei numa cadeira próxima e fechei os olhos. Fiquei só escutando, e o velho dizia: "vá em paz, irmão. Divirta-se lá e não esqueça de guardar um lugar no seu time pra mim. Eu já to chegando. Sua estadia por aqui foi boa enquanto durou, mas agora você precisa ir lá e dar um pouco de diversão pro resto do mundo. Mande um abraço pro Elvis, se você o encontrar". Dito isso, deu um tapinha na cara do morto e gritou "grande Cabeça". E o Cabeça se foi.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Promoção pra mocinha e pros manés

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Atenciosamente
Equipe de premiações
Pitomba’s Corporation Inc.


Fim

Prazer, Maycon Dimas

Já não é mais segredo pra ninguém que o que eu almejo é o sucesso. Por enquanto apenas almejo, não o busco, mas isso é outra história. O fato é que espero encarecidamente que meu nome seja citado como expoente da literatura mundial no item "Brasil" do livro que será escrito quando já não houverem mais países no mundo. Sim, um dia já não haverão mais países no mundo, seremos uma nação só; a língua será o inglês, a religião muçulmana e a moeda... Bem, a moeda provavelmente será sal, como no Egito antigo. Mas isso, pessoal, e papo para outra crônica.

O primeiro passo para eu alcançar o sucesso – fora buscá-lo, claro – é mudar de nome. Ou alguém aqui acha que Maycon Dimas é um nome que alcançaria a fama? Alguém consegue imaginar o título "Novo livro de Maycon Dimas é sucesso de público e crítica" na capa do Caderno 2 do Estadão? Tenho uma pá de nomes no meu RG, mas ainda não encontrei uma solução mercadologicamente aceitável.

Minha teoria é que o nome decide mais da metade do sucesso da pessoa. O talento às vezes ajuda, claro, mas não adianta você iniciar uma carreira de ator com o nome artístico José da Silva. Simplesmente não vai pegar. Ainda não descobri a fórmula exata para um nome cair na boca do povo, mas prometo que um dia farei um estudo empírico sobre isso.

Lembro-me de um rapaz que conheci há uns 7 anos mais ou menos. Jogávamos futebol no colégio e ele barbarizava. Arrasava. Com a bola nos pés, pendia do seu lábio a baba elástica e bovina de quem sabe tratar a pequena (citação rodrigueana). Dizíamos "vá tentar ser profissional, meu chapa! Você é bom nisso". Ele foi. Com méritos, foi aprovado no Coritiba. Era o destaque dos juniores e tudo mais. Seu nome? Pedro Moreira, conhece? Era assim que o chamávamos, e desse jeito ele não foi nada além daquele "piazão dos juniores que joga bem". Assim como se continuasse insistindo no nome não seria muito mais do que um bom ponta-direita num time qualquer do Mato Grosso do Sul. Só que ele mudou seu nome de guerra para Pedro Ken. O resto da história muita gente conhece (o que certamente não aconteceria com o tal Pedro Moreira – talvez em Portugal).

Dizem que a numerologia pode ajudar nisso. Não sei não, mas alguma lógica eles devem ter encontrado. A Claudia Leitte, por exemplo, era apenas Claudia Leite antes de ir a uma numeróloga. Mandaram-na por mais um "t" no sobrenome e deu no que deu: essa praga que ganha toneladas de dinheiro cantando qualquer coisa que vem na cabeça.

Numa conversa que tive outro dia na ágora brasileira – o bar – sobre esse assunto, quiseram me provar que o nome parece que influencia no sucesso porque só conhecemos a pessoa depois que seu nome já está disseminado na opinião pública. Em outras palavras, queriam me provar que nos acostumamos com qualquer nome depois que ele aparece insistentemente no jornal. Digo que não, não e não, e posso provar. As meninas que me perdoem, mas o assunto agora é futebol.

Tenho dois exemplos. O primeiro é Alan, um neguinho que jogava nos juniores do Mengão junto com o Ibson, há uns cinco ou seis anos. Ele simplesmente esmirilhava no inúmeros campeonatos sub-qualquer-coisa que existiam. Jogava de meia-armador (bicha) e só o que sabia fazer é dar infinitos gols para os atancantes. Acho até que era o centroavante dessa época era o Adriano. Mas qual era o problema do Alan? Oh, sim, ele se chama Alan. Ou alguém aí acha que o Barcelona vai querer comprar um cara chamado simplesmente de Alan? Só para constar, dizem que ele ainda joga uma barbaridade, mas está num time, se não me engano, da segunda divisão da Noruega.

O outro exemplo é o portuga Cristiano Ronaldo. Conheci-o num mundial sub-17 qualquer em que ele jogou brilhantemente como um príncipe etíope de rancho (citação rodrigueana). Depois ainda o vi em um ou outro jogo do Sporting, mas ele não foi nada de tão fenomenal. Só que o cara se chama Cristiano Ronaldo. Sei lá, combina; dá para entender? Ainda mais na camisa, quando está escrito só C. Ronaldo. Hoje ele é craque, mas quando foi pro Manchester era apenas mais um bom jogador do campeonato português. Só que ele se chama Cristiano Ronaldo.

Maycon Dimas Olveira dos Santos. Cinco reais para quem achar uma solução economicamente sustentável.