sexta-feira, 4 de maio de 2007

O Barbeiro Infeliz

Sem que nada acontecesse, Sávio resolveu se impor:
- Ei, filha! Estou mandando me dizer o que se passa entre você e Anselmo. Anda!, agora!
Discutiam a relação da pequena. O pai queria saber a que ponto estava o namorico entre Juliana e o barbeiro da esquina. Ela, acuada, permanecia calada.
- Então vê se me escuta, minha filha. Te digo desde já que não quero te ver com esse rapaz. Não quero, me ouviu bem?
Então ela saiu, cabisbaixa, terrena, desiludida. Ora, porque será que o pai não a queria com Anselmo? Que foi ele ou ela fizera para serem vítima de tamanha injustiça?:
Pensava, consigo mesma:
- Ora, veja. Agora mesmo é que vou me casar com ele.
De pirraça, foi-se encontrar com o rapaz.

O Encontro
Anselmo tinha a aparência de um toureiro espanhol. Aqueles cabelos negros e brilhosos denunciavam sua ascendência. Seu porte robusto anunciava um esportista. Mas Anselmo passava os dias entre tesouras e navalhas, cortando cabelos e aparando barbas.
- Juliana, meu amor. Que saudade!
Ela não respondeu. Estava imóvel, pensativa. Só sua mente trabalhava incessantemente as palavras há pouco ouvidas do pai. Ele percebeu a inquietação:
- Que foi? Teve a tal conversa com seu pai?
Como ela não respondesse, Anselmo se preocupou. Teve de insistir até que ela falasse:
- Meu pai não nos quer juntos, Anselmo.
- Não quer? Como assim? Porque?
Nem Juliana sabe porque, mas saiu correndo no mesmo instante. Deixou Anselmo para trás, e com ele seus sonhos e planos para o futuro. O rapaz ficou a observá-la correndo, sob a chuva que iniciara.

A Notícia
Juliana foi pra casa e se trancou no quarto, inquieta, pensando no que tinha feito.
- Jesus! Porque eu falei daquele jeito com Anselmo? Que vou fazer agora, meu Deus?
Ela percebera que tinha sido rude. Estava arrependida. Sabia que amava Anselmo, tinha certeza. Amava mais do que tudo que existia no mundo. Não era só porque o pai não aprovava aquele relacionamento que ela deixaria o barbeiro.
De noite, Sávido chega em casa. De mansinho, entra no quarto da menina, que ainda chora.
- Oi filha. Encontrei D. Terezinha na rua. Já soube do Anselmo.
Ela pôs-se a chorar ainda mais, e bradou aos quatro ventos, como que se fosse para a vizinhança inteira escutar:
- Eu não queria ter dito aquilo! Me arrependo, escutou? Eu vou voltar e me desculpar. Eu amo Anselmo mais do que tudo nessa vida!
O pai estava imóvel. Olhava Juliana com os olhos baixos, meio que desconfiado, meio que irritado. Ela ainda esperava uma resposta.
- E então, pai? Não vai dizer nada? Acabei de lhe informar que vou me casar com Anselmo, custe o que custar. Eu sei que o senhor não aprova, mas eu o amo, entendeu? Amo!
E Sávio:
- Não vai não, minha filha. Anselmo está morto. Ele foi encontrado há pouco com uma navalha enfiada no pescoço. O delegado tem certeza de que foi suicídio.

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