quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ilusão

"Pessoal, vocês precisam parar com essa ilusão e abraçar a fé. Só ela traz a cura que vocês precisam."

Do advogado Matheus Sathler, que se apresentou como representante da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional, durante a votação no STF sobre as pesquisas com células-tronco -- para ativistas cadeirantes, diga-se.

Enfim, é tudo por hoje. Sinto-me extremamente iludido para escrever sobre qualquer outra coisa.


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Update:

Da Gazeta do Povo, página 4:

"Francisco Roques Martins e Ubiraci dos Santos dividiram R$ 15 de gasolina para percorrer os 25 quilômetros do trajeto entre a cidade-satélite do Gama até a Praça dos Três Poderes. Os dois perderam a capacidade de andar após acidentes de carro e vêem as células-tronco como chance de resolver o problema. Os amigos conversam durante uma pausa na sessão, pela manhã, quando foram interrompidos pelo advogado Matheus Sathler.

'Pessoal, vocês precisam parar com essa ilusão e abraçar a fé. Só ela traz a cura que vocês precisam', disse Sathler, que se apresentou como representante da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional. Em seguida, o advogado ofereceu dinheiro para que os dois conhecessem uma sede da Igreja Internacional da Graça de Deus. 'Só ofereci como maneira de ajuda, não queria comprar ninguém'.

Ambos recusaram. 'Não é uma questão de ser desta ou daquela religião. Não há argumento que possa me convencer de que um embrião descartado, da grossura de um fio de cabelo, vale mais do que nós, vivos e sofrendo em cadeiras-de-rodas', retrucou Carvalho".

Por módicos um milhão de reais (em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro, ôi), eu não só conheceria uma sede da Igreja Internacional da Graça de Deus como viraria pastor e pregaria o fim dos estudos com células-tronco embrionárias.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Zero a zero: o placar humilhante

Não falei de futebol essa semana ainda, né? Pois é, o problema é que não tem nem o que falar. O jogo que assisti no domingo foi Grêmio e Flamengo, cujo placar foi um humilhante zero a zero.

Um zero a zero é vergonhoso para os jogadores dos dois times, para suas respectivas comissões técnicas e – por que não? – até para a estrutura física dos clubes, incluídas, aí, suas sedes sociais e campestres. O zero a zero é um resultado imoral para a entidade Futebol e humilhante para quem paga ingresso mor de ir ao estádio e não pode tomar nem uma cervejinha. Noventa minutos de bola rolando, onze jogadores de cada lado, dois gols de 7,3m por 2,4m (quase 18m² de buraco para pôr a bola!) e ninguém consegue marcar? Zero a zero é um resultado para todos saírem do estádio de cabeça baixa, com vergonha de si próprio e pena do Blatter.

No Globo Esporte de ontem o apresentador fez a chamada da reportagem sobre a partida com a pergunta "zero a zero no placar é sinônimo de jogo chato? Nem sempre". Coitadinho do Tino Marcos. Ele disse que o Grêmio e Flamengo não foi um jogo maçante porque as duas equipes buscaram o gol, fizeram uma partida movimentadíssima e o escambau, e que se não fosse nosso goleiro Bruno (que ninguém mais duvida que seja o melhor do Brasil) o Grêmio tinha massacrado por pelo menos três a zero. Não duvido, mas juro que acharia melhor perder de três do que assistir a uma partida sem gols. Perder de três pelo menos dá repercussão.

Antes do jogo começar, meu camarada Gaúcho (todo gaúcho que vive fora do Rio Grande do Sul tem o apelido de Gaúcho) me ligou para fazer aquela saudável provocação entre torcedores. Ele disse "bah, guri, hoje tu vai ver quem é que manda aqui. Da última vez que eu fui no Olímpico – não sei se tu te lembras – o Grêmio botou três a zero no Flamenguinho. Foi trilegal". Devolvi-o alguma outra constatação histórica favorável ao Mengão e então combinamos de nos falar ao fim da partida. Com um zero a zero no placar você acha que tivemos coragem de nos ligar? Ao apito do juiz, o Gaúcho deve ter ficado como eu, encostado num canto qualquer da casa, olhando para o infinito, resignado, com a aquele sorriso meio amarelo de quem está extremamente envergonhado por alguma coisa que aconteceu.

Após alguma horas, talvez curado de toda a timidez pós-zero-a-zero, ele me deixou um recado no Orkut (note que ainda assim não teve coragem de falar pelo telefone): "Só digo uma coisa... Que goleiro filho da p*** esse teu".

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dama de vemelho

Estava num canto, encostado na parede e segurando um copo de whisky. Os ombros meio curvos e a cabeça ligeiramente inclinada para frente não eram nada animadores. Nem parecia que estava numa festa. Um amigo, o anfitrião, já havia desistido de chamá-lo para a pista de dança. Fora uma semana difícil, aquela, para ele, e ver os amigos rindo e se divertindo lhe parecia muito injusto. Só conseguia pensar nos problemas, nos compromissos, nas responsabilidades.

Subitamente, o salão lhe pareceu iluminado. Pela porta entrara uma moça de negros cabelos lisos, lábio finos e delicados, olhos fulminantes de quem sabe o que quer e um corpo que parecia ter sido esculpido dentro daquele vestido vermelho. E ela entrou olhando para ele. O rapaz logo se animou; tomou o whisky de um gole só e se dirigiu a uma cadeira vazia para pendurar seu paletó. Sem tirar os olhos da moça, pôs-se a dançar. Tão logo os amigos o viram requebrando no canto do salão, arrastaram-no para o meio da pista, longe dos olhares furtivos da dama de vermelho.

Bailaram até o amanhecer. Ele buscava a todo instante com os olhos a moça que lhe devolvera a alegria, sem sucesso. Ela parecia ter surgido na festa somente para recuperá-lo das trevas. De fato, conseguira: ele dançou a noite toda, todos os ritmos e com toda mulher que lhe cruzou a frente, como todos estavam acostumados. Só lamentou o fato de não poder rever sua musa. Ao final da festa, perguntava a todos se alguém tinha visto a garota. Ninguém vira.

Ficou arrasado. Aquela era a mulher da sua vida e jamais tornaria a vê-la. Na verdade, já nem tinha certeza se ela era de verdade. Podia ter sido apenas um fruto da sua imaginação. Voltou para casa, voltou à vida, aos problemas, às responsabilidades; e ela sempre lá, a iluminar seus pensamentos quando tudo parecia perdido. A dama de vermelho, um anjo que lhe surgiu num momento de fraqueza.

(Reza a lenda que alguns dias depois, quando ele tornou a vestir aquele paletó, havia no bolso um papel com um nome de mulher escrito e um número de telefone. Mas isso são apenas boatos; jamais saberemos a verdade)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Eu odeio o São Paulo

Ontem cheguei a uma conclusão que, se não for chocante, é pelo menos decisiva: eu odeio o time do São Paulo. Podem chamar de inveja, ciúme ou o que for; nem eu sei porque odeio o São Paulo Futebol Clube, portanto nada de que vocês me acusarem afetará meu ego. Sei lá... O São Paulo um time mesquinho, cheio de artimanhas e ganancioso no mal sentido (tipo vilão de novela, que é capaz de sabotar o carro do próprio pai para assumir o comando da empresa). Na verdade nem sei se existe ganancioso no bom sentido, mas que o SPFC é ganancioso no mal sentido, isso é.

Não cheguei a essa conclusão por acaso. Foi ontem, durante o jogo entre São Paulo e Fluminense. Mais exatamente aos 30 minutos do primeiro tempo. O SPFC ganhava por um a zero, gol do nosso imperador, e o Flu estava no ataque, pressionando. Quando dei por mim, estava secretamente torcendo para que um chute do Arouca entrasse gloriosamente no ângulo esquerdo do goleiro adversário. Não por causa dele e muito menos pelo time das Laranjeiras, mas porque queria mesmo era que o São Paulo se estropiasse.

Será que dá para perceber o dilema? Oras, sou Flamengo até debaixo d'água. Defendo o Fla como time mais lindo do mundo até mesmo no centro de São Januário, com milhares de vascaínos armados de pedras e tacapes ao meu redor. E o Flu também é nosso adversário; se não o mais constante e combativo, pelo menos o mais histórico. Com ele fazemos o Fla-Flu: precisa dizer mais?

Enfim, ontem torci para um gol do Flu. Torci para uma vitória do Fluminense. Uma vitória daquelas de encher os olhos de quem assiste e de calar um estádio lotado. Uma virada esplêndida, com direito a gol de bicicleta do Dodô e um frango do Rogério Ceni. E por quê? Porque o São Paulo é ridículo. O São Paulo Futebol Clube é o time mais feio, bobo e burro do futebol mundial. Quero mais é que eles se explodam!

Não me pergunte por quê: eu odeio o São Paulo.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Se-pa-re

Existem coisas que acontecem diariamente e são tão absurdas que quando as presenciamos não sabemos exatamente como pensar. Os sentimentos normalmente duelam entre a vontade de rir e a de chorar, com algumas variações socialmente aceitas. Acontece assim: você está andando calmamente e de repente vê a cena; uma cena qualquer, normalmente absurda, mas que no fundo você sabe que acontece o tempo todo. Aí abaixa a cabeça e a balança e um lado para o outro, como quem faz "não", num gesto claro de indignação. Então, finalmente, percebe que a sua boca está se contraindo até formar aquele esboço de sorriso, onde só aparece um lado da arcada dentária, geralmente o mais amarelo. No íntimo do ser, no ID de Freud, a confusão está instalada: enquanto sua consciência "anjinho" quer se indignar, a consciência "capetinha" quer rolar no chão de tanto rir.

Um exemplo claro disso tudo aconteceu hoje comigo. Cheguei no trabalho bem cedo e, como de praxe, cumprimentando todo mundo. Bom dia para um, abraço no outro, conta uma piada daqui, fala do tempo dali... Aquela festa de sempre. Mas e aí fui jogar fora o papel da bala que ganhei da D. Gilda e aquilo que incomodaria até político corrupto aconteceu. Na hora eu ri e me indignei da mesma forma explicada anteriormente, mas ainda não havia captado a profundidade da coisa. Eis o fato: uma moça da limpeza (não sei o nome, me desculpem) estava esvaziando os latões de lixo e jogando tudo no mesmo saco. Não eram vários latões de lixo "geral" espalhados pelo pátio; era uma única estrutura com vários buracos para separar o lixo reciclável. Azul para papel, vermelho para plásticos, amarelo para latas, etc. Ela estava abrindo recipiente por recipiente e jogando tudo num mesmo saco preto – que certamente seria amarrado e colocado na calçada para o caminhão de lixo (aquele lixo, que inclui desde caixa de leite e casca de banana estragada até papel higiênico e pilhas alcalinas) levar para o já saturado aterro da Caximba.

Essa situação leva a duas conclusões, ambas revoltantes: ou a moça que fazia a limpeza não considera a reciclagem algo relevante (e isso me faz pensar "que equipe de limpeza é essa?"); ou ela parte da premissa que as pessoas não levam em consideração as cores das latas e que jogam qualquer coisa em qualquer lugar (o que seria muito mais periclitante devido a sua abrangência). De qualquer forma, nenhuma das duas conclusões exime a moça da limpeza de qualquer culpa. No primeiro caso, foi uma decisão dela e somente dela, mesmo que isso atinja de certa forma todo o mundo. No segundo caso, ela faz um juízo de valor de toda a sociedade, e juízo de valor é algo totalmente pessoal, portanto também decisão dela. Importante: consideremos, aqui, "ela" e "moça da limpeza" como a personificação de toda a equipe de limpeza, pois a moça que efetivamente retirava o lixo de seus latões podia simplesmente estar cumprindo ordens de uma chefe e não agindo segundo seus próprios ideais.

Particularmente acho importante a coleta seletiva do lixo, apesar de não saber o que acontece com ele depois os ponho para o caminhão pegar. É o que de mais simples podemos fazer para ajudar o meio ambiente e prevenir o tal aquecimento global. Não cansa, não dói e não te atrasa para o jogo de boliche. Basta pegar o que é papel e por no balde de tampa azul. Simples assim. E se é tão fácil, porque as pessoas não o fazem regularmente? Pior: aqueles que fazem, e são poucos, vêem seu parco esforço indo por água abaixo por causa de uma moça que não considera isso importante (não esquecer que ela é apenas uma personificação). Até duvido que a lata de tampa vermelha tivesse somente plásticos e a marrom baterias de celular – a grande parte das pessoas infelizmente não considera que seu lixo individual irá afetar o meio ambiente do planeta inteiro – mas o que é que custa acreditar que a sociedade é perfeita? O mundo é bom, até que me prove o contrário. Ele até que tenta, mas eu sou teimoso e custo a acreditar.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Caráter

Entende-se por mau caráter o sujeito que se aproveita da bondade alheia para se dar bem. Mas aquele que atropela a passionalidade e a boa vontade dos outros e se dá MAL? Chamo isso de falta de caráter (e considero muito pior do que mau-caratismo).

A pessoa sem caráter não consegue se impor, nem para o lado do bem e muito menos para o lado do mau. É completamente dominada por qualquer um que apresente um pouco mais de gana, um tiquinho só de vontade a mais de vencer e se dar bem. Durante um tornado, a pessoa sem caráter é a primeira a sair rodopiando pelos ares, junto com a vaca, a casa de madeira – que surpreendentemente voa inteira, sem quebrar – e o sedã vermelho.

Porém a falta de caráter, ao contrário do mau-caratismo, é mais um estado de espírito do que uma característica própria do indivíduo. Explico: não se é sem caráter o tempo todo. Perde-se o caráter de forma temporária, como se perde a alegria em épocas de depressão. O sujeito pode ser bom caráter o tempo todo, mas num dia, sabe-se lá por quê, o perde completamente e fica à mercê das vontades e insinuações alheias. Perde-se o caráter, por exemplo, durante um porre homérico (senão Ronaldo, bom caráter que é, nunca teria buscado os serviços de um travesti).

Falando no Fenômeno, ontem o time do Flamengo se mostrou totalmente sem caráter – além de apático, imprudente, fraco, submisso, prepotente e diminuto, claro. Os jogadores em campo pareciam ainda sofrer da ressaca do título de domingo. Trataram o América como time vencido, que veio ao Brasil apenas conhecer o Cristo e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Fizeram uma partida apenas para cumprir tabela, deixando o gorduchito jogar e perdendo gols como não se faz nem em dia de rachão. Gente, isso é futebol! Não é à toa que a velha máxima do futebol "o futebol é uma caixinha de surpresas" é chamada de velha máxima do futebol. É um jogo onde tudo pode acontecer. Tudo! E – quem diria? – o inesperado aconteceu.

Três a zero é um resultado que humilha o adversário e deixa seus torcedores sem sequer lembrar o rumo de casa. Incontestável, diria eu. Mas para o Flamengo não deve existir o incontestável. É o Flamengo que deveria criar exceções para as velhas máximas do futebol. Aliás, para o Flamengo as velhas máximas do futebol não deveriam nem existir. O Flamengo é muito maior do que isso, é uma instituição nacional, muito mais que uma religião. Nossos atuais jogadores deveriam sentar na escolinha da Gávea e estudar a história do Mengão, para aí então incorporar o espírito guerreiro e lutador de outrora. Não estou dizendo que ele sejam bundões e o escambau, basta olhar não muito atrás e ver que o título do carioca foi conquistado com muita força e disposição, mas a entrega durante a Copa Libertadores deve ser muito maior. O brio precisa ser muito mais exacerbado. Uma coisa é ganhar do Botafogo, outra coisa, completamente diferente em termos de modo e repercussão, é ganhar do Boca.

Ontem fui dormir definitivamente cabisbaixo, se é que isso é possível. Deitei-me como um ser que foi escorraçado do paraíso sem qualquer chance de se defender. Foi como se Deus chegasse até mim e dissesse "volte para o limbo, pecador, onde é o seu lugar". Logo agora que eu já estava acostumando com o meu cantinho no céu dos vencedores. E tenho certeza: todo flamenguista sentiu o mesmo. Estávamos todos lá, toda a nação flamenga ali representada pelos 50 mil guerreiros que não pararam um minuto sequer de cantar, pular e incentivar. Nossa torcida, como sempre, deu show. Cantou do começo ao fim, mesmo quando o time perdia por 3 a 0 e tinha um marrentinho a menos em capo. Só que desta vez, infelizmente, saiu do Maracanã humilhada. Pois é: humilhada, mas jamais rendida.

Não é o fim do mundo, claro. O Brasileirão está aí e certamente temos um time pronto e capaz de figurar nas cabeças da tabela. Mas a Libertadores era a nossa rendição, a confirmação de que finalmente temos um time ótimo depois de quase vinte anos. Agora – fazer o que... – é levantar a cabeça e recuperar nosso bom-caratismo. Vamos limpar a poeira, dar novamente a volta por cima e ser campeões. Mostrar para todos aqueles (poucos) que não torcem para a entidade máxima do futebol que para ser hexa não basta ter dinheiro e torcedores maquilados. É preciso ter magia – a magia que só Flamengo e sua torcida têm.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Política, esta mer... cadoria

O que mais me assustou nos últimos dias foi ter sido chamado de sujeito político. Ah não, meu caro, me inclua fora dessa. Política é para caras mal-intencionados ou atores sociais. Fujo dela como um cachorro foge da cinta, por mais inacreditável que aparente ser.

Infelizmente entendo de política. Não gostaria, mas entendo. Faz parte da minha (futura) profissão, está por todos os lados e, além do mais, adoro dar pitacos naquelas desfundamentadas discussões barísticas. Meu voto é um direito que não exerço às escuras, mas adoraria fazê-lo. A democracia precisa de pessoas como eu, alheias a tudo e satisfeitas com qualquer coisa. Se todos fossem participativos, reclamadores e reivindicadores, não haveria tempo para a evolução. As coisas só andam após a discussão de alguns, a tomada de um consenso geral e a aplicação do resultado disso tudo na sociedade. Quanto menos gente para discutir, melhor e mais rapidamente as soluções serão tomadas.

Pode parecer infantil, ignorante e inocente da minha parte, mas confio plenamente naqueles que estão lá para discutir o meu, o seu e o nosso futuro. Não nos políticos, nunca nos políticos! Eles podem ser boas pessoas – e na grande maioria o são –, mas quando assumem seu personagem diante do palanque se transformam em faustos maquiavélicos e cruéis. São egoístas e não os culpo: é da natureza humana sê-lo, algo puramente instintivo. Eu confio é naqueles seres engajados que vão até Brasília queimar pneus na frente da Esplanadas dos Ministérios; naqueles idealistas que se candidatam vereadores por um partido minúsculo e tentam mudar a forma de governar durante seus cinco segundos de inserção no horário político; naqueles bebuns que seguram placas escrito "desisto" em meio a passeatas contra a emenda três. Pode parecer pouco, mas é muito mais do que eu sou capaz (e, sinceramente, tenho vontade) de fazer.

Engraçado é que só o fato de expressar minha opinião num espaço público já consiste em um ato político. Se alguém ler isso aqui e se convencer de precisamos de seres coadjuvantes politicamente, já terei mobilizado alguma massa e isso é, por definição, política. É o que já disse anteriormente: não há como escapar, ela está por todos os lados, te pressionando, te influenciando, te manipulando. É só olhar para os lados para se dar conta de que até você pode fazer, basta ter vontade.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Fla campeão (eu já sabia)

O Flamengo ganhou o título do carioca por causa do gol do Botafogo. O jogo de domingo jamais seria 3 a 1 como foi se o Lucio Flavio não tivesse colocado a estrela solitária na frente logo no começo do jogo. O Flamengo é meu time, fazer o que, mas tenho que admitir que é um time extremamente acomodado. E não é que não parta para cima dos adversários e busque a vitória. Muito pelo contrário. Vai, ataca, chuta na trave... Mas nada disso é por vontade ou garra. O faz porque tem um ótimo time mesmo. Só que nossos representantes em campo têm a estranha mania de jogar pelo um a zero.

Domingo, quando a bola tocou a rede do goleiro Bruno e calou o Maracanã, secretamente sorri com canto da boca. Cuidei para que ninguém me visse, mas tinha certeza que aquele gol era a melhor coisa que poderia acontecer para o Mengão. Até quando o time tinha Jorginho organizando o meio-campo e a dupla de ataque formada por Lê e Roma, sair perdendo era um bom negócio para o Flamengo. Explico: nossa torcida é muito linda, é mais do que apenas um 12º jogador. A torcida do Flamengo tem uma força incalculável, fora dos padrões mundiais. É capaz de fazer um jogador como Jean fazer três gols numa final contra o Vasco e sair consagrado de campo. É capaz de fazer um cearense magrelo e franzino ser o segundo melhor zagueiro do Brasil, só perdendo para o Fabio Luciano.

Enfim, o Flamengo é a sua torcida. Graças aos deuses. E a torcida do Flamengo é a mais competente do mundo. Capaz de vencer obstáculos, de ganhar força com as adversidades. Assim como fazem no dia-a-dia, na vivência mundana do cotidiano, muitas vezes deixando de comer alguma coisa para poder pagar o ingresso do jogo, a torcida do Flamengo é tão melhor quando mais difícil parecem ser as coisas. O Flamengo só é raça, amor e paixão porque é a representação de sua torcida, e não o contrário. Força Mengão. Força porque é só por sua causa que milhões de pessoas ganham algum motivo para sorrir de tempos em tempos.

E ainda temos Obina, nosso príncipe etíope de rancho. Sobre ele, nada a declarar. Os dois gols na final já falam por si.