sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ligação

Já se passava das dez quando ela ligou. Ele viu o nome no visor e nem acreditou. Atendeu.

- Alo? – disse ela vivamente.

Ele fez silêncio. Não sabia o que responder. Era só dizer alo, pensou, mas nem isso foi capaz. Finalmente, com a voz um tanto quanto trêmula, respondeu:

- O-oi. Como vai?

Por alguns instantes a conversa ficou suspensa no ar. Ele olhava as árvores, depois os carros, depois os prédios. Sorria. Lembrou-se de quantas vezes já tinham se falado ao telefone: até aquele dia, apenas uma, e só porque ele atendera o celular de um amigo numa tarde qualquer.

- E aí, ‘tudinho? – ela perguntou. Ele se sentiu ignorado, mas desta vez relevou. Era muito importante se manter concentrado.

- Tudo, e com você?

O papo não prosseguiu. Talvez ela estivesse esperando que ele perguntasse alguma coisa, pensou. Mas o quê? Quase não se encontravam; não tinham assuntos em comum. Ele pensou em perguntar da família, mas julgou um pouco intrometido demais. Pensou em falar do Paulinho, o ex-namorado dela, mas isso seria um afronte aos seus planos de conquistá-la. Decidiu por algo mais protocolar:

- O que vai fazer no fim de semana?

Que burro! Burro! Burro! Ele se penitenciava por dentro. Que burro! Certamente ela pensaria que seria convidada para sair. Não podia ser assim tão direto; ela se sentiria dona da situação. Mas e já não era?

O silêncio era aterrorizante. Ela fazia isso de propósito? Fazê-lo esperar, assim, sem saber o que acontecia do outro lado. Isto o deixava com o coração em frangalhos.

- Oi, desculpe. Eu me distraí aqui. O que foi mesmo que você disse?

Um misto de indignação e alívio o atingiu por dentro. Por sorte ela não escutara a pergunta anterior, mas por outro lado também não lhe dedicava atenção exclusiva. Quer dizer, ela é que tinha ligado; deveria prestar atenção. Aliás, foi por que mesmo que ela ligou?

- Escuta: o que você vai fazer no fim de semana? – ela perguntou.

Ela perguntou. O que você vai fazer no fim de semana? Ela perguntou. Ela. Para ele. O coração disparou. O que ele iria fazer no fim de semana? Será que ela queria ir ao cinema? Ou então passear no parque... O que você via fazer no fim de semana?

- Ei, está me escutando? – insistiu ela.

- Sim! Quer dizer... O que eu vou fazer no fim de semana? Não sei. Não sei! [...] Você tem alguma coisa para me
oferecer?

Outra vez ele se penitenciou por escolher as palavras erradas. “Você tem alguma coisa para me oferecer”. Isso lá é coisa que se fale para uma menina? Ainda mais uma menina que lhe povoava os sonhos todas as noites? Desta vez, pensou ele, ela desliga o telefone na minha cara.

- Sim! – ela falou – Tem uma festa assim assim lá na casa da Pati Vamos?

Ele não acreditou no que ouvira. Estava sendo convidado pelo grande amor da sua vida para ir numa festa na casa da Pati. Era muito para seu coração. Sentou ali mesmo, na calçada, e respirou fundo. Tomou fôlego e disse:

- Você sabe com quem está falando?

- Não é Fulano?

- Não! É Sicrano!

E então ela desligou. Nem se prezou a dizer “tchau”.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ídolos

Outro dia me perguntaram se já assisti o programa Ídolos. Já assisti algumas vezes, mas na primeira temporada. Comentar sobre os casos engraçados que acontecem no programa. Como o sujeito que depois que terminou de cantar, respondeu a um dos jurados que quem o incentivou a cantar foi o pessoal do prédio onde ele era porteiro. O jurado esculachou o sujeito, aconselhou-o a parar de cantar antes que perdesse o emprego.

Outro caso que merece atenção, foi o de um outro participante, jardineiro, que estava lá porque a sua patroa disse que ele cantava muito bem. Um dos jurados disse que aprovaria o candidato para a próxima fase do programa, desde que ele prometesse cantar no trabalho da hora que ele chegasse até a hora de ir embora a mesma música que cantou no programa. Sem falar nos candidatos que cantam errado, cantam com sotaque e os que não cantam nada e só estão lá por farra mesmo.

O Ídolos não é um primor de programa, mas eles dizem que estão procurando um ídolo da música. Um ídolo pop. Estranho não? A proposta deles é de encontrar um pessoa normal (não-famoso ainda) e vão impor-lhe a pecha de ídolo. É igual quando você resolve fazer seu perfil no orkut, quando termina de colocar suas descrições e preferências, vê que tem zero amigos, mas já tem orkut. No caso do sortudo vencedor do Ídolos, começa com zero fãs, mas é ídolo.

Indo um pouquinho além, fico pensando como seria se músicos que fazem sucesso tivessem que passar pelo teste do programa. E seria como um exame da OAB, quem fosse aprovado no Ídolos poderia seguir na carreira, caso contrário teria que fazer outra coisa. Imaginem o ex-vocalista do Los Hermanos Marcelo Camelo, agora pensem nele entrando para o teste. Um sujeito com aquela barba esquisitona, camisa xadrez e All Star velho. Quando começasse a cantar, com seu jeito acanhado e pouco a vontade por estar sendo julgado como num vestibular. Ficaria sem jeito, e ouviria aquele jurado barbudo dizendo: - Você não canta não velho. Meu voto é não. – E assim Marcelo camelo daria adeus a sua carreira na música brasileira.

Pensem agora, mas com um pouquinho de boa vontade, em Chico Buarque. Ele que entende da alma feminina, um cara politizado, pegador e tudo mais. Ele todo a vontade para seu teste. O jurados esperando ele se apresentar e ele manda ver um de seus sucessos, quando de repente um dos jurados diz: - olha seu Chico, você é muito boa pinta, sua letra é muito boa e fica a vontade no palco. Mas com essa sua voz não vai dar não. Eu voto não. – Pronto agora nem que voltasse disfarçado e com o pseudônimo de Julinho de Adelaide, não cantaria mais.

Então chega a vez de um rapaz, que é a cara do programa. Um cara descolado, moderno, que dança, canta e escreve as próprias letras. Latino, sim ele mesmo o autor de Renata Ingrata e Festa no AP. Chegaria no seu teste falando alto, sorridente e bem a vontade.
- Vai cantar o quê pra gente, Latino? - pergunta o jurado.
- Vou de Amigo fura olho. – de pronto responde o cantor.
- Então canta pra gente ver.
E ele canta, dança, faz umas coisas engraçadas e outras estranhas (tipo a bombadinha no chão) e é aprovado. Outros grandes ícones da música brasileira seriam Cláudia Leite, P. O. Box (diz que vai me ensinar/ então diga como é), Tati Quebra Barraco e outros talentos que cantam dançam e representam.

Fim

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Futebol arte

Hoje tem jogo do Brasil, quero mandar um alô para os que falam que o futebol argentino é o melhor do mundo. Se é melhor que o brasileiro é discutível, mas que eles proporcionaram o maior mico do ano não resta dúvidas. Que diga o argentino Fabián Espíndola, o craque, o ícone, o gênio ou simplismente o sujeito que marcou um gol, correu para comemorar, deu uma pirueta, caiu e quebrou a perna. Mas como nem tudo é perfeito nesse mundo, juizão anulou o tento do gaudério.

Parabéns campeão!