sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Idéias

Vez por outra se vê jornalistas criticando em suas colunas os absurdos cometidos pelos profissionais da publicidade. Geralmente são comentários sobre a ética dos comerciais de bonecas e carrinhos para as crianças, ou então sobre a apelação feita por certas marcas de cerveja para atrair marmanjos barrigudos. O que não lembro de ter visto nunca foram elogios, mesmo os justos e merecidos. E não seriam poucos: há certas coisas que somente os ex-alunos do famigerado* curso de Publicidade e Propaganda são capazes de pensar.

Lembro-me de uma antiga propaganda que contava a história de um rapaz que só andava para trás. Mostrava-o passando por diversos lugares e situações, sempre caminhando de ré. Se não me engano, inclusive, numa das cenas ele, ainda bebê, engatinha para trás. Isso sim é que foi uma sacada incrível! Um bebê que só anda de costas é absolutamente inimaginável, e, portanto, muito engraçado.

Enfim, o fato é que no fim da história ele passa por uma vitrine de celulares (se não me engano praticando "jogging", o que também é muito engraçado), pára e dá um passo à frente para ver melhor. Tantos anos de convicções jogados fora por um mísero instante de curiosidade. Dou vinte centavos para quem me provar que isso não foi um lance genial. Pode até ser que o roteirista do reclame não tenha pensado em questões filosófico-psicológicas de negação de princípios e afins na hora de redigir o texto de vídeo, mas com certeza ele me convenceu de que a TIM é tão boa e revolucionária que é capaz de fazer alguém mudar a direção de uma dedicada caminhada de tantos e tantos anos.

Mas o que ainda considero mais impressionante é quem acerta a mão numa propaganda veiculada em mídia impressa. Sem os recursos tecnológicos da internet ou do rádio, por exemplo, fica muito mais difícil fazer uma campanha que fique marcada no inconsciente coletivo por décadas. O jornal aparenta ser muito mais sério do que a televisão; fazer nele um anúncio que chame a atenção é, portanto, muito menos simples do que apenas criar um enredo de novela com final feliz para vender produtos na telinha.

Atualmente há um comercial que certamente entrará para os anais da publicidade, se não pela genialidade, pelo menos pela possível ação que os concorrentes moverão acusando-o de faltar com o decoro (se é que há decoro no mundo corporativo). Trata-se da nova – nem tão nova assim – campanha do Itaú, o banco. Quem viu, sabe do que estou falando: uma painel laranja, de meia página, com um quadrado azul de bordas arredondadas no meio. Nada escrito além de "o banco feito para você". Não é preciso dizer mais nada; só de bater o olho o leitor já mentaliza o velho "i" em forma de arroba.

Porque considero a possibilidade de haver processos e chiadeira por causa dessa propaganda? Porque o ser humano não sabe perder, ainda mais um ser humano de uma multinacional e para algo aparentemente tão simples. Deve haver uma tábua de regras (?) entre os departamentos de marketing das grandes empresas onde um dos mandamentos, possivelmente o primeiro e mais importante, impede que uma corporação se gabe de ser " top of mind". É muita humilhação para as concorrentes.

Certa vez meu grande ídolo Nelson Rodrigues escreveu que "só os profetas enxergam o óbvio". Essa deveria ser a frase-guia dos publicitários. O grande trunfo deles está em usar o "tudo-que-está-aí" em favor da venda dos seus conceitos (já que, como todos sabem, propagandas não são feitas para vender produtos e sim idéias). Pegar, por exemplo, a imagem de uma lavadeira batendo as calças do patrão na pedra do rio e sofrendo com a cantoria desafinada da colega ao lado para anunciar uma promoção de máquinas de lavar e mp3 players nas Casas Bahia. Seria do tipo "Está cansada de lavar a roupa naquela sua máquina velha e ainda por cima ouvir o barulho chiado do seu antigo radinho de pilha? Seus problemas acabaram!"

Definitivamente eu me daria muito bem como publicitário.

*N.E.: Publicidade e Propaganda, o curso, muito mais do que Jornalismo, é o maior erro da academia brasileira. Ensina-se técnica e teoria para exercer uma atividade que depende essencialmente da função criativa. A técnica destrói qualquer criatividade. O que deveria existir, na verdade, é um curso Técnico de Publicidade, de onde sairiam os profissionais que serviriam aos verdadeiros criadores. Mas, afinal, isto é apenas minha humilde opinião.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Com a palavra o técnico

“Chegou a hora moçada, vamos lá mostrar para eles que aqui tem homens de verdade e que aqui não tem nenhum fraco. Mostraremos para esses palhaços, que aqui ninguém desiste. Vamos esfregar a cara deles no chão, para que eles nunca se esqueçam do que faremos com eles hoje. Quero que cada um aqui pense em todo trabalho do grupo durante o ano. Lembrem-se de tudo que passamos, tudo que disseram sobre a gente. Quando chegarem lá não sejam egoístas, pensem nos colegas que trabalharam tanto quanto você para chegar até aqui.

Viram o que disseram por ai? Eles tiveram a audácia de dizer que são os melhores, mais rápidos, mais habilidosos, mais espertos e mais esforçados que todos nós juntos. Mas isso não é tudo, sabem o que é pior do que isso que esses vermes disseram? O pior é que muita gente concordou com isso. É um absurdo, eu não concordo com uma vírgula do que esses pulhas disseram. E vocês? Alguém aqui quer deixar por isso mesmo? Alguém aqui aceita essa humilhação? Pelo que conheço de vocês, acredito que não.

Não sei vocês, mas tenho vontade que mostrar para esses canalhas como é que se faz. Eles são desprezíveis, asquerosos, arrogantes e se acham melhores do que nós. Antes de entrarem lá saibam que todos que vieram aqui, vieram para ver os melhores. E não tenho dúvida alguma de que os melhores somos nós. Não porque estou trabalhando com vocês, mas sim porque convivi com vocês o dia-a-dia e sei do esforço e do potencial de de cada um aqui.

Mais uma vez repito, ninguém é melhor do que vocês. Aqueles putos do lado de lá, não passam de uma corja de crápulas safados, são uns fracos. São uma gentinha desqualificada que só sabem falar mal de nós, foi assim o ano todo vocês sabem. E o que fizemos a respeito? Fizemos muito bem de não devolver as provocações, pelo menos não do jeito que eles pensavam. Nada de bravatas antes da hora, você me deixaram orgulhoso com essa atitude. Porém hoje nós vamos devolver tudo e com juros. É como dizia aquele velho fanfarrão na porta do boteco: - o deles está guardado! - e está mesmo. De hoje não passa.

Quero dizer só mais uma coisa antes de vocês aniquilarem aqueles calhordas. Do fundo do meu coração, gostaria que vocês soubessem que vocês são o melhor grupo com quem eu trabalhei em toda minha vida. Durante o ano todo vocês trabalharam muito e nunca reclamaram. E todo o nosso trabalho foi para chegar aqui hoje e vencer. Não esqueçam que não estamos sozinhos, nossas famílias e nossos amigos estarão torcendo por nós. E vocês não vão decepcionar. Vamos atropelar esse otários. Passar por cimada cabeça deles e eles não irão ficar sem reação.

Chegou a hora vão lá e arrebentem. Vocês são os melhores.”

E foi assim que o padre Virgílio orientou o time da paróquia São João do Paraguatá, na final do campeonato de futebol inter-seminários contra os time da paróquia Santo Tomás de Quantantão.

Fim

Caçador de assuntos

Antigamente eu lia um jornal de quinta (feira) que sempre trazia opiniões das mais diversas pessoas sobre os mais diversos assuntos. A coluna sempre acabava com uma exclamação (É a opinião! ) e eu achava o máximo. Era como se estivesse embutido "Nada do que esse cara escreveu condiz com as idéias do jornal. Ele só aparece aqui porque pagou uma nota preta por esse espaço".
Uma vez havia uma digressão que me deixou, como dizem, com a pulga atrás da orelha. Não lembro exatamente o teor das bravatas que estavam escritas, mas o assunto era emblemático: a utilidade de um canteiro de flores. Fiquei pensando – além da minha opinião sobre a real utilidade de um canteiro de flores – quais seriam os motivos que levam uma pessoa a discorrer sobre a utilidade de um canteiro de flores. Se ele defende, será que está puto porque alguns moleques volta e meia derrubam a bola em cima de suas rosas? Ou então ele tem uma empresa que não conseguiu alvará da prefeitura para montar um "canteiro patrocinado" na calçada?
E se ele ataca, será que é porque colocaram um canteiro de flores no caminho da sua casa até o ponto de ônibus com uma placa "proibido pisar na grama" que o faz, portanto, ter de sair de casa pelo menos três minutos antes para não perder o coletivo por causa do desvio?
Suposições à parte, essa lembrança me fez pensar nos motivos que levam uma pessoa a escrever sobre alguma coisa. Eu, por exemplo, já discorri, há muitos anos, até sobre cadarços de tênis. É ridículo, já sei, mas na época eu possuía nobres motivos: tinha visto "manos" com cadarços rosas do tamanho de lençóis e isso me deixou profundamente indignado. (Se para escrever sobre alguma coisa é preciso estar profundamente indignado, neste momento eu poderia filosofar sobre a utilidade de um aspirador de pó numa sala de piso laminado: as moças da limpeza estão me irritando com o barulho daquele Cougar Maxx 2000)
Mas será que para estes colunistas de jornal, que todo dia botam alguma coisa no papel, basta olhar para um calendário que lhes surge um texto sobre a diferença das datas chinesa, hebraica e romana? Será que eles olham para o teclado e pensam "nossa, como eu odeio esse padrão QUERTY – vou escrever sobre isso"?
Não pode ser assim... É preciso indignar-se para escrever com paixão sobre alguma coisa. Agora se eles se idignam com tudo sobre o que escrevem, nunca convidarei colunistas para os meus churrascos.
Mas, pensando bem, estou escrevendo sobre a coluna de opinião de um jornal de quinta (feira). Melhor esquecer tudo isso.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

E o bambu?

Dia desses um amigo disse que não gostava de filmes dublados. Confesso que sei muito pouco de inglês, nada de francês, japonês, alemão e acho (só acho) que entendo alguma de espanhol. E que não me incomodo muito com filmes dublados, ao menos não me incomodo tanto com esses filmes. Porém vejo que meu amigo tem razão por não gostar dos filmes dublados. Afinal ninguém nesse planeta, acho que nos outros também, diz coisas como: dane-se, quando quer dizer foda-se? Ou filha da mãe quando quer realmente, com sangue nos olhos, dizer filho da puta.

Mais do que a dublagem me incomodo com os títulos dos filmes, alguns vá lá até faço vista grossa. Mas Um tira da pesada, Vovozona e aqueles que no título aqui no Brasil levam a palavras ‘do barulho’, ‘da pesada’ e ‘muito louco’. Realmente não tem como passar despercebido esses títulos, que deve ser coisa do senhor Herbert Richards. Ainda assim acho que dublar é uma arte, vide o ótimo Tela Class.

Mas mudando de saco para mala, mas sem perder o foco, me diga quem não conhece aqueles CDs religiosos do Padre Marcelo, Padre Zezinho, Padre Quavedo sei lá. Em que eles com suas famosíssimas vozes levam aos lares desse meu Brasil Varonil a bíblia falada, ou o terço não sei das quantas ou ainda orações milagrosas, que nas vozes destes e de outros ícones pops da religião ganham mais força.

Desses o mais legal deve ser o do Cid Moreira, com aquele vozeirão sinistro narrando a bíblia. É engraçado, com todo respeito aos de coração puro. Mas acho muito engraçado a idéia de uma bíblia falada por se tratar de uma idéia mercadológica deveras descolada. O camarada que não quer ler a bíblia pode ouvi-la e com a voz do Cid Moreira, o cara do ‘boa noite’ mais sinistro do mundo. E eu que acreditava que o auge era ele apresentando os truques do Mister M.

Mas eis que ontem ,quando cheguei em casa, minha sobrinha aparece com um cd na mão e diz: -tio coloca no computador que eu quero escutar. – era um cd com a história do Rei Leão. Para meu espanto o narrador da história não era ninguém mais, ninguém menos do que ele o ícone, o patrão, o homem do baú... sim ele Sílvio Santos.

Oeee Oeee olha lá o Simba.Hahai hihiiii... Ele vem pela floresta, ele é corajoso e já pagou as prestações de carnê do baú rigorosamente em dia. Hahai hihiiii... Vamos lá Simba rodando e cantando oeee oeee... hatuna matata oee oee

Fim

Devagar, devagarinho

Existe coisa mais irritante no trânsito do aqueles fanfarrões que andam não-sei-quantos metros a 2 km/h para só então frear definitivamente? Tá bom, existe, eu sei. Muitas coisas, inclusive. Mas o cronista aqui sou eu e hoje é sobre estes barbeiros que quero falar. Um bando de desocupados que se acham donos de uma faixa inteira na rua.
Você vê aquele sinaleiro fechado a mais de trinta metros e pensa "oba!, vou descansar o maldito pé direito". Visualiza-se parado próximo à faixa de pedestres, postando devidamente as mãos na cabeça e relaxado até que o bendito sinal fique verde. O pé esquerdo de lado, o direito, quando muito, pisando suavemente o freio. Mas eis que no meio do caminho para a redenção você encontra um desgraçado que começa a frear uma quadra antes do semáforo. Vai freando, frando até chegar na menor velocidade possível – e você atrás, puto da cara.
Acho que 99,9% dos motoristas fazem isso (menos eu, portanto). Não há um farol onde este que vos escreve não encontre pela frente um chato desses. Será que as pessoas não entendem que sinaleiro é uma coisa extremamente chata, feia e burra, donde todo o tempo que for preciso esperar até que a luz verde acenda deve ser aproveitado ao máximo? Seja para descansar, seja para botar os óculos escuros, seja para trocar o cd... Tudo!, qualquer coisa menos andar como tílburis até a faixa de pedestres, acelerando na menor velocidade que um veículo automotor possa andar.
Tenho vontade de ir dando cutucos atrás (sem trocadilho) do carro da frente, como no vídeo game. Umas batidinhas de leve, que não amassam nem riscam, só para o cara se espertar. Não precisa acelerar até próximo ao sinal, basta frear de vez. Basta parar o carro, po. Freie no meio da quadra, mas não me vá devagar-quase-parando porque isso é a maior perda de tempo que existe.
Pior é quando o sinaleiro fica no fim de uma ladeira. Parece contagiante. Olha-se para os lados e todos estão a 2km/h. Eu devo estar muito equivocado, meu deus, não é possível.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Unisex

Sempre que podia, Robertinho tirava sarro de Eomar:
- Com esse nome eu nunca sei se você é homem ou mulher!
Era sempre assim. Eomar vivia às voltas com a zoação dos amigos e parentes. Já nem ligava mais; houve um tempo que odiava a mãe pelo nome que recebera, mas depois de grande passou a achar graça.
Eomar trabalha no setor de compras do governo. Passa os dias fazendo ligações, despachando documentos e demitindo estagiários. Não tem tempo para nada, e havia anos que não tem um relacionamento sério com alguém do sexo oposto (e nem do mesmo sexo, que fique bem claro).
Um dia passou a cuidar mais do corpo. Entrou para uma academia, começou a fazer natação. "Vou pensar mais em mim e menos no trabalho", dizia. Passou a ir em bares e eventos. Já estava com seus 30 anos e finalmente procurava alguém para dividir o teto.
Como em todas as histórias, quem procura acha, quem corre atrás consegue, quem acredita sempre alcança: Eomar noivara. Foi uma festa e tanto, com direito a recepção no maior teatro da cidade. Eram um maravilhoso casal, e tudo estava pronto e lindo para o casório, em dezembro.
Tudo muito bom, tudo muito bem, não fosse o convite que gerava muitas dúvidas nos convidados:
"Anderson Felício de Oliveira e Maria Cláudia Sech de Oliveira; Tiago Suri de Aragão e Cristina Souza de Aragão convidam para o casamento de seus filhos Eomar Sech de Oliveira e Osíris Souza de Aragão, à realizar-se no dia [...]"

O tílburi

Falar é fácil, muito fácil. Escrever é que é coisa do capeta. Me coloca um engradado de cerveja na geladeira e umas três pessoas dispostas a ouvir besteira durante uma noite toda: eu me garanto. Discorro sobre os mais variados assuntos, com uma eloquência para deixar qualquer político envergonhado. Passo das gomortegáceas às sancadilhas sem mudar o tom de voz. Agora escrever sobre isso ou qualquer outra coisa é o cão!
Outro dia eu e meu amigo Guilherme (que se chama Guilherme mesmo – não quero preservar ninguém) andávamos de tílburi ali pela região de Colombo. Eu, ele e o tilbureiro, apenas. Como estamos nos anos 2000, e os avanços tecnológicos permitem todo tipo de mimos em qualquer meio de transporte, nosso tílburi tinha uma pequena geladeirinha, cuja capacidade era de – vejam só! – um caixa de cerveja.
Lembro me de ter começado a conversa discorrendo muito seriamente sobre as dificuldades de conseguir um cavalo capaz de guiar um tílburi hoje em dia. "Não se fazem mais cavalos como antigamente", dizia o tilbureiro. Guilherme retrucava com informações preciosas sobre os mangalargas-marchador e os brabantinos paulistas (bons de tração, segundo ele).
Depois da segunda parada para reabastecimento (das cervejas, não do tílburi), o papo se enredou para o lado metafísico. Não sei porque o tilbureiro cismou de que cada ser humano tinha uma estrela que o representasse. Até retruquei com o argumento de que somos 6 bilhões de seres humanos e seria impossível termos um céu negro todos os dias com 6 bilhões de pontos brilhantes, mas ele já estava começando a ficar violento e preferi concordar com qualquer coisa que dissesse. Afinal de contas era ele quem estava com as rédeas.
Guilherme era o quietão da trupe. Só se pronunciava quando tinha uma informação completamente desnecessária para dar. Num dado momento, ficou dez minutos tentando nos explicar o que era a tal epiquirema. Só ficou satisfeito quando eu decorei que a maldita palavra quer dizer silogismo dialético, mesmo que isso não me queira dizer nada de importante. Em tempo: silogismo é uma dedução em que se colocam duas premissas para, então, tirar uma terceira, chamada de conclusão. O dialético é quando estas premissas são prováveis. Papo de louco, portanto.
Já de noite, no fim do passeio de tílburi – que a princípio foi programado para durar 30 minutos apenas – nenhum dos três conversava sobre o mesmo assunto. Estava engraçado, dizem, mas com cada um falando sobre o que lhe interessava e rindo da cara do outro. E pensar que estávamos lá só para conhecer o novo tílburi do tilbureiro. Ninguém imaginava que ele fosse ter uma geladeirinha acoplada.
Só não me pergunte porque raios os tilbureiro comprou um novo tílburi. Ele até me falou, mas eu esqueci completamente.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

João

André não foi trabalhar, passou o dia enfurnado em casa. Quase não levantou do sofá da sala, saiu duas ou três vezes para ir ao banheiro no máximo. Quando de repente, levantou-se tomou um café sem açúcar, foi ao banheiro e ficou algum tempo se olhando no espelho. Num acesso de fúria desferiu um soco na parede, por algum motivo não quis quebrar o espelho. Não ganhou sete anos de má sorte, mas ganhou sim uma mão direita inchada e dolorida.

Com cuidado passou gelol e passou uma faixa na mão direita, doía muito. Tomou outro café, acendeu um cigarro e saiu de casa. Caminhou pelo bairro todo fumando um cigarro atrás do outro, até chegar num viaduto. Parou, pensou, acendeu outro cigarro e repensou no que faria da vida. Até que Roger, um amigo, que por acaso andava de bicicleta, viu que André estava meio estranho com aquele olhar distante. Achou que tinha algo errado e foi falar com ele.

André quando viu que o amigo se aproximava, foi subindo na beirada do viaduto. Roger disse para ele ter calma, não queria confusão e só queria falar com ele. Só queria saber o motivo de ele estar ali em cima do viaduto daquela maneira. O semi-suicida parecia decidido, mas resolveu contar ao amigo o que tinha acontecido para ele tomar essa atitude drástica. Roger sugeriu um boteco, para que a conversa fosse mais tranquila, mas André não caiu na tentativa do amigo de faze-lo desistir do salto.

Então de cima da mureta, André começou a falar sobre seu infortúnio. Contou que na noite anterior conheceu uma mulher incrível, bonita, inteligente e com um senso de humor contagiante. Ele mesmo ficou se perguntando como um mulher daquelas foi achar graça num sujeito como ele. Roger ouvia tudo sem dizer uma palavra, apenas balançava a cabeça como quem está avaliando a situação do amigo. E André contou sobre a noite que passaram dançando, bebendo e se divertindo muito.

Roger faz uma interrupção e diz: - Espere um pouco, deixa eu ver se entendi. Você conheceu uma mulher maravilhosa. Passaram a noite juntos. E agora você quer se atirar de cima do viaduto?- conclui o amigo sem entender direito. André respira fundo, faz um gesto de que vai se jogar. Porém o amigo pede para que antes de se jogar diga se ele vai se jogar por causa da mulher da festa anterior. Com uma lágrima que teimou em aparecer, apesar da tentativa de manter a serenidade, André resolve esclarecer o caso.

- Cara, foi mais ou menos isso. Tem mais um detalhe que muda todo o contexto. - o amigo não se contém e pede para que fale logo o que houve. Outra lágrima escorre no rosto de André que, desta vez, não faz questão de segurar. Rubro de aflição ou vergonha começa a falar. – então cara, bebemos, dançamos e nos divertimos até não poder mais. depois disso os efeitos de tanta bebida e algumas substâncias ilegais fomos para minha casa...- André faz uma pausa olha para o céu, da um suspiro e novamente faz aquele gesto de queria se jogar naquele instante.

Roger não aguentava mais esperar para ouvir o final da história, implorou para André contar o que aconteceu. Este por sua vez, disse que como iria morrer mesmo não se importaria em contar a alguém. E recomeça a contar – Continuando, no meio do caminho eu passei mal e aquela ingrata me levou até minha casa. Chegando lá eu apaguei, não lembro de quase nada. Só que ela me ajudou a chegar até o banheiro para vomitar e que dormimos juntos - nisso Roger interrompe e diz que não era só porque a mulher passou a noite com ele e depois sumiu no dia seguinte que ele deveria se matar.

André finalmente diz que quer terminar de contar o que houve. - Cara, não é só isso não. Hoje cedo quando acordei ouvi um barulho, tinha esquecido completamente que tinha alguém lá em casa. Levantei-me e quando olho no banheiro, com a porta aberta lá estava ela. A lembrança da noite anterior veio como um filme na minha cabeça. Aquilo no banheiro foi a cena mais terrível da minha vida, ela estava mijando (perdão pelo termo) em pé. Quando ela, quero dizer ele saiu perguntei quem era ele. E ele disse que se chamava Kátia Flávia. Perguntei nome verdadeiro, ele me disse que se chamava João. Agora me diga é ou não é motivo para eu me jogar daqui? - disse com uma vergonha quase palpável.

Roger colocou a mão na cabeça, pensou um pouco e disse: - é você tem razão, não sei porque você não pulou ainda.

Fim

Tipo exportação

Às vezes fico pensando em como é que se dá o processo de construção da imagem do brasileiro pelos estrangeiros, vulgo gringos. O que aparece na TV deles é aquilo que a gente também vê: a guerra do tráfico, a bandidagem no congresso, o futebol em decadência e, por fim, a nossa capital, Buenos Aires.
Para se ter uma idéia de quão horrenda deve ser a imagem que eles têm de nós, basta descobrir quais são as bandas brasileiras que mais têm feito sucesso no exterior: Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê. Só isso já bastava para pôr um ponto final em qualquer discussão acerca desse assunto.
Mas o que me intrigou de fato e me motivou a discorrer sobre esse assunto tão ultrapassado foi um papo que tive com um amigo há alguns dias. Ele disse que conhece um primo que tem um vizinho cujo sobrinho-neto foi recentemente à Romênia, aquela terra cheia de vampiros. Disse-me, este amigo, que o rapaz voltou de lá falando barbaridades do povo romeno, principalmente abismado com imagem que eles tem sobre nós, os brasileiros.
Em Bucareste, as prostitutas são, em sua total maioridade (se é que isso existe), brasileiras. Conta-me o sobrinho-neto do vizinho do primo do meu amigo que são aquele tipo de meretrizes brasileiras que certamente nenhum nós (os brasileiros) pagaria. São o refugo do Dica's, Vila Romana e cia.
Onde foi parar aquele país dos bundões, do carnaval e das garotas de Ipanema? Deixamos de exportar até uma das nossas melhores matérias-primas... É muita falta de visão. Prostituição é mercado, é demanda. E não deixa de ser, de certa forma, um cartão de visitas do país.
Certamente deve ter leitor indignado com a falta de tato deste que vos escreve para tratar de prostituição. "Ninguém escolhe entrar para esta vida", dirão. Discordo: na minha opinião, ser puta é uma profissão como outra qualquer, com todas as dificuldades e benesses que qualquer emprego tem. E olha que são mais durezas do que molezas, com trocadilho. Elas ainda saem perdendo logo de cara porque ser puta no Brasil (e acho que no mundo inteiro) é crime.
São os mesmos vagabundos que pagam mil reais por hora por uma prostituta de luxo que legislam sobre se o que elas fazem é ou não digno de cadeia.
Mas voltando ao foco, porque raios eu penso que deveríamos exportar meretrículas (isto é, acreditem, o diminutivo de meretriz; segundo o Aurélio quer dizer, agora pasmem, meretriz ainda não adulta) top de linha? Porque no Brasil se faz tudo errado. Não há um puto (ops!) no congresso que se digne de melhorar a imagem do Brasil para quem vê de fora. É só corrupção, assassinato e covardia. E grande parte disso partindo de nossas próprias "autoridades".
Não que eu ligue para o que os gringos pensam. A verdade é que sou um dos poucos que tem aquila visão romântica do "orgulho de ser brasileiro". E vou me orgulhar disso com quem? Com outro brasileiro? Não teria graça. Quero que um francês venha até mim dizer que o país dele tem as melhores uvas, o melhor metrô do mundo, a Torre Eiffel e o ataque com a dupla Henry-Trezeguet. Quero ter orgulho – ou pelo menos argumentos – para defender o meu país.
Lutaram tanto tanto para fazer que o Brasil deixasse de ser o país do bunda-lê-lê que conseguiram. O que somos agora? Nada. NADA. Até fornecedor de puta feia nós viramos. Não me contenta em ser apenas exportador de trigo e soja (que pra ser sincero eu nunca vi na vida). Quero morar no país das mulheres mais lindas, do melhor futebol e da capital mais urbanizada, mesmo que seja ela Buenos Aires.
Onde estão os nossos ufanistas? É o fim da picada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Diário de Lupércio Martinez¹

Jantar ontem na casa do Eddie Robledo². Achei que desde aquele último churrasco na casa da Martini ele não gostaria mais de me ver. O efusivo abraço que recebi, porém, me faz supor que ele realmente não se lembra de nada depois de tomar 12 doses de vodca.
Creio que foi mais uma daquelas festinhas que os ricos promovem para recuperar a estima que possuíram em outros tempos. Robledo convidou cerca de 200 pessoas, entre globais e ex-BBBs, o que me fez sentir um prato de feijão durante a ceia de natal: totalmente intruso. Mas confesso que me diverti quando alguns atores famosos se dirigiam a mim com aquelas perguntas célebres do tipo "e aí... [aqui percebiam que não sabiam com quem estavam falando] está com algum projeto para este fim de ano?" Tenho a certeza mais do que absoluta de que estes famosos é que não tinham nenhum projeto e estavam loucos para ser convidados para qualquer aventura.
Num dado momento, engatei um papo sério com a Fernanda Montenegro. Por certo ela me viu entediado num canto e já chegou dizendo "está mesmo um saco isso aqui, não?" Só mesmo alguém como ela para dizer isso tão diretamente, principalmente a um estranho. Respondi que o que mais me irritava era o fato de só ter visto Robledo na entrada. Trocamos algumas figurinhas da nossa experiência transcendental com Nietzsche e o Goethe e fim. Ela se entedia muito rapidamente.
Depois – com alguns copos de cerveja na cabeça – me juntei a um grupo de ex-BBBs. Engraçado que eles se sentem mesmo famosos e mantém conversas do tipo "ontem fui a um lounge em Madureira que estava o bicho", o que para mim significa nada mais nada menos do que baile funk no Morro do Pelado.
Engraçado foi quando contei para eles que eu estava ali simplesmente por ser amigo de Eddie Robledo (a princípio eles pensaram que eu também era um ex-BBB, daqueles "esquecidos pela mídia"). Um loirinho meio forte até arriscou sua reputação dizendo que para ir numa festa de Robledo ele teve que dar muito mais do que o voto de amizade.
Finalmente, quando eu já me dirigia à porta de saída com uma ex-BBB devidamente lipoaspirada e siliconada (que conquistei com a velha cantada da capa de revista), Eddie me apareceu. Disse: "mas já vaaaai, fófi? A festa ainda nem começou...". Essa frase me dá arrepios. Nos idos de 1990, as festas de Robledo começavam depois que o teto da mansão se abria e milhares de papelotes de cocaína caíam sobre nossas cabeças. Preferi nem ver como seria a dos anos 2000. Disse a ele que tinha um contrato para fechar "com a mais maravilhosa das ex-BBBs" e piquei a mula.
De contrato fechado, só há uma coisa a dizer: vida longa a Eddie Robledo.

Notas do editor:
¹ Lupércio Martinez é um homem de meia-idade cuja melhor qualidade é ter amigos ricos e influentes. Afora isso, não faz nada de interessante. Já escreveu alguns livros, mas hoje se considera um escritor aposentado. Vive de ir em festas badaladas e, daí, não se sabe como, arrumar dinheiro. Já o acusaram de cafetão, mas não há nada provado.
² Eddie Robledo é hoje um playboy multiuso. Já foi bicheiro, vendedor de móveis, corredor de kart e cantor de dupla sertaneja. Ficou rico depois de se casar com uma milhonária gaúcha que morreu repentinamente afogada com uma berinjela. Desde então, Eduardo Mota Razera virou Eric Robledo, um bon-vivant.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

E se...

Transtornado, furioso, irado, puto da cara Alaor saiu de casa sem rumo. Entrou no primeiro coletivo que viu, mesmo sem saber para onde ia. Quando achou que já estava longe o bastante, resolveu descer. Foi até uma praça, estava um calor infernal, e as únicas coisas que vinham a sua mente tinham a ver com vingança, dar o troco e não deixar por menos. Notava-se em seus olhos a sede de vingança.

Sentou em um banco da praça e ficou olhando para as pessoas que passeavam isentas de qualquer culpa por ele estar boladão. Apoiou os cotovelos nos joelhos e enfiou o rosto entre as mãos, deu um suspiro como se quisesse descarregar toda sua irritação. Quando dois garotinhos, oito anos no máximo, passavam correndo atrás de uma bola. Um deles diz: - olha o cofrinho do homem - , foi o suficiente para que levantasse e metesse o pé na bola com muita força. Foi mais um desabafo do que qualquer outra coisa.

O chute foi tão forte que a bola atravessou a praça, bateu num gari, que derrubou sua vassoura que bateu e quebrou o vidro de um carro que estava estacionado. Um dos garotos começou a chorar e saiu correndo, enquanto o outro disse, para o gari, que foi o “homem do cofrinho” quem tinha quebrado o vidro. Foi então que Alaor percebeu que a sua irritação estava passando dos limites. Chamou o garoto e pediu desculpas e devolveu a bola, desculpou-se também com o gari e foi procurar o dono do carro.

De repente um grito:- Puta que pariu! Quem foi o miserável?- era Roberta, a dona do carro. Uma moça bonita , ruiva do cabelo curto, com as duas mãos na cabeça e com olhar surpreso. Já despido da raiva que o trouxera até a praça, Alaor foi falar com a moça ruiva para assumir sua façanha. Depois que contou os detalhes, ela chegou até a dar uma risada. Mas logo voltou a ficar áspera querendo saber do conserto do vidro.

Alaor prometeu pagar o estrago imediatamente. Percebendo que estava mais calmo, convidou Roberta para um café. Ela, também mais calma, prontamente aceitou. Conversaram por algum tempo, trocaram telefone (sem nenhum interesse, eu acho) e marcaram um jantar para depois que o vidro do carro fosse consertado. Hoje dois anos depois do jantar eles estão noivos, tem uma conta conjunta, moram juntos e ambos gostam da sogra, mas não dos cunhados.

O motivo pelo qual Alaor estava nervoso no dia do vidro quebrado, foi só porque ele tinha perdido uma grana, pela quarta vez, para o irmão mais novo no poker.

E se ele ganhasse aquele jogo? E se ele não chutasse a bola no gari? E se... o vidro do carro não quebrasse?
E se...

Fim

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Talvez imaculado, talvez descrente

Odiava aquelas mensagens e frases de efeito no nick do MSN, mas as de Monica pareciam escolhidas a dedo. Era uma espera ansiosa até que o nome de sua deusa aparecesse online. Qual seria a mensagem de hoje? Jorge sempre pensava que era para ele, mesmo sabendo que talvez ela nem o mantivesse mais em sua lista.
Passava o dia olhando as fotos dela no Flickr. Como era linda, sua musa. Parecia sempre tão feliz. Não tinha problemas, provavelmente. O sorriso de Monica sempre aparecia mais do que o dos outros, e Jorge muitas vezes ressaltava esse detalhe com um ou dois cliques no Photoshop. Coisa de apaixonado, claro; sonhava em mostrar toda sua produção para ela no dia em que casassem.
Monica tinha um quê de perfeição. Seus olhos eram de um diâmetro ideal, e seu corpo certamente era o exemplo máximo da proporção divina. Tinha as costas modeladas por lindo cabelos negros, descendo suaves até pouco acima da cintura. Tudo embalado pela voz melodiosa típica das ninfas da mitologia grega.
E Jorge não era nada parecido com aquilo que chamam de geek hoje em dia. Não era feio, por certo, nem chato. Tinha amigos, família, hobbys comuns e até um carro duramente comprado. Tinha hábitos normais para um jovem: uma balada de vez em quando, futebolzinho com os amigos, animados almoços na casa da avó... O probema era Monica. Com ela, tudo parecia mudar.
Considerava-a como um astro, como o sol e as estrelas: inatingível. Absorvia-se por horas entre suas fotos e recados do Orkut, mas não era capaz de se declarar. Formulava as idéias mais mirabolantes para um dia, enfim, dar o bote. Todas davam certo nos seus sonhos, mas Jorge jamais pôs uma só que fosse em prática.
Um dia se viu satisfeito com isso. Bastava para Jorge apenas admirar Monica, sonhar com um possível relacionamento e forjar mentalmente transas cinematográficas. Já nem fazia questão de que aquilo fosse verdade. Era ela o projeto ideal e, pensava, os ideais só existem no campo do imaginário. Sentia-se completo se relacionando com outras mulheres e mantendo Monica como o objeto inalcançável.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Incendiário

Saiu do trabalho mais cedo, passou numa floricultura e comprou rosas para Elis, sua esposa. Estava feliz, os últimos acontecimentos na sua vida foram cruciais para esse sentimento de bem estar. Foi promovido a chefe do setor, ganhou mais responsabilidades e também um bom aumento salarial. O Flamengo estava em franca ascensão no campeonato e iria viajar para o Rio de Janeiro à trabalho e ainda poderia assistir um jogo no Maracanã.

Uma quadra antes de chegar em casa, passa na padaria do português. Pede alguns doces e sai, mas não sem antes tirar uma casquinha do torcedor do time luso-brasileiro. O portuga só responde: - Ah vá vá... às vezes o senhor fica insuportável Arthur. Até parece que vem aqui só para colocar fogo na minha cabeça, vai me deixa em paz ó pá! – mas tudo com ar de amizade. Entra no carro coloca o pacote com os doces no banco do carona e segue até a entrada da casa.

Quando entra em casa ouve um barulho e vai até o quarto e encontra Elis e um sujeito, em atos libidinosos. Surpreso, mas sem perder a calma, Arthur vai até a garagem pega uma galão, volta para dentro da casa sem fazer barulho e vai encharcando a casa com gasolina. Sai de dentro da casa pega o celular e liga em casa. Elis com a voz de quem estava fazendo algum exercício físico atende. Arthur pergunta o porquê daquela voz ofegante, ela responde que estava na esteira.

Arthur com um sorriso só no canto da boca diz que vai chegar mais tarde. Elis diz que tudo bem e que gostaria de jantar fora. Arthur disse que iria escolher o restaurante. E foi então que ele risca um fósforo e coloca fogo na casa. Ligou para o celular da secretária e disse que iria antecipar sua ida ao Rio de Janeiro. E disse também que era para ela arrumar as malas, pois ela também iria com ele.

Fim

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Gente & TV

Já estava com saudade dos velhos tempos do Gente & TV do Terra. Eis as manchetes de hoje, com os devidos comentários:
- Nathalia Rodrigues vai a festa de aniversário no Rio (fico feliz pela aniversariante);
- Nicole Kidman acompanha marido a prêmio cowntry (ele vai ganhar a Vaca de Ouro 2007?);
- Giovanna Antonelli retoca maquiagem em gravação (eis prova de que a mídia é uma farsa);
- Pai de Vanessa Hudgens joga água em paparazzi (se ele tivesse jogado um orangotango aí sim seria engraçado);
- Gianecchini e Priscila Fantin vão a show juntos (outro dia fui a um show com a minha mãe e não foi notícia);
- De biquíni fio dental, Deborah Secco vai à praia com amiga (vai-se à praia de Versace?)
- Amigo diz que Britney tem problemas mentais (ele e toda a torcida do Mengão);
- De peruca, Galisteu é capa de revista pela 4ª vez (não sei o que é mais impressionante nessa notícia, se é a peruca, a Galisteu ou uma revista fazer isso pela 4ª vez);
- Estrela do reggae cancela turnê no Brasil (esta eu tive que ler: a estrela em questão é Bunny Wailer, conhece?).
É muita diversão para um portal só.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O macho

Tinha um tal de Pablo lá na vila em que eu cresci. Era filho de uma vizinha gordona, que agora não me lembro o nome. Não posso nem dizer se o cara era gente fina ou não; só lembro que ele tinha um sério problema na hora de brincar com a rapaziada. Morava com a mãe e mais quatro irmãs, o Pablo. O fato é que com quatro ou cinco anos ele já exigia ser chamado de Pablito, e ai de quem se negasse a chamá-lo assim. Com seis, já dava dois dos sinais mais evidentes da futura baitolice: a síndrome da mão parada e o "piscar devagar".
Era um mimo só, o rapaz. As irmãs, todas mais velhas, faziam-no de gato e sapato. Era um tal de vesti-lo de menina, mandá-lo colher rosas na floreira da quitanda, ensiná-lo desde cedo a jogar vôlei – convenhamos que, para um garoto, jogar vôlei é o esporte mais fru-fru que existe (depois de velho, tudo bem).
Um dia algo inesperado mudou a vida de Pablo. Era Sérgio, o novo marido da vizinha gordona. Como um bom padrasto, Sérgio assumiu toda a cria toda como se fosse sua. Como bom oficial do exército, Sérgio mantinha uma forma duríssima de criação dentro de casa. O mais afetado... Digo, o que sofreu maiores conseqüências foi Pablo.

Invariavelmente Pablo levava um chute do padrasto, toda vez que este o via. Se estivesse brincando de bonecas, então, o garoto levava dois chutes e uma surra de cinta. Sérgio dizia que Para aprender a ser macho, um garoto tinha de apanhar desde cedo. O chute era onde acertasse, nas costas, na cabeça, nas pernas.
O esporte preferido de Sérgio passou a ser levar o enteado para o bar, depois do expediente. Lá o garoto, que já estava com seus 10 anos e quase "curado", aprendia a ser macho: jogava sinuca, comia ovo azul cozido, mijava no lixo, brigava com os bêbados, xingava o dono portuga do boteco e, claro, tomava espuminha de cerveja ("porque piá só pode beber depois dos doze", dizia Sérgio).
No ano seguinte, Pablo foi matriculado numa escola de futebol pelo padrasto. E como todo mundo sabe, macho que é macho ou é beque central ou é cabeça de área. Sabe-se lá porque, Pablo foi escalado já no primeiro treino como meia-armador, a posição mais gay do futebol. Quando Sérgio soube do caso, não só espancou o treinador como ameaçou-o de morte se aquilo se repetisse. Só não o matou da primeira porque ele era genro do Coronel Arantes, que, claro, entendeu perfeitamente a situação do padrasto sacaneado e ainda deu o maior apoio. Dizem que, depois, em casa, o Coronel Arantes ainda deu a maior dura no marido da filha.

Hoje Pablo é adulto. Macho. E ai de quem chamá-lo de Pablito. Ele é apenas Rambo agora. É o artilheiro da suburbana jogando a 9 do Combate. Mas quando o Sérgio falta ao treino (o quarto-zagueiro, não o padrasto), Pablo atua sem reclamações no miolo da zaga. E dá porrada nas canelas.
Tem três filhos (machos), mas nunca casou. Costuma bradar aos quatro cantos que Homem não foi feito para ser monogâmico. Depois do filme, diz que seu sonho é ver a piazada toda no Bope, para poder Caçar uns bandidões e dar tiro de 12 na cara. Cria-os de longe, pois, como diz, Pai só ajuda a cuidar na hora de dar porrada.
Vive sozinho, no meio das quebradas, numa casa de construiu com as próprias mãos. Nas horas vagas fica fazendo flexões ou chutando algum cachorro que lhe cruze a frente, não importando o tamanho. Não assiste TV, porque A Globo é um antro de baitolas. Seu almoço é basicamente feijão e carne, todos os dias. Às vezes mistura um pouco de brócolis para dar sustança, mas tem que ser cru: Cozinhar verdura é coisa de viadinho.
Enfim, Pablo, o velho Pablito, hoje é macho e macho mesmo. Uma prova de que a criação influencia seriamente no futuro das crianças.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Aniversário

Ela sempre esteve do meu lado, sempre deixou claro que sou sua primeira preocupação em tudo. O tempo todo quer saber se eu estava bem, se eu estava feliz ou não. Se importava com tudo a meu respeito, queria saber o que me aborrecia. Nunca me deixou na mão, fazia todas as minhas vontades, dentro do possível é claro. Muito do que sou hoje, é em razão de nossa convivência e dos valores que ela me passou.

Amanhã é aniversário dela e não quero decepcionar, preciso muito fazer alguma coisa que signifique algo para ela. Preciso demonstrar o que sinto, quero que ela veja que valeu a pena todo esse tempo que passamos juntos. Na verdade o que quero mesmo é agrada-la, demonstrar toda minha gratidão. Quero fazer com que pelo menos por um dia, ela deixe de se preocupar comigo. Como adoraria vê-la sem se preocupar comigo, pelo menos por um dia.

Outro dia peguei ela lamentando atitudes passadas. Ela estava sozinha no nosso quarto, acho que não percebeu que eu estava ali perto. A ouvi reclamar, dizendo baixinho para ela mesma, que foi muito cedo para eu aparecer na sua vida. Um instante depois, no mesmo tom, diz que apesar de tudo, fui a melhor coisa que aconteceu na vida dela. Não entendi muito bem, porém ficou claro que ela me amava. Apesar de todas as nossas dificuldades de morar numa favela, num casebre de um cômodo só e viver da venda de papel reciclável.

Amanhã é o aniversário dela, no meio da noite ouço ela chorando baixinho do meu lado na cama. Hoje não teve janta, é por isso que estamos dormindo mais cedo. Sorte sermos só nós dois, senão teria mais gente com fome aqui. Não ligo para a fome hoje, não reclamo disso. Só queria ter um presente para entregar a ela amanhã cedo. Preciso pensar em algo e rápido.

Não durmi, fiquei pensando no que fazer para compensar pelo menos um pouquinho do carinho que ela sempre me deu. Ainda está escuro e sei que logo ela vai levantar, levanto de mansinho e começo a preparar algo para ela. Quando ela desperta, já tinha dado tempo suficiente para eu ter preparado seu café da manhã. Numa bandeja improvisada duas torradas, uma xícara de café e três rosas que peguei no jardim do prédio do outro lado da rua.

Ela me deu um sorriso tão sincero e verdadeiro, que foi como se o sol ganhasse mais cor naquela hora. Porém quando ela leu o bilhete, que eu mesmo escrevi, seu rosto ficou todo corado e ela me abraçou tão forte, que achei que seria partido ao meio. Chorando e rindo ao mesmo tempo ela me disse: - Filho eu também te amo.

Fim

Cachoeira e a cachaça

A festa corria solta. Papo vai, papo vem; uma cachacinha aqui, um torresminho ali. Na sanfona, o Zé Gaiteiro. Thomas da Judite, que assim era chamado porque até ficar viúvo sua mulher mandava e desmandava em casa, acompanhava na viola. Tinha cerveja e vinho pra mais de metro, e não havia um nêgo que fosse que não estivesse completamente bêbado.
Lá pelas quatro, quase todo mundo já tinha voltado para casa. Restavam ainda alguns familiares do Coronel Fabrício, dono da casa, e o pessoal que morava mais perto, nas redondezas. Destes, o caipira Cachoeira era o mais animado: debaixo daquele seu velho chapéu de palha, cantava todas as modas com uma paixão tremenda. Usava uma bota assim, assim, de um couro curtido por ele mesmo, que mais parecia um saco onde botar os pés. Estava pra lá de Bagdá – e não largava a garrafa.
Quando o sol começava a salpicar os primeiros raios sobre a velha estrebaria, os bocejos tomaram conta do lugar. A essa hora, Bento já estava contando os casos mais escabrosos da região, mas agora, sem o friozinho da última hora da madrugada, já não botavam mais medo em ninguém.
Então veio aquela hora das despedidas e cumprimentos finais. Coronel Fabrício foi felicitado um sem-fim de vezes pelo caboclo que lhe servia de peão. "Nunca fui a um bailão assim, Coronel", dizia. E Cachoeira estava lá, recebendo inclusive alguns efusivos abraços por sua animação.
Na hora de se despedir do dono da festa, Cachoeira foi categórico: "Capitão, eu nunca tinha ido a uma festa assim. Todo mundo estava muito feliz e não faltou comida – nem bebida. Precisamos repetir um dia, certo?" Coronel Fabrício se limitou apenas a um aceno de cabeça. Estava cansado. O caipira entendeu o recado e partiu para casa, com uma garrafa de Vila Verde numa mão e o chapéu de palha na outra.
No caminho de sua choupana, ia recapitulando momentos da festa: a mulher do Lacerda, que chegou deslumbrante num vestido vermelho; o padre Lino, que se surpreendeu com o tanto de "sangue de cristo" que Cachoeira conseguia beber de uma só vez; o fazendeiro Mario Roque, que chegou de trator e fez a alegria da criançada; o Coronel Zelão, que fizera um escarcéu quando deu conta do sumiço do filho.
Já em casa, Cachoeira jogou o chapéu em algum canto, guardou a garrafa de cachaça no armário, tirou as "botas" e ficou só de ceroulas. Com a cabeça no travesseiro, já não pensava mais em nada. Acordaria cedo no dia seguinte para subir até a cidade se encontrar com Sinhá Armênia – ela iria cozer-lhe mais alguns paletós. De repente, pensou: "Onde raios foi parar Sarita? Para onde foi minha filha Sarita?"
Abriu os olhos, estarrecido. Ficou por alguns minutos admirando o teto e pensando na filha Sarita. Ela fora com ele para a festa, e há muito já não se viam. Lembrou-se de tê-la visto pela última vez antes do Zé Gaiteiro puxar a boa e velha Tristeza do Jeca. Depois disso, sumiu; como sumira o filho do Coronel Zelão.
Cachoeira tentava se lembrar se Coronel Zelão havia achado o filho. Devia ter achado, pensava, senão a festa acabaria ali mesmo. Nenhuma festa poderia continuar com um Coronel tendo seu filho perdido. Mas onde estaria Sarita? Ela já não era mais nenhuma criança, tinha corpo. Seu seio já era bem grande, aliás. Ficou preocupado.
Resolveu procurar pela casa. Ela poderia ter voltado antes, porque não? Já era bem grandinha e sabia o caminho de casa. Mas e se alguém a encontrasse no caminho e...? Preferiu nem pensar. Foi até o quarto da menina e olhou para a cama. O lençol de vime estava intacto, plano como uma chapa, e o travesseiro denunciava que ninguém deitava ali havia horas. Foi, então, até a cozinha – ela poderia ter ido buscar um copo d'água e cedido ao sono ali mesmo, na rede. Nada.
Sarita estava definitivamente sumida. Cachoeira se penitenciava mentalmente por ser um péssimo pai. Era a quinta vez que se perdia da filha no ano, recapitulava. Mas dessa vez era mais sério, dessa vez era para sempre (ele estava bêbado). Vestiu novamente a calça decidido a dormir só quando encontrasse de novo a filha.
Saiu de casa cambaleando. Mais tonto pela situação, agora, do que pelos litros de cachaça que havia tomado – ou não. Na porta, ainda chutou o gato da vizinha que vivia atazanando Morgana, sua gata de estimação. O bicho quase avançou em Cachoeira, mas até o gato percebeu que a batalha não valeria a pena.
O caipira quis voltar para a casa do Coronel Fabrício. Queria perguntar se alguém na casa sabia de Sarita. Ficou com medo, afinal o Coronal havia praticamente expulsado-o de lá. Decidiu, então, ir até a delegacia, falar com o subdelegado Matías, que era o encarregado da região. Pediria reforços da capital e o escambau, tudo para procurar Sarita.
Ao cabo de dois minutos, já havia desistido de todas as idéias e deitado novamente, só de ceroulas, na cama. Tudo era muito longe, especialmente àquela hora. A delegacia ficava a dois quartos de milha, um mundão para quem está completamente bêbado. Ia dormir, e só no dia seguinte procuraria a filha.
Sarita chegou à casa do pai dois dias depois. Viera da capital, onde estuda agronomia e mora com o noivo Rodrigues. Fora para lá atendendo o chamado da vizinha Joana, a dona do gato que atazana Morgana. Fora ela quem preparara o velório do velho Cachoeira. Ele morreu bêbado, dormindo, afogado com a própria saliva. Provavelmente pensava que a filha estava mesmo perdida.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A nova aventura

Ao avistar a ponte, parou e refletiu. Se atravessasse, seria o adeus definitivo à sua cidade. Já havia deixado-a antes, mas nunca em definitivo.
Olhava agora para o horizonte como quem procura enxergar o futuro. Lembrou-se das aventuras que vivera em Jacupinga: da infância serelepe com os primos Laerte e Maurício; da namoradinha com quem aprendera as coisas da vida; da fonte de Santo Agostinho, onde quase morrera afogado.
Agora estava ali, olhando por sobre uma ponte que jamais havia sido tão representativa. Se passasse sobre ela, toda uma história viraria passado e uma nova aventura passaria a ser vivida.
Já estivera do outro lado, e bem se lembra que fora muito bom. Mas agora era pra valer. Iria assumir um compromisso jamais firmado, o de se unir a algo novo e desconhecido. Ia sabe-se lá para onde, para fazer sabe-se lá o que. Essa idéia era concreta, e o apavorava.
Sentado na beirada da ponte, observava o rio. Do horizonte, vinha um barco de passageiros. Passageiros como provavelmente seria para ele aquela cena. O barco vinha de um horizonte e sumiria logo ali do outro lado, no outro horizonte. E jamais tornaria a aparecer na sua vida. Pensou como tantas coisas são assim. O barco se aproximava, a fumaça subindo, o barulho aumentando. Não queria que aquele momento de repente sumisse da sua memória. Decidiu, então, saltar para dentro da embarcação.
Agarrou-se à mochila como se fosse uma bóia salva-vidas. Olhava o barco se aproximando, tocando uma música indefinível, cheio de estudantes, muitos, talvez, com a sua idade. Preparava o salto, do meio da ponto. Metade do caminho já fora percorrido. O resto seria surpreendentemente para baixo. O barco se aproximou, ele preparou o salto e... Errou na conta.
Caiu com a cabeça direto na proa, vazia. Bateu com a testa em cheio na grade de proteção. O sangue lhe escorria pelas costas. Apagou. Antes sabia que era arriscado, mas não esperava por esse fim. Morreu sem nunca sair em definitivo de Jacupinga.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Missão dada é missão cumprida

Que o filme Tropa de Elite provocou uma série de discussões, isso é um fato. A menor delas, convenhamos, foi sobre até onde vão limites daqueles que pirateiam filmes. Se fosse só por isso, já poderia ser considerado um tremendo sucesso. Melhor ele é, então, quando alguns dizem que a história é fascista e faz apologia ao crime.
Filme bom é aquele que gera debate.
Diria que esses crucificadores do José Padilha moram na Tijuca e têm seus Rolex roubados a cada sinaleiro (agora virei eu o fascista). Mas, oras bolas, quem não enxerga que, no fundo, Tropa de Elite é um drama daqueles mais profundos?
Confesso que demorei um bom tempo para assistir ao filme brasileiro de maior sucesso dos últimos anos. E fui ao cinema sedento por sangue, mortes e sacos na cabeça (admito que são esse tipo de filmes que me impedem de sair por aí atirando em estudantes e velhinhas – preciso assistir a um deles a cada mês para manter a sanidade mental em níveis estáveis). E, chegando lá, o que percebo? Um homem com sérios problemas de personalidade e que faz o possível para não descontar toda sua angústia no exercício do emprego. E isso é muita coisa se considerarmos que ele trabalha em tempo integral com um fuzil carregado numa mão e uma granada militar em outra.

Capitão Nascimento tem uma esposa em casa e precisa todos os dias subir nos morros cariocas atrás de bandidos. Pior: ela espera um filho seu. Se fosse comigo... Bem, se fosse comigo é melhor nem pensar. O fato é que o cara é um guerreiro, e não só por suas missões de guerra. Ele é guerreiro de conseguir viver o eterno dilema de atirar ou não atirar, de voltar ou não voltar para o conforto do lar, de salvar a vida ou salvar a pele. Não é à toa que uma confusão mental se instala na cabeça do capitão.
Agora eu pergunto: tem como retratar a realidade do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, sem mostrar drogas, tiros ou traficante? Copacabana é para turistas. Corcovado, Pão de Açúcar, Maracanã? Tudo casa de turistas. Carioca de verdade vive nos morros e nas suas imediações. E posso até mesmo me dar ao luxo de generalizar: é uma maioria tão grande que a margem de erro fica em poucos pontos percentuais para mais ou para menos. A realidade é mais dura que a praia da Barra, companheiro.
Tropa de Elite mostra isso. Mostra a realidade. Talvez por isso alguns o chamem de fascista. Mas o Brasil é guerra, o Rio está em guerra e a realidade é para ser mostrada. Não gostou do filme? Pede pra sair, parceiro.
Eu não podia ficar sem essa.

E isso ainda foi pouco (dois)

E lá vou eu de novo, apesar de sempre dizer para mim mesmo que não vou dar um tchuplec-tchuplim na ex, não resisto e olha no que deu. O problema maior não é eu não resistir, o bicho pega quando a Júlia lembra que eu existo. A última foi numa festa do Tiago, que ela também conheceu quando estávamos juntos. Era um churrasquinho tranqüilo, não tinha muita gente. Mas por um erro do destino ela encontrou esse meu amigo no mercado e ele a convidou.

O churras estava marcado para começar às três e como de costume cheguei um pouco mais cedo. Acho bacana chegar e ver o jeito que a galera chega e o jeito que a galera vai ficando no decorrer da festa. A rapaziada foi chegando e o trêm foi ficando cada vez mais animado. Lá pelas tantas, o Tiago foi receber alguém que tinha acabado de chegar. Eu estava com um galera ouvindo a Paula cantando e o João tocando violão, tinha uma rapaziada jogando truco e mais alguns que estavam conversando perto da churrasqueira.

O Tiago foi até a portaria receber alguém que estava chegando, quando voltou veio meio sem jeito por não ter me avisado que a Júlia iria aparecer por lá. Contornou a situação e foi apresentando a galera para ela. Rapidinho ela veio falar comigo, nem parecia aquela doida que me deixou de cueca no corredor do prédio. Estava um doce de pessoa, confesso que fiquei com um pé atrás no começo. Mas com o tempo fui relaxando e quando vi nem parecia que tínhamos nenhuma rusga. Entre uma birita e outra fui ficando a vontade, e ela também. Mas alguma coisa me dizia que ela iria aprontar alguma, era questão de tempo.

No final da festa só estávamos eu, ela, o meu amigo e a namorada dele. Fiquei meio sem jeito quando percebi que só sobraram o casal e o ex-casal e resolvi ir embora. Antes que me despedisse, a Júlia, não perdeu a oportunidade e disse que me daria carona. E semi ébrio, prontamente aceitei o convite. Júlia errou o caminho e me levou para a casa dela, eu também não disse que não queria. Chegando lá, uns tchuplec-tchuplim no sofá, no chão e assim foi até que ela me ofereceu carona para casa, agora de verdade.

No carro ela disse que iria abastecer, fomos até um bairro distante do meu. Achei que era golpe, mas não era. Bom, ainda não era, ela realmente abastecia naquele posto. Ela disse que esqueceu a carteira em casa e perguntou se eu podia emprestar a grana para ela. Como sou um cara educado deixei a carteira com ela e fui ao banheiro do posto. Quando volto ela já tinha ido embora. Fiquei longe de casa e sem dinheiro, liguei várias vezes e ela nada de me atender.

Fiquei puto da cara, não tinha outra opção se não ir a pé até em casa. Depois de uma caminhada que não teve fim, cheguei com cara de morto em casa. Na portaria o zelador me vê naquele estado e se segura para não rir. Ele poderia rir a vontade não estava nem aí, já estava ferrado mesmo. O porteiro, Seo João, me entrega a carteira e diz que uma moça deixou lá. A Júlia sacana disse que tinha achado na rua a carteira. Ainda tive que ouvir o Seo João elogiar o altruísmo da Júlia.

Em casa, me esparramo no sofá e ouço o celular tocando. Era uma mensagem da Júlia. A mensagem dizia: E isso ainda foi pouco!

Fim