terça-feira, 22 de maio de 2007

Daquela janela

Já fazia muito que não a via! E para falar a verdade tento esquecer. Mas é como diz aquela música 'o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer' (no meu caso o contrário). O tempo parece que se desfaz quando ela aparece. Agindo como um fantasma, ela não precisa chegar perto, nem falar comigo e nem tocar em mim. Basta aparecer, só isso uma simples aparição, mesmo que de longe, é capaz de me deixar como se estivesse dentro de um navio no meio de uma tormenta. Cheguei a pensar que nunca mais sentiria isso, me sentia confiante. Mas agora não é o que parece.Não que seja culpa dela, e sei bem quem é o culpado. Mas hoje foi diferente, estava almoçando naquele restaurante (que você sabe bem qual é). Estava sozinho, eu e meus pensamentos, como diz o poeta 'cabeça vazia é a oficina do Lúcifer'. Dessa vez nem Deus nem o Diabo tiveram nada a ver com isso. Criei essa situação sozinho, porque ir naquele restaurante, naquela mesa em frente daquela janela...Na mesa com três lugares vazios, sem ninguém para conversar ou incomodar. Mas alguma coisa me dizia que era para eu almoçar sozinho. Talvez se estivesse acompanhado, quem sabe eu perderia a poesia do momento.Já quase terminando de almoçar, perdido em pensamentos que não tinham uma lógica certa, fico olhando os carros e as pessoas apressados na praça Tiradentes. As pessoas parecem que não tem rosto, e os carros também parecem os mesmos.Do meio das muitas pessoas ela surgiu, com a mesma graça de outros tempos. Vejo ela aguardando o sinal abrir, aqueles quarenta segundos me perdi em lembranças, umas boas outras nem tanto, como se o tempo parasse. Diferente maneira que ela surgiu, assim de repente, aos poucos foi sumindo meio da multidão. Fiquei algum tempo seguindo com os olhos aquela blusa verde, que se destacava entre o cinza e marrom das roupas de frio das pessoas. Parecia de propósito, não sei.Como quem acorda, olho para o lado e vejo que o casal percebeu que eu estava com o pensamento longe. Sorrio e como se fossemos conhecidos me despeço do casal. 'Quem será esse maluco?' Eles devem ter pensado. Esse maluco aqui é só um cara normal que erra muito, mas que sempre errou tentando acertar.

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