Não raro, Maciel levava bronca da mãe:
- Maciel, meu filho. Porque você continua fazendo essas coisas, menino? Mamãe já não te disse pra parar? Venha! Deite aqui que agora você vai levar umas belas dumas palmadas.
Mas mesmo depois das surras, o rapaz não mudava. Vivia se metendo em encrencas e criando confusões. As vizinhas diziam que ele tinha o "diabo no corpo".
- Acho que mimo demais esse meu filho, Soninha. Esse menino não toma tento! Não sei mais o que fazer – queixava-se D. Rosa com a comadre.
Uma vez Maciel juntou a turma toda da sua rua para brigar com os caras da rua de baixo. Foi aquela algazarra, mas a "Gangue do Maciel", como eram chamados, saiu com a vitória. A surpresa é que, quando subiram de volta à rua, as mães já os esperavam na frente de suas casas, armadas de chinelas, cintos ou varas de marmelo. Todas menos a mãe de Maciel, que empunhava um pau de macarrão – desde que o filho parou de reclamar do cabo de vassoura, ela teve de apelar.
Clínica
D. Rosa achava que Maciel tinha problemas psicológicos. Vez por outra conversava com o médico:
- Ah, Doutor, esse meu filho não tem jeito! Além de arteiro ele agora é tarado. Ontem deu um jeito de levantar a saia da filha da D. Marisa na frente de todo mundo. Não sei mais o que fazer.
E o médico:
- Pois é, D. Rosa. Esse garoto está cada vez pior. Nem os remédios estão adiantando. Acho que já é hora de levá-lo comigo para tratar, que acha?
Mas ela era uma mãe muito coruja. Era muito protetora e não podia ficar sem fazer as vontades do filho. Não queria se separar dele e mandá-lo para uma clínica. "Afinal é uma criança", ela dizia.
- Não, não. Nada de clínica, Doutor. Eu vou resolver isso na conversa – despistava.
Só que nada fazia.
Quando D. Rosa tinha essas conversas com o médico, Maciel adorava. É porque sempre depois disso a mãe abrandava. Ficava umas semanas sem ligar para o que o rapaz fazia. D. Rosa tinha medo de que, se a vissem brigando com o filho, por exemplo, quisessem levá-lo à força para um hospital.
E ele seguia com suas estripulias.
Ponto final
Mas um dia não houve jeito. Definitivamente Maciel passara do ponto. Até a associação de moradores reclamou com D. Rosa. O garoto passou a ser odiado em toda a vila.
- Esse moleque tem que ir preso! – dizia a velha viúva "sabe-se lá de quem".
Cartazes foram colado em frente a casa da família depois do incidente. "Morte ao monstro!", "Maciel é um bandido!" e "Queremos tranqüilidade!" eram alguns dos dizeres. Realmente já não o queriam mais por ali.
D. Rosa deixou de condolências e chamou o filho num canto:
- Maciel, meu filho. Agora não dá mais. Você precisa parar com isso tudo.
- Ih, lá vem a "véia" com aqueles papos de novo – Maciel só chamava a mãe assim. E sempre em terceira pessoa.
- Não, querido. Dessa vez é sério. Cansei de deixar que você faça tudo o que quer. O pessoal da vila está até querendo te pegar depois do que você aprontou ontem.
Maciel ficou quieto dessa vez. Sabia do que a mãe falava e, dessa vez, realmente teve medo. D. Rosa continuou:
- Vou mandar você para a casa as Alagoas. Eu te mimo muito! Seu pai vai saber o que fazer com você. Ele vai te colocar pra trabalhar, tenho certeza. Quem sabe assim você aprenda a ser um homem adulto. Está na hora. Você já tem 25 anos, poxa.
E, jogando as roupas do rapaz na mochila, ela foi derradeira:
- E trate de deixar as figurinhas do Campeonato Brasileiro. Pelo que seu filho falou, você ganhou dele no bafo justamente as que faltam para completar o álbum.
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