quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O Retorno do Rei

E aí ele falava Você não pode ficar sozinho cara, precisa sair e se divertir, encontrar-se com os amigos. Eu respondia Porquê?, e ele ia ao chão. Porque o ser humano não foi feito para viver só, respondia. O ser humano precisa de companhia, é um ser sociável, é um ser que precisa de outras pessoas para ter um mínimos de vivência. Então eu recorria à Sartre, e finalizava dizendo que Aquele que se sente solitário estando só é porque está em péssima companhia.

Eu adoro ficar sozinho, compadre. E isso não significa estar num quarto, trancado com meus brinquedinhos e olhando para o teto. Posso estar num shopping ou no meio de uma praça, cercado de amigos, e estar completamente só. Sou contemplativo. Converso comigo mesmo enquanto o mundo gira ao meu redor. Falo E aí, Maycão! Como vai essa força? Respondo filosoficamente com um Depende do ponto de vista, depende do contexto.

Exteriormente estou sempre bem. Nunca deixo transparecer quaisquer angústias ou frustrações. Os que já tiveram a sorte de conhecer minha falta de sorte não gostaria de repetir a empreitada. As coisas se acumulam de tal forma que, quando saem, qualquer ouvido atento é um potente catalisador. As palavras se sobrepõem, suprem mas às outras e no fim parece que não falei nada.

Nunca queira ouvir minhas lamentações.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O Príncipe

Quando eu ainda era criança, lembro de ter ouvido a Tia Judite (ela escreve Judith) falando para minha irmã, que um dia ela encontraria um príncipe montado num cavalo branco, que casariam e viveriam felizes para sempre. Minha irmã ficava com os olhos brilhando, quando a Tia Judite fala isso. E eu brincando do lado delas no sofá, ficava só imaginando quem era esse príncipe. Na minha inocência era um daqueles caras com roupa de carnaval das histórias infantis.

Essa história de príncipe, cavalo branco, felizes para sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. Passei muito tempo pensando nisso, até que o Tio Joel meu guru para assuntos da vida, veio esclarecer o que significava esse papo de príncipe. Ele me falou que isso era uma balela, contou que esse príncipe que a Tia Judite falara, nada mais era do que um cara normal, sem nada de majestade, que iria namorar minha irmã, só isso. Minha reação foi um “Ah é isso então tio!”.

Eu devia ter insistido com mais três ou quatro perguntas. Porém se fizesse essas perguntas, com tanta informação na minha cabecinha de 6 anos, com certeza eu teria casado antes dos dez. Mas naquele momento achei que o tal príncipe encantado por ser um cara normal, ou seja era só o namorado da minha irmã. Na hora fiquei pensando quem seria esse malandro. Algum dos amigos dela com certeza, mas qual deles? Só que nessas perguntas que não fiz ao Tio Joel estava uma que me perturbava constantemente. Deveria ter perguntado se para ser príncipe o sujeito necessariamente tinha que vestir aquelas roupas, como as do Erick da Caverna do Dragão.

Dias depois Tio Joel era quem estava comandando a churrasqueira, lá em casa. E eu ali do lado dele e do meu pai, tomando só a “espuminha da cerveja” (NE* viram a culpa não foi minha) e ouvindo a conversa dos dois. Falavam de futebol, dinheiro, carro, com certeza falavam da mulherada. Mas disfarçavam davam nomes de animais, como: cavala, cachorra, potranca sei lá achei que era apelido de escola. Para meu espanto minha tia Cris (esposa do Tio Joel) apareceu na janela e me chamou para almoçar. Só que ela disse “vem almoçar meu príncipe” isso não saiu da minha cabeça o dia todo.

Era domingo e tinha jogo do Mengão, apesar do Tio Joel ser Colorado (o ex-Paraná Clube), ele gostava de ver futebol comigo. Ele tinha os melhores comentários, sempre achei que ele era o cara que mais sabia de futebol no mundo. Ele dizia : - Ta vendo aquele cara ali, o número 5 do Atlético Mineiro? Já apitei jogo dele quando esse cara jogou no Pinheiros- era demais ver que meu tio, o Tio Joel, conhecia jogadores de verdade. E ainda me deu uma grana depois do jogo: - Toma, é porque o Flamengo ganhou, e fique esperto que na próxima vez a gente faz uma aposta, o seu time contra o meu, valeu!?

Antes de ir embora enquanto o Tio Joel estava se despedindo fui perguntar a ele, o que a tia quis dizer quando me chamou de “meu príncipe”. Ele do alto de toda sua sabedoria me disse que eu seria o príncipe da garota mais legal e sortuda do mundo. O tio Joel era foda, na hora nem soube agradecer. Naquela noite quando fui dormir fiquei pensando em como eu ficaria com aquelas roupas de príncipe. E ai surgiram outras dúvidas; Que tipo de mulher gosta de caras vestidos daquele jeito? E como eu iria me virar se tenho medo de cavalo. Bem, do cavalo não, mas aquele olhão grande é sinistro.

Fim

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Falácia

No escritório não se falava de outra coisa, só sobre a festa em comemoração ao aniversário da empresa. A maioria das conversas eram sobre quem iriam levar e sobre as festas dos anos anteriores. Era um misto de euforia e nostalgia, a festa seria no dia seguinte e o tempo se arrastava. O único que não demonstrava entusiasmado era Gerson, o cara do RH. Quando alguém falava da festa e só dizia que seria mais uma grande festa.

Rita, a secretária, assim como todos do escritório, não sabia muito sobre a vida particular de Gerson. Ele nunca foi de falar muito na família, nunca recebia ligações particulares, a não ser aquelas ligações para confirmar o horário da consulta no dentista. Isso deixou Rita curiosa, que achava que tinha algo de errado com Gerson, que apesar do jeito atencioso com todos os colegas do trabalho, tinha um semblante meio triste. Os dois se encontraram por acaso na mesa do café, e ela perguntou da festa e Gerson, com certa irritação e para a surpresa da moça, disse que ia com a mulher e os dois filhos.

Quando voltou para sua sala, percebeu que tinha dito besteira. Levantou-se e foi procurar Rita e avisá-la que não iria levar ninguém. Porém, os outros colegas já sabiam da novidade. Eles diziam estar felizes, pois finalmente iriam conhecer sua família. Quando Gerson pensou em desmentir, mas viu que iria frustrar os colegas e voltou para sua sala. Ficou sem saber o que fazer e passou o resto do dia pensando em como cumprir sua palavra.

Cinco e meia da tarde, quando todos saindo do escritório, mas Gerson continua lá sem dizer uma palavra. Põe os pés em cima da mesa e fica olhando para o teto com um olhar distante, até parecia não estar ali. Depois de algum tempo, pega o telefone liga marca um horário e sai. Parece estar aliviado, entra no carro assobiando e sai. Nem parecia mais a mesma pessoa, estava cantando e até esboçava um sorriso.

No dia seguinte a festa seguia normalmente, mas Gerson não tinha dado as caras ainda. As pessoas iam chegando e nada dele aparecer. Quando todos já estavam bem a vontade na festa, o pálio cinza aparece no estacionamento, inconscientemente quase todo mundo olha esperando a mesma coisa, esperando para ver o outro lado da vida de Gerson.

Quando o carro para, saem um casal de crianças aparentemente dez e doze anos. Gerson aparece em seguida, ele sai do carro e abre a porta do carona de onde sai uma bela mulher sorridente. Ele chama as crianças para conhecerem os colegas do trabalho, apresenta a esposa e vai para a churrasqueira. Lá ele conta piadas, fala sobre futebol, música, televisão e outras coisas do cotidiano. Nada que surpreendesse, mas as pessoas acharam ele mais humano na festa. Já não parecia aquele cara atarefado do escritório. Rita se deu muito bem com Glória, a esposa de Gerson, até trocaram telefone.

Na segunda feira pós-festa, como de costume, ele é o primeiro a chegar. Parece cansado, está com olheiras como se tivesse passado a noite em claro. O assunto da segunda feira foi a festa e a família do Gerson, todos gostaram das crianças educadas e da mulher que além de bonita era inteligente e atenciosa com as crianças. Gerson desconversava, não queria falar nisso. Rita percebeu e foi perguntar o que estava acontecendo. Gerson, irritadíssimo, contou o segredo: aquelas pessoas não são da minha família, eu não tenho família. Eu paguei para aquelas pessoas se passarem por meus familiares.

Fim

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

7 de dezembro

Amanhã é dia de presentes, abraços e recordações, pelo menos para mim. Quantas primaveras, ó céus... É sempre memorável fazer aniversário.

Lembro-me de uma vez que fui a uma casa noturna no dia 7 de dezembro. Era o presente da minha mãe. Coitada: até hoje ela pensa que aquela foi minha primeira vez. Acho que ela aproveitou muito mais do que eu, já que havia tempos que ela não se divertia tanto. Adorou ser paquerada por rapazes jovens (e bêbados) e tomar cerveja long neck.

Noutra vez ganhei uma festinha surpresa. Tudo muito lindo, uma porrada de amigos, cerveja gelada, joguinhos de beber... O único problema é que fui fazer vestibular na manhã seguinte, soturno e tremendo tal qual um zumbi. Devo ter atrapalhado uma dúzia de concorrentes só com o cheiro da cachaça. Pelo menos eu passei com honras (afinal fazer redação de ressaca e passar não é para qualquer um – é definitivamente digno de honrarias).

Amanhã é meu dia e não sei o que fazer. Sinceramente não ligo muito para estas datas comemorativas, a não ser pelo fato delas serem catalizadoras de reuniões etílicas. Acho estranho comemorar UM DIA de aniversário, sendo que você envelhece o tempo todo, todo dia.

Mais estranho é ganhar os parabéns. Não que eu não goste, claro que gosto. Quando é sincero, demonstra carinho – e mesmo um macho exacerbado como eu precisa de demonstrações de carinho. O problema é que eu entendo algo como "parabéns cara, você passou mais um ano sem morrer". E talvez seja mesmo essa a origem da cultura de parabenizar os aniversariantes. Antigamente morria-se tanto e tão cedo que quem fazia anos devia receber muitas congratulações.

Pensando com o lobo parietal do meu cérebro (que é a parte mais filósofa), acho definições dialéticas sobre aniversário. A primeira, e mais pessimista, é que falta cada vez menos tempo para meu velório. A segunda, e, por definição, otimista, é que foi mais um ano vivido cheio de perversão e putaria.

Qualquer definição que seja, é melhor correr: só terei mais uns 80 desses para comemorar.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Capitão dos Santos Leite

Kaká, o lindo, manifestou outro dia interesse em se tornar capitão do Milan. "E eu com isso?", você deve estar se perguntando. É que isso, eu respondo, pode significar o fim do sonho do hexa brasileiro na África do Sul.

Exageros à parte, vamos pegar a história do começo: Ricardo Izecson dos Santos Leite, vulgo Kaká. 25 anos, craque de garbo e elegância e estrela mundial do Milan. Ganhou recentemente a Bola de Ouro da revista France Football e com certeza absolutíssima será escolhido o melhor jogador do ano pela Fifa. Porque, então, me preocupa esta famigerada declaração?

Ora, ser capitão de um time como o Milan credencia-o instantaneamente a ser capitão da Seleção Brasileira. E é aí que mora o perigo.

Ele afundar o time italiano não tem problema nenhum. Não quero nem saber de AC Milan, a não ser em jogos contra o Vasco. Mas, como todos sabem, sou um dos últimos torcedores do escrete canarinho. Sou uma das últimas pessoas no mundo que pára tudo o que está fazendo para ver o Brasil Sub-15 contra o selecionado de Andorra válido pela preliminar da semi-final da taça Octávio Pinto Guimarães.

Tem uma leitora ao meu lado que me dá ardidos tapas e pergunta o que tanto eu tenho contra Kaká, o lindo. Respondo já.

Kaká é um dos maiores jogadores que já vi jogar. Não se compara com Romário, claro, mas é craque. Quando pega na bola, não há quem segure. Acho que ele é mais rápido que o Asafa Powell e mais forte que o Minotauro. Chuta que é uma beleza, de onde estiver. Dá passes com um primor que poucos conseguem. Mas Kaká não pode nunca ser um capitão.

Ele casou aos 23 anos, virgem. Já disse que pretende se tornar pastor quando parar de jogar. Vai à igreja – Renascer em Cristo, não riam – todo domingo. Não dá porrada em ninguém. Nunca foi expulso por reclamação. Nunca deu uma cotovelada maldosa. Kaká não pode ser capitão. Kaká não fala palavrão!

Imagina ele pedindo por favor para o volante marcar direito? Dizendo "Deus te abençoe" a cada bom cruzamento dos laterais? Implorando que o juiz seja justo e expulse o adversário? Não dá! Capitão tem que ser macho, viril, assassino. Tem que xingar o gandula que demorou pra repor a bola. Tem que chutar o baço do zagueiro adversário quando este estiver no chão. Capitão não pode ser queridinho.

Uns dirão que o Lúcio também vai à igreja e é todo meiguinho com a filha. Ok!, mas o Lúcio tem cara de ser mitológico. O Lúcio mete medo só com uma encarada. Ele poderia ser mudo que já daria para um bom capitão (sem trocadilho). Já o Kaká... Bem, o Kaká é o Kaká, né. O lindo.