Dizem as más línguas que o velho da velha casa amarela nunca saia de casa, não tinha amigos, não falava mais do que o necessário com a moça da padaria. Ele não comprava jornal para não saber da vida de ninguém.
Certo dia um sujeito foi pedir uma informação para ele. O velho, como de costume, deu um sermão que arrepiou os cabelos de todo mundo que passava na rua. Perguntou porque o sujeito tinha que falar logo com ele, falou que se ele não sabe onde ficava o lugar que procurava, por que saia de casa sozinho. Foi uma situação constrangedora para o rapaz que só queria saber onde era o edifício tal.
Mas o velho teve que pagar por ser tão ranheta, teve um mal-subto e caiu perto da porta de sua casa. O carteiro Abelardo ouviu um gemido e foi ver o que era, ajudou o velho. Chamou uma ambulância que levaram o velho para o hospital, lá o Dr. Alvarenga receitou repouso e disse para o velho abandonar a mania de ser tão rabugento. O velho saiu do hospital contrariado e bufando com raiva dele mesmo.
Já em casa o velho fez um exame de consciência e viu que talvez fosse hora de ser menos birrento mesmo. Foi comprar pão e antes de pedir disse ‘bom dia’ e a atendente surpresa nem respondeu. Na banca de jornal a mesma coisa, o velho cumprimentou o Seo Peçanha que só balançou a cabeça e deu um sorriso amarelo.
No caminho de casa, com os pães e o jornal na mão o velho foi acenar para os senhores que conversavam sobre política, religião e futebol no café e acabou escorregando. Quando viu os sujeitos do café rindo dele, começou a xingar todos como de costume. Xingava e xingava, mesmo caido, sem parar, até que morreu. Ali mesmo, naquela calçada bem perto de casa.
Dizem que é por isso que chamam a Rua XV de Boca Maldita, as más línguas dizem que o velho era conhecido como o Boca Maldita.
Fim
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