O frio... ah o frio! Conforme planejado, ele chegou. Com certo atraso, claro, mas chegou. Bem como prometeram as moças do tempo. Houve até quem dissesse que ele nunca mais fosse aparecer, por causa do derretimento dos pólos. Mas ele veio, ele está aí. O frio é infalível. O frio é implacável. Implacável e inexplicável.
Hoje olho pela janela exatamente como fazia há dois meses, quando ainda era verão. A janela ainda é a mesma, o céu mantém o mesmo azul daquele tempo, os infinitos carros da Visconde de Guarapuava continuam refletindo todo o sol do mundo bem no meio do meu rosto, a imensa bola de fogo se mantém imponente por sobre nossas cabeças... Só que, mesmo assim, mesmo com tudo isso de verão, está frio. Está frio, caramba! Como pode?
É estranho acordar, olhar pela janela e não ver nada além de neblina sobre o rio Barigüi. Mais estranho ainda é saber que, justamente por isso, virá um belo dia de sol pela frente. Estranho pra acabar é ter certeza de que esse sol não vai servir para nada! Aí tomo um banho – pelando, claro –, visto as duas meias, uma ceroula, a calça, o sapato, uma camiseta, uma blusa de lã, outra blusa de lã e, por fim, mas não menos importante, uma jaqueta, uma bela duma jaqueta. Eis, então, que entram os primeiros raios de sol pela janela. Só que continua frio, muito frio.
Mas o inverno tem seu lado bom. Tudo tem um lado bom. Tudo tem que ter um lado bom. Até o frio. Ora, afinal dá um gosto danado ver os trajes de inverno das pessoas saindo do armário. São tão mais chiques, tão mais elaborados, tão mais elegantes. As mulheres, então, ficam deveras mais apaixonantes – se é que isso é possível. Claro: uma que é magra – muito magra – fica idêntica àquela que tem, digamos, algo mais nas laterais do abdome, exatamente pelo excesso de pano por sobre os corpos. No fim, o fato é que nós, homens, ganhamos mais opções com quem sair e tomar um vinho.
Agora agüenta, cagalhão
Com a iminente chegada desse maldito equinócio de inverno, voltam a minha cabeça aqueles terríveis pesadelos com o sofrimento que passo desde minha primeira vez, em julho 88. Sonho com aqueles pavorosos dias em que acordo as seis da manhã e preciso tomar banho. O desgraçado do chuveiro não esquenta de jeito nenhum, e ainda insiste em manter a água em frios, gelados, polares, glaciais 60ºC. E meus dentes lá, tremulando incessantemente, quase que na mesma frequência dos joelhos. É nesses dias eu torço pra que chegue logo o tão anunciado aquecimento global. Nem que seja só aqui em Curitiba. Nem que seja só na minha casa, durante o inverno e na hora do banho matinal.
Tem horas que nem luva de couro serve. Nesses dias você apela pra uma meia de lã – ok, duas meias de lã –, saco plástico e bota de couro mas mesmo assim o pé fica que nem um picolé. Sai de casa se achando ridículo por estar usando quatro blusas e um jaquetão. No fim das contas, se sente mais ridículo ainda exatamente por sair apenas com um jaquetão enquanto todo mundo está usando jaquetão e sobretudo.
Arre! Quero meu calor de volta! Preciso do verão! Às favas as roupas chiques; às favas as mulheres elegantes e a conseqüente inflação no mercado de companhias; às favas o quentão, a touca de poliéster e os edredões de paina. O inverno não tem lado bom! Não comprei três bermudas no fim do mês passado para deixá-las encostadas até setembro no meu guarda-roupas. Frio só serve em geladeira, frigorífico e peixaria. Quiçá o frio serve para São Joaquim e, convenhamos, só para os curiosos que querem ver neve. Saco.
Enfim, o frio chegou e agora agüenta coração. Vão ser uns longos e tenebrosos três meses de sofrimento. E vamos às comprar: luvas, gorros e cachecóis serão bem vindos, porque os piores dias ainda estão por vir. Sem falar que já estamos quase em junho, ou seja, faltam poucas semanas para o início oficial do inverno, que é quando o bicho pega de verdade. Só quero ver como a Skol e a campanha do "ah, o verão" vão se safar dessa.
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