terça-feira, 31 de julho de 2007

Palhaço Chimbinha

Chimbinha ainda era um moleque ranhento, recém chegado de Fortaleza, quando conheceu Lacerda – que na época ainda era o obeso e chistoso Boluca. Isso foi durante o primeiro campeonato de pebolim promovido por Marcelinho, o amigo rico que tinham em comum. Depois da final, vencida por Boluca por 7 a 2, descobriram que estudavam juntos no Colégio Rio Branco, e então viraram grandes amigos.
Por uma força do destino, se afastaram por um tempo até que, enfim, perderam o contato. Outro dia se reencontraram, quase 20 anos depois, muito por acaso, em pleno centro histórico de Curitiba. Lacerda parou com seu sedã preto no sinaleiro em que Chimbinha fazia malabarismo com laranjas velhas.
- Chimba? É você? – preguntou, incrédulo, o rapaz do carro.
- Olá, companheiro. Sou eu mesmo, Palhaço Chimbinha, ao seu dispor. E o senhor, quem é? – respondeu o sorridente malabarista.
- Ora, não me reconhece, velho amigo?
E o outro, confuso:
- Mas não vá me dizer que você é o...
-... Bolinha! Eu mesmo! Que satisfação revê-lo, rapaz – emendou Lacerda, irreconhecivelmente magro, esquecendo-se do próprio apelido.
Chimbinha não lembrava. Olhou para o céu, procurando inspiração. Respirou fundo, fechou os olhos, imaginou-se pequeno – e nada. Não recordava de ter sido algum dia amigo de alguém tão obtuso quanto Lacerda. Ainda mais com esse apelido, Bolinha. Mas como todo bom palhaço, não se abateu. Com um habilidoso rodopio e um sorriso encantador, foi definitivo:
- Mas é claro! Bolinha, como poderia me esquecer! Formávamos uma bela dupla, não? Chimbinha e Bolinha...
- É verdade. Bons tempos aqueles... – e enquanto isso, o sinaleiro abriu. Alguns motoristas já buzinavam, insatisfeitos com a demora do sedã – Escuta, Chimbinha: tenho que ir agora, ok? Mas vê se vai lá em casa um dia qualquer dia desses. Minha mulher vai adorar te conhecer.
Depois disso, partiu. Chimbinha, cearense que é, ficou lá, trabalhando até o sol se pôr; inconformado com esse jeito curitibano de ser.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Vende-se Identidade

Nas mundialmente famosas calçadas de Copacabana, uma multidão de jovens acompanha com entusiasmo um pocket show de Cláudia Leitte, cantora da banda Babado Novo. Ao mesmo tempo, no Salão Nobre do Copacabana Palace, Bruce Willis fala sobre seu novo filme – Duro de Matar 4.0 – com jornalistas do mundo inteiro. E, alheio a tudo isso, um jovem argentino, conhecido por Maurício Dalessandro, diverte-se fazendo pose para fotos ao lado da estátua de Carlos Drummond de Andrade, em frente à Rua Rainha Elizabeth.
Tudo muito comum em se tratando de um domingo de sol na Cidade Maravilhosa. Turistas, celebridades, festas: a Princesinha do Mar é o ponto de convergência de todos os grandes eventos ocorridos no Rio de Janeiro. Seria, se Dalessandro não estivesse confortavelmente instalado, de pijamas, no escritório de sua casa, nos arredores de Buenos Aires; se Cláudia Leitte não estivesse deitada na cama, "se operando" através de um notebook; se Bruce Willis não estivesse em Beverly Hills, tomando sorvete com uma fã enquanto seus assessores manejam seu avatar de um escritório em Nova Iorque; e, acima de tudo, se o horário de Brasília fosse mesmo 15h como aparenta, e não 2h30 como o relógio insiste em anunciar. Estranho? Complicado? Pois é, mas isso é real. Ou pelo menos quase-real: isso é Second Life.
Segundo o site oficial do, digamos assim, jogo, cerca de oito milhões de pessoas já criaram seu personagem virtual, conhecidos como avatar. Numa tradução literal do inglês, Second Life quer dizer "segunda vida". Com a diferença que essa é uma vida na qual se pode voar; uma vida na qual se pode viajar para diversos lugares do mundo com apenas um clique. Conhece-se Milão, Nova Iorque, Paris, São Francisco. Tudo exatamente como é, de graça e sem sair de casa.
Visitam-se lojas onde se compra não apenas roupas ou eletrodomésticos – compra-se uma identidade. Nelas são vendidos cores de pele, formato de olhos, grossura das coxas, cortes de cabelo, tamanho dos pés e até, pasmem, expressões faciais. Tudo para soltar a imaginação e viver onde quiser e como quiser, exatamente como a realidade não permite. Mas e que problemas isso causa? Quais serão as conseqüências dessa vida ideal na formação de caráter dos jovens, principais usuários do SL? Difícil questão.
Do alto dos seus 17 anos, Sebastian Fantini arrisca: "No SL você pode fazer coisas que não faria na vida real. Você enfrenta alguns medos reais no mundo virtual, e isso é fantástico". E de certa forma ele está certo. Já faz quase um ano que Fantini comanda o avatar chamado Maurício Dalessandro, citado no começo do texto. Ele já foi loiro, moreno, magro, negro e careca. Há cerca de um mês, comprou um tipo físico chamado "musculoso" e ganha a vida (virtual) dançando num clube de mulheres. Alguma semelhança com a realidade? "Na verdade eu nem saio de casa direito. Prefiro conversar no SL, onde tenho mais tempo para pensar no que escrever", conta Fantini – por e-mail.
O que Sebastian parece não perceber é que seu "eu" virtual é muito diferente do real. Ele apenas escolhe e representa um personagem, talvez colocando nele todas as suas vontades escondidas, talvez não – o que me leva a crer que Freud adoraria ter vivido em tempos de Second Life. Maurício Dalessandro é apenas um espelho de Sebastian Fantini; o mundo virtual é apenas um espelho do mundo real.
Precisamos aprender a filtrar tudo o que se passa no cyberespaço e aplicar apenas as boas influências na realidade. Difícil, considerando que os jovens de hoje em dia, principalmente dos países ricos, onde o Second Life é mais difundido, são extremamente estáveis, digamos assim. Eles não têm as dificuldades que geram motivações. Se sentem pequenos perante a imensidão do mundo. O real.

domingo, 29 de julho de 2007

Conversa à beira da cama

Tem algo que você precisa saber sobre mim. Calma, não é nada disso que você está pensando. Eu não sou gay e não estou em estado terminal. Não; não torço pelo Vasco, tampouco.
Escuta: faz muito tempo que nós estamos juntos e acho que não fui completamente sincero com você. Eu sinto que estou te enganado, sabe? É um tanto quanto complicado; parece que sei tudo sobre sua vida e nunca te falei nada sobre a minha. Vivemos num mundo em que os direitos são iguais, parece razoável que eu lhe abra o jogo.
Como assim "justo agora"? Estamos num momento crucial do nosso relacionamento. Eu não quero discutir. Não! Só quero que algumas verdades sejam ditas.
Por exemplo: eu detesto quando você peida na minha frente. Odeio mais ainda quando você vai ao banheiro de porta aberta. Cadê o romantismo? Só porque faz seis meses que não discutimos não quer dizer que tudo esteja bem. Eu só não gosto de discussão, será que você não entende?
E falando em romantismo, a partir de hoje quero que você espere até que eu abra a porta do carro pra você entrar. E quero que me deixe pagar as contas também! São essas pequeníssimas coisas que mantém um certo ar de "primeira vez" num relacionamento.
Hei! Calma, tem mais: você deveria sair mais com suas amigas. É claro! Acho lindo quando a gente está junto, mas se um dia nós acabarmos, você precisará da Paula pra arrumar outro. Além do mais, eu nem sou tão legal assim. Eu não estou dizendo pra gente não sair mais, mas eu quero que você se divirta sem mim também. Eu adoro quando você volta da "balada das amigas". Seu sorriso ganha mais cor.
Claro que eu não tenho ciúmes de você... Eu sei que você me ama.
E vê se pára com essa história de regime, mulher. Eu gostei de você justamente por você ser, digamos, "saborosa". Vou te contar um segredo: nenhum homem gosta de uma mulher em que se pode pegar nas duas bandas da bunda com uma mão só. Não to falando pra você ser gorda – só não quero que você perca essa carninha gostosa que você tem.
Ok, vamos parar com essa conversa. Mas você devia contar essas coisas pra suas amigas. Contar desse meu jeito, dessa obsessão que eu tenho em tratar as mulheres da melhor forma possível. Sabe como é, né? Um dia a gente termina e tal... Eu preciso estar bem falado por aí. É complicado começar do zero.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Reforma política*

Sabe a reforma política? Fidelidade partidária, voto em lista aberta ou fechada de partidos, financiamento público de campanhas e afins? Parece tudo uma grande confusão, uma discussão sem fundamento e sem hora para acabar, certo? Certíssimo.
Além do mais, como todo e qualquer assunto sério discutido no congresso pelos excelentíssimos senhores deputados, isso vai acabar em pizza. O povo já sabe disso; o povo já espera isso. Por esse motivo que as arquibancadas para assistir as quentíssimas disputas do pentatlo moderno no Pan do Rio estavam tão lotadas.
Que a política brasileira é um grande arraial, o mundo inteiro já descobriu. O que mais tem por aqui é casamento de brincadeira, delegado que prende o noivo e depois solta, cobra (é mentira!), chuva (é mentira!) e crianças* jogando de bombinhas* pelos cantos. Sem falar na fogueira: a nossa fogueira, com certeza, é a maior do mundo. E há quem queira aumentá-la, colocando mais e mais lenha – na surdina, claro, para que não haja reclamações.
Em fevereiro e em abril deste ano foram apresentadas duas propostas de emenda constitucional (PEC), uma no Senado e outra no Congresso, que prevêem o aumento do mandato dos atuais prefeitos e vereadores em mais dois anos. É isso mesmo, caro leitor desempregado: prefeitos e vereadores com mais dois anos de trabalho – e salários – garantidos. Mas calma; há algo de nobre nesses projetos.
As duas PEC são complementares: enquanto uma propõe o aumento do mandato para seis anos, a outra o restabelece em quatro a partir de 2010. Como assim? É que, afinal, a idéia é criar eleições coincidentes no Brasil inteiro já a partir do pleito de 2010. E é aí que está toda a nobreza da proposta.
Segundo o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), autor da PEC 6/07, eleições coincidentes causariam pelo menos três efeitos imediatos no cenário político brasileiro: a redução dos custos de campanha, o fim da paralisia legislativa a cada dois anos e a verticalização "natural" das correntes partidárias. Ora, se tudo que foi proposto for seguido à risca e os fins justificarem os meios, o Brasil deixará de ser uma terra de ninguém para se tornar um país sério, honesto e trabalhador. Tá certo, eu exagerei. Mas se o ano no Brasil começar antes do carnaval já será um grande avanço.
Dos comentários sobre a "verticalização 'natural' das correntes políticas", prefiro me abster. Dos políticos que temos hoje – que são os mesmos que foram ontem e coincidentemente os mesmos que serão amanhã – muito poucos ou nenhum se salva. Só os trocando por monges tibetanos vigiados pela Madre Teresa para haver uma mudança significativa.
Agora a "redução dos custos de campanha", isso sim é uma beleza. Pior para nós, eleitores, que não teríamos mais camisetas novas de pijama a cada dois anos. Mas isso é irrelevante: tudo belo bem comum. Dino, o deputado da PEC, estima que, só em 2008, o país deixará de gastar, entre despesas de campanha e gastos com a Justiça Federal, R$ 1 bilhão. Claro que ele está só querendo vender seu peixe, mas se apenas metade disso for economizado, uma bela ponte superfaturada poderia ser construída no país.
Também tem a parte do "fim da paralisia legislativa a cada dois anos". Quem não sonha em ver um deputado trabalhando por dois anos seguidos? Eles só trabalham* em anos ímpares, sem eleição. Nos anos de campanha, quando não estão concorrendo a cargo algum– seja para vencer ou apenas para ganhar notoriedade (o que é mais comum) –, estão apoiando algum candidato a prefeito ou vereador – que, se vencer, funcionará como cabo eleitoral dali a dois anos, engessando tudo novamente. Com uma eleição só, a cada quatro anos, os políticos ficariam entediados e inventariam algum projeto.
E repare que eu escrevi "deputados trabalhando por dois anos seguidos" ao invés de três, que seria o tempo entre uma eleição e outra. É que durante um ano eles tirariam umas boas férias, coitados.
Enfim, isso ainda trará grandes discussões. De um lado, há os que dizem que "não se muda a regra do jogo com ele acontecendo", como o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), assumidamente candidato a prefeitura de Porto Alegre no ano que vem; do outro, há os que não suportam mais as maracutaias políticas e os horários eleitorais gratuitos*. Estes são conhecidos também como "povo".
Por fim, uma pergunta que ficou sem resposta: há reforma sem mudanças nas regras? Política não é um jogo, deputado.

*Normalmente aqui caberia aspas, mas prefiro fugir do lugar-comum.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Documento1.doc

Maycão de volta à ativa! Maycão de volta à labuta! Maycão de volta aos estudos!
É fim de férias, pessoal. Estou naquela semana em que tudo é lindo, em que a empolgação é o motorzinho que mantém um sorriso em minha face. Isso dura uma semana apenas, então aproveitem.
Não quero contar uma anedota do Jalaska ou digressar sobre minhas relações metapseudosexuais com os bonequinhos de transformers. Farei algo superior a isso, algo magnânimo. Para isso, faz-se necessário um título.

Minhas férias

Nada poderia ser mais relaxante e desestressante do que minhas férias. Na primeira semana, joguei bola todos os dias, fiz aulas de natação, assisti dezenas de filmes e comi alguns sabores de pizza. Tive a sabedoria de acordar pouco depois das 8h só para ficar mais tempo sem fazer nada. NADA!
Depois fui para as Termas de Jurema. Estâncias minerais, águas a 42ºC, jatos de ar: perfeito para qualquer reumatismo. E olha que as piscinas não são as melhores coisas do resort. Todas as noites, dinâmicas de grupo uniam pessoas da mesma idade e com interesses em comum. Conheci pessoas inesquecíveis, as quais não me recordo apenas do nome.
Por fim, estive em Nova Esperança. Cidadezinha pacata, com aproximadamente 30 mil habitantes, duas avenidas, três sinaleiros e uma agência dos Correios. Mas não é isso que relaxa – na verdade esse marasmo todo muito me estressa. O fato é que meu tio é comandante do Tiro de Guerra de lá. Para quem não sabe, Tiro de Guerra é o local onde rapazes com idade militar servem à pátria em cidades pequenas. É lá onde eles aprendem táticas de guerrilha e a dar tiros. Tiros de fuzil. Eu tive minha oportunidade: 15 tiros em uma pistola 9mm e 20 num fuzil 7,62 fabricado em 1966. E posso provar. Aos interessados, tenho fotos. Às interessadas, tenho vídeos com o fuzil na mão.
Isso sim é que é férias relaxantes.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Schiicouwaaachicouschiiicou

A década de 80 é vista com saudades por uns e com certa vergonha por outros. Não assumo nenhuma dessas bandeiras, por mim tanto faz. Malandro que sou, acho que foi a década do Mengão, quatro títulos nacionais, nossa libertadores e o Mundial. Mas não é de futebol que quero falar. Vou falar de consumismo, é isso mesmo.
Então estava eu com meus amigos do trabalho no fast-food do refrigerante eterno e um detalhe me chamou a atenção. É comum desse tipo de restaurante que no lanche infantil eles coloquem como “brinde” produtos do tema de filmes que estejam em cartaz no cinema, ou do desenho animado do momento. Assim foi com Shrek, Homem-Aranha, Hello Kit (primeira vez que escrevo ‘hello kit’ no blog) e outros personagens que façam parte do imaginário das crianças.
Mas no fast-food do refrigerante eterno os brindes do lanche infantil são bonecos dos Transformers. Tudo bem que o filme está indo para o cinema (hoje), mas eu pergunto - As crianças gostam de Transformers? - a resposta é NÃO! Pelo menos não mais do que eu. Eu assistia o desenho, ganhei o bonequinho do Optimus Prime e do Bumblebee, quando brincava com eles fazia aquele barulho “schiicouwaaachicouschiiicou’. Essa rede de fast-food (a do refrigerante eterno) deveria fazer uma promoção com esses brindes para os cara que sentem um pouco mais do que ‘o manhê quero um’ quando vê um autobot (transformer do bem) ou deceptcom (transformer do mal).
Portanto eu quero o nº 8 com o boneco do Blackout (aquele que helicóptero do mal) ou um nº 4 com o boneco do Bumblebee.

Fim (schiicouwaaachicouschiiicou)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Anedota

A bichinha morreu e foi para o céu. Chegando lá logo na entrada São Pedro diz que ela não pode entrar, sem antes tomar uma pílula. A bichinha concorda e toma a pílula. De repente ela sente uma vontade tremenda de cagar. Foi uma diarréia daquelas, passou meia hora mandando ver. Terminou e voltou ao céu, chegou e novamente foi inpedida de entrar. São pedro da outra pílula e pede para que a bichinha volte mais tarde. A bichinha toma a pílula e dessa vez ela nem conseguiu pensar em nada, já foi se cagando inteira. Duas horas mais tarde a bichinha já com aquela cara amarelapergunta se pode entrar. São Pedro diz que não e entrega-lhe outra e pede para que volte depois. A bichinha toma a pílula e dessa vez a diarréia é fulminante, ela cagou muito, mas muito mesmo. Cagou sangue, cagou a s tripas, cagou as pregas passou horas e não parava. Até que finalmente terminou, cinco horas depois voltou para o céu achando que São Pedro iria dar outra pílula e perguntou:
- Pronto posso entrar agora?
- Agora que você já sabe para que serve o cu, sim pode entrar.


Ps: Kibe em crise literária e recorrendo a recursos pouco ortodóxos. =D

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Pedrada

“Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”. A velha máxima das mortes por apedrejamento.
Aí vem aquele gordão, pai de família e bigodudo que se diz o mais santo da praça. Talvez até seja, e ele atira a primeira pedra.
“Corajoso”, dirão alguns. Mas eu discordo: mais corajoso ainda é aquele que atira a segunda pedra.
É claro! Convenhamos, o segundo admitiu que é pecador. E se alguém do júri invoca com o rapaz e resolve que ele deve morrer também? Ora, é justo, afinal ele é pecador também.
Imagina a cena: vem o gordão, pai de família e bigodudo e joga uma pedra. Aí, claro, todo mundo se vira pra ele – fica aqueles três ou quatro segundos de delay – e um segundo moço, dessa vez magrelo, sem camisa e bronzeado (com um cigarrinho no canto da boca) taca outra pedra, bem maior e no meio da fuça da sirigaita. Outro delay e a matança segue.
Só que se pegam o cara porque ele pecou? Ia se muito engraçado.
A máxima tem que ser assim a partir de agora: “Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou. Agora atire a segunda pedra aquele que for cabra macho da peste!”

Vou passar cerol na mão

Eu ainda era um piazinho que usava havaianas azul, calção da seleção e camiseta do Flamengo lá em Curitiba, lembro das muitas brincadeiras que gostava. Jogar bets (o melhor jogo de todos os tempos), buliquinha (bolinha de gude), golzinho (jogado na rua, e os gols eram feito de tijolo ou havaianas), vôlei com a rede pendurada no poste e que só tinha que ser desarmada quando passava um caminhão. Foi uma infância bacana, bons tempos aqueles.

Mas tinha uma parada, que para a rapaziada da rua não era tão brincadeira assim, que nunca fui um às foi raia (pipa, papagaio, pandorga e outros). No começo eu não me atrevia a fazer, mas também não fazia a raia subir. Um tempo depois perdi a vergonha e fui todo meninão para a papelaria da Dona Júlia, a mãe da garotinha ruiva, que ficava na esquina da rua de casa, para comprar papel de seda, cola e um carretel de fio-10. Com toda essa matéria-prima e mais a tesoura de costura (mãe me desculpe, fui eu quem estragou a sua tesoura) era o necessário para a confecção da raia, a minha raia.

Nunca levei jeito para ser engenheiro, tenho uma tendencia à la Picasso, não consigo fazer as coisas retas. Sempre que terminava de fazer uma raia, quando levantava para ver minha obra, percebia que tinha sido em vão. Quase sempre um lado estava maior que o outro. Muitas vezes depois das minhas frustantes tentativas de fazer a minha raia, acabava comprando uma raia do Alex (camarada que sabia fazer raia). O preço era uma pechincha, hoje seria o preço de um doce de amendoim numa banca de jornal.

O tempo passou e certa vez resolvi que não sairia de casa sem fazer uma raia que subisse. Fui até a Papelaria da Dona Júlia, a mãe da garotinha ruiva [2], comprei os lances e fui decidido a fazer a minha raia. Passei a manhã inteira em casa medindo, desenhando e rabiscando o papel de seda, quase meio dia a tia Judite (que me chava de Zico)* me chamou para almoçar, mas só faltava fazer a rabiola. Mau terminei de comer e voltei para meu engenho. Modéstia à parte ficou muito bacana a minha raia. A seda vermelha e preta, retinha tudo no lugar, nem parecia que fui eu quem tinha feito.

Amarrei a rabiola, passei o fio-10 na lata de leite moça e esperei o globo esporte terminar (o Flamengo tinha vencido o Fluminense por 4 a 2) e sai de casa todo cheio de graça. A rapaziada quando viu a minha raia, perguntaram se eu tinha comprado, mas logo viram as marcas da cola e viram que era obra minha mesmo. Fui até o final da rua, esperei os carros passarem e corri contra o vento soltando o fio da lata de leite moça.

Quase não acreditava, era a minha raia que estava subindo. Foram quinze minutos de alegria, otimismo e auto-afirmação. Nunca tinha feito uma raia tão bem feita na vida, e ela lá no alto junto com as raias dos caras da rua de baixo. Mas como alegria de Kibe dura pouco, veio a raia de um puto da rua de baixo e foi nesse dia que descobri o porquê do cerol.

Fim


* Porque a tia Judite me chamava de Zico fica para uma próxima oportunidade.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Laços de família

-Manhê... quero uma espada ninja.
-Praquê muleque doido?
-Errr... só um ninja pode ter uma espada ninja.
-Ah ta, o ninjinha brasileiro ai já jogou o lixo que te pedi?
-Já vou, já vou.

Dias depois

-Manhê... quero um espada de pirata.
-Você tem cada idéia.
-Ah mãe me dá. Não seja má vai me dá.
-O muleque, não me amola e vai limpar seu quarto.
-Piratas não limpam o quarto.

Meses depois

-Mãe quero ser da mafia.
-Haha... qual delas filho? quer ser político? Hahaha...
-Não mãe, eu quero cobrar propina, cobrar por segurança, quero ser sinistrão.
-Meu filho, por que você não estuda e vai ser alguém na vida.
-O mãe, deixa eu ser da máfia. Por acaso você não conhece ninguém?
-Meu filho quando você for de maior, você pode ser o que quiser.


Anos depois

-Mãe agora sou um homem, já tenho dezoito anos e três dias.
-Que bom meu filho. a mamãe está orgulhosa de você.
-Mas mãe lembra que você disse que quando eu fosse de maior poderia ser o que quiser?
-Sim lembro. E é isso mesmo, agora você pode ser o que quiser.
-Eu quero ser mafioso, mas preciso de grana.
-Xii...
-Acho que a grana do seu seguro de vida já é um começo.
Pow pow pow


Fim!

terça-feira, 10 de julho de 2007

Promessa

De todas as pessoas do mundo, a última que eu esperava matar era Joana. Ainda mais por causa de Pedro, nosso filho.
Tínhamos uma relação perfeita até que nosso bebê começou a fumar maconha. Não por ele, coitado, mas porque Joana logo teve uma recaída. E ela sabia que, quando casamos, eu exigi que ela nunca mais puxasse um fumo. Ela prometeu e não cumpriu. Promessa descumprida, para mim, é morte. Fui criado assim. É desse jeito que as coisas funcionam lá no agreste.
A cena foi a seguinte: cheguei em casa mais cedo do trabalho e fui para o quarto trocar de roupa. Pus minha sunga, fazia um calor imenso. Eis que desço até a piscina e ela estava com nosso Pedrinho, “bolando” unzinho. Até tentou se desculpar dizendo que só estava “preparando”. Não ia fumar, dizia. Mas eu não acreditei; aquilo para mim bastou.
Não queria matá-la, juro. Não ali, na frente de nosso filho. Mas não teve jeito: minha mira é muito boa.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Cérebro inano

Cada vez mais passo a acreditar que o processo criativo depende mais dos astros do que da quantidade de cafeína em meu cérebro. Em semanas de lua cheia – e dias adjacentes – nada de produtivo surge dessa minha mente insana. Basta observar antigos posts: a cada quatro semanas as produções cessam ou caem vertiginosamente de qualidade. Não que eu esteja me gabando, mas é que em outras luas as coisas brotam com facilidade no papel.
Desde segunda venho trabalhando num projeto, a "Teoria GE". Prefiro não divulgar dados preliminares, mas garanto que é uma obra de cunho humanitário (porque, claro, trata de gente), científico (baseado em observações parapsicometodológicas) e, óbvio, de bem-estar social (ou seja, serve para fazer rir e nada mais que isso). Porém não consigo pensar em nada. Nenhuma idéia, nenhuma luz. Não consigo sequer descrever a camiseta do GE, uma coisa tão simples – normalmente amarela e com uma desbotada estampa azul de pássaro na altura do peito.
Espero que a proximidade da lua nova signifique a abertura de uma fenda entre os lados esquerdo e direito do meu cérebro – a quem chamo carinhosamente de Louis e Bernal, respectivamente. Que por essa fenda escoem todas as idéias brilhantes adormecidas em um canto de Louis, a fim de serem arduamente trabalhadas por Bernal até se tornarem algo concreto. É bom para mim, melhor para vocês.

P.S.: Como diria um velho sábio macalês, curiosamente nascido em Xiaopeng: "Quando tiveres dúvida entre os fios azul e vermelho nada faças pois retornarás ainda mais forte" . (Ele cria em reencarnação, mas a intrepretação é livre)