tag:blogger.com,1999:blog-338209562024-03-07T04:03:52.955-03:00Boemia aqui me tens de regressoFlamengo, cerveja, mulher e literatura. Necessariamente fora dessa ordem.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.comBlogger358125tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-62874436349061901802014-01-21T12:48:00.000-02:002014-01-21T12:48:31.824-02:00Monte SullivanEle esteve por aí desde sempre. Tanto livros de história quanto de geografia lhe fazem menção. Guerras foram travadas em seu entorno, suas várias depressões e vales servindo como trincheiras naturais. É do Monte Sullivan que estou falando. É dele que vem o nome da nossa cidade. Um dia, porém, ele simplesmente acordou.<br />
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Além de todas as complicações normais de uma montanha inteira de repente se erguendo do chão é claro que o episódio causou muita angústia entre a população. Uma epidemia de ataques cardíacos ocorreu entre os idosos e os jovens mais suscetíveis (a maioria dos quais de aparência muscular rígida, do tipo que você pensa que seria mais apto para lutar contra aquela coisa), e um monte de gente deixou o lugar apenas com a roupa do corpo. Os que ficaram estavam tão chocados com a visão de uma criatura capaz de espremer árvores como se fossem meras espinhas que todos permaneceram imóveis. Todos foram para a rua e ficaram apenas observando aquele ser pouco gracioso tentando encontrar uma posição mais confortável, provavelmente para matar todos nós.<br />
<br />
Quando um esquadrão militar especial foi finalmente reunido a coisa já havia se sentado no que parecia ser uma posição de lótus. Ele falava a nossa língua.<br />
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"Não temei," disse solenemente. "Eu não vou falar com vocês como os antigos, não. Eu sei o jeito que vocês conversam hoje em dia — tenho ouvido muito disso em meus sonhos."<br />
<br />
Surpresos pelo poder magnânimo daquela voz — e também pelo seu sotaque incrivelmente semelhante àquele dos adolescentes que costumavam se reunir em torno da placa que indicava a nossa "Sullivan City", agora um simples brinco pendurado na, bem, orelha da montanha — o exército persistiu em sua formação defensiva. Pensando bem agora eles estavam era tremendo de medo e por causa do volume daquele som, sendo que este último também afetou todos as outras pessoas e edifícios em uma faixa de pelo menos cinco quilômetros dali.<br />
<br />
"Desculpem-me; não tive a intenção de causar qualquer perturbação," a coisa disse agora sussurrando, o que ainda soava como um show de rock and roll. "Eu sei que parece um pouco estranho, mas eu só quero ser amigo de vocês. Bom, eu sei bem o que alguns de vocês têm feito ultimamente, né?" Aqui ele acrescentou um sorriso infantil. "Não é mesmo, Ralf? Stacey? Vocês estavam bem em cima do meu ouvido, galera."<br />
<br />
Demorou um pouco para a população aceitar que o nosso Monte Sullivan era agora um ser vivo e mais ainda até que todos conseguíssemos lidar com o fato de que ele sabia tudo sobre todos os que já tivessem ido até a placa, mas uma vez que estas coisas foram resolvidos e uma maneira mais conveniente de se comunicar foi estabelecida Sullivan se tornou parte da paisagem e da cultura da cidade. Ninguém entendia como ele tinha aprendido tantas coisas tendo estado dormindo desde sempre nem que tipo de criatura ele era, no entanto sua maneira cortês de lidar com os cidadãos e a proteção do espaço aéreo que ele fornecia foram suficientes para logo conquistar os corações de todos. Sully era amigo de todo mundo e o guardião da cidade, e com os conselhos precisos de alguém que tude vê de um ponto de vista privilegiado ele certamente acabará por ser proclamado santo um dia.<br />
<br />
Isso me lembra a razão pela qual estou contando essa história: nem todas as criaturas estranhas fazem mal para você. Alguns, é claro, fazem — escalam os arranha-céus, devoram aviões em pleno ar e falam sobre assuntos pessoais em uma reunião de negócios —, mas outros definitivamente não o fazem. Você só irá saber com certeza depois do seu pronunciamento introdutório. Se ele não souber como falar, que é geralmente o caso dos seres oriundos do espaço sideral, você deve sempre dar-lhe primeiro o benefício da dúvida. Nunca se sabe quando você está prestes a fazer um amigo novo e gigantesco.<br />
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Quanto a Sullivan, a cidade, ela desde o ocorrido tem crescido exponencialmente em população e economia, apesar de muitos países terem deixado de negociar com a gente por causa da "ameaça para a autoestima do homem padrão". Sullivan, o homem, uma ex-montanha, que nada tem a ver com isso, continua seguindo tranquilo com sua vida, ajudando a todos, tratando as mulheres com o maior respeito e usando o seu tempo livre apenas para o crescimento pessoal, incluindo aí atividades como leitura (alguns clássicos foram reimpressos para ele em um tamanho mais conveniente) e cuidado com o meio ambiente (replantando árvores utilizadas na indústria de papel e produzindo grandes quantidades de fertilizante natural).<br />
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Vida longa ao Sullivan.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-71254550918570507802014-01-14T09:42:00.001-02:002014-01-14T09:42:31.546-02:00Dama da noiteAntes de conhecer Roberta (este é um nome fictício; se eu usasse seu verdadeiro nome, Candy, você não acreditaria nessa história) eu tinha uma opinião muito diferente sobre os trabalhadores da noite. Eu os achava todos muito cínicos, até mesmo arrogantes, e que eles tratavam com respeito e bondade apenas aqueles que tivessem dinheiro nos bolsos. Meu breve encontro com Roberta em uma noite de verão, além de nosso eventual envolvimento mais tarde, foi suficiente para me provar que eu estava completamente errado. Sou grato a ela por isso.<br />
<br />
Roberta e eu nos encontramos pela primeira vez em um lugar pouco usual para este tipo de introdução. Eu estava voltando para casa depois de uma hora extra e ela estava no ponto lendo "Madame Bovary" enquanto o ônibus falhava em seu intento de chegar.<br />
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"Ah, estou acostumada com isso," disse ela. "É sempre assim nas sextas-feiras. Quem pode culpá-los, certo? É sexta-feira."<br />
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Essa forma doce e estóica de falar não me deu nenhuma pista sobre o que eu estava prestes a descobrir. Em vez disso me fez lutar contra a minha própria necessidade de andar sozinho com meus fones de ouvido e me envolver em uma conversa para variar. Em minha defesa ela já tinha fechado o livro e parecia interessada em tudo o que eu tivesse para dizer.<br />
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"Então", fiz questão de desapontá-la. "Você sempre pega este ônibus?"<br />
<br />
"Sim — sim, toda vez que vou para o trabalho."<br />
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Aquele sorriso constante, branquíssimo porém ainda natural, amplo mas apenas o suficiente, era cativante. Parecia não importar o que eu tivesse para dizer que ela não se faria incomodada. Eu não estava acostumado com isso. Na hora isso também não me pareceu que poderia fazer parte do seu trabalho.<br />
<br />
"Mas a essa hora do dia?" perguntei.<br />
<br />
"Bem", ela respondeu. "É preciso ser feito o que é preciso ser feito, não é mesmo?"<br />
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Assumindo a partir disso que ela era uma enfermeira nossa conversa fluiu de maneira incrível. Ela se encarregava da introdução de novos temas e da tarefa de me fazer sentir confortável; eu apenas respondia da forma mais clara possível tentando não parecer desconfortável. Eu não havia tido uma conversa com um desconhecido em um ponto de ônibus em anos, provavelmente desde o colégio, então não fazia idéia do que seria educado dizer e até que ponto tocá-la, uma vez que estivessemos dentro do veículo, seria apropriado. Suas mãos me empurrando em direção a um lugar vazio quando o ônibus chegou praticamente resolveu a questão e me encorajou a perguntar onde eu poderia encontrá-la mais tarde para tomarmos um café.<br />
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"Pinewood House", disse ela prontamente. "Estarei lá de agora até as seis da manhã. Você pode ir a qualquer momento que darei um jeito de ficar com você."<br />
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Eu não tinha idéia do que era aquele lugar. Pelo nome dele — e pela profissão dela — assumi que fosse uma casa de repouso. Por essa razão decidi aparecer por lá apenas mais tarde, para ter certeza de que os idosos já estariam na cama e Roberta estaria totalmente livre.<br />
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Quando procurei o endereço na internet nenhuma informação sobre o lugar veio à tona. Deve ser novo, pensei, por isso nunca ouvi falar. Ou talvez este tipo de lugar nunca tenha chamado a minha atenção antes. De qualquer forma passei uma colônia e saí para ver minha nova amiga. Eu já conseguia imaginá-la na sala de enfermagem e tremi com a idéia de que ela iria me apresentar para os outros empregados da noite. Nunca fui bom com aparições públicas.<br />
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Para minha surpresa quando cheguei ao endereço que tinha em mãos o lugar não parecia em nada com uma casa de repouso. Ele estava cercado por bares e casas noturnas, algumas delas de péssimo gosto, e sua decoração externa me lembrou o 461 Ocean Boulevard de Eric Clapton. A placa do Pinewood House era minimalista e pouco iluminada, o que me levou a pensar que ele estivesse fechado e eu nunca iria ver Roberta novamente. Verifiquei novamente no meu celular e não havia nenhuma outra empresa com o mesmo nome na cidade. Senti-me miserável outra vez, e olhei ao redor para decidir onde iria acabar a noite. Sozinho.<br />
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Porém logo em seguida da varanda escura veio uma lanterna seguida por uma pessoa usando um quepe policial. Demorei alguns segundos até conseguir reconhecê-la.<br />
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"Achei que você não viria mais," Roberta sorriu. "Venha; deixe eu lhe mostrar as dependências do local."<br />
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No fim das contas ela não era uma enfermeira. O Pinewood House era uma loja de móveis durante o dia, e minha amiga é quem cuidava do lugar durante a noite. Roberta era vigia, um guarda noturno que lê Flaubert no ponto de ônibus e fala com estranhos em uma maneira agradável. Fiquei realmente surpreso.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-67792520346470421902014-01-07T10:58:00.001-02:002014-01-07T10:58:30.155-02:00Não há lugar como o nosso larIr para o Brasil — ou para "casa", como queiram — como um simples visitante é uma experiência única e instrutiva. Isso lhe dá a oportunidade de ver as coisas que você conhece muito bem de um ponto de vista um pouquinho diferente. Você se vê capaz de perceber pequenas mudanças em aparência e comportamento de uma maneira que seria impossível anteriormente, e até mesmo o seu nível de aceitação perante algumas coisas (ou pessoas) que antes lhe incomodavam se torna muito maior. A mais importante realização resultante de uma visita como essa, porém, é a de que nada jamais muda.<br />
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Claro, é óbvio que você pode se chocar ao ver pela primeira vez aquele primo que entrou na puberdade durante a sua ausência. Agora ele só veste roupas pretas, góticas, e começou a responder a própria mãe na frente da família inteira; ele está passando por aquele tipo de desenvolvimento tanto no corpo quanto na mente que nem sempre é confortável. Mas você sabe, e provavelmente você é o único que consegue ver isso, que sua essência ainda permanece a mesma. Sua voz é a mesmo, ainda que mais baixa no tom e mais alta no volume; seu cabelo parece exatamente o mesmo, exceto que agora ele está mais longo e pintado de preto; até mesmo seu jeito de andar em nada mudou: ele apenas se bate para manter o equilíbrio sobre aquelas botas de salto alto. Só que você consegue perceber em seus olhos aquele mesmo neto carinhoso e criança prodígio de outrora. Tudo não passa de uma simples fase.<br />
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Quando chega a hora de botar a conversa em dia com os amigos, algo que deixou de ser o mesmo em tempos de internet, Facebook e WhatsApp, essa reconfortante sensação de mesmice fica ainda mais acentuada. Seu melhor amigo ainda é o seu melhor amigo, com as mesmas idiossincrasias que você sempre odiou; seus segundo melhor amigo ainda está lá para qualquer coisa; e seu terceiro melhor amigo também está lá, ainda esperando por uma chance para subir no ranking. Isso acontece porque os motivos que um dia os uniram não mudaram em nada. As circunstâncias podem sim tê-lo feito, o que dá a impressão de que a amizade mudou de alguma maneira, porém alguns minutos sentados na mesma mesa e tomando da mesma garrafa são o bastante para fazer tudo voltar a ser como era antes.<br />
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Descobrir que as coisas nunca mudam é uma realização relaxante. Isso lhe dá a liberdade para sair por aí tentando chacoalhar um pouco as coisas. Garante a você a coragem necessária para mergulhar nas profundezas do desconhecido apenas pelo prazer da aventura. Porque você agora entende que a qualquer momento que você queira — a qualquer momento que você <i>precise </i>— sua antiga vida feliz e confortável estará lá esperando por você. Agora com a inclusão de alguns espinhos e rímel nos olhos, claro, mas ainda o mesmo ambiente estável onde você tem certeza que se sente à vontade e satisfeito.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-49751631625423394072013-01-10T20:45:00.000-02:002013-01-10T20:45:19.989-02:00Má sorte na cozinha<br />
Nunca fui, nem nunca tive pretensão de ser um mestre na cozinha. Mas como dizem por ai "tenho mais truques que uma prostituta". Na verdade sei me virar. Os incrédulos duvidam ou desdenham das minhas habilidades na cozinha. <strike>Minha mãe é dessa galera</strike>.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ6TA4u6H82xc7O5vS98bzPVJTWZ9O0Wl9KhfFCs9vxXxh8XkSAtgyOCwLmzfh4aVYW0rxIZVTH9XvHGqCwY9GENiIVEhvWH-wBNTtB71cOQU4N5D9hQ0VluG_XUiXAV2Kfe5/s1600/kibinho-cozinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ6TA4u6H82xc7O5vS98bzPVJTWZ9O0Wl9KhfFCs9vxXxh8XkSAtgyOCwLmzfh4aVYW0rxIZVTH9XvHGqCwY9GENiIVEhvWH-wBNTtB71cOQU4N5D9hQ0VluG_XUiXAV2Kfe5/s1600/kibinho-cozinha.jpg" height="319" width="320" /></a></div>
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Não tenho o costume de fazer cozinhar, porque sempre teve quem fez. Então só entro em ação eventualmente. Hoje, por exemplo, foi uma dessas oportunidades. Sozinho no barraco, geladeira quase vazia só tinha água, gelo, uns tomates com aparência tristonha e algumas coxas de frango. Resolvi dar meus pulos.<br />
<br />
Mesmo com o orçamento precário, fui até o mercado comprei uns “objetos” para fazer o almoço. O plano era fazer alguma massa (semi pronta) e assar as coxas de frango. Então comprei a massa, o molho e uma birita para acompanhar.<br />
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Cheguei no cafofo e dei início à operação estrombelete de frango confuso. Esse foi o nome que dei ao prato que faria. Meti o frango no forno e comecei a fazer a massa. Foi então que de repente, não mais que de repente. Acabou o gás e a assim terminou também o tesão de cozinhar algo decente.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-gtZlcF8wGvQ1Tnx0fyG6sUOYri4kW4di612HGhEDeWaERQuydSywJeEDYSf7ADxOCo8NlJ_ba_2i2wkM7h61HbotUypZJdq4OAF062dJ_ab_7L5XEQT5T6awy-1nN7npvouH/s1600/IMG409.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-gtZlcF8wGvQ1Tnx0fyG6sUOYri4kW4di612HGhEDeWaERQuydSywJeEDYSf7ADxOCo8NlJ_ba_2i2wkM7h61HbotUypZJdq4OAF062dJ_ab_7L5XEQT5T6awy-1nN7npvouH/s1600/IMG409.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
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Almocei pipoca de micro-ondas e tomei uma cerveja.<br />
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Fim<br />
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03797642486018338510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-11250933080855474872012-07-30T22:27:00.000-03:002012-07-30T22:27:02.192-03:00Meu deus, é o diabo!Seria trágico se não fosse cômico. Diz que o diabo, o cão, o cujo, o demo, o pé-redondo, o coisa-ruim, o hermógenes, o tal estava andando pela cidade como uma pessoa qualquer. Não fosse pelos chifres, pelo rabo, pela tez avermelhada e fumegante e pelo cheiro insuportável de enxofre poderiam confundí-lo com um cidadão de bem. Até tentava se adaptar: acenava para os curiosos, dizia amenidades para velhinhas sentadas na pracinha e só não passava a mão na cabeça das crianças porque elas literalmente corriam de medo. De resto seguia tudo na mais absoluta tranquilidade.<br />
<br />
Um senhor de coragem acima do normal, coxo de nascimento e capenga de cacoete, aproximou-se do Senhor das Trevas. "Quem é você?", perguntou entre soluços. "Por que você fede mais que minha sogra?" O outro nem respondeu -- não sabia o que era sogra. Até ouvira falar disso em meio ao lamentos das almas penadas que lhe mandavam, mas espécie nenhuma um dia pisou em seus aposentos. Para eles era como se sogra fosse um ser de outro mundo, inventado pelos homens para se absterem ou se abstraírem de alguma culpa.<br />
<br />
"Eu não sei o que o senhor quer dizer com isso, sogra, mas eu mesmo me chamo Capeta", respondeu o coisa-ruim. Seu rosto aparentava amigável, muito embora um interlocutor pudesse ver naqueles olhos brancos e profundos uma semelhança indizível com a mulher amada. Ao silêncio do corajoso o diabo emendou: "vim descobrir o que há de tão terrível aqui em cima para que as pessoas que vão até a minha casa se sentirem tão aliviadas quando chegam".<br />
<br />
O demônio ouvia coisas verdadeiramente insólitas sobre a Terra. Para ele diziam que era um lugar onde as pessoas destruiam o que lhes restava de amor-próprio ao sucumbir às pressões de uma filosofia pré-concebida. Era um lugar em que as relações interpessoais precisavam ser regidas por um conjunto não-escrito de regras que foram fundadas levando em consideração apenas exceções, como se ninguém pudesse formular sua própria maneira de agir pelo risco de se criar uma anarquia democrática. Verdadeiramente infernal. Pavoroso.<br />
<br />
Após minutos de hesitação o senhor de coragem acima do normal começou a falar. Ele naquele instante não estava vivendo sob o regime de anti-picardia que assomava a maioria das pessoas. Pelo contrário: tinha em si a liberdade de quem deliberadamente escolhe o caminho da elevação. Quanto mais alto, mais autonomia. "O Senhor não deveria aparecer por essas bandas", disse, sôfrego, em meio a muita saliva. "As pessoas não gostam de você. Não gostam da imagem que fizeram de você. Aqui ser diabo já saiu de moda. Quem arrisca contrariar as normas da sociedade é taxado de sórdido, vil, abjeto. Há um padrão que deve ser seguido -- qualquer desvio é tomado como insurreição e deve ser sobrestado de imediato. Fuja, fuja enquanto é tempo. Quem não tem para onde ir faz o que pode para negligenciar, torcendo para que isso não seja também considerado ultraje. Eventualmente será".<br />
<br />
Com o rabo entre as pernas e os dois chifres encolhidos lúcifer se escafedeu.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-82065236919889177382012-07-23T21:07:00.000-03:002012-07-23T21:07:21.235-03:00Até logo, NatalinoJoel Santana se foi. Tarde, muito tarde. Sua demissão estava prevista há meses, quando primeiramente cogitaram esse nome para dirigir o time do Flamengo. Ele não tem e jamais teve calibre para isso. Valeu, das vezes que valeu, apenas pelo seu caráter folclórico, mas deixou o time muito mais na mão do que em situação confortável. Até quando saiu sem ser demitido -- para assumir o <i>tim </i>da África do Sul -- o fez de maneira bisonha, tatuando para sempre nos corações rubros-negro a marca do América mexicano goleando em pleno Maracanã. Ou seja, Joel se foi, e foi tarde, mas para começo de conversa nunca deveria sequer ter vindo.<br />
<br />
Não é preciso discorrer aqui neste espaço tão nobre sobre todas as sujeiradas que acontecem nos corredores da Gávea. Aliás, do futebol brasileiro em geral: até o SPFC, que outro dia se dizia um time de primeiro mundo desconfortável por jogar a pobretona Libertadores da América ao invés da Champions League, anda mostrando suas escusas ligações com gente da pior espécie. A nossa versão do esporte bretão é mais maculada do que o banheiro masculino do setor de visitantes do Caranguejão, e olha que isso não é pouco.<br />
<br />
O que quer que se faça agora no Flamengo, enfim, será meramente paliativo. Demitir o Joel é apenas mais um dos tantos vacilos dessa diretoria -- não por mandá-lo embora, mas por contratá-lo --, que será seguida no fim do ano por outra diretoria cometedora de atrocidades ainda maiores. Reclamar não vai mudar nada, lamentar menos ainda e nesse caso nem agir será de alguma ajuda. O futebol é assim, o futebol brasileiro é ainda pior e o Mengão, coitado, é o mais emblemático exemplo de como mesmo estando em um mar de excrementos ainda é perfeitamente possível se destacar negativamente.<br />
<br />
Até logo, Joel Natalino Santana. Daqui a alguns anos você volta como salvador da pátria.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-41947087640965837572012-07-16T23:42:00.001-03:002012-07-16T23:42:17.232-03:00The speech<br />
“We’ve got to do something about it, people. Are you with me? This isn’t an attitude of a man. He’s just stretching out his wings, trying to intimidate us. We can stop him. Together we will stop him, no matter what. I, for one, cannot stand seeing a situation like that happening. It’s not fair to our people. It isn’t fair especially to the little ones. We are a family and we have got to start acting like one. If not us, who else?<br />
<br />
“I remember the day he showed up here. It was nothing special. He didn’t even seem that big to me, you know? I mean, the first day he was around I tried to have a little chat. He was just too stupid to engage a conversation. He thought he owned us, just because he was an outsider -- and much bigger, of course. All he had in mind were cars and soldiers and ice-creams. He kept saying like 'oh, you guys are going to give me all that I want'. Stupid, so stupid.<br />
<br />
“Our first action now has to be clustering: we ought to embrace ourselves, gather here where we belong and simply ignore him. We better build our defenses and stock whatever we might need in case he decide to take over our place. He’s dangerou, with all that stupidity. Trust no-one outside here, you understand me? Collaboration between us is the best option from now on. We walk together, we go to school together, we grow-up as a team. This menace shall not do any harm as long as we are prepared.<br />
<br />
“He may know our weaknesses; he’s been around here too long now. We were fools to have let him in the first time. Now there is nothing we can do about it. But -- and I say that with relief and hope -- but we also know his Achilles heel, don’t we? Ice-cream. The guy is totally mad about it! Everyone knows. All we have to do is amuse him with some ice-cream until we have a plan. A good one. We’ll have this boy out of here in no time.”<br />
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This was the first speech little John gave in his life. He had just taken the leadership of his gang of boys that had been assaulted by a bullie recently arrived in the city. As of a curious coincidence, he would eventually say the exact same words -- except that “ice-cream” was replaced by “petrol” -- many years later, when he became President of his Middle East nation.<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-24087427760203739382012-07-10T21:34:00.002-03:002012-07-10T21:34:53.271-03:00Como nos velhos temposPegou o caderno velho no fundo da gaveta e se pôs a escrever. "Vai ser como no tempo da faculdade", pensou. Aquele tempo, quando conseguia simplesmente encostar a caneta no papel e só parava na hora que ouvia o sinal. Relia depois para saber se o que escrevera havia feito sentido ou não, mas pouco importava. O negócio era encher a página, o maior número delas possível e da maneira mais interessante.<br />
<br />
Ele realmente achou que desta vez seria fácil. Estava mais rodado, experiente com a escrita. Era bem mais letrado do que antes, e também havia criado para si um método. Métodos, aliás. Desta vez seria só sentar e debulhar as palavras como quem não tem compromisso algum com a estética, sem pensar em forma nem conteúdo para variar. Não seria um fluxo de consciência -- tinha pavor dessas "besteiras existencialistas" --, mas apenas uma sequência de ideias mais natural e, portanto, verossímil.<br />
<br />
Contudo aquele serviço não era simples. Primeiro que os dedos fisicamente não respondiam mais com tanto vigor. Depois que os mesmos dedos psicologicamente agora se recusavam a ignorar a beleza. Tudo deveria parecer visualmente agradável para eles, tanto as letras quanto o que elas deveriam representar. Vai que alguém lê? Vai que um dia encontram o caderno velho no fundo da gaveta e resolvem publicá-lo. Se fosse depois da sua morte tudo bem. Antes poderia encerrar (ou sequer deixar começar) uma carreira talvez brilhante. Ninguém respeita o passado se ele é vergonhoso.<br />
<br />
Só quando percebe que não há muita possibilidade de aquele manuscrito ser visto por alguém é que consegue se soltar. Escreve de olhos fechados, sentindo o fluxo de palavras vindo à mente sem enfrentar barreiras ou censura prévia. O problema é que por isso mesmo ele viu que sem o medo as coisas bonitas acontecem com mais facilidade -- e então já cogitava até mostrar<span style="background-color: white;"> propositadamente</span><span style="background-color: white;"> o que criou.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white;">Mas a verdade é que é impossível dissociar as duas coisas; quem escreve nunca o faz apenas para si. Profissional ou não, escritor tem vaidade, uma necessidade inerente de ser visto e comentado. Falem bem ou falem mal mas falem de mim, ou coisa que o valha. </span><span style="background-color: white;">Nenhuma pessoa que um dia manteve um diário, por exemplo, fê-lo sem a intenção de que tudo aquilo fosse lido por alguém. Pode ser que não ainda em vida, já que o inconsciente trabalha de maneiras bastante intrigantes, porém quem escreve quer ser lido e ponto. Nem que décadas depois e somente pelos próprios descendentes.</span><br />
<br />
As coisas enfim tomaram proporções aterrorizantes. Escrever daquele jeito, sem pensar, sem fazer qualquer tipo de ponderação e longe, bem longe do <i>backspace</i>, era ao mesmo tempo libertador e desconcertante. Nunca se sabe quanta coisa alguém tem na cabeça até que a pessoa se encontra sozinha em frente a um espelho ou uma folha de papel.<br />
<br />
Havia tanta coisa para ser dita. Tanta filosofia barata que perece no tempo usado para se escrever (à mão) uma mísera palavra. O cérebro humano é mesmo uma máquina incrível, magnífica. Age ininterruptamente e de maneira e velocidade incompreensíveis. Tanta ideia surge ao se soletrar "incompreensíveis"...<br />
<br />
Mas quando chega ao final daquela experiência se sente ainda mais confuso. Iniciou-a para liberar um pouco de espaço na mente e acabou ainda mais cheio de indagações. Seria aquele o caminho? Ou uma tremenda estupidez? Eram muitas ideias. O caderno velho encontrado no fundo da gaveta seria pequeno para as tantas vontades que agora imaginava ter. Sabia que jamais as desenvolveria, mas era apenas no que conseguia pensar enquanto escrevia a palavra "desenvolveria".<br />
<br />
Bem como nos velhos tempos.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-7064914063277055002012-07-08T15:30:00.000-03:002012-07-08T15:30:51.691-03:00O Juiz<br />
Quem já teve a feliz experiência de assistir um jogo de futebol no estádio é um privilegiado. Quem não teve a oportunidade vá. E de preferência em uma grande decisão ou jogo importante. É um ótimo programa.<br />
<br />
Além dos jogadores e torcida, um personagem que merece nosso carinho e afeto é o ilustríssimo Senhor Juiz. Tudo bem que o termo correto é árbitro, mas juiz é o mais popular e está na boca do povo.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJ5AFgCAlZ91PQATZR6bwl8tJMsXGjjv0gvMurqSuNGXbgkebf9WaYcAiHZBFXXXJoUjyw_0INBqwf8ilFjf2STckl5SBB266Go76S5FqP_OnSfoe41hyphenhyphencObBXH4PNTbCT5gi/s1600/juiz-futebol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdJ5AFgCAlZ91PQATZR6bwl8tJMsXGjjv0gvMurqSuNGXbgkebf9WaYcAiHZBFXXXJoUjyw_0INBqwf8ilFjf2STckl5SBB266Go76S5FqP_OnSfoe41hyphenhyphencObBXH4PNTbCT5gi/s320/juiz-futebol.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Mas a vida do juiz é um tanto ingrata. Pois vejam os senhores, não importa o resultado do jogo a mãe do juiz nunca é poupada. Ainda assim o juiz tem que entregar um relatório sobre o que aconteceu na partida, a tal súmula. Informando quem entrou no lugar de quem, quem marcou gol, quem tomou cartão e fatos que aconteceram na partida.<br />
<br />
E é na narração dos fatos que aconteceram durante o jogo que aparecem algumas pérolas. por exemplo no jogo entre Palmeiras e Coritiba, pela decisão da Copa do Brasil. Vejam dois relatos que o juiz da partida relatou na súmula do jogo:<br />
<br />
"Aos 25' minutos do 2° tempo, expulsei em decorrência do 2° cartão amarelo, o atleta de n°10 Jorge Luis Valdívia Toro, da S.E. palmeiras, por atingir com o braço na atura da orelha do seu adversário de n° Willian Roberto de Farias, na disputa de bola. O atleta atingido necessitou de atendimento médico, retornando posteriormente. O atleta expulso ao deixar o campo de jogo disse a mim as seguintes palavras: VOCÊ É UM FILHO DA PUTA E VIADO E REPETIU POR TRÊS VEZES".<br />
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"Após o término da partida, o técnico da equipe do Coritiba F B Club, sr. Marcelo Oliveira Santos adentrou o campo de jogo vindo até onde o trio de arbitragem se encontrava reunido proferindo as seguintes palavras: 'VOCÊS ESTÃO DE SACANAGEM, NÃO MARCARAM UMA FALTA PARA NÓS. FOI IGUAL ANO PASSADO. VÃO TODOS TOMAR NO CU -SIC-"<br />
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Pior do que aguentar malandro falando groselha na sua orelha é ter que escrever isso em um documento.<br />
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Fim<br />
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<br /></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03797642486018338510noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-37005988688109227492012-07-02T21:49:00.000-03:002012-07-02T21:49:11.588-03:00Mas que bóson<br />
Diz que nos EUA alguém está muito próximo de provar a existência do bóson de Higgs. Com esse nome seria muito menos espantoso se a notícia viesse da Inglaterra ou do México, países com a veia cômica bem mais acentuada que a dos Ianques, mas enfim. Fato é que o tal bóson é chamado entre os entendidos de "partícula de Deus". O que ele faz? Dá forma e conteúdo a tudo que existe no universo -- e nem pára para descansar no sétimo dia.<br />
<br />
Isso mesmo, crédulos e incrédulos leitores: a ciência, tão empírica em seu modo de ser, herege a ponto de dizer que nossos ancestrais são macacos e que a Terra gira em torno do sol e não o contrário, credita um de seus componentes mais intrigantes e essenciais àquele que por séculos tenta desmentir. Só pode ser ironia.<br />
<br />
Se realmente anunciarem a existência do bóson de Higgs (ora, e se ele não existe então de que raios são formadas as coisas?) devemos preparar os ouvidos para as possíveis investidas da Igreja -- das igrejas, todas elas. O geocentrismo voltará com tudo. Nas escolas ensinarão que as mosquinhas sobre um pedaço pútrido de carne tiveram geração espontânea: "vieram dos bósons, crianças". A partícula de Deus virará tendência.<br />
<br />
Chances existem, claro, de que isso tudo seja apenas uma piadinha dos homens de jaleco. Tudo pelo bem do bom-humor. Há décadas eles teriam alimentado essa história de bóson de Higgs sob a alcunha de "partícula de Deus" porque já sabem que ela é irreal: um jeito matreiro de dizer ao pessoal da batina que, bem, Deus não existe.<br />
<br />
Vamos esperar para ver. Quarta-feira é o dia D.<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-11771417409984567762012-06-25T22:11:00.000-03:002012-06-25T22:11:11.799-03:00O Trabalho<br />
Fechou o laptop com a sensação de dever cumprido. Foram mais de oito horas ali de frente para a tela digitando sem parar. Comeu apenas o que tinha estocado na gaveta da escrivaninha e uma garrafa quente e sem gás de Coca-cola foi toda a sua hidratação. Mas, pensou, o esforço valeu a pena.<br />
<br />
Quando levantou e sentiu a espinha estralar foi ainda mais prazeroso. Era como se o corpo estivesse agradecendo após suportar o dia inteiro sem reclamar. Aproveitou para estralar também outras peças móveis e dar algumas batidinhas leves nos músculos já semiatrofiados para relaxá-los. Eles mereciam.<br />
<br />
Sentia-se satisfeito com a própria performance. Quando se propôs a sentar naquela mesa e trabalhar já sabia que não seria coisa de meia hora. Da última vez tinha levado dias. Mas ele era sempre assim: quando tinha um objetivo definido não havia barreiras para lhe segurar. Fosse o objetivo profissional, pessoal ou de caráter investigativo.<br />
<br />
Pois quando entrou no banho e começou a repensar em todo o avanço do dia começou a entrar em pânico. E se não fosse realmente aquilo? E se tudo o que havia escrito era besteira, conversa para boi dormir? Não tinha como saber antes da noite seguinte, e aquela incerteza sobre o próprio sucesso o atormentava ainda mais do que o medo de ter estragado tudo.<br />
<br />
Decidiu então que após jantar iria reler tudo o que havia escrito. Da primeira letra que teclou até o último ponto. Não teria como suportar a espera pelo resultado; era preciso checar se havia algum deslize, alguma falha que pudesse de alguma forma colocar tudo a perder. Ainda que estivesse tão certo do êxito ele era um daqueles perfeccionistas que jamaos se permitem errar.<br />
<br />
Ao ligar de novo o computador sentiu que o coração já batia mais depressa. Pouco importava se há quinze minutos tudo lhe parecia perfeito, o trabalho fora supostamente bem-feito e um futuro radiante lhe aguardava a partir dali: qualquer palavrinha fora de lugar teria um efeito devastador tanto imediato quanto nas necessidades vindouras.<br />
<br />
Mas então veio a surpresa: logo ao abrir o navegador já se anunciou um e-mail. Era dela, e sem assunto nenhum. O corpo da mensagem trazia as seguintes frases: "Adorei conversar com você hoje o dia inteiro. Ninguém sabe prender a minha atenção como você. Espero que possamos fazer isso mais vezes".<br />
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Deligou o computador e respirou fundo: realmente foi um trabalho bem realizado.<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-56877807501784304552012-06-22T12:03:00.000-03:002012-06-22T14:12:41.165-03:00Corinthians e Boca Juniors fazem a final da Libertadores<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 24px;">O Corinthians chega a sua primeira final da Copa Libertadores da América. Já o Boca Juniors fará a sua décima final da competição. Enquanto para o Corinthians o Título da Libertadores é algo inédito, para os argentinos a conquista em 2012 seria a sua sétima.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMQAiCCsxtLwR-3_1yuYiorHyT3jKSajiQ08AX73600dlnQk0OeT2zOifaZ3kkItzIIclFVkqgPMpg0elNmfaCTo3DjvGfPBaq6Cq5R5jewIsmNZhDe9JWSFY6Uebldz0dydbV/s1600/boca-flu2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMQAiCCsxtLwR-3_1yuYiorHyT3jKSajiQ08AX73600dlnQk0OeT2zOifaZ3kkItzIIclFVkqgPMpg0elNmfaCTo3DjvGfPBaq6Cq5R5jewIsmNZhDe9JWSFY6Uebldz0dydbV/s320/boca-flu2.jpg" width="320" /></a></div>
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<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 24px;"></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">O Corinthians sofre desde muito tempo com o fato de nunca ter vencido a competição. Uma vez que todos os grandes rivais paulistas já conquistaram a América. Esta obsessão caminha com o Timão a muito tempo. Tanto que a muito tempo clube e torcida não deixam de falar na tal Libertadores.</span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Falar em obsessão pela Taça Libertadores é falar na força que tem o Boca Juniors. Os xeneizes são tão obcecados pela Libertadores que após ganhar uma, sua inflamada torcida exige outra. Lembrando que caso o Boca vença esta edição da Copa Libertadores alcança o Independiente com sete conquistas.</span><br />
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqcQZTeAZmy-pWQd0a_VxMvOZB5vvnGmxDztez4tSVqGKX5UTcCTV0tjcjoCTl2UF9RzcnaMkH6V-auXObpLx3zvh4V8Bsm2pWHcmiHGw-NRp4u8vFu1hbxgkMej59qkyD8hEw/s1600/corinthians-libertadores.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqcQZTeAZmy-pWQd0a_VxMvOZB5vvnGmxDztez4tSVqGKX5UTcCTV0tjcjoCTl2UF9RzcnaMkH6V-auXObpLx3zvh4V8Bsm2pWHcmiHGw-NRp4u8vFu1hbxgkMej59qkyD8hEw/s320/corinthians-libertadores.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 24px;"></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Para o Corinthians é uma oportunidade de vencer a América e fazer parte do rol de Campeões da América. Também acaba com a piada dos rivais. O Boca Juniors, por sua vez, além do título, briga pela alcunha de Rei de Copas da Argentina. Por enquanto o Rei de Copas é o Independiente que já triunfou sete vezes na Libertadores.</span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">A quem interessar possa, irei torcer pelos maloqueiros.</span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Fim</span><br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03797642486018338510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-4129333741356131072012-06-18T21:27:00.000-03:002012-06-18T21:27:35.908-03:00Desilusão<br />
Tudo o que ele queria era conhecer a filha do Anacleto. Morena, lábios carnudos e com os negros cabelos tocando-lhe a cintura, Paulinha era o exemplo clássico de beleza suburbana. Sozinha ela já havia causado todo tipo de rebuliço nos arredores da Vila Santa Helena -- e Valdo pensou que decididamente chegara a sua vez.<br />
<br />
<span style="background-color: white;">O primeiro passo para se aproximar da pequena foi se envolver mais nos assuntos da comunidade. Anacleto tinha um quê de representante popular, e na visão do desabastado Valdo só através do velho seria possível chegar mais perto da Paulinha. Para ela não havia distinção entre pobre e rico: um ela ignorava; o outro, namorava.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white;">Na primeira reunião que teve Valdo chegou cedinho, cedinho. Figura rara por ali, logo chamou a atenção de Roberto Carlos, o puxador de samba oficial da vila e representante comercial de uma marca de calcinhas. "Veio fazer o quê aqui, Valdo?", perguntou. No que não obteve resposta, insistiu: "Alguém roubou a sua casa?" Era só para exigir segurança que um novato passava a frequentar aqueles encontros.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white;">Valdo olhou torto para o inquisidor. Eram amigos, mas Roberto Carlos já havia se engraçado para cima de Paulinha e, portanto, tornou-se inimigo mortal. Quando lhe virou as costas chegou a ouvir um insulto, mas preferiu ignorar. Sua missão era clara: procurar Anacleto e perto dele permanecer até o fim da reunião. Se conseguisse ser convidado para formar par no jogo de truco que fatalmente ocorria na confraternização logo em seguida estaria com a faca e o queijo na mão.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span><br />
<span style="background-color: white;">Quando Anacleto entrou ofegante no salão todo mundo imediatamente se virou. Ele estava com o paletó inteiro ensanguentado, mostrando com um corte profundo bem no meio da testa e um dos braços aparentemente torto, como que quebrado. Gritava: "eu mato aquele lazarento. Se ele aparecer na minha frente de novo, eu mato aquele desgraçado filho de uma égua".</span><br />
<br />
Apesar da comoção generalizada ninguém quis dirigir a palavra ao moribundo. Sem a vaga ideia do que havia acontecido e com seu objetivo em mente, Valdo foi ao encontro do velho. "Que se passou, Anacleto?", perguntou-lhe com o rosto consternado. "Tentaram assaltar sua mercearia, é?" Eis que o outro, aflito, respondeu-lhe: "qual o quê! Isso foi um maldito que tentou cortejar a minha filha. Não admito Paulinha de conversinha com outro cara por aí".<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-5911718480797362022012-06-14T11:45:00.000-03:002012-06-15T14:01:13.580-03:00Homem Aranha nunca mais<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="line-height: 24px;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Pedro sempre chegava ao trabalho como um zumbi. Todo escangalhado e com o semblante de quem não dormia direito há muito tempo. As xícaras de café , as cobranças do chefe e as piadas dos colegas eram suas companheiras durante o dia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Ele não se deixava abalar. Tirava tudo de letra, apesar das olheiras e da cara de cansado, ainda mostrava um sorriso. Até mesmo o apelido WD, de Walking Dead, que ganhou dos colegas da firma. Até imitava um zumbi quando ia buscar um café. A rapaziada se amarrava na imitação.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Porém, todos os dias era a mesma coisa. A cara de cansado, a brincadeira de zumbi, as piadinhas com Walking Dead, o café, as cobranças do chefe, enfim, a rotina. O que ninguém sabia, exatamente, é o que Pedro fazia a noite. Para uns ele era dançarino em uma boate. Para outros ele era usuário de drogas. Ainda tinham alguns que achavam que Pedro era uma desses ‘garotos de aluguel’.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY7DRA1zKS2VHjJeleulnufmcF3ICoDTJ2l9Vy8RUKfH2wF1SEiM7K78KuUR7UiLyWo9y8mA4X9KQTtL7wbzL4GgD94er3Z2BP5DRCFR7H5EVvrLbKMrMlqQ34DOUZ0ZTkRrTU/s1600/homem-aranha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY7DRA1zKS2VHjJeleulnufmcF3ICoDTJ2l9Vy8RUKfH2wF1SEiM7K78KuUR7UiLyWo9y8mA4X9KQTtL7wbzL4GgD94er3Z2BP5DRCFR7H5EVvrLbKMrMlqQ34DOUZ0ZTkRrTU/s320/homem-aranha.jpg" width="320" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Certa manhã, como tantas outras, Pedro chega ao trabalho e encontra os colegas gargalhando com o jornal do dia nas mãos. Pedro se aproximou para ver do que eles riam. Eles riam da manchete que mostrava o Homem Aranha com o uniforme rasgado nos fundilhos. Pedro fechou a cara e foi para sua mesa, sem dizer uma única palavra. Misteriosamente, depois daquele dia o Homem Aranha nunca mais foi visto e o crime tomou conta da cidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;">Fim</span></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03797642486018338510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-60534239863952343442010-11-09T18:00:00.003-02:002010-11-10T09:08:07.264-02:00A história de Nelson e LorenaTorcer por um clube de uma cidade, ou Estado, diferente da cidade da sua, é complicado. Ao ponto de alguns conterrâneos rechaçarem aqueles que torcem por times “de fora”. O que dizer do torcedor da Seleção Brasileira que sofre com a Canarinho jogando sempre longe de terras tupiniquins. Se bem que da mesma forma que os craques, ela foi tomada de “assalto” pelo$ euros. Mas isso é prosa para outro post.<br /><br />Vamos manter o pensamento aqui nesta Brasila mesmo, e olhar a situação de Nelson. Nelson é um cara tão comum, tão ordinário, que não desperta muito interesse assim a uma primeira vista. Ele vivia com os pais, tinha alguns planos, como passar o carnaval em Salvador, comprar um Playstation 3, trocar de carro, essas coisas. Sua grande paixão era a Portuguesa de Desportos. Sim era um fã da Lusa.<br /><br />Não era descendente de portugueses, o pai italiano e a mãe uma nordestina filha de pai holandês e mãe brasileira. Em se tratando de brasileiro até pode ser que alguma coisa de português pudesse aparecer em um exame mais detalhado. Mas o fato é que Nelson era um torcedor da Lusa, com direito a tatuagem e carteirinha de sócio do clube. Mesmo longe.<br /><br />Então numa bela tarde de sábado em Curitiba Nelson estava em um bar, desses com luz baixa e cardápio peculiar e público fiel. Neste dia estava quase vazio. Sentou junto ao balcão, pediu uma cerveja, um rolmops e perguntou para o sujeito que limpava o balcão, com um pano úmido que carregava no ombro, qual era o jogo da rodada. “Hoje tem Cruzeiro e Portuguesa”, disse o garçom que nem tirou o palito da boca para responder.<br /><br />Nelson devorou o rolmops em duas dentadas. Tomou a cerveja toda e pediu mais uma. Cândido, o cara do bar, percebeu o escudo da Lusa tatuado no braço esquerdo de Nelson. “Deve ser difícil torcer pra Portuguesa”, disse. Era que precisava para que os dois se enveredassem por uma longa prosa sobre futebol até o começo do jogo.<br /><br />De repente, não mais que de repente, entra no bar uma moça se acomoda em uma mesa perto da janela e com boa visão para a TV. Muito bonita, ruiva, cabelo curto, calça jeans, camiseta branca com uma jaqueta vermelha escura. Nelson olhou, tentou disfarçar, mas não conseguia desviar o olhar da moça. Cândido percebeu e puxou conversa com a moça, mostrou o cardápio e voltou a conversar com Nelson sobre futebol e sua curta carreira no Combate Barreirinha.<br /><br />O jogo começou e tanto Nelson, quanto a ruiva ficaram com olhar fixo na TV. Ele descrente na existência de outros fãs da Lusa, imaginou que a ruiva fosse uma torcedora da Raposa. Isso fez com que ele, pelo menos durante o jogo, prestasse mais atenção ao jogo da Lusa do que a ficar olhando para a bela senhorita da mesa perto da janela.<br /><br />Cruzeiro no ataque. A bola passa tirando tinta da trave. Nelson coloca as duas mãos na cabeça. A ruiva solta um “uhhhh”. Agora ele tinha certeza que a moça era uma mineira e que estava ali “vuduzando” a sua Lusa. O clima no bar ficou pesado. Nelson evitava olhar para a moça. Ela agia como se o gajo não estivesse ali.<br /><br />Cândido chega com o pedido da moça. Uma cerveja, uma porção de amendoim, um rolmops (pasmem!) e uma porção de fritas com bastante bacon. Nelson ficou de boca aberta com o apetite da moça. Mas logo lembrou que ela era uma inimiga, e que se fosse para ficar ali secando a Lusa, ela que procurasse outro bar.<br /><br />Lusa no ataque. Nelson se levanta, Cândido se estica no balcão para ver melhor o lance. A ruiva aperta com força um guardanapo na mão direita. O camisa 7 da Portuguesa acerta a trave do goleiro mineiro. Novo ataque da Portuguesa, o beque cruzeirense faz falta na entrada da área. Novo momento de tensão no bar. Nelson cruza os dedos. Ela não fala nada, mas mexe os lábios como quem diz: agora vai agora vai. Atrás do balcão, Cândido coloca o pano no ombro esquerdo. Parece estar torcendo para a Lusa.<br /><br />O zagueiro da Lusa toma pouca distância, mesmo assim solta uma patada. A bola passa no meio da barreira. O goleiro da uma triscadinha na bola. A pelota, caprichosa, acerta o travessão, quica em cima da a linha, volta no travessão e morre no fundo da meta cruzeirense. Nelson grita, Cândido vibra rodando o pano sobre a cabeça e a ruiva bate palmas e diz “é isso ai Valdir” “solta a pancada mesmo” “luusaaa luuusaaaa”.<br /><br />Nelson se toca que a ruiva também torce pela Portuguesa. E não era só isso. Além de linda, ela tomava cerveja, comia rolmops e pelo visto ainda adorava bacon. Ele investiu no flerte, ela correspondeu. Dias depois ela já não era só a ruiva do bar do Cândido, agora ela era Lorena. Casaram e hoje vivem juntos em Florianópolis, onde ganham a vida com a padaria que abriram.<br /><br />Cândido conta até hoje para seus clientes a história de amor que viu nascer dentro do seu bar. Ele também faz questão de lembrar que o jogo terminou 4 x 1 de virada para os mineiros, mas isso não importa. Afinal, diante do amor o que mais importa!?<br /><br />Fim<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]-->Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/03797642486018338510noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-50681311990636747322010-09-09T09:35:00.000-03:002010-09-09T09:35:02.198-03:00Divago<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13px;"> <div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Ando muitíssimo autocrítico ultimamente. Autocrítico e impaciente. Apago sem dó nem piedade, sem reler ou pensar duas vezes. Este texto, por exemplo, já foi um conto de quase três mil caracteres. Entediei-me e o apaguei sem sequer tentar um final repentino e macabro, características outrora tão marcantes na minha obra.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">(Na minha obra? Que m...!)</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Não sei bem o que ocorre. Ansioso sempre fui. Cético, crítico e impulsivo também. Será que já não escrevo mais como antigamente? Será que a obrigatoriedade de escrever – ossos do ofício – tirou-me aquela boa e velha gana de ousar? Tenho medo de parecer exagerado ou simplista demais. Sofro só por imaginar uma crítica a um conto breve ou comprido demais. Talvez essa exposição ao público real (aleatório e de diferentes culturas) que passei a ter ao me tornar efetivamente jornalista tem me dado arroubos de autoconsciência.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Deus, perdoai-vos. Eles não sabem o que fazem quando me criticam.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Tenho dificuldades com as críticas, admito. Não consigo vê-las como uma forma de crescimento. Absorvo-as e isso machuca minha própria honra. Mas pior que as críticas vindas de terceiros são as autocríticas – e já disse que nunca fui tão autocrítico na minha vida. Essas ideias que cada um tem de si mesmo são sempre as mais verdadeiras, são a certeza de que a pessoa necessita mudar alguma coisa e só não sabe por onde começar. Porque, afinal, se soubesse não se puniria e mudaria de uma vez.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Mas divago. Disse um sábio certa vez, acho que Sêneca, que nos grandes arroubes de eloquência há mais ruído que sentido. Não vou ficar me julgando nem me penitenciando em público. Já sofro demais dentro da minha própria cabeça. Estou num período de transição que por mais que já tenha durado um tempo relativamento grande trará bons frutos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Ou não.</div></span></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-51863816620063035942010-08-16T22:52:00.000-03:002010-08-16T22:52:26.657-03:00Ensaio Sobre o PânicoAgora que o blog infelizmente virou uma bagunça institucionalizada, o pessoal passou a fazer reclamações formais. Um ser, porém, foi mais enfático e menos ranzinza: André Godinho, que, para provar que mostra a cobra AND o pau, escreveu um breve ensaio. Deleitem-se.<br />
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Nessa oportunidade de aparecer neste blog, dada pelo dileto Maycon o Dimas, proponho-me a escrever pensamentos não concisos que me atormentaram nessa manhã.<br />
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A pós-modernidade não é nada senão um projeto inacabado. Eu mesmo, aqui, desafiando a importância da meritocracia, coisa que nos degrada e que só a internet nos permite fazer, quero tratar de dizeres sobre o pânico.<br />
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Com mais delongas, penso no aspartame VS Omega3; o primeiro adoça e o último é amargo, mas fazem papéis inversos, na medida em que o doce esconde o câncer e outro cura até inflamação. Nem no café da manhã dá pra livrar-se dele, aquilo que tem mil e nenhuma face: o medo. Em anexo vai o meu currículo. Brincadeira, não sei nem o que fazer no café da manhã!<br />
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As coisas são o que são em si e também o são em potencial, esse é o conceito ontológico que Aristóteles propõe. Tenho me valido desse conceito para sobrevivência, diferenciar do que é bom e pode ser ruim. A vida pós-moderna é a mais primitiva de todas, salve-se quem puder, antes eu do que nós.<br />
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Semana passada no café da manhã assistindo TV fiquei apavorado, vendo o inútil esforço de nosso presidente para tentar livrar uma mulher de ser apedrejada no Irã. O aspartame de imediato amargou e me tomou de câncer; Ok, a cultura é inimiga da lógica, mas o que temos visto no Irã não é em absoluto cultura. São más interpretações do dizeres do profeta, que não são os dizeres de deus e que estão no Corão.<br />
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Pra entender melhor essa locura temos que ver uma faceta do medo, a sua instrumentalização na política: “rapai se uma muié chifra um caboclo e é apedrejada, eu num me meto com esse presidente!”. É por ai.<br />
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Queria ser um bom escritor, só por agora, porque nem mesmo escrevo, pra tentar passar um pouco de pânico ao leitor. Mas acho que não é preciso; o caos dá conta de fazer.<br />
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O negócio mesmo é seguir com a correnteza, nada de ler Kafka e deprimir-se. Vou pro Barigui xavecar e escutar um funk. E, quem sabe, arranjar uma boa briga.<br />
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“Ontem sonhei que estava num dojo e o sensei pediu pra que eu dormisse. Sonhei dentro do meu sonho. Lá estive seguro. Foi então que a corrente reflexiva desfez-se e quando acordei adocei o café, apavorado, nessa arena ocidental”. <br />
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</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-42433601529101933922010-07-15T12:22:00.000-03:002010-07-15T12:22:29.955-03:00A VisitaCreditavam a ela o título de mais devotada carola daquela instância. Ia à igreja todos os dias, sem exceção, às vezes em dupla jornada. Fizesse chuva ou sol ela ajudava na missa, na quermesse e no que mais fosse preciso, sempre com um largo e sincero sorriso no rosto. Diziam ser feita para aquilo, e que só não era freira pura e simplesmente por falta de nominação.<br />
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Não havia qualquer tipo de suspeita sobre a índole da moça. Houve quem dissesse, no começo, que ali tinha algum tipo de interesse, fosse no padre ou no dinheiro da igreja. O fato é que o pároco responsável já mudou mais de uma vez e a saúde financeira do pai dela não deixava resistir qualquer tipo de suposições. Era uma devota e ponto, daquelas bem à moda antiga.<br />
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Certo dia, numa terça-feira como qualquer outra, ao sair de casa para a igreja ela encontrou um homem de camisa branca e gravata parado junto ao seu portão. Mesmo de lado era possível perceber que ele era alto, de rosto bonito e nada ameaçador. Mesmo assim a moça freou por um instante, apreensiva. Aprendera a temer aproximações repentinas, sobretudo de homens, estivessem como estivessem vestidos. Não que tivesse medo – os ensinamentos da bíblia dizem para amar ao próximo como a si mesmo –, mas a vida mostrara-lhe que cautela no convívio social nunca é demais.<br />
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Ela aproveitou que lá fora o homem ainda olhava em volta para dar um passo atrás. Escondera-se atrás de um arbusto, já fora do campo de visão de quem estivesse na rua, para pensar no que fazer. Nessa hora ele virou e ela pôde ver seus olhos, azuis como o céu e bondosos como o de um filhote de labrador. O homem pôs algo embaixo dos braços e suavemente bateu palmas.<br />
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A moça sentiu-se mais tranquila com a aquela atitude. Fosse pelo que ele botara debaixo do braço – “possivelmente uma pasta, já que ele nada mais é do que um homem de negócios”, pensou – ou pela sinceridade daquele olhar resolveu atendê-lo sem chamar ninguém para acompanhá-la, algo que fazia com frequência. Levantou, livrou-se duma imaginária poeira e caminhou lentamente na direção do portão. Chegando lá percebeu que se enganara. No distintivo que ele carregava no peito dizia “Brother Sílvio”. Ele, ao vê-la, começou:<br />
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- Bom dia, irmã. Eu sou o Irmão Sílvio e aquela é a Irmã Jurema. Nós somos Testemunhas de Jeová. Será que podemos ter um minuto da sua atenção?Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-56818084685485571462010-06-15T10:10:00.000-03:002010-06-15T10:10:14.738-03:00Neologismos: frufruzarFui comprar bolacha hoje cedo. Depois de inúmeras e infrutíferas investidas nas farmácias, supermercados e até bancas de jornal da vida só consegui chegar a uma conclusão: o que raios aconteceu com os produtos comuns? Tudo o que eu queria era um simples pacote daqueles biscoitos de aveia, com uma castanhazinha ou duas talvez, e tudo o que encontrei foram dezenas de diferentes sabores, um mais estrambólico que o outro. Para se ter uma ideia, o sabor mais próximo do comum era frutas cítricas.<br />
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Frutas cítricas numa bolacha de aveia? O que raios aconteceu com os produtos simples e honestos?<br />
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O pior é que percebo que este padrão se repete em outros segmentos. Vejamos, por exemplo, o papel higiênico. Antes eram duas opções: o comum e o <i>frufruzado</i> de folha dupla. Hoje, não. Papel higiênico hoje tem perfumado, com hidratante, sem picote e até sabor lavanda! Quem é que gosta de lavanda, afinal de contas?<br />
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E qual é o problema com as coisas comuns? Outro dia fui comprar uma jaqueta e não achei uma (UMA) que não tivesse bolso no sovaco, zíper na horizontal ou uma bendita pochete acoplada. Não existem mais blusas planas, sem estampa, sem <i>frufru</i>. Tudo bem que neste caso estamos falando de moda, moda é feita para gostos diversos e gosto definitivamente não se discute. Só que a <i>frufruzência</i> está generalizada. Papel A4, por exemplo, que é aquele papel simples, para imprimir, uma coisa que é tão melhor quanto mais branca e plana for, tem atualmente dezenas de diferentes opções. E tudo não passa de... papel! Uma coisa branca que a gente pode escrever em cima. Pra quê <i>frufruzar</i>?<br />
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Posso parecer arcaico, mas tudo o que quero é um pacote de bolachas de aveia com castanha. E só.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-53139974928946278582010-05-28T11:52:00.000-03:002010-05-28T11:52:41.094-03:00Alienação paz-e-amorAcho que nunca fiquei tanto tempo sem ler jornal. Nem na internet tenho acompanhado os highlights da vida cotidiana. Para quem já teve época em que lia três ou quatro jornais diferentes por dia – por obrigação meramente profissional, é verdade, mas mesmo assim... – não estar lendo nenhum é um grande retrocesso. E quer saber? Não sinto falta alguma.<br />
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Claro que numa mesa de bar, quando me perguntam o que achei da última do presidente ou sobre o aumento do seguro-desemprego na Tanzânia, não saber absolutamente nada sobre nada é vergonhoso. Mais: denigre a imagem que tinha, sobretudo com os amigos antigos, de ser sempre o mais atualizado. São escolhas da vida, e sobre escolhas e renúncias todo mundo já sabe bem (viva os chavões).<br />
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Jornal é uma coisa chata. Qualquer pessoa que já tenha lido um sabe disso. São as mesmas reportagens todos os dias, só mudam os nomes, números e uma ou outra curiosidade. Além disso, para achar notícia boa naquele calhamaço de folhas diário o leitor precisa ser um verdadeiro garimpeiro. Encontrar notícia alegre em jornal é como achar caixa-preta de avião francês em mar de desgraça brasileira.<br />
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Minha fonte de informação ultimamente tem sido os difamados e famosos blogs de humor, com sua total imparcialidade e falta de seriedade. Ou seja, só estou a par daquilo que pode ser gozado (no bom sentido, ou no mal, ou... sei lá!). Se tem piada, eu sei; se não tem, desconheço e desprezo.<br />
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A parte boa disso é que me preocupo menos com o futuro da nação. Não que isso seja uma boa forma de levar a vida, mas infelizmente é socialmente aceitável. Quando de nada se sabe, sobre nada é preciso opinar – e mais facilmente num mundinho cor-de-rosa. Acho que é por isso que tanta gente escolheu este <i>way of life</i>.<br />
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Não estou orgulhoso desse comportamento. Socialmente aceitável para mim é sinônimo de alienação, e alienação é desprezível. Entendo esta fase, porém, como uma temporada de férias, um afastamento momentâneo das mazelas do mundo. Coisa passageira, por certo. Não sendo, pior para mim, melhor para o mundo.<br />
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Enquanto isso aproveitem um Maycão paz-e-amor – porque quem não sabe o que está acontecendo não tem com o que se preocupar.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-39615190930186923972010-05-25T11:10:00.000-03:002010-05-25T11:10:48.119-03:00Vida longa ao YordaNinguém sabia ao certo como nem quando Yordanov fora contratado. A família Silveira, há várias gerações abastada, tinha o costume de manter seus criados por décadas, até a morte ou a aposentadoria – nem o atual patriarca da família, porém, sabia dizer quando o africano com ascendência iugoslava entrara para o quadro funcional. Registros, não havia; fotos ou pinturas com familiares mais antigos, tampouco.<br />
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Isso passara desapercebido por anos e anos a fio, até que no último fim de semana, durante o chá das cinco, a pequena Clarissa fez a pergunta: “Mamá, quando foi que o Titio Yorda entrou para a família?”<br />
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O desconforto foi geral. Apesar de jamais comentado, a longevidade do funcionário era um assunto que intrigava a todos. A fim de despistar a infante, Mamá disse que Yordanov fora contratado garoto, ainda no tempo do Papá Justino, mesmo sabendo que isso não tinha qualquer possibilidade de ser real: Papá Justino havia morrido há cerca de 15 anos, e em suas memórias existe várias citações sobre os aconselhamentos do “sábio Yorda”.<br />
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Foi convocado uma reunião geral para discutir o assunto. Todos os Silveira deveriam estar presente, do mais velho ao mais jovem, do mais próximo até aquele que havia anos exilara-se no Turcomenistão tocando o braço asiático dos negócios da família. Partindo do pressuposto que todos os familiares possuíam seus aviões particulares, o encontro fora marcado para dali a apenas dois dias.<br />
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O local escolhido foi o Palácio Tenório Silveira II, também conhecido como Palácio Real, só usado para velórios, recepções de famílias reais e reuniões acerca de crises econômicas mundiais (notadamente o crack da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929). O casarão era tão pouco usado que Marco Aurélio Silveira, recém-ingressado na faculdade de Economia da USP e exímio tocador de Bandolim, jamais havia adentrado o local.<br />
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No dia do evento até a Polícia Militar foi mobilizada. A quantidade de Silveiras presente era tanta que o tráfego na Avenida Paulista, único caminho por terra para o Palácio Real, teve que ser alterado. Todas as pistas foram liberadas e os sinaleiros cuidadosamente programados para que se mantivessem verdes durante a passagem das centenas de limusines que chegavam para o grande encontro. Pelo ar, dezenas de helicópteros faziam fila para pousar num dos quatro heliportos do Palácio.<br />
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Quando todos estava devidamente instalados em suas cadeiras no salão principal (onde, aliás, fora enterrado o próprio Tenório Silveira II), deu-se início de fato o encontro. Após o discurso de abertura, proferido por Tito Silveira, prolífico e barítono, Garvásio Silveira pediu a palavra. Ele era o responsável pelos Recursos Humanos da família. Enquanto ele se punha no púlpito e se preparava para discursar, entretanto, um estrondo veio da porta e chamou a atenção de todos. Era Yordanov:<br />
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– Desculpa a intromissão, senhor, mas eu só queria servir suco a todos os presentes.<br />
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O suco de Yordanov era famoso por acalmar os nervos, dar disposição e limpar o organismo, além de ajudar no emagrecimento e dar mais capacidade mental. Assim que todos estavam munidos de seus copos, um grande brinde foi proposto e a reunião rapidamente se dispersou. Ninguém se importava de não saber como nem desde quando Yordanov estava na família, desde que ele continuasse sempre servindo seu suco em toda e qualquer circunstância.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-57351122128593860852010-05-13T11:34:00.000-03:002010-05-13T11:34:57.948-03:00Apequenação ou soberba?O sucesso de uma empreitada é proporcional à quantidade de atenção a ela dedicada. Esta velha máxima vale para tudo na vida, das relações interpessoais aos planos de carreira, da reforma do apartamento ao planejamento de uma viagem. No futebol não seria diferente.<br />
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O sucesso em um campeonato é proporcional à dedicação dos jogadores a cada partida. Um time que se dedica todo jogo chegará ao final do certame campeoníssimo, coisa que fez o São Paulo no tri 06/07/08. Um time que se dedica somente durante meio campeonato depende da não-dedicação de todas as outras equipes para sair vencedor, coisa que fez o Flamengo no ano passado.<br />
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Coisa que o Flamengo vez fazendo, aliás, há mais de dez anos.<br />
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Eu, do alto das minhas duas décadas de vida, nunca vi o Flamengo ser campeão de alguma coisa com relativa antecedência. O time sempre deixa para o final, valendo-se do lema “deixou chegar, fo**u”. Eu me pergunto: precisa ser assim? Precisa levar as emoções da Magnética sempre ao limite? A resposta é não. Um grande e sonoro não.<br />
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O Flamengo tem time para vencer qualquer time do mundo. Dirão os mais exaltados que estou exagerando, mas qualquer análise um pouco menos fanática chegaria na mesma conclusão. O goleiro é falastrão, mas pega bolas impossíveis (quando quer). A zaga já foi considerada impenetrável há menos de um ano, e o garoto David é capaz de anular qualquer atacante que está por aí (quando quer, vide jogo do último fim de semana). Maldonado e Kléberson são jogadores de seleção, que arrebentam quando querem. Willians foi o maior roubador de bola do último Brasileirão; já provou que pode ser um excelente jogador (quando quer). Os laterais têm em seu portfólio partidas excepcionais, mesmo que sejam apenas esporádicas (ou seja, quando eles querem). Adriano já resolveu jogos até para a seleção brasileira, e Vágner Love pode ser um monstro (quando quer).<br />
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Reparou no que sempre se repete quando se fala destes jogadores? Sim, quando eles querem eles podem ser fenomenais.<br />
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Por que, então, tanta preguiça? Por que deixar sempre tudo para a última hora, para a cobrança de falta do Pet aos 43 do segundo tempo? Seria excesso de soberba, um sentimento mesquinho de que podem ganhar a qualquer hora? Um sentimento – idiota, aliás – de que basta os caras combinarem uma jogada ali no meio-campo, na hora, que o gol sairá? Seja o que for, não consigo entender.<br />
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Perder para o campeão chileno em casa numa Libertadores não é vergonhoso. Perder jogando bisonhamente para qualquer time do mundo é vergonhoso. O Flamengo ontem foi tosco, foi pequeno, medroso. Fosse um XV de Jaú no lugar do Universidad de Chile e o resultado seria igual. Não houve combate nem pegada. Não houve sequer violência, demonstrando irritação por estar perdendo de forma tão estúpida. Seria entendível se fosse um amistoso de pré-temporada, não um jogo de quartas-de-final de Copa Libertadores da América.<br />
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Confesso que nunca vi um time entrar em campo com quatro volantes, sobretudo jogando num Maracanã lotado. E se tivesse visto, garanto com certeza que este time não estaria perdendo de 2 a 0 com menos de meia hora de partida. Foi ridículo, vergonhoso e irritante. Sorte que tem a partida de volta e flamenguista é bicho ruim: não abandona o time nunca.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-14347088598195447072010-05-12T09:57:00.000-03:002010-05-12T09:57:12.068-03:00O Dunga é medrosoCoerência. Ô palavrinha sem-vergonha. Eu tento ser um cara coerente todo o tempo, na vida, nas atitudes e até no jeito de me vestir. Pessoas coerentes são confiáveis. Elas raramente surgem com alguma surpresa desagradável, raramente têm alguma mudança de humor repentina. Todo mundo deveria ser coerente. Todos, menos o técnico da seleção brasileira de futebol.<br />
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Não há nada de errado em querer formar um time. Sempre concordei com o Dunga nesse quesito. Ter um time é ter o controle da situação, é ter a confiança de um grupo e a certeza de que qualquer que seja sua ordem ela será atendida. Só que a convocação de ontem mostrou uma característica do nosso comandante que era talvez a última que alguém poderia dele esperar: medo.<br />
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Sim, medo. Dunga teve medo de arriscar. Medo de perder o controle da família que ele formou. Medo de chamar Ganso e Neymar e eles, sob a tutela de Robinho, o fazerem perder a liderança conquistada. Claro, porque liderança carismática é muito mais eficiente e aceita do que liderança imposta pela força. Ou alguém aí acredita que o Dunga tem um pingo sequer de carisma?<br />
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É só ver que o time do Anão não tem nenhum jogador fanfarrão, tirando o mala do Robson de Souza. Não tem nenhum Romário ou Denílson ou Júnior Baiano ou mesmo Ronaldinho Gaúcho; nenhum cara que puxe a roda de samba e seja capaz de puxar coro contra o sistema. Tem o Robinho, sim, mas parece claro que eles combinaram que na presença de Dunga o ciclista precisa baixar a bola. Todos os convocados para a Copa são pechas do comandante.<br />
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Isso pode funcionar, e espero sinceramente que o faça. Não que esteja torcendo pelo sucesso do Dunga – coisa que admitidamente fiz lá pelos idos de 2006 –, mas pelo hexa do Brasil. Sou torcedor à moda antiga, que não abandona o time nem sob a tortura da derrota para Argentina. Desconcordei com várias peças do elenco, chamadas ou faltantes, e fiquei absolutamente desapontado com a covardia do treinador, mas Brasil é Brasil e eu só deixaria de torcer pelo nosso país num hipotético jogo contra o Flamengo.<br />
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Vitor; Léo Moura, Alex, Miranda e Marcelo; Hernanes, Lucas, Ganso e Ronaldinho Gaúcho; Adriano e Neymar. A seleção convocada contra esse time que está aí: quem leva?Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-40983077365907872452010-05-11T11:18:00.000-03:002010-05-11T11:18:16.898-03:00Convoca, Dunga!Que rufem os tambores! É hoje que sai a convocação da seleção para a Copa, finalmente. É a mais esperada convocação de todos os tempos, até porque toda Copa do Mundo que está por vir é sempre a mais esperada de todos os tempos. E tendo Dunga como técnico não ajuda em nada.<br />
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Ele convocou nada menos do que 89 jogadores de 2006 para cá. Vestiram a amarelinha nomes como Afonso Alves (titular absoluto em algumas partidas, hoje no Qatar), Hulk (atacante do Porto, que só ouve falar quem acompanha o campeonato português bem de perto) e Fernando Menegazzo (quem?). Sem contar com Gilberto Silva e Josué, craques de outrora e que muito provavelmente estarão na lista de mais tarde, mas que nem sempre são titulares em seus times na Grécia e na Alemanha.<br />
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Alguns chamam isso de coerência, de padrão, de confiança. Eu chamo de burrice. Tudo bem que um time de futebol precisa ser uma equipe, todo mundo se conhecendo só de olhar e aquela ladainha toda. Mas também é preciso levar em conta que para ser campeão do mundo é necessário vencer apenas sete jogos. Sete. Quem joga pelada sabe que se você botar todos os caras da turma que sabem jogar bola no mesmo time será goleada na certa. Faça isso a cada jogo e você terá um time campeão.<br />
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Sem falar que só temos jogadores estrangeiros. Tirando um ou outro potencial reserva, mais conhecidos como Kléberson e Adriano (que devem estar de joelhos neste momento, rezando para o Dunga manter sua burra coerência e convocá-los), nossos players todos jogam no exterior. Numa boa: que graça tem isso? A sorte da CBF é que o povo brasileiro é um povo metido, que adora se exibir para os anglo-saxões. Nada melhor para nós, terceiro-mundistas, do que ser campeão do mundo com os melhores jogadores das ligas deles, primeiro-mundistas. Papo sociológico, enfim.<br />
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Já falei e vou repetir: quando eu for presidente do Brasil, minha primeira medida provisória (não se faz lei neste país do provisório) será a obrigação de todo jogador da seleção brasileira atuar em solo tupiniquim – logo depois de autorizar o SUS a fazer implantes de silicone, mas isso fica para outro texto. Sim, para jogar no Brasil só jogando no Brasil. Isso vai ser melhor para todo mundo. Explico.<br />
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Jogar na seleção é uma honra, ou pelo menos assim deveria ser. Ser convocado é o ponto máximo da carreira de um jogador, e ser convocado para a seleção brasileira é o ponto máximo do ponto máximo da carreira de um jogador. Logo se vê que basta um brasileiro se naturalizar em outro país para jogar na seleção deste. Sendo assim, só jogará na seleção aquele que realmente quiser. Você, jogador, pode sair do país, ficar rico jogando no Barça ou nos Emirados Árabes, mas esteja ciente de que daí nada de seleção para você. Ou a glória pessoal de vestir a camisa amarelinha ou a satisfação pessoal de encher as bufas de dinheiro. Escolha.<br />
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Desse jeito só ficarão por aqui aqueles que sentem orgulho de ser lembrado pelo técnico do Brasil. Poderemos não ter a mais forte das seleções, com Kaká, Juan ou Dani Alves, mas teremos somente jogadores que vestirão a camisa com um orgulho pirata e farão de tudo para representar o país da melhor maneira possível. Não estou insinuando que estes craques não dão o melhor de si quando jogando pelo Brasil, mas que se precisar tirar o pé para evitar uma lesão que poderá fazê-los perder algum contrato eles o farão sem o menor pudor.<br />
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Não é desse tipo de jogador frutinha que o Brasil precisa. Não precisamos de Adriano, craque mas que corre para chorar no colo da mamãe toda vez que não é lembrado. A seleção precisa de gente que dá o sangue, que se machuca, que não liga para o que pode acontecer depois, que vive só para a vitória aqui e agora. Cada jogo é uma batalha, cada jogo é uma final. É disso que o Brasil precisa.<br />
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Vágner Love neles.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33820956.post-48038125459148111362010-05-06T09:37:00.003-03:002010-05-06T09:38:38.376-03:00Flamengo campeão da Libertadores 2010<div>Regozijai-vos, novos senhores da América. Depois de uma primeira fase menos que mediana, o Flamengo buscou forças no Olimpo Oitentista para se reestruturar e finalmente reconquistas a Taça Libertadores da América. O caminho, porém, não foi dos mais fáceis.</div><div><br /></div><div>Depois de uma primeira fase pífia, com nossos players jogando como se fosse um carioqueta qualquer, houve uma mudança de mentalidade a partir das oitavas de final. Mais precisamente a partir do intervalo do segundo jogo contra o Corinthians, no Pacaembu. E aí, já sabe: deixou chegar, agüenta.</div><div><br /></div><div>Neste jogo o time foi aos vestiários para o intervalo de cabeças baixas, perdendo de 2 a 0 e com atuações abaixo da média. David, esse monstro que na final de ontem só faltou rugir, havia feito gol contra e deixado Ronaldo livre para marcar. Quem diria!</div><div><br /></div><div>No intervalo o mão santa Lourenço sacou um apagado Vinícius Pacheco para dar uma chance ao bicampeão do mundo Kléberson. Exatamente o que o Xaropinho precisava para chamar a atenção do Dunga pouco dias antes da convocação.</div><div><br /></div><div>Ele entrou e deu nova cara ao time. Marcava, puxava contra-ataques, dava bons passes... Foi dele o toque sutil para o gol salvador de Vágner Love (outro monstro). Mas o mais importante nessa volta do vestiário foi a mudança de atitude de todos os jogadores. Eles entraram com mais garra, mostrando vontade de vencer. Bruno que é o Bruno deu um tempo com suas ceras infindáveis, apesar de ter tomado amarelo. O Juan dava botes inacreditáveis para um rapaz daquele tamanho. Até o Adriano resolveu jogar um pouquinho, pra variar – mas só um pouquinho, bem pouquinho.</div><div><br /></div><div>A partir daí foi aquela velha história. Deixaram o Flamengo chegar, fica difícil de segurar. As quartas foram moleza, contra o cheio de soberba Universidad de Chile. Eles acharam que poderiam anular nossos guerreiros tal qual fizeram durante a primeira fase. Ledo engano. No mata-mata não tem pra ninguém: o Mengão doutrina. O 4 a 0 no Maracanã foi pouco.</div><div><br /></div><div>A semi, contra um desinteressado Chivas, só não foi mais fácil porque a fácil passagem pelas quartas-de-final deixou os jogadores com o velho salto alto. A derrota no primeiro jogo foi importante para restabelecer a mentalidade do sapatinho-mor – o culminou com uma acachapante vitória no campo dos ticanos.</div><div><br /></div><div>Ontem foi inacreditável. Ninguém esperava um Estudiantes tão mole no primeiro jogo, ainda mais após terem vencido o Cruzeiro de forma tão humilhante. Os 2 a 0 do Mengão foram pouco e o sofrimento na grande final foi até o último minuto. Graças a Zeus os russos deixaram nosso artilheiro do amor ficar e graças à favela onde ele cresceu que o cara é tão flamenguista. Aquele gol foi de explodir corações, de desestabilizar estruturas. Valeu Love, valeu Mengão. Agora é rumo ao bi do Mundial.</div><div><br /></div><div>*Eu sei que pode parecer um pouco pretensioso da minha parte, uma confiança exagerada, mas Nostradamus falou comigo durante um sonho. Nunca estive tão certo de uma profecia.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/00031009742200126248noreply@blogger.com0