segunda-feira, 16 de abril de 2007

Dois – Outra Versão

Releitura feita por Maycon Dimas, numa situação onde o homem já não está sóbrio, porém ainda não está bêbado. Pelo menos no começo:

- Apartamento.
- Uma casa, e no campo! Mas de frente para o mar, meio, assim, híbrido sabe? Imagine aquelas janelas esverdeadas, grandes, com uma rede pra poder deitar e passar o dia só olhando. [gole] Aquelas casas que você vê no morro quando está na areia de Ubatuba, tomando sol. Nunca se sabe de quem são! E a gente fica imaginando: ora, como será que eles chegam até lá?
- Azul.
- Ah... cor é um negócio meio assim, assim. Aqueles dias que eu acordo meio triste, eu gosto de uma roupa preta, porque não quero chamar muita atenção [gole]. Mas quando eu sonho só com coisa boa visto logo aquela jaqueta amarela que é pra todo mundo me ver! É incrível, parece que todo mundo quer conversar com você daí. [gole, babando] Mas a parede do meu quarto é azulzinha, tipo azul-calcinha.
- Salada.
- Ah, sai fora. Bom é porcaria [gole]. Sempre que dá, eu vou no mequi, peço uns dois números de cara e mando ver [gole]! Mas pra domingo não tem nada melhor do que aquele churrascão na casa do tio Mário. Todo mundo tem um tio Mário. É sempre aquele tio que conta as piadas, que se suja todo fazendo a carne. Aquele tio que todo mundo queria ser mas não tem coragem [gole]. Mas vamos combinar, hein?: nada melhor que aquele arrozinho com feijão da vó, hummmm! [gole]
- Frango grelhado.
- Ah não! Bom mesmo é aquela costela bem gorda [gole]. Garçom, outra gelada aqui! Aquela costelinha de porco, costela borboleta. Você já comeu no Tobias? Nossa, lá é maravilhoso! Se você pede costela gorda ela vem com aqueeeela capa branca...
- Credo.
- [gole] Haha[engasgo]hahaha...
- Balada.
- Obrigado, chefia. Quê? Balada? Bah, que nada. Bom mesmo é bar, olha isso [gole]. Olhe em volta, veja as pessoas felizes. Não tem nada mais sociável do que a cerveja [gole]. Você vem aqui e faz amigos, muito amigos. O cara do balcão, o garçom, os malucos da mesa do lado. [gole, O gole] Ah, isso sim que é vida.
- Gato.
- Ui, odeio gato [gole]. Na verdade eu tenho medo. Uma vez um primo me jogou um gato que me arranhou a cara; Daqui até aqui, ó [sobre a mesa], tá vendo? Foi sinistro, quase pegou no meu olho [gole]. Mas animal? Deixa eu ver [gole pra pensar]. Acho que eu gosto dos tubarões. Pensa comigo: aqueles bichos não dormem, são sanguinários e sociáveis. De certa forma eles têm um charme [gole]. Sabia que os tubarões não podem parar porque senão falta ar? É, eles respiram com a pele, têm que ficar sempre se mexendo [vira o copo, enche o copo, deixa vazar, tira o rótulo].
- Gatos são espertos e charmosos.
- Tubarões comem gatos. E os donos dos gatos se estiverem juntos.
- É, e correm atrás do próprio rabo. Hahaha...
- [gole, baba] Que nada. É só uma forma pitoresca de nadar.
- Ok, não muda de assunto. Caipirinha.
- Sai fora, cerveja é o canal [vira o copo, outra vez].
- Chocolate.
- X-qualquer-coisa, bem gordurento [gole, arroto contido]. Bem porco, tipo aquele da lanchonete Xiang perto da faculdade. Chocolate só se for branco, e olhe lá. Isso é coisa pra meninhas [vira o copo, mais uma vez]. Ô colega! traz mais uma aí.
- Wolverine.
- Wolverine é massa. Mas quando eu era criança eu era o Jaspion [hic, opa!]. Sei lá porque, ele parecia mais forte [gole]. Ele crescia, lutava contra robôs [faz robô, derruba garrafa]. Sei lá. Mas dos X-man? deixa ver... Aquele das cartas, como é que é nome dele mesmo? [gole, arroto] Desculpa. Eu não lembro, como é que é o nome? Sei lá, desisto. Segue o baile.
- Cordel do Fogo Encantado.
- Você é estranha [gole]. Esses caras dessa banda são uns macumbeiros. Aquele nomes estranhos que eles dão pra músicas: O Teclado Escondido da Maria Joaquina OU [exclamação, mão nas costas do garçom, não, não é nada, acertei sem querer], OU A Silhueta Perfeita do Fantasminha Camarada. Eles são sinistros! [gole] Presta atenção: quem é que dá dois nomes pra uma mesma música e ainda escreve no encarte dos cds?! E esses nomes ainda, fala sério [enche o copo]. Garçom, traz mais uma. Como acabou? Que bar é esse que acaba a cerveja?! Cacete. Então me vê um conhaque. Mas me manda um bom, tipo um Hennessey. E com gelo [vira o copo, põe na bandeja]. Do que a gente falava mesmo? Ah, banda né? Então... Eu gosto de uma pegada mais ácida, umas bandas gringas, sabe? Sei lá, Foo Fighters, sei lá. É, Foo Fighters mesmo.
- Friends.
- Puuutz, Friends é ótimo! Obrigado garçom [mexe o gelo]. Lembra aquele episódio que a Phoebe recebe aquele irmão estranho dela? "Eu gosto das coisas que derretem – e não gosta do que? – das coisas que não derretem", hahahaha! [golão no conhaque] Tsc, ahhhh, esse é dos bão! O verdadeiro uísque brasileiro.
- Tv e novela.
- Nuuunca [gole, soluço]. Eu jogo video game, computador. Sou descolado [gole, gole, soluço, gole]. Mais um desses, garçom. Agora eu to viciado naqueles poquer de internet. Nossa, é muito bom. Pena que fica difícil de blefar, mas eu to muito bom. Sabe que blefar é como um arte, né? Você tem que passar toda a confiança de quem tá falando a verdade, mas na real tá mentindo! Eu sempre jogo lá em casa – obrigado, xará – com a minha mãe e tal. Eu fico com pena de blefar com eles, mas jogo é jogo. Eu minto mesmo [gole].
- Mário Bro's.
- Haha... Velhos tempos! Hoje em dia é só Winning Eleven, mulher [gole]. Esse jogo é animal. Eu sei de uma história que os caras que inventaram são tipo deus lá no Japão. Tá, não sei se e verdade isso, mas se eu conhecesse os caras eu ia criar uma igreja pra eles [gole]. A Igreja Quadrangular do Triângulo Redondo, hahahaha!
- Por que você riu?
- Do Mário Bro's, vai, continua.
- Seu bobo. Orkut.
- Olha que coisa mais fútil. Orkut é coisa de quem não tem o que fazer, que fica mandando recadinhos [gole]. E odeio quem fala "scraps". Ai, te mandei um "scrap" e você não respondeu. Ai, ai, "scrap", "scrap". Isso é uma putaria. É recado, tá escrito recado lá e pronto, cacete [golão]. Caraca, vou mijar.
Minutos depois...
- Publicidade.
- [com outro copo] Publicidade é coisa de capitalistas mercenários! Sou socialista, marxista, revolucionário! Sou do time de Jornalismo [gole]. Lá no banheiro tinha um negócio escrito, muito engraçado. Tipo assim, Jesus cagou aqui. Muito mal gosto, mas foi engraçado na hora. To com fome, garçom! Ô garçom! Ei, chefia! Manda aquela batatinha caprichada lá pra nós? Valeu, meu chapa.
- Revista.
- Gibi. Qualquer gibi. Eu leio Mônica, Cebolinha, Tio Patinhas, Urtigão, Pelezinho – haha desenterrei essa – eu leio até Tex [gole]. Tex é muito engraçado porque parece mais aqueles livros de quinta categoria que vende nas banquinhas de jornal. Aqueles livros que são de uma histórinha de aventura, sempre com um autor de nome americano – que eu acho que deve ser um brasileiro frustrado –, onde o mocinho sempre fica com a mocinha lá pela página 64 e vence o vilão perto da 90 e poucos [gole]. Muito previsível. Não que eu costume ler, claro. Mas eu li um uma vez, e deve ser todos iguais. O que que a gente tava falando mesmo?
- Último Romance do los Hermanos.
- Los Hermanos, você? Justo você, publicidade.. Mal contada essa história aí. Los Hermanos é tipo banda cult. Já virou até adjetivo: olha lá o cara vestido como quem escuta Los Hermanos, olha esse óculos estilo de quem escuta Los Hermanos [gole]. Você vai no show dos caras e todo mundo usa camisa xadrez lá. O engraçado é que os homens e as mulheres usam a mesma camisa [gole]. Vou pedir outro conhaquinho [gesto mais-um]. Agora música eu não tenho nenhuma especial. Eu gosto daquela Johnny be Good, do Chuck Norris – ! – hahahaha Chuck Norris! É Chuck Berry, hahahaha.
- Corinthians.
- Ihhh, vem falar de futebol? Eu te esmirilho aqui. Olha a batata, beleza. Valeu companheiro. Nem quero te desmoralizar, sabe? Você já torce pro Corinthians e isso é um castigo. Eu sou Flamengo e só isso já me dá um ar de superioridade [gole, tosse, gole].
- Beijo.
- Acho que eu to passando mal... Hum? Beijo? Hummm, beijo! Claro, adoro. Ainda mais que sempre acaba na cama. Acho que vou no banheiro.
- Você.
- [de pé] Ãhn? Você. Você também. Dá licença que eu vou vomitar.

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