terça-feira, 27 de novembro de 2007

O tílburi

Falar é fácil, muito fácil. Escrever é que é coisa do capeta. Me coloca um engradado de cerveja na geladeira e umas três pessoas dispostas a ouvir besteira durante uma noite toda: eu me garanto. Discorro sobre os mais variados assuntos, com uma eloquência para deixar qualquer político envergonhado. Passo das gomortegáceas às sancadilhas sem mudar o tom de voz. Agora escrever sobre isso ou qualquer outra coisa é o cão!
Outro dia eu e meu amigo Guilherme (que se chama Guilherme mesmo – não quero preservar ninguém) andávamos de tílburi ali pela região de Colombo. Eu, ele e o tilbureiro, apenas. Como estamos nos anos 2000, e os avanços tecnológicos permitem todo tipo de mimos em qualquer meio de transporte, nosso tílburi tinha uma pequena geladeirinha, cuja capacidade era de – vejam só! – um caixa de cerveja.
Lembro me de ter começado a conversa discorrendo muito seriamente sobre as dificuldades de conseguir um cavalo capaz de guiar um tílburi hoje em dia. "Não se fazem mais cavalos como antigamente", dizia o tilbureiro. Guilherme retrucava com informações preciosas sobre os mangalargas-marchador e os brabantinos paulistas (bons de tração, segundo ele).
Depois da segunda parada para reabastecimento (das cervejas, não do tílburi), o papo se enredou para o lado metafísico. Não sei porque o tilbureiro cismou de que cada ser humano tinha uma estrela que o representasse. Até retruquei com o argumento de que somos 6 bilhões de seres humanos e seria impossível termos um céu negro todos os dias com 6 bilhões de pontos brilhantes, mas ele já estava começando a ficar violento e preferi concordar com qualquer coisa que dissesse. Afinal de contas era ele quem estava com as rédeas.
Guilherme era o quietão da trupe. Só se pronunciava quando tinha uma informação completamente desnecessária para dar. Num dado momento, ficou dez minutos tentando nos explicar o que era a tal epiquirema. Só ficou satisfeito quando eu decorei que a maldita palavra quer dizer silogismo dialético, mesmo que isso não me queira dizer nada de importante. Em tempo: silogismo é uma dedução em que se colocam duas premissas para, então, tirar uma terceira, chamada de conclusão. O dialético é quando estas premissas são prováveis. Papo de louco, portanto.
Já de noite, no fim do passeio de tílburi – que a princípio foi programado para durar 30 minutos apenas – nenhum dos três conversava sobre o mesmo assunto. Estava engraçado, dizem, mas com cada um falando sobre o que lhe interessava e rindo da cara do outro. E pensar que estávamos lá só para conhecer o novo tílburi do tilbureiro. Ninguém imaginava que ele fosse ter uma geladeirinha acoplada.
Só não me pergunte porque raios os tilbureiro comprou um novo tílburi. Ele até me falou, mas eu esqueci completamente.

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