quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Diário de Lupércio Martinez¹

Jantar ontem na casa do Eddie Robledo². Achei que desde aquele último churrasco na casa da Martini ele não gostaria mais de me ver. O efusivo abraço que recebi, porém, me faz supor que ele realmente não se lembra de nada depois de tomar 12 doses de vodca.
Creio que foi mais uma daquelas festinhas que os ricos promovem para recuperar a estima que possuíram em outros tempos. Robledo convidou cerca de 200 pessoas, entre globais e ex-BBBs, o que me fez sentir um prato de feijão durante a ceia de natal: totalmente intruso. Mas confesso que me diverti quando alguns atores famosos se dirigiam a mim com aquelas perguntas célebres do tipo "e aí... [aqui percebiam que não sabiam com quem estavam falando] está com algum projeto para este fim de ano?" Tenho a certeza mais do que absoluta de que estes famosos é que não tinham nenhum projeto e estavam loucos para ser convidados para qualquer aventura.
Num dado momento, engatei um papo sério com a Fernanda Montenegro. Por certo ela me viu entediado num canto e já chegou dizendo "está mesmo um saco isso aqui, não?" Só mesmo alguém como ela para dizer isso tão diretamente, principalmente a um estranho. Respondi que o que mais me irritava era o fato de só ter visto Robledo na entrada. Trocamos algumas figurinhas da nossa experiência transcendental com Nietzsche e o Goethe e fim. Ela se entedia muito rapidamente.
Depois – com alguns copos de cerveja na cabeça – me juntei a um grupo de ex-BBBs. Engraçado que eles se sentem mesmo famosos e mantém conversas do tipo "ontem fui a um lounge em Madureira que estava o bicho", o que para mim significa nada mais nada menos do que baile funk no Morro do Pelado.
Engraçado foi quando contei para eles que eu estava ali simplesmente por ser amigo de Eddie Robledo (a princípio eles pensaram que eu também era um ex-BBB, daqueles "esquecidos pela mídia"). Um loirinho meio forte até arriscou sua reputação dizendo que para ir numa festa de Robledo ele teve que dar muito mais do que o voto de amizade.
Finalmente, quando eu já me dirigia à porta de saída com uma ex-BBB devidamente lipoaspirada e siliconada (que conquistei com a velha cantada da capa de revista), Eddie me apareceu. Disse: "mas já vaaaai, fófi? A festa ainda nem começou...". Essa frase me dá arrepios. Nos idos de 1990, as festas de Robledo começavam depois que o teto da mansão se abria e milhares de papelotes de cocaína caíam sobre nossas cabeças. Preferi nem ver como seria a dos anos 2000. Disse a ele que tinha um contrato para fechar "com a mais maravilhosa das ex-BBBs" e piquei a mula.
De contrato fechado, só há uma coisa a dizer: vida longa a Eddie Robledo.

Notas do editor:
¹ Lupércio Martinez é um homem de meia-idade cuja melhor qualidade é ter amigos ricos e influentes. Afora isso, não faz nada de interessante. Já escreveu alguns livros, mas hoje se considera um escritor aposentado. Vive de ir em festas badaladas e, daí, não se sabe como, arrumar dinheiro. Já o acusaram de cafetão, mas não há nada provado.
² Eddie Robledo é hoje um playboy multiuso. Já foi bicheiro, vendedor de móveis, corredor de kart e cantor de dupla sertaneja. Ficou rico depois de se casar com uma milhonária gaúcha que morreu repentinamente afogada com uma berinjela. Desde então, Eduardo Mota Razera virou Eric Robledo, um bon-vivant.

Nenhum comentário: