sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Idéias

Vez por outra se vê jornalistas criticando em suas colunas os absurdos cometidos pelos profissionais da publicidade. Geralmente são comentários sobre a ética dos comerciais de bonecas e carrinhos para as crianças, ou então sobre a apelação feita por certas marcas de cerveja para atrair marmanjos barrigudos. O que não lembro de ter visto nunca foram elogios, mesmo os justos e merecidos. E não seriam poucos: há certas coisas que somente os ex-alunos do famigerado* curso de Publicidade e Propaganda são capazes de pensar.

Lembro-me de uma antiga propaganda que contava a história de um rapaz que só andava para trás. Mostrava-o passando por diversos lugares e situações, sempre caminhando de ré. Se não me engano, inclusive, numa das cenas ele, ainda bebê, engatinha para trás. Isso sim é que foi uma sacada incrível! Um bebê que só anda de costas é absolutamente inimaginável, e, portanto, muito engraçado.

Enfim, o fato é que no fim da história ele passa por uma vitrine de celulares (se não me engano praticando "jogging", o que também é muito engraçado), pára e dá um passo à frente para ver melhor. Tantos anos de convicções jogados fora por um mísero instante de curiosidade. Dou vinte centavos para quem me provar que isso não foi um lance genial. Pode até ser que o roteirista do reclame não tenha pensado em questões filosófico-psicológicas de negação de princípios e afins na hora de redigir o texto de vídeo, mas com certeza ele me convenceu de que a TIM é tão boa e revolucionária que é capaz de fazer alguém mudar a direção de uma dedicada caminhada de tantos e tantos anos.

Mas o que ainda considero mais impressionante é quem acerta a mão numa propaganda veiculada em mídia impressa. Sem os recursos tecnológicos da internet ou do rádio, por exemplo, fica muito mais difícil fazer uma campanha que fique marcada no inconsciente coletivo por décadas. O jornal aparenta ser muito mais sério do que a televisão; fazer nele um anúncio que chame a atenção é, portanto, muito menos simples do que apenas criar um enredo de novela com final feliz para vender produtos na telinha.

Atualmente há um comercial que certamente entrará para os anais da publicidade, se não pela genialidade, pelo menos pela possível ação que os concorrentes moverão acusando-o de faltar com o decoro (se é que há decoro no mundo corporativo). Trata-se da nova – nem tão nova assim – campanha do Itaú, o banco. Quem viu, sabe do que estou falando: uma painel laranja, de meia página, com um quadrado azul de bordas arredondadas no meio. Nada escrito além de "o banco feito para você". Não é preciso dizer mais nada; só de bater o olho o leitor já mentaliza o velho "i" em forma de arroba.

Porque considero a possibilidade de haver processos e chiadeira por causa dessa propaganda? Porque o ser humano não sabe perder, ainda mais um ser humano de uma multinacional e para algo aparentemente tão simples. Deve haver uma tábua de regras (?) entre os departamentos de marketing das grandes empresas onde um dos mandamentos, possivelmente o primeiro e mais importante, impede que uma corporação se gabe de ser " top of mind". É muita humilhação para as concorrentes.

Certa vez meu grande ídolo Nelson Rodrigues escreveu que "só os profetas enxergam o óbvio". Essa deveria ser a frase-guia dos publicitários. O grande trunfo deles está em usar o "tudo-que-está-aí" em favor da venda dos seus conceitos (já que, como todos sabem, propagandas não são feitas para vender produtos e sim idéias). Pegar, por exemplo, a imagem de uma lavadeira batendo as calças do patrão na pedra do rio e sofrendo com a cantoria desafinada da colega ao lado para anunciar uma promoção de máquinas de lavar e mp3 players nas Casas Bahia. Seria do tipo "Está cansada de lavar a roupa naquela sua máquina velha e ainda por cima ouvir o barulho chiado do seu antigo radinho de pilha? Seus problemas acabaram!"

Definitivamente eu me daria muito bem como publicitário.

*N.E.: Publicidade e Propaganda, o curso, muito mais do que Jornalismo, é o maior erro da academia brasileira. Ensina-se técnica e teoria para exercer uma atividade que depende essencialmente da função criativa. A técnica destrói qualquer criatividade. O que deveria existir, na verdade, é um curso Técnico de Publicidade, de onde sairiam os profissionais que serviriam aos verdadeiros criadores. Mas, afinal, isto é apenas minha humilde opinião.

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