Ao avistar a ponte, parou e refletiu. Se atravessasse, seria o adeus definitivo à sua cidade. Já havia deixado-a antes, mas nunca em definitivo.
Olhava agora para o horizonte como quem procura enxergar o futuro. Lembrou-se das aventuras que vivera em Jacupinga: da infância serelepe com os primos Laerte e Maurício; da namoradinha com quem aprendera as coisas da vida; da fonte de Santo Agostinho, onde quase morrera afogado.
Agora estava ali, olhando por sobre uma ponte que jamais havia sido tão representativa. Se passasse sobre ela, toda uma história viraria passado e uma nova aventura passaria a ser vivida.
Já estivera do outro lado, e bem se lembra que fora muito bom. Mas agora era pra valer. Iria assumir um compromisso jamais firmado, o de se unir a algo novo e desconhecido. Ia sabe-se lá para onde, para fazer sabe-se lá o que. Essa idéia era concreta, e o apavorava.
Sentado na beirada da ponte, observava o rio. Do horizonte, vinha um barco de passageiros. Passageiros como provavelmente seria para ele aquela cena. O barco vinha de um horizonte e sumiria logo ali do outro lado, no outro horizonte. E jamais tornaria a aparecer na sua vida. Pensou como tantas coisas são assim. O barco se aproximava, a fumaça subindo, o barulho aumentando. Não queria que aquele momento de repente sumisse da sua memória. Decidiu, então, saltar para dentro da embarcação.
Agarrou-se à mochila como se fosse uma bóia salva-vidas. Olhava o barco se aproximando, tocando uma música indefinível, cheio de estudantes, muitos, talvez, com a sua idade. Preparava o salto, do meio da ponto. Metade do caminho já fora percorrido. O resto seria surpreendentemente para baixo. O barco se aproximou, ele preparou o salto e... Errou na conta.
Caiu com a cabeça direto na proa, vazia. Bateu com a testa em cheio na grade de proteção. O sangue lhe escorria pelas costas. Apagou. Antes sabia que era arriscado, mas não esperava por esse fim. Morreu sem nunca sair em definitivo de Jacupinga.
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