Tinha um tal de Pablo lá na vila em que eu cresci. Era filho de uma vizinha gordona, que agora não me lembro o nome. Não posso nem dizer se o cara era gente fina ou não; só lembro que ele tinha um sério problema na hora de brincar com a rapaziada. Morava com a mãe e mais quatro irmãs, o Pablo. O fato é que com quatro ou cinco anos ele já exigia ser chamado de Pablito, e ai de quem se negasse a chamá-lo assim. Com seis, já dava dois dos sinais mais evidentes da futura baitolice: a síndrome da mão parada e o "piscar devagar".
Era um mimo só, o rapaz. As irmãs, todas mais velhas, faziam-no de gato e sapato. Era um tal de vesti-lo de menina, mandá-lo colher rosas na floreira da quitanda, ensiná-lo desde cedo a jogar vôlei – convenhamos que, para um garoto, jogar vôlei é o esporte mais fru-fru que existe (depois de velho, tudo bem).
Um dia algo inesperado mudou a vida de Pablo. Era Sérgio, o novo marido da vizinha gordona. Como um bom padrasto, Sérgio assumiu toda a cria toda como se fosse sua. Como bom oficial do exército, Sérgio mantinha uma forma duríssima de criação dentro de casa. O mais afetado... Digo, o que sofreu maiores conseqüências foi Pablo.
Invariavelmente Pablo levava um chute do padrasto, toda vez que este o via. Se estivesse brincando de bonecas, então, o garoto levava dois chutes e uma surra de cinta. Sérgio dizia que Para aprender a ser macho, um garoto tinha de apanhar desde cedo. O chute era onde acertasse, nas costas, na cabeça, nas pernas.
O esporte preferido de Sérgio passou a ser levar o enteado para o bar, depois do expediente. Lá o garoto, que já estava com seus 10 anos e quase "curado", aprendia a ser macho: jogava sinuca, comia ovo azul cozido, mijava no lixo, brigava com os bêbados, xingava o dono portuga do boteco e, claro, tomava espuminha de cerveja ("porque piá só pode beber depois dos doze", dizia Sérgio).
No ano seguinte, Pablo foi matriculado numa escola de futebol pelo padrasto. E como todo mundo sabe, macho que é macho ou é beque central ou é cabeça de área. Sabe-se lá porque, Pablo foi escalado já no primeiro treino como meia-armador, a posição mais gay do futebol. Quando Sérgio soube do caso, não só espancou o treinador como ameaçou-o de morte se aquilo se repetisse. Só não o matou da primeira porque ele era genro do Coronel Arantes, que, claro, entendeu perfeitamente a situação do padrasto sacaneado e ainda deu o maior apoio. Dizem que, depois, em casa, o Coronel Arantes ainda deu a maior dura no marido da filha.
Hoje Pablo é adulto. Macho. E ai de quem chamá-lo de Pablito. Ele é apenas Rambo agora. É o artilheiro da suburbana jogando a 9 do Combate. Mas quando o Sérgio falta ao treino (o quarto-zagueiro, não o padrasto), Pablo atua sem reclamações no miolo da zaga. E dá porrada nas canelas.
Tem três filhos (machos), mas nunca casou. Costuma bradar aos quatro cantos que Homem não foi feito para ser monogâmico. Depois do filme, diz que seu sonho é ver a piazada toda no Bope, para poder Caçar uns bandidões e dar tiro de 12 na cara. Cria-os de longe, pois, como diz, Pai só ajuda a cuidar na hora de dar porrada.
Vive sozinho, no meio das quebradas, numa casa de construiu com as próprias mãos. Nas horas vagas fica fazendo flexões ou chutando algum cachorro que lhe cruze a frente, não importando o tamanho. Não assiste TV, porque A Globo é um antro de baitolas. Seu almoço é basicamente feijão e carne, todos os dias. Às vezes mistura um pouco de brócolis para dar sustança, mas tem que ser cru: Cozinhar verdura é coisa de viadinho.
Enfim, Pablo, o velho Pablito, hoje é macho e macho mesmo. Uma prova de que a criação influencia seriamente no futuro das crianças.
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O PRIMEIRO TIME PENTACAMPEÃO DO BRASILEIRÃO
O São Paulo deixou o Flamengo chupando o dedo ao se tornar o primeiro time pentacampeão do Campeonato Brasileiro de verdade, sem asterisco. Com o inédito feito, receberá a posse definitiva do Troféu, que está guardado há décadas à espera do primeiro time a conquistar o título 3 vezes consecutivas ou 5 vezes no total. E o São Paulo é esse time! A entrega do troféu está marcada para o dia 3 de dezembro, um dia depois da última rodada do campeonato, na cerimônia de premiação dos melhores da competição em diversas categorias. De nada vai adiantar a choradeira que a burro-negada está aprontando, tentando convencer Deus e o mundo de que eles já são pentacampeões, ameaçando até apelar para que a Justiça cometa uma injustiça. Porque só eles mesmos acreditam nisso. Eu, você, a CBF e a FIFA sabemos que o verdadeiro campeão brasileiro de 1987 foi o Sport Club do Recife, representante brasileiro na Libertadores do ano seguinte, junto com o Guarani, vice-campeão. Ao timinho resta, depois de tentar ser penta no grito, tentar sê-lo no choro. Enquanto que, ao São Paulo, resta comemorar o feito de ser o PRIMEIRO TIME PENTACAMPEÃO DO BRASIL!
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