quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Caçador de assuntos

Antigamente eu lia um jornal de quinta (feira) que sempre trazia opiniões das mais diversas pessoas sobre os mais diversos assuntos. A coluna sempre acabava com uma exclamação (É a opinião! ) e eu achava o máximo. Era como se estivesse embutido "Nada do que esse cara escreveu condiz com as idéias do jornal. Ele só aparece aqui porque pagou uma nota preta por esse espaço".
Uma vez havia uma digressão que me deixou, como dizem, com a pulga atrás da orelha. Não lembro exatamente o teor das bravatas que estavam escritas, mas o assunto era emblemático: a utilidade de um canteiro de flores. Fiquei pensando – além da minha opinião sobre a real utilidade de um canteiro de flores – quais seriam os motivos que levam uma pessoa a discorrer sobre a utilidade de um canteiro de flores. Se ele defende, será que está puto porque alguns moleques volta e meia derrubam a bola em cima de suas rosas? Ou então ele tem uma empresa que não conseguiu alvará da prefeitura para montar um "canteiro patrocinado" na calçada?
E se ele ataca, será que é porque colocaram um canteiro de flores no caminho da sua casa até o ponto de ônibus com uma placa "proibido pisar na grama" que o faz, portanto, ter de sair de casa pelo menos três minutos antes para não perder o coletivo por causa do desvio?
Suposições à parte, essa lembrança me fez pensar nos motivos que levam uma pessoa a escrever sobre alguma coisa. Eu, por exemplo, já discorri, há muitos anos, até sobre cadarços de tênis. É ridículo, já sei, mas na época eu possuía nobres motivos: tinha visto "manos" com cadarços rosas do tamanho de lençóis e isso me deixou profundamente indignado. (Se para escrever sobre alguma coisa é preciso estar profundamente indignado, neste momento eu poderia filosofar sobre a utilidade de um aspirador de pó numa sala de piso laminado: as moças da limpeza estão me irritando com o barulho daquele Cougar Maxx 2000)
Mas será que para estes colunistas de jornal, que todo dia botam alguma coisa no papel, basta olhar para um calendário que lhes surge um texto sobre a diferença das datas chinesa, hebraica e romana? Será que eles olham para o teclado e pensam "nossa, como eu odeio esse padrão QUERTY – vou escrever sobre isso"?
Não pode ser assim... É preciso indignar-se para escrever com paixão sobre alguma coisa. Agora se eles se idignam com tudo sobre o que escrevem, nunca convidarei colunistas para os meus churrascos.
Mas, pensando bem, estou escrevendo sobre a coluna de opinião de um jornal de quinta (feira). Melhor esquecer tudo isso.

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