terça-feira, 6 de novembro de 2007

Aniversário

Ela sempre esteve do meu lado, sempre deixou claro que sou sua primeira preocupação em tudo. O tempo todo quer saber se eu estava bem, se eu estava feliz ou não. Se importava com tudo a meu respeito, queria saber o que me aborrecia. Nunca me deixou na mão, fazia todas as minhas vontades, dentro do possível é claro. Muito do que sou hoje, é em razão de nossa convivência e dos valores que ela me passou.

Amanhã é aniversário dela e não quero decepcionar, preciso muito fazer alguma coisa que signifique algo para ela. Preciso demonstrar o que sinto, quero que ela veja que valeu a pena todo esse tempo que passamos juntos. Na verdade o que quero mesmo é agrada-la, demonstrar toda minha gratidão. Quero fazer com que pelo menos por um dia, ela deixe de se preocupar comigo. Como adoraria vê-la sem se preocupar comigo, pelo menos por um dia.

Outro dia peguei ela lamentando atitudes passadas. Ela estava sozinha no nosso quarto, acho que não percebeu que eu estava ali perto. A ouvi reclamar, dizendo baixinho para ela mesma, que foi muito cedo para eu aparecer na sua vida. Um instante depois, no mesmo tom, diz que apesar de tudo, fui a melhor coisa que aconteceu na vida dela. Não entendi muito bem, porém ficou claro que ela me amava. Apesar de todas as nossas dificuldades de morar numa favela, num casebre de um cômodo só e viver da venda de papel reciclável.

Amanhã é o aniversário dela, no meio da noite ouço ela chorando baixinho do meu lado na cama. Hoje não teve janta, é por isso que estamos dormindo mais cedo. Sorte sermos só nós dois, senão teria mais gente com fome aqui. Não ligo para a fome hoje, não reclamo disso. Só queria ter um presente para entregar a ela amanhã cedo. Preciso pensar em algo e rápido.

Não durmi, fiquei pensando no que fazer para compensar pelo menos um pouquinho do carinho que ela sempre me deu. Ainda está escuro e sei que logo ela vai levantar, levanto de mansinho e começo a preparar algo para ela. Quando ela desperta, já tinha dado tempo suficiente para eu ter preparado seu café da manhã. Numa bandeja improvisada duas torradas, uma xícara de café e três rosas que peguei no jardim do prédio do outro lado da rua.

Ela me deu um sorriso tão sincero e verdadeiro, que foi como se o sol ganhasse mais cor naquela hora. Porém quando ela leu o bilhete, que eu mesmo escrevi, seu rosto ficou todo corado e ela me abraçou tão forte, que achei que seria partido ao meio. Chorando e rindo ao mesmo tempo ela me disse: - Filho eu também te amo.

Fim

2 comentários:

Anônimo disse...

Poxa...
Até chorei.

The best of best.

Essa eu tenho que tirar o chapeu, sem mais comentários.

Anônimo disse...

Sei que a maioria dos comentários serão das mulheres...não porque os homens não são sensíveis e longe de mim ser do partido feminista, porém, tenho certeza que só homens de verdade conseguirão dizer o que escrevo desse pequeno texto:
SIMPLESMENTE LINDO!!!!