Era como uma irmã que nunca tive. Sempre estava lá em casa, ela fazia aquela casa ser menos vazia. Lembro da primeira vez que a vi, era um sábado de manhã. Eu jogava bola sozinho no jardim de casa, quando vi o caminhão de mudanças chegando. Meu pai estava chegando e lembro que teve que pedir para o caminhão ir um pouquinho para frente para ele conseguir entrar com o carro lá em casa. Foi a deixa para eu ver o que estava acontecendo na casa ao lado da nossa.
Nessa meu pai ficou conhecendo o Parafuso, apelido do Seo Lúcio o novo vizinho, e deu as boas vindas. E ainda convidou o Seo Parafuso e a família para almoçar lá em casa. O que era para ser um almoço virou uma festa, a rua toda podia ouvir as risadas. O Parafuso era um grande contador de piadas e causos. Minha mãe também gostou da Marta, a esposa do Parafuso, e também da Rafaela. A Rah, a Rafinha, a Rafa ou só a garotinha ruiva cheia de sardas no rosto.
Naquele dia, lembro bem que eu não gostava muito de olhar para a Rafa, não gostava daquelas sardinhas em seu rosto. Sem muito rodeio ela logo foi perguntando se eu queria brincar. E eu, meio sem jeito, disse “ahan” mexendo a cabeça. Ela adorava jogos de tabuleiro, sugeri de a gente jogar banco imobiliário. Foi uma ótima idéia. Nunca fui muito bom nos negócios, acabei falindo três vezes. Mesmo fazendo uma maracutaia com as notas de 500 eu não consegui vencer.
Passávamos as tardes depois da aula lá em casa brincando, correndo e fazendo competição de desenho. Neste quesito, modéstia a parte, eu era melhor que ela. Funcionava assim, cada um fazia um desenho e mostrávamos para a Mariana, uma garota que cuidava da gente até minha mãe chegar do trabalho. A Mariana decidia qual era o melhor. Na maioria das vezes eu ganhava, porque desenhava com um pouco mais de capricho. Mas era só a Rafa usar sem limites o lápis rosa que ela ganhava. Sabia que a tendenciosa Mariana escolhia o que ela achava ser o da Rafa.
Na escola eu era como o irmão mais velho da Rafa, até ajudava ela na tarefas. Um dia defendi ela de um gordinho que queria roubar o lanche dela. Acabei apanhando do Gordinho e do irmão dele, o Gordão. Isso serviu para que eu visse o quanto gostava da Rafa, mesmo tendo tomado uns safanões e ser perseguido por aquele gordo chato da porra. Nunca fui de arrumar briga, mas sabia provocar como ninguém. Quando corria do meu algoz dizia – Gordo não consegue correr, gordo não consegue correr- daí eu cansava e lá vinha uma bifa no cocuruto. Até o dia que cansei de correr e dei um chute, bem dado, no saco dele. Ai ficou tudo certo e ele parou de me encher.
Nas férias lembro que a Rafa e a família dela foram viajar para o interior. Não demorou para minha mãe perceber que eu andava quieto demais. Mas ela não falava nada, só comentava com meu pai. Isso quando eu não estava por perto. As férias acabaram e a Rafa não apareceu na escola. Nem no primeiro dia e nem no segundo. Passou uma semana e nada deles aparecerem. Tudo foi ficando sem graça, sentia muito a falta daquela menina. Um dia vi a janela da casa dela aberta. Corri no portão para ver se eles tinham finalmente voltado, mas só tinha um sujeito barbudo que nunca tinha visto antes naquela casa.
Corri para casa avisar a minha mãe de que tinha gente na casa da Rafa. Minha mãe foi comigo até o portão da casa deles e apertou a campainha. O sujeito veio até o portão e perguntou o que queríamos. Minha mãe perguntou sobre a família da Rafa. O sujeito barbudo disse que era irmão do Lúcio, e disse que eles tinham sofrido um acidente de carro, e que ninguém tinha escapado com vida.
Fim
2 comentários:
não é de verdade não né? :~
se for, é uma história muito triste, contada muito bem..
¬¬
me enganou fácil heim?
mais ficou muito bom mesmo o texto :)
(layout) ahh brigada! tava precisando mudar nesmo ;)
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