O detetive Maculê Diderot, sujeito atarracado, de olhos negros e saltados, foi chamado para investigar um caso de extrema peculiaridade e delicadeza. Trata-se de um assassinato brutal onde a principal suspeita é a D. Maria Alcântara de Azevedo, esposa do Imperador Carlos XXI.
Quem chamou Diderot foi Visconde de Santo Cristo, que de Visconde não tem nada, sob a alegação de que um crime cometido pela primeira dama fere a honra e a altivez da nação. Especula-se nos becos e ruelas do pequeno reinado de São Felício que Visconde de Santo Cristo nada mais quer do que um golpe de Estado. Assim ele assume o poder e legaliza o jogo do bicho em todos os níveis hierárquicos. Vela ressaltar que Santo Cristo se diz Visconde porque é o Rei do bingo, rinhas de galo e caça-níqueis da região.
O que pouca gente sabe – e ninguém tem coragem de comentar – é que a esposa do Imperador já foi namoradinha de Santo Cristo nos tempos de Colégio Nabucodonossor. Isso não quer dizer nada, mas Diderot soube dessa informação logo que desembarcou no país, através de uma carta anônima assinada por "Aquela que só quer ajudar", e logo tratou de iniciar suas investigações. Seus alvos eram os diários das colegas de classe de D. Maria Alcântara de Azevedo nos tempos de "Nabuco".
Maculê procurou primeiro Nadia, esposa do subtenente Manuel Agripim. Dizem as más línguas que ela só andava com D. Maria no "Nabuco" porque esta era extremamente popular. O detetive considerou isso uma informação importante, mas só constatou o porquê quando leu os primeiros volumes dos diários de Nadia: pessoas extremamente populares não são citadas em diários – a não ser em uma ou outra pequena nota de rodapé. O fato é que ser popular não criar laços de amizades verdadeiros.
Então Diderot partiu para a segunda fase das investigações: acompanhar passo-a-passo a vida da primeira-dama. Salão de beleza, campeonato de bolão, jóquei clube, chá das cinco, compras na rua Borba Filho, compras na rua Henrique III e, finalmente, salão de beleza novamente. Uma rotina deveras atribulada para uma assassina. Diderot pensava "teria aquele calhorda acusado injustamente D. Maria Alcântara de Azevedo de um crime tão brutal apenas por ciuminho?"
Algo precisava ser feito. Maculê Diderot já havia deixado seu escritório em Camarões há muitos meses, e nada fora concluído. Ele precisava voltar; tinha uma vida no país africano. Deixou mulheres e filhos pra trás – mais especificamente quatro mulheres e treze filhos. Então tomou a decisão que chocou a população de São Felício: julgou Sra. Maria Alcântara de Azevedo culpada. E olha que a essa altura Diderot já era autoridade máxima no pequeno país, afinal ninguém por ali jamais tinha visto um estrangeiro. A solução? Fogueira.
Ergueu-se na praça uma fogueira de 20 metros de altura. Sem dó alguma, os carrascos pegaram D. Maria pelos cabelos e jogaram-na no fogo. Alguns manifestantes que não concordavam com a decisão e protestavam contra Diderot foram sumariamente ignorados pelo Imperador. Como conseqüência, ganharam o direito de queimar junto com D. Maria na fogueira. No fim, o povo fez uma festa sem precedentes, ao som de muita tarantela e regada com os melhores espumantes da região.
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