Na verdade eu nem conheci Suzi. Eu a observei por dois anos no colégio, mas a gente nunca conversou. Só uma vez, que eu a segui na biblioteca e a ajudei quando ela derrubou uma estante, ela me disse "obrigada". Eu nem respondi, mas essa foi a única vez que nós "conversamos".
Eu sempre estava perto de onde ela ficava. Fosse com as amigas ou com a família, eu estava lá. Não sei nem como ela não percebia. Eu ia todos os dias na aula de balé dela. Ficava olhando de fora, e acho que ela nem me via. Eu ficava imaginando ela dançando no nosso casamento, ensinando a nossa filha os primeiros passos. Pra mim ela era a melhor dançarina do mundo.
Nas aulas de natação eu também estava lá. Outros meninos também iam, mas para ver ela de maiô. Eu não. Eu ia porque queria admirá-la; nosso amor é muito mais do que sexo, sexo e sexo. Nosso amor tem sentimento, tem substância. Eu queria apenas vê-la para guardar aquelas cenas na memória.
Suzi era como uma rainha, pelo menos para mim. Tudo que ela fazia dava certo; tudo que ela tocava virava ouro. Numa aula de circo que a gente teve, e o colégio inteiro participou, ela mandou tão bem nos trapézios que eu já a imaginei no Cirque du Soleil. Aquelas labaredas de fogo pulando cada vez que ela dava piruetas no ar. Só eu achei graça quando ela caiu na rede de proteção.
Suzi é perfeita; Suzi é tudo para mim. Só te contei tudo isso porque eu precisava me justificar. Eu vou matá-la, mas tem motivo. Ela não poderia ter me trocado pelo Robertinho.
Desgraçada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário