terça-feira, 12 de junho de 2007

Ciúme Fatal

Quem olhava de fora não percebia quão conturbado era aquele relacionamento. Max até que gostava da mulher, mas tinha um ciúme que beirava a doença. Praticamente não deixava Rosana sair de casa. Quando conversava com algumas das velhas amigas que ainda insistiam em procurá-la, Max repreendia:
- Já falei que não quero te ver de papo com essas fofoqueiras, Rosana. Elas são má influência para você.
E ela aceitava, calada. Com isso, nem conseguia se imaginar conversando com outro homem – só se dava ao luxo de falar com o pai, os irmão, os cunhados e, com ressalvas, o Teixeira, melhor amigo de Max.
- Com o Teixeira você pode falar. Mas só com Teixeira e ninguém mais, entendeu? Confio mais nele que em meu irmão!
Ela, inocente, nem reclamava. Vivia trancada em casa, longe das janelas, só cozinhando e costurando para o marido. E assim a vida se seguia, Rosana cada vez mais triste, Max cada vez mais feliz. De uma forma ou de outra, eles se entendiam.

O Emprego
Certo dia Max mudou de emprego. Foi para uma multinacional, com sede em outra cidade. Seu turno era de três dias, os quais ele passava fora. Mas não queria nem imaginar Rosana saindo de casa, ainda mais estando sozinha. Antes de sair, cochichava-lhe ao ouvido:
- Se você pensar em me trair eu te mato, entendeu? Te mato!... E só basta pensar.
Ela, já acostumada a ficar em casa bordando toalhas, cedia as pressões do marido e não saía nem para visitar a família. Até que um dia, sem mais nem menos, resolveu ir até a igreja. "Lá é um lugar sagrado. Max não vai ligar", pensava.
Em pouco tempo conheceu uma turma de amigas, não tão beatas quanto aparentavam.
- Quer dizer que teu marido não a deixa nem sair com as amigas? Mas que absurdo! – falava-lhe uma delas – Isso não pode ficar assim. Escuta: na minha casa, amanhã, vamos todas almoçar juntas, ok? Te espero lá.
Rosana voltou para casa sem saber o que fazer. Queria sair com as amigas, voltar a rir como fazia quando solteira, ser feliz. Mas também tinha respeito pelo marido.
Respeito não, medo.

O Almoço
Eis que decidiu ir ao encontro. Com muito medo e apreensão mas foi. Temia até que o motorista do coletivo a delatasse para o marido. Chegando lá, partiu para a defensiva:
- Saibam, meninas, que só vou ficar alguns minutos. Meu marido chega hoje à noite e não quero nem que ele desconfie que eu saí de casa.
Mas como Rosana não bebia nenhum tipo de álcool desde a adolescência, ficou um pouco alta já na primeira taça de vinho. Depois da quinta taça e de algumas caipirinhas, estavam todas fazendo planos diabólicos:
- Vamos na sua casa esperar pelo seu marido. – dizia uma gorda que mal se agüentava em pé – Quando ele chegar, a gente amarra ele pelas pernas e...
- Isso! Isso! – respondia Rosana – Vamos matar aquele cachorro. Ele roubou minha vida toda para ele! Quero voltar a ser solteira, quero me divertir novamente.
Normalmente, aquelas moças ficariam assustadas com suas próprias idéias, mas já estavam completamente bêbadas. Pegaram mais uma garrafa de conhaque e foram até a casa de Max, esperá-lo para o plano fatal.

A Cilada
Chegando lá, armaram toda a arapuca: Rosana o esperaria na cama, de lingerie sensual, enquanto as outras estariam preparadas atrás das coisas do quarto, armadas com metros e metros de corda. Tudo preparado, esperaram por Max. Esperaram, esperaram e esperaram. Depois de uma hora, uma não se segurou e saiu de trás do armário:
- Chega! Não agüento mais. Vou esperar por esse canalha aqui mesmo, na cama, tomando um conhaque.
A idéia foi como a luz que faltava na noite daquelas mulheres. Uma a uma, foram saindo de trás de cortinas, armários, penteadeiras. Sentaram as oito em volta de Rosana e tornaram a beber, conversar e dar risadas.
Até que, num dado momento, todas se esqueceram do que estavam fazendo por ali. Se viram de repente sentadas numa cama, em torno de uma mulher só de calcinha e soutien. Como se fosse algo natural, começaram a se acariciar e se tocar. Enquanto se beijavam, Max abriu a porta do quarto.
- Rosana, sua vaca! Então é isso que você faz enquanto eu estou trabalhando?
E com os seis tiros que lhe sobravam na pistola, matou as nove mulheres, com uma frieza e um cálculo impressionantes.

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