Nos livros, conta-se que era um senhor já com seus oitenta anos que, afora a barba grisalha, não apresentava um pêlo sequer no corpo. Vestia-se apenas uma manta cor-de-areia e umas alpercatas de couro de javali. Seus súditos eram, na maioria, jovens delinqüentes que cometiam ínfimos delitos na pequena província de Yogyakarta, no sul da ilha de Java. Não tinha muito respeito no meio acadêmico, mas seus ensinamentos invariavelmente tiravam tais jovens do mundo do crime. Direto para o manicômio.
Uma de suas parábolas foi ouvida por um transeunte que passava pelas montanhas de Yogykarta no verão de 1726. Sem entender muito do que se tratava, ele resolveu escrevê-la num pergaminho de arroz para uma análise posterior. O fato e que esse pergaminho foi encontrado, centenas de anos depois, enrolando um velho vaso de cerâmica, dentro de uma caixa de bambus. Dizem, quem o leu, que a parábola só será amplamente entendida daqui a alguns anos, numa eventual Semana de Arte Pós-Moderna de 2022.
Para vosso deleite, um trecho selecionado – talvez o único entendivel – da comentada parábola:
"Há, entre vós, senhores, um escolhido. Um que, dentre os tantos outros, viverá para contar história. Do Ser supremo, ganhará o direito de expirar o prazo; viverá além dos planos e, assim, narrará casos com a certeza de quem assistiu. Pode ser tu, ou tu, ou até mesmo tu, ó velho raquítico... O Senhor não dá sinais.
"Espero eu, na minha insignificância de remelgado social, que este escolhido, por mais putrescível que seja, tenha sabedoria de escolher os exemplos corretos. A humanidade precisará de exemplos – o ser humano precisa se refletir em outro, como fez Narciso na lagoa de Eco ou na sua irmã gêmea."
É a sapiência javanesa. O resto é pura enrolação, mas o recado foi dado.
2 comentários:
será que existe?
se existe, podia se revelar rapidamente, acho que seria até de bom uso um bom exemplo, não?
gostei :)
Inspiração!!!!!
Viu, nem tudo está perdido...
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