sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Malbec

- Malbec.
O outro, saindo de trás do monitor, pareceu até assustado:
- Que foi? Pirou?
Gomes nem tirou os olhos da tela:
- É Malbec o nome.
- Nome do que, rapaz? - Perguntou Alvarenga, agora ciente de que o colega enlouquecera.
- O perfume que você me perguntou outro dia. É Malbec o nome.
A conversa ficou pra lá de confusa.
- Mas que perfume? Eu ia lá te perguntar de perfume?
- Você sentiu meu perfume esses dias e perguntou qual era. Na hora eu não sabia, agora lembrei. Malbec.
Alvarenga já ia perdendo a razão:
- Escuta aqui, Gomes! Se você está insinuando que eu sou boiola, vamos resolver essa parada aqui mesmo.
Gomes nem se mexeu. Continuou escrevendo qualquer coisa e mandou:
- Eu não to insinuando nada. Você me perguntou o nome do perfume que eu uso e eu respondei. É Malbec. Agora me deixa trabalhar, Tomás.
Alvarenga levantou tão bruscamente que seu teclado foi parar do outro lado da sala. Todos na repartição se viraram para assistir a cena. Ele estava de pé, arfando, com uma caneta numa mão e com a outra desafrouxando a gravata. Gritou, a plenos pulmões, colado à orelha de Gomes:
- Tomás é a puta que te pariu! É a décima-quinta vez que você me chama desse jeito. Meu nome é Alvarenga, porra. Alvarenga!
Gomes, enfim, entendeu. Tomás fora sido substituído há quase dois meses.
Em ofício, prometeu prestar mais atenção numa próxima vez.

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