Em um dos mais de 200 livros que escreveu Plutarco há uma fábula que ainda gera muita intriga. Confesso que nunca a li, mas conheço a história. Trata-se de um soldado que salvou a vida de um rei. Um sábio o aconselhou que fugisse (o soldado), mas ele preferiu ficar para receber a gratidão do monarca. Acabou assassinado pelo rei.
Dizem que a anedota trata da ingratidão humana para com os atos dos seus semelhantes. Não concordo. É claro, há ingratidão. Mas imagina a vergonha para um rei ter de admitir que a sua vida é devida a um ato de coragem de um soldado qualquer. Ele foi morto por isso – a vergonha –, e não porque o rei não reconheceu ou não teve gratidão por sua bravura.
Cuidado na hora de ajudara alguém supostamente superior. Não o faça esperando algo em troca. Quem viu O Diabo Veste Prada –filme besta, mas tem essa mensagem que vale a pena – sabe como são as relações de admiração entre chefe e subordinado. No filme, a mocinha, depois de se demitir, vai a uma redação (ela é jornalista) procurar emprego, e o diretor que a recebe diz "sua ex-chefe me ligou e disse que você foi a pior assistente que ela já teve e que, por isso, seria um erro se eu não a contratasse".
A admiração dos chefes é sempre contida. Eles nunca admitirão que você é bom, apesar de sempre dizerem, retoricamente, "você é o nosso melhor profissional". Isso é apenas conversa fiada, daquelas aprendidas em palestras de motivação de empregados. O importante é que você nunca os deixe saber que almeja suas posições. Os chefões não admitem concorrência.
O problema está nas relações de poder. Não podem haver dois reis num mesmo reino. As pessoas não conseguem louvar mais de um deus. Basta ver que no mundo animal a liderança dos grupos é disputada literalmente a tapa (ou a chifrada, ou a patada, ou a bicada, enfim). Nada muito diferente do que acontece com os seres humanos. Somos todos uns animais. Ou melhor: piores que os animais.
Eles pelo menos não andam de carro.
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