Estava a digitar um colossal texto sobre o sono e sua particularidades, comparando-o ao mesmo tempo com o Holocausto e com uma partida futebol, quando resolvi abrir um parênteses. Era só para explicar algo banal, mas aquilo foi tomando conta de toda a idéia de tal forma que quando resolvi abrir os olhos (sim, eu escrevo de olhos fechados) já tinha feito quatro parágrafos de explicações contra dois de "idéias". Dentro dos parênteses inclusive já haviam dois colchetes e três chaves explicando a explicação, o que me levou a conclusão de que tudo estava uma grande porcaria.
É impressionante como são tênues os limites ou regras das funções gramaticais da língua portuguesa. Para quem como eu sai por aí apregoando a estética da escrita como fundamental, é um suplício criar qualquer coisa num dia de pouca inspiração. A todo instante o cérebro implora para que se coloque um hífen ou um parênteses, seja para uma explicação sábia e necessária (ou nem sempre), seja para uma simples piadinha de péssimo gosto – normalmente um trocadalho do carilho.
Acho que a melhor explicação para essa maldita tentação é a sensação de invulnerabilidade que os parênteses causam no autor. O que está escrito lá dentro não soa como uma idéia própria, não é simplesmente uma frase autoral. É algo que poderia ter sido dito por qualquer um, como se fosse um adendo qualquer. Como um estudante que grita do fundo do salão no meio de uma palestra; todo mundo ri ou acha interessante, mas só quem estava bem próximo da cadeira dele sabe quem foi que falou.
Escrever entre parênteses ou hífens é como se chamar Frankenstein e receber os óculos escuros do "paizão" Adam Sandler.
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