quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Caixa, papel e fita

Escolher um presente de aniversário é uma complicada arte milenar. Para mim, então, com tantas confusões mentais e algumas convicções a serem urgentemente revisadas, é mais difícil ainda. A ingerência dos meus ideais por parte do meu já tão comentado e famigerado hipotálamo não permite escolhas sem que sejam feitas algumas daquelas presumíveis conjecturas. Traduzindo porcamente, não consigo pensar num presente a ser dado sem imaginar o futuro dele nas mãos do aniversariante.

Quem dá presente – sincero, não por atacado – não o faz sem muita reflexão. É preciso pensar em tudo: nos gostos e vontades do aniversariante, no sentido que a lembrança terá, na utilidade do objeto, na significância do ato... Às vezes, dependendo da circunstância, um cartão musical do Smilingüido tem muito mais valor do que uma Barbie Alpinista (favor desconsiderar se o aniversariante é criança – NUNCA dê roupas, colares ou abajures de presente para uma criança).

Lembro-me de um bonequinho que ganhei de uma amiga, num aniversário qualquer. Não tinha muita utilidade a não ser ocupar uma lacuna entre duas miniaturas de Ferraris na estante, mas era de um grande significado. Não vou explicá-lo agora porque envolve muitas questões filosóficas, sentimentais e mercantilistas. O fato é que sempre que eu olhava para o boneco, lembrava dela. Se alguma visita perguntava "que raios boneco feio é esse?", minha resposta invariavelmente era "foi fulana que me deu". Sem ressentimentos.

É bom lembrar que não importa se o boneco era feio ou não, útil ou não, caro ou não. Ele era simplesmente um símbolo, uma marca constante e insistente da nossa amizade que se fazia presente todas as manhãs. Poderia ser um quadro, uma carta ou uma folha de parreira, não importa. Ele era algo bem mais complexo e intenso do que uma simples peça de decoração.

Hoje em dia nem sei mais por onde o bicho anda. Assim como a amiga, deve ter ficado para trás numa das tantas mudanças que fiz nos últimos anos. Algumas amizades são efêmeras, todos os objetos são finitos. Somente símbolos duram para sempre. A minha maior dificuldade em presentar é justamente achar algo que represente bem o sentimento que me une ao presenteado.

Mas também não vou apelar e comprar um boneco qualquer numa espelunca qualquer para dar para alguém. Acho que nenhuma pessoa teria um gosto tão exótico (leia-se coragem) quanto o meu para colocar um boneco riTículo daqueles na estante.

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