Chimbinha ainda era um moleque ranhento, recém chegado de Fortaleza, quando conheceu Lacerda – que na época ainda era o obeso e chistoso Boluca. Isso foi durante o primeiro campeonato de pebolim promovido por Marcelinho, o amigo rico que tinham
Por uma força do destino, se afastaram por um tempo até que, enfim, perderam o contato. Outro dia se reencontraram, quase 20 anos depois, muito por acaso, em pleno centro histórico de Curitiba. Lacerda parou com seu sedã preto no sinaleiro
- Chimba? É você? – preguntou, incrédulo, o rapaz do carro.
- Olá, companheiro. Sou eu mesmo, Palhaço Chimbinha, ao seu dispor. E o senhor, quem é? – respondeu o sorridente malabarista.
- Ora, não me reconhece, velho amigo?
E o outro, confuso:
- Mas não vá me dizer que você é o...
-... Bolinha! Eu mesmo! Que satisfação revê-lo, rapaz – emendou Lacerda, irreconhecivelmente magro, esquecendo-se do próprio apelido.
Chimbinha não lembrava. Olhou para o céu, procurando inspiração. Respirou fundo, fechou os olhos, imaginou-se pequeno – e nada. Não recordava de ter sido algum dia amigo de alguém tão obtuso quanto Lacerda. Ainda mais com esse apelido, Bolinha. Mas como todo bom palhaço, não se abateu. Com um habilidoso rodopio e um sorriso encantador, foi definitivo:
- Mas é claro! Bolinha, como poderia me esquecer! Formávamos uma bela dupla, não? Chimbinha e Bolinha...
- É verdade. Bons tempos aqueles... – e enquanto isso, o sinaleiro abriu. Alguns motoristas já buzinavam, insatisfeitos com a demora do sedã – Escuta, Chimbinha: tenho que ir agora, ok? Mas vê se vai lá em casa um dia qualquer dia desses. Minha mulher vai adorar te conhecer.
Depois disso, partiu. Chimbinha, cearense que é, ficou lá, trabalhando até o sol se pôr; inconformado com esse jeito curitibano de ser.
Flamengo, cerveja, mulher e literatura. Necessariamente fora dessa ordem.
terça-feira, 31 de julho de 2007
Palhaço Chimbinha
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