terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sobre duelos e camaradagem

João era o sarrista da turma, tudo era motivo para suas piadas de duplo sentido. Raramente alguém ficava do seu lado sem dar risada com suas histórias e situações engraçadas em que se metia. Era querido por todos. Seu companheiro Roberto era tão ou mais fanfarrão que João. Este sim o capeta em forma de guri, ia além das piadas. Tinha em João seu fiel companheiro para pregar suas peças.

Qualquer um da turma era um alvo em potencial, desde piadinhas sobre a falta de cabelo do Marcos, das bochechas salientes do Regis ou dos porres que a galera tomava nas festas e churrascos. Os dois tinham uma competição engraçada entre eles, que rendia risadas aos amigos. Quando saiam juntos, quem desse um beijo na garota mais feia, ganhava um lanche (geralmente um cachorro quente na volta da festa) do “perdedor”.

Mesmo quando João se mudou para um bairro do outro lado da cidade, era comum ele visitar a galera. Vez ou outra dormia na casa de alguém, mas nunca perdeu o contato. A amizade entre João e Roberto era forte e fazia bem para os demais. Sempre se ajudavam com os problemas de faculdade, amores, angustias e essas coisas. Porém essa amizade um dia foi colocada a prova. Roberto começou a namorar. Jéssica a ruivinha que morava no mesmo bairro, mas nunca se “misturou” com a galera.

Jéssica era de longe a mais bonita do bairro, ruiva, cabelo curto, rostinho bonito, sorriso cativante e um jeito de andar que parecia flutuar. Ninguém sabia como e nem Roberto também não disse como começaram a namorar. Mas o fato é que o fanfarrão da turma estava ficando ausente dos encontros da galera. Na churrasco de aniversário de João, o casal estava lá, mas Roberto agia como se estivesse recém conhecendo a galera, com quem ele cresceu.

A galera toda sabia que era coisa da ruiva malvada. Não demorou muito Roberto se afastara da turma, só se via ele com a namorada. Nem no futebol de quinta ele ia mais. Ele até foi umas duas vezes, a ruiva maligna conseguiu privar ele do esporte bretão. Todos diziam que Roberto tinha virado um mané. E de fato ele mudou muito. Mas para a tristeza de Roberto e alívio da galera, depois de quatro meses de afastamento, o namoro acabou. Roberto voltou a fazer parte da turma, era tudo como antes. Mas João não aceitava o fato de o amigo ter mudado tanto quando estava namorando a ruiva destruidora de amizades.

Até que, numa festa estavam lá a turma toda e a ruiva Jéssica com suas amigas. Não houve clima de hostilidades, mas Roberto e a turma não se sentiam a vontade quando se aproximavam de Jéssica. A festa foi rolando e quando ninguém esperava, a ruiva foi até João e deu um beijo, sem que ele conseguisse reagir ou evitar. Roberto e a turma viram aquilo e ficaram bolados, ainda mais quando Jéssica disse: - Me liga a noite.- era um blefe, mas Roberto não engoliu aquilo. Era o fim da amizade deles.

Anos se passaram e o orgulho de João, que não aceitava culpa daquilo e ainda mais por seu amigo Roberto não acreditar nele. E a raiva que Roberto sentiu do seu amigo, em não evitar a bitoca da ruiva. A verdade é que João já tinha dado uns tchuplec-tchuplins na Jéssica, mas antes do namoro dela com Roberto. E esse segredo corroia Roberto por dentro. Os anos se passaram e os dois nunca mais se falaram, a turma teve que se acostumar a sair com um ou com outro.

Muito tempo depois, o tempo curou as feridas e quis o destino que eles se encontrassem num balcão de bar. Roberto fez questão de mostrar que tinha superado o segredo do amigo com a ruiva e disse alto, para que todos no bar ouvissem:
- João seu viado! Escolha as armas.
- Conhaque!- respondeu o velho amigo.
E beberam até cair e João levou Roberto arrastado para casa.

Fim

Um comentário:

Guylherme Custódio disse...

"A verdade é que João já tinha dado uns tchuplec-tchuplins na Jéssica...."
Essa foi ótima!!!