quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O campeão

Foi do interior de Minas Gerais – Alfenas, para ser mais específico – que trouxeram o grande campeão. Ninguém duvidara, desde seu nascimento, da sua pinta de vencedor. Já nasceu alto e forte, com uns braços afilados, porém torneados, e peitoral desenvolvido. Tinha desde cedo como marca registrada a grande facilidade com que criava e mantinha músculos e, apesar disso, também apresentava surpreendente agilidade.

Antes que completasse três anos, já tinha um completo programa de treinos: corrida pela manhã e natação ao final de cada tarde. E os melhores treinadores, aliás. Nada muito intenso; mais para criar-lhe uma rotina e acostumá-lo ao cotidiano de campeão desde pequeno. Sua alimentação também era especial, com alguns dos mais bem tratados cereais do país servidos logo ao amanhecer. Mimavam-no, por certo, mas com o único objetivo de fazer dele o maior vencedor de todos os tempos.

Quando seu porte se tornou condizente, deram-lhe o carinhoso apelido de Tyson, uma visível "homenagem" ao histórico lutador. Sim, o campeão cresceu e se tornou tão agressivo quanto o boxeador americano – e isso, ao mesmo tempo que animava, preocupava os treinadores. Tyson, o brasileiro, não seria um papa-títulos se continuasse nervoso daquele jeito, apesar de aquilo lhe dar uma competitividade nunca antes vista. Foi preciso enviá-lo para um tratamento específico contra essa agressividade.

Foram cinco longos meses de psicologia. Uma eternidade, considerando que Tyson já estava em tempos de competir. Fizeram-no uma lavagem cerebral completa. Enviaram-no para os mais floridos e silenciosos campos de recuperação do país, a fim de que finalmente encontrasse a paz de espírito. Para ajudar, mandaram-no junto as mais belas e pacíficas fêmeas que se tinha notícia – tudo para livrar-lhe da mente quaisquer preocupações. Ao fim do tratamento, Tyson se tornou um ser mais calmo de que qualquer monge tibetano.

Tempos depois, enfim, chegou o grande dia: uma final Olímpica. Tyson já havia vencido toda competição que entrara até então, mas uma final olímpica é a consagração para qualquer um. Perante as 93 mil presentes no estádio e outros tantos bilhões de telespectadores, Tyson não se abalou. Não piscava nem demonstrava qualquer nervosismo – dir-se-ia relaxando, não fosse as dancinhas que fazia para chamar a atenção do público. Tinha certeza de que venceria. Os outros competidores, todos consagrados e quase tão excelentes quanto, olhavam-no como um grande ídolo, o imperador bizantino a ser batido, aquele que já havia faturado tudo nos últimos três anos e que certamente levaria aquela também. Os outros se limitavam a lutar pelo segundo lugar, policiando-se para não se distraírem durante a prova com a presença do multicampeão.

Antes da prova, Tyson curtia sua glória. Sorria, coisa que nenhum outro concorrente ousava fazer. A vitória e a consagração completa eram questão de tempo. Então ouviu-se o tiro. Da largada ao fim, tudo como tinha de ser: Tyson dominou a prova do começo à linha de chegada, e terminou em primeiro lugar muito a frente dos outros competidores, num tempo jamais imaginado por qualquer profissional do esporte. Seus treinadores finalmente caíram em lágrimas, satisfeitos com o trabalho que fizeram; o estádio inteiro se tomou em aplausos, em pé; as câmeras do mundo inteiro não lhe tiravam o foco. Tyson, aos sete anos de idade e no auge da forma física, tornou-se o maior campeão da história olímpica na prova de Eventing individual. Um verdadeiro fenômeno.

Tyson, agora o maior cavalo da história. O maior vencedor da provas de salto, dressage e eventing de todos os tempos. Não havia prêmio eqüestre que ele não levasse.

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