Sou de uma geração que teve a sorte de crescer lendo os gibis da Turma da Mônica. Eles já existem desde os anos 70, é verdade, mas é inegável que o auge da turminha foi no começo da década de 90. Foi nessa época que todas as melhores histórias da trupe foram criadas, tanto que os almanaques de hoje em dia são meras reedições das revistas desse tempo. Quem com seus 20 anos que não se lembra daquela vez em que o Rolo virou dark? Ou então quando a Mônica viajou para a casa dos avós com e o Cebolinha, depois de ter gozado os louros de assumir a "gerência" da rua, se viu inconsolável sem a presença da amiguinha (e maior inimiga)? Maurício de Souza e suas confusões psicanalíticas.
O fato é que a Turma da Mônica é uma marcante influência para quem foi viu o tetra vestido de seleção da cabeça aos pés (os adultos fazem isso com as crianças). O sonho de todo guri curitibano naquela época era visitar a casa do Louco, no Parque da Mônica, e se perder nos labirintos daqueles brinquedos. Até criaram uma filial aqui, no saudoso Estação Plaza Show, mas não era a mesma coisa. Nas revistinhas tinha aquele robô que até hoje tenho vontade de conhecer. Só que o maior exemplo da influência da Turma nos adultos de hoje está no trânsito. Sim, pasme!, no trânsito..
Basta fazer as contas: todos os filhos dos anos 80 são os adultos de hoje. Aqueles mesmos, que cresceram lendo Cascão, Cebolinha, Magali e Chico Bento, estão todos em idade de dirigir e, portanto, infestando os logradouros públicos com seus malditos carros poluidores. Mas o que as bondosas e inofensivas revistinhas têm que ver com isso? É que tal como a Mônica, aquele baixinha, dentuça e golducha, esses neo-motoristas se sentem os verdadeiros donos da rua – e ai de quem disser o contrário.
Explico. Imagine-se numa via rápida. Tudo flui normalmente – e normalmente, aqui, é os carros andando a 50 km/h. Eis que lá na frente um ônibus escolar dá sinais de que vai parar. E ônibus escolar já sabe: não importa se é BR, Marechal Floriano ou beco sem saída; eles param mesmo. Você, esperto que é, dá uma de pró-ativo e sai logo para a pista da esquerda. Centenas de metros antes, diga-se de passagem. Aí entra em ação o dono da rua. Ele, certamente entretido com sua tela de DVD, não percebe a sinalização do busão e precisa parar atrás. Aí, como quem não quer nada, ele simplesmente bate o dedo mínimo na manopla de seta e anuncia que vai entrar à esquerda, como se isso fosse fazer a via toda parar para apreciar sua magnífica ultrapassagem. O motorista que vem de trás na pista da esquerda – você, no caso, que foi pró-ativo – fica numa tensão danada sem saber o que o dono da rua vai fazer, até porque ele já embicou quase metade do seu carro rebaixado na pista em que você se encontra.
E aí, de repente, o Escolar avança e ele, o dono da rua, desiste da ultrapassagem, faz uma cara de enfado e volta para sua pista original, como se nada tivesse acontecido.
Tem também o dono da rua saindo de casa. Você vê, de longe, o carro aparecendo num portão qualquer e pensa "será que esse maldito cara vai sair na minha frente?" Ainda não. Ele espera você chegar mais perto, a uns 30 metros mais ou menos, e sai. Contorna pela pista ao lado (porque dono da rua não precisa se preocupar com quem vem de lá) e fica exatamente na sua faixa, a no máximo 50% da velocidade que você está. Como se não bastasse, assim ele segue até o próximo sinaleiro, quando irá parar para finalmente pôr o cinto de segurança e escolher o CD que vai ouvir. E isso, claro, o faz atrasar em pelo menos 20 segundo a arrancada no sinal verde.
Teríamos muitos outros exemplos, como o dono da rua que pára sem mais nem menos para deixar a namorada (ou prostituta, vai saber) no tubo do Santa Quitéria, mas não é para isso que estou aqui. Só queria ilustrar como um fenômeno editorial pode afetar uma geração inteira. Essa de hoje em dia, por exemplo, irá ser plenamente atingida pelas ações do bruxo Harry Potter. Ainda não se sabe onde nem com o que, mas pode ter certeza de que será algo tão emblemático quanto os nossos donos da rua.
E antes que alguém diga que eu também era leitor da Turma da Mônica na infância e que, portanto, devo cometer as mesmas atrocidades que os donos da rua, vou me defender. Toda vida fui meio bobo como hoje, então minhas influências eram outras, bem mais relaxadas (em todos os sentido): Seu Boneco e Patropi, No trânsito, a única coisa que faço é "ir pra galera" e dizer que os outros, para mim, são problema deles. Que loucura, meu.
O fato é que a Turma da Mônica é uma marcante influência para quem foi viu o tetra vestido de seleção da cabeça aos pés (os adultos fazem isso com as crianças). O sonho de todo guri curitibano naquela época era visitar a casa do Louco, no Parque da Mônica, e se perder nos labirintos daqueles brinquedos. Até criaram uma filial aqui, no saudoso Estação Plaza Show, mas não era a mesma coisa. Nas revistinhas tinha aquele robô que até hoje tenho vontade de conhecer. Só que o maior exemplo da influência da Turma nos adultos de hoje está no trânsito. Sim, pasme!, no trânsito..
Basta fazer as contas: todos os filhos dos anos 80 são os adultos de hoje. Aqueles mesmos, que cresceram lendo Cascão, Cebolinha, Magali e Chico Bento, estão todos em idade de dirigir e, portanto, infestando os logradouros públicos com seus malditos carros poluidores. Mas o que as bondosas e inofensivas revistinhas têm que ver com isso? É que tal como a Mônica, aquele baixinha, dentuça e golducha, esses neo-motoristas se sentem os verdadeiros donos da rua – e ai de quem disser o contrário.
Explico. Imagine-se numa via rápida. Tudo flui normalmente – e normalmente, aqui, é os carros andando a 50 km/h. Eis que lá na frente um ônibus escolar dá sinais de que vai parar. E ônibus escolar já sabe: não importa se é BR, Marechal Floriano ou beco sem saída; eles param mesmo. Você, esperto que é, dá uma de pró-ativo e sai logo para a pista da esquerda. Centenas de metros antes, diga-se de passagem. Aí entra em ação o dono da rua. Ele, certamente entretido com sua tela de DVD, não percebe a sinalização do busão e precisa parar atrás. Aí, como quem não quer nada, ele simplesmente bate o dedo mínimo na manopla de seta e anuncia que vai entrar à esquerda, como se isso fosse fazer a via toda parar para apreciar sua magnífica ultrapassagem. O motorista que vem de trás na pista da esquerda – você, no caso, que foi pró-ativo – fica numa tensão danada sem saber o que o dono da rua vai fazer, até porque ele já embicou quase metade do seu carro rebaixado na pista em que você se encontra.
E aí, de repente, o Escolar avança e ele, o dono da rua, desiste da ultrapassagem, faz uma cara de enfado e volta para sua pista original, como se nada tivesse acontecido.
Tem também o dono da rua saindo de casa. Você vê, de longe, o carro aparecendo num portão qualquer e pensa "será que esse maldito cara vai sair na minha frente?" Ainda não. Ele espera você chegar mais perto, a uns 30 metros mais ou menos, e sai. Contorna pela pista ao lado (porque dono da rua não precisa se preocupar com quem vem de lá) e fica exatamente na sua faixa, a no máximo 50% da velocidade que você está. Como se não bastasse, assim ele segue até o próximo sinaleiro, quando irá parar para finalmente pôr o cinto de segurança e escolher o CD que vai ouvir. E isso, claro, o faz atrasar em pelo menos 20 segundo a arrancada no sinal verde.
Teríamos muitos outros exemplos, como o dono da rua que pára sem mais nem menos para deixar a namorada (ou prostituta, vai saber) no tubo do Santa Quitéria, mas não é para isso que estou aqui. Só queria ilustrar como um fenômeno editorial pode afetar uma geração inteira. Essa de hoje em dia, por exemplo, irá ser plenamente atingida pelas ações do bruxo Harry Potter. Ainda não se sabe onde nem com o que, mas pode ter certeza de que será algo tão emblemático quanto os nossos donos da rua.
E antes que alguém diga que eu também era leitor da Turma da Mônica na infância e que, portanto, devo cometer as mesmas atrocidades que os donos da rua, vou me defender. Toda vida fui meio bobo como hoje, então minhas influências eram outras, bem mais relaxadas (em todos os sentido): Seu Boneco e Patropi, No trânsito, a única coisa que faço é "ir pra galera" e dizer que os outros, para mim, são problema deles. Que loucura, meu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário