- Ei. Prometa que não vai deixar eu fazer isso quando a gente se casar.
- Como assim a gente se casar?
- Ora, a gente pode vir a ser casar um dia, não?
- Sim, mas a gente nem namora. A gente nunca nem se beijou.
- Eu sei. Só que somos dois jovens, com interessem em comum e que um dia podem vir a se casar, não é verdade?
- Claro, mas...
- Mas não é essa a questão. Só me diga que não vai mais me deixar fazer isso quando formos marido e mulher.
- Eu prometo, mas me diga uma coisa: você já andou pensando nisso?
- Nisso o que?
- Em a gente se casar e tal.
- Ah! Sim, claro. E quem não pensaria?
- E porque nunca me falou nada?
- Ué!? Não posso pensar minhas coisas em segredo? Além do mais, nunca daria certo.
- Porque não daria certo?
- A gente nem combina tanto assim... E se um dia a gente por acaso ficar juntos, esse dia vai ser lembrado como o dia da redenção do homem com “h” maiúsculo.
- Êh; por que isso agora?
- O quê? A redenção?
- É. E esse negócio de homem com “h” maiúsculo...
- É que se eu ficar com você, será uma negação de princípios. Se não os meus, ao menos os da lei universal do homem como gênero – bonito isso, né?
- Seus princípios dizem para você não ficar comigo?
- Não, não é isso. Jamais! É que os homens têm uma espécie de lei – pelo menos os homens que se consideram homens, os machos de verdade, os com “h” maiúsculo – que institui o orgulho como uma condição essencial para exercer o papel de macho.
- E o que o orgulho tem a ver com isso agora?
- É que o orgulho nunca deixaria um homem de verdade fazer coisas vergonhosas para conquistar alguém, mesmo que esse alguém seja o amor da vida dele. Aliás, o orgulho nem deixaria o homem admitir que tem um “amor da vida”.
- Você está dizendo que eu sou o amor da sua vida?
- Bem... Não exatamente. Quer dizer... Ah, você entende né?
- Acho que sim. Talvez. Não sei.
- Então. Aí é que está. Se você entender e a gente vier a ficar juntos, será a redenção do homem macho-sim-senhor. Talvez nem uma redenção, mas um contra-senso danado para com as mais antigas leis do universo.
-... Você só falou tudo isso para dizer que gosta de mim, né?
- Pss! Fala baixo!
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