quarta-feira, 5 de março de 2008

Mas eu me mordo

Estava tudo indo muito bem, a Camila é uma menina sensacional. E sem falsa modéstia, sou um bom namorado. Estamos juntos a um ano e meio, raramente brigamos. E quando isso ocorre é sempre por questões como o controle remoto da TV ou que sabor de pizza pedir, nada de grave. Ela é muito querida na minha família e a família dela também me trata muito bem. Nos conhecemos numa fila de banco e disso não ficamos mais sem se ver.

Ela estuda odontologia de manhã e faz natação a tarde, eu trabalho numa agência de publicidade e tento jogar futebol nas terças e quintas. Não por obrigação, mas por prazer mesmo eu costumo levar a Camila no cinema, toda quarta feira. Só quando tem jogo do Mengão que não, e ela entende isso. Se bem que ela não seria louca de me contrariar.

Fazemos programas bem diversificados, nunca deixamos de visitar os amigos e procuramos ter o maior número de amigos em comum. E talvez esse tenha sido o princípio da inquietação que corrói a cada minuto. Nunca fui de ter ciúmes, mas confesso que ultimamente eu me mordo de ciúmes. Tudo por causa das nossas concessões de namorados descolados que se amam. Porém dessa vez isso me pegou desprevenido.

Tudo começou depois de uma reunião etílica na casa da Carla, irmã da Camila, em que ela mandou chamar todo mundo. Tinha tudo para ser uma festa bacana, mas o problema é que foi todo mundo. Todo mundo mesmo, tinha gente de todo tipo. Sumidos apareceram, os de sempre, como sempre estavam lá, enfim foi um sucesso. Carla disse que nunca tinha dado tão certo um convite desses.

Voltando ao meu causo, a festa estava maneira. Muita bebida, churrasquinho, risadas, gente fazendo graça, gente fazendo fiasco, era uma festa descolada. Lembro que enquanto a Camila revia e matava as saudades das amigas de antigamente. Malandro que sou, fui jogar um carteado. No truco meu parceiro foi um sujeito que não conhecia. Marcelo era um cara animado, o apelido dele era Cerebelo. A Camila já tinha falado desse sujeito anteriormente. O cara não parava de falar quando estava jogando. Irritava os adversários e demorou para que perdêssemos um jogo. Quando perdemos o Cerebelo foi zoado demais, achei engraçado.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem até que a Camila viu o Cerebelo. Se cumprimentaram com um abraço apertado, e ela me apresentou a ele. Foi aquela situação famosa “oh, mas vocês já se conheceram”, disse que jogamos truco. Ficamos eu, a Camila, a Carla e o Cerebelo, que é amigo de infância das duas, conversando numa mesa. Até que de repente, não mais que de repente surge uma conversa estranha de que o tal Cerebelo e a Camila tiveram um affair. Pronto, era o que faltava para estragar meu dia. Minha namorada dando gargalhadas com o ex-namorado. Cerebelo, vê se isso é apelido que se preze.

Depois da festa a Camila me explicou que eles foram namorados, na verdade aqueles namoricos de criança, quando eles tinha cinco anos. E que eles não se viam há mais de quinze anos. Tudo bem, posso estar sendo um tanto exagerado, mas não vejo como não ser. Até queria levar uma vida moderninha, mas eu me mordo de ciúmes.

Fim

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