A malandragem no trânsito é a maior das incongruências do comportamento humanas – principalmente em Curitiba. Eu não sou nenhum santinho, admito. Forço alguns sinais amarelos (por que acredito que se deve ter esperança até o fim), dou minhas "picotadas" entre os carros e uso os 15 minutos da vaga da farmácia para ir à panificadora ou à banca de revistas. Nada de tão grave, porém é a tal da ambivalência brasileira: faça o que eu falo mas não faça o que eu faço.
Alguns caras exageram. E digo caras porque os malandrões do trânsito são sempre homens entre 18 e, vá lá, 30 anos. Nunca se vê uma mocinha pilotando um Ford Ka vermelho a 120 por hora na Visconde de Guarapuava. Elas estão sempre que podem se maquiando no espelho retrovisor. Que não me levem a mal, mas é talvez por isso mesmo que elas são mais educadas na direção. Nada têm a ver com os adesivos de florzinha, Betty Boop, Hello Kittys e afins que elas colam sobre a tampa do porta-malas.
Um dos casos mais emblemáticos é o momento de arrancar no sinaleiro. Eu não perco nunc... Digo, todo homem acha que consegue arrancar antes do veículo imediatamente ao lado. E não importa se há alguém na frente ou se precisará atravessar a pista para entrar à esquerda na primeira rua após o cruzamento: a espera pelo sinal verde é um breve momento de tensão. Os malandrões pisam fundo, roncam os motores, intimidam os vizinhos e, quando o sinal finalmente abre, correm, aceleram como se nada houvesse de mais importante do que chegar antes do "adversário". Mas... Chegar onde? Justamente no próximo sinal fechado, onde você, motorista prudente que arrancou calmamente e seguiu com velocidade segura e compatível com a via, chegará apenas alguns pouquíssimos segundos depois.
Mas o que mais irrita este que vos escreve são as benditas faixas de conversão obrigatória. Sabe, como aquela na Bento Viana, onde quem está na faixa da esquerda é obrigado a entrar na Avenida do Batel? Ou então para quem está na faixa da direita da Visconde de Nácar, logo após a Vicente Machado, e é obrigado (quase induzido, pois ali é um movimento praticamente natural) a entrar na Comendador Araújo? Essas faixas são quase que isoladas das outras por aquelas tartariguinhas, muito bem sinalizadas e, principalmente, NÃO CONTINUAM depois da rua onde se é obrigatório fazer a conversão. Mas o que fazem os malandrões? "Wooow"!, são muito espertos e ultrapassam todos os bobos que ainda esperam para seguir reto na faixas – digamos – mais convencionais.
Particularmente tenho uma técnica supimpa que serve, se não para educar os malandrões, pelo menos para deixá-los profundamente irritados. E garanto a vocês que é uma técnica empiricamente comprovada. Funciona assim: logo que o espertalhão entrar espertamente na sua frente, oriundo de uma dessas faixas de conversão obrigatória, tasque-lhe um jóia pelo seu pára-brisa. Sim, aquele mesmo jóia que se faz para cumprimentar o colega do outro lado da rua. Mas preste muita atenção. É preciso colar na traseira do indivíduo e ter certeza de que ele viu o jóia por algum dos espelhos. Admito que é uma técnica perigosa, mas a risada, no final, compensa todas as agruras desse trânsito caótico. Ah, e é muito importante conferir se o malandrão é mesmo um malandrão. Às vezes acontece de um motorista novato ou senil (esses são peritos nisso) estarem na faixa errada e PRECISAREM entrar na sua frente. Só que aí a história é outra.
Mas, espera aí. Será que estes motoristas senis, que por muitas vezes acho-os estúpidos em todo o âmbito da palavra, não foram os malandrões da sua época e estão usando toda sua malemolente velhice para passarem a pernas nos bobocas aqui? Sinto que fui enganado.
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