sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Perfil

Oi, meu nome é Enciso. Enciso de Almeida Prado. Dizem que é um nome meio indígena, daqueles paraguaios ou bolivianos, mas não. Foi meu pai quem escolheu, e definitivamente não foi por este motivo. É que o velho sempre foi daquele tipo faz-tudo, que ataca em todas as frentes, de construção civil à gerência de lanchonete, sem distinção. Ele topa qualquer parada. E olha que quando eu digo "qualquer parada" é qualquer parada mesmo! Além das profissões já citadas, ele foi jogador de futebol, assistente de palco, motorista de caminhão, barman, vendedor de cosméticos, pastor evangélico, torneiro mecânico, guia de turismo e dentista. Isso se eu não esqueci de alguma coisa.

Para nós, a família, essas mudanças sempre foram uma grande diversão. A cada profissão que papai tinha, ele assumia uma personalidade diferente. Já foi extremamente coletivista a ponto de dividir a renda da família em partes iguais e dar uma porção para cada um, na época da tornearia; malandro-agulha, daqueles que sai no sábado para comprar cigarro e só volta segunda-feira, quando foi jogador profissional; um metrossexual à la David Beckham na época que trabalhava na Avon; e barrigudo beberrão, quando dirigia sua carreta Brasil afora. Só foi ruim quando ele resolveu ser pastor: além de não levar nada de interessante para casa (os pais sempre levam sobras divertidas do trabalho para os filhos), ele falava mais alto que camelô de praia.

Fato é que papai tinha a estranha mania de dar nomes temáticos à prole. Dá para saber em que profissão ele estava quando do nascimento de cada filho só pelos nomes. Por exemplo: Pelé nasceu quando papai era o ponta-esquerda do União São João de Araras; Martini, a mais velha, é de quando o velho era barman na orla de Fortaleza; Senegal é da época de guia turístico, porque foi ele quem criou a rota Brasil-África para a PorecaTur; Dejair nasceu quando papá era caminhoneiro; e assim por diante.

Quanto mamãe teve a mim e a meus irmãos (somos quadrigêmeos), o velho estava dando uma de dentista. Foi esse o nosso azar. Quer dizer, azar de meus irmãos, pois eu sou chamado pelo comum e banal nome de Enciso. Sim, além de mim temos o Preciso, o Conciso e o Canino. A este, coitado, papai sempre se desculpa dizendo "perdão, meu filho, por ter me esquecido do histórico Narciso naquele dia".

Um comentário:

Rafael Urban disse...

Caros,
convido vocês para a leitura de "Senhoras de Programa", minha maior aventura jornalística até o momento.

http://materiaspublicadas.blogspot.com/2008/10/senhoras-de-programa.html

Saludos, Rafael Urban