quarta-feira, 15 de outubro de 2008

E isso ainda foi pouco (bônus track)

E mais uma vez fui dormir no sofá. Júlia ainda gritava como uma maluca no quarto, talvez ela não tenha idéia que os vizinhas costumem dormir às três da manhã. Era questão de tempo, até o Seu Almeida, o porteiro, subir e nos chamar atenção pelo barulho. Por sorte ele apenas pediu silêncio pelo interfone. Júlia, com seu vasto arsenal de palavrões e uma vontade incrível de querer me irritar foram implacáveis comigo. Mas hoje ela quis ir além, ela queria que eu concordasse com mais uma de suas idéias absurdas.

Usei a boa e velha tática de deixar ela brigando sozinha, só que a ingrata além de não deixar eu argumentar, ainda queria que eu ficasse olhando para ela. Eu estava cansado da semana toda no trabalho e agora com as aporrinhações de Júlia. Não sei o que passa na cabeça oca dela. Adotar uma criança é muito nobre, mas não estou disposto a travar uma batalha, digna de Hércules, para adotar uma criança. E ainda não acho que a criança vá se desenvolver, de maneira saudável com uma maluca dessas na mesma casa.

Ela já não berrava mais, não que tivesse parado de brigar comigo. Pelo contrário, só estava falando mais baixo. O discurso dela era meu velho conhecido, bateu um soninho maroto e eu, displicentemente virei o rosto, dando as costas para ela. Júlia explodiu em fúria, veio com tudo para cima de mim. Quando ela menos esperava, deu um chute na quina do sofá e esmagou o dedinho do pé. Nessa hora senti pena dela, qualquer um se rende quando bate o dedinho na quina do sofá. Por incrível que pareça, ela esqueceu da briga imediatamente. Claro que me aproveitei, para tentar recuperar meu lado da cama.

A peguei no colo, deitei na cama, passei gelol, no dedo dela e tentei acalma-la. Ela nem parecia mais aquela doida que queria me desossar vivo. Cuidei dela até que pegasse no sono, o que não demorou muito. Assim que percebi que ela dormia fui me aconchegando na cama. Puxei o edredon e finalmente iria dormir. Quando eu estava quase pegando no sono, sinto uma joelhada com força nas costas e ouço a voz raivosa da Júlia: - não é porque cuidou de mim que esqueci que você virou as costas para mim!

Puto da cara. Peguei me travesseiro e fui para o sofá. Como se não bastasse, fico sem sono, com dor nas costas e a lembrança da minha mãe me dizendo: - Essa Júlia não é mulher pra você não meu filho.

Lá do quarto ouço a voz ela falar mais alguma coisa que não entendo direito.
- Está doendo as costas?
- Está sim – repondo.
- E isso ainda foi pouco.

Fim

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