terça-feira, 8 de julho de 2008

A jornada

Na longínqua Catulé dos Montes no interior do sertão nordestino, Lúcio queria saber o resultado da rodada. O problema é que ele mora numa região sem muitos vizinhos e sem energia elétrica. Apesar da dificuldade ele acompanha o campeonato, e por isso uma angústia maltratava o seu coração. Resolveu que iria até a vila mais próxima para saber dos resultados. Pegou o Billy, o jegue da família, e saiu em disparada ruma o vila.

Já era quase noite, e Lúcio sabia que era perigoso voltar para casa muito tarde. Ouvia-se muito falar de assaltos e crimes na estrada de terra batida. Muitos dos crimes aconteciam por maldade do jagunços das terras dos coronéis, que costumavam se divertir atirando nos desafortunados que por descuido cruzam o seu caminho. Mas Lúcio, cabra macho barbaridade, não quis saber e foi em busca do que queria.

Certo momento na caminhada, parou para dar água ao Billy, e fumar um cigarrinho de palha. Foi então que uma mulher o chamou pelo nome. Surpreso tentou ver quem era, mas não reconheceu. O jegue ficou assustado, Lúcio tentava acalmar o bicho. Mas o bicho mesmo era a mulher, que não tinha rosto. Era a visão mais estranha que viu em toda a vida. Isso que não acreditava em assombração e coisas do tipo. Sem perder tempo montou no animal e saiu em disparada, sem dar nenhuma olhada para trás.

Correu até o Billy ficar exausto. Seu coração estava disparado, mas já estavam na vila. Foi até a mercearia do seu Emanuel, sujeito acolhedor e bom de prosa, que já estava fechada, onde pediu água para ele e para o seu jegue. O dono da mercearia trouxe o que Lúcio pedira e perguntou se poderia ajudar em mais alguma coisa. - Quanto foi o jogo do Flamengo hoje?- perguntou Lúcio. O comerciante, com um sorriso de deboche, respondeu - o Flamengo não ganhou hoje não!

Lúcio, era a cara da frustração em pessoa , pensou na caminhada que fizera e no susto que tomou para no fim receber esta notícia de que o seu não venceu. Educado, agradeceu pela água e quando foi saindo, Seu Emanuel ofereceu um café. Lúcio aceitou e contou sobre a mulher sem rosto. O comerciante contou que essa mulher costuma aparecer e rouba a visão de quem chega muito perto. Mas Lúcio não ficou tão chateado com a história da mulher sem rosto, quanto com o Mais Querido não ter ganho o jogo.

Terminado o café foi se despedindo de Emanuel, que o interrompeu para dizer: - O Flamengo não ganhou hoje, porque ganhou do Náutico ontem a tarde. Era o que Lúcio precisava para voltar feliz da vida para Catulé dos Montes.

Fim

Ps: Essa mulher sem rosto não tem relevância nenhuma, só queria falar do Flamengo líder do campeonato.

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