quinta-feira, 5 de junho de 2008

Gravidez precoce

Aproveitou o fuzuê que estava acontecendo na sala para dar a notícia:

- Pai, estou grávida!

Imediatamente, como num passe de mágica, os pratos pararam de voar e os palavrões cessaram. No ar, somente as penas do travesseiro que ainda caíam. A menina estava parada à porta, com as mãos nos bolsos da blusa e olhar atento. A mãe, ainda enrubescida de raiva, soltou um gritinho de susto e deixou um vaso, que logo serviria como arma, cair. O pai – esse não se agüentou:

- Pense bem no que você está falando, Marina.

Ela sabia o que aquilo queria dizer. Tinha no pai a figura de herói, o mocinho dos filmes de faroeste, mas sabia que deixá-lo bravo era a última coisa que alguém poderia desejar. Tinha imaginado como contar a gravidez à família durante os últimos dois meses, porém sempre desistia no último instante. Desta vez, não: pensou que, se os pais não estivessem com toda a atenção voltada a ela, o impacto da notícia seria menor. Ledo engano.

- M-mas pai...

- Não me venha com mas, menina. Isso que você está falando é muito sério. Tem certeza de que está grávida? – cortou ele, e Marina sabia que aquele tom manso no fundo escondia profunda irritação.

Ela estacou. Lembrou-se de quando falou ao pai que tinha reprovado de ano na escola. O velho ficou com tanta raiva que a castigou sistematicamente durante dois anos, até que Marina se tornou a melhor aluna da escola. O que viria agora? Tomaria-lhe o filho até que aprendesse que para ser mãe era preciso pelo menos experiência de vida, coisa que aos 17 anos quase ninguém tem? Marina fitava o pai com os olhos cheios de lágrimas.  Ele tremia, com os punhos cerrados e a testa enrugada, suando.

- Vamos lá, responda! – disse ele, sem piscar.

Marina, a essa hora, teve medo. A cara do pai era de psicopata. Imaginou-se prontamente sendo esquartejada no porão da casa, e o seu filho, retirado do útero com o tanto de vida que tivesse, descendo ao esgoto junto com a água da privada. Olhou para a mãe como que suplicando ajuda e viu a velha chorando. Depois disso não conseguiu mais se segurar e deixou uma lágrima escorrer-lhe o rosto.

- Pai, fica calmo, por favor!

- Eu estou calmo, Marina. Só quero que você responda: tem certeza de que está grávida? – respondeu o velho, sem sair da posição que estava desde que Marina entrou em casa.

Ela, então, desabou. Desmaiou por causa do desespero que o medo lhe causara. Ainda sentiu bater as costas no trinco da porta durante a queda, mas antes de chegar ao chão o mundo já lhe parecia escuro. Acordou horas depois, no hospital, e logo que abriu os olhos viu o rosto do pai suando a sua frente

- Você estava certa, Marina – disse-lhe ele. – Pedi para o médico fazer os exames e você está mesmo grávida.

Sem entender direito o que estava acontecendo e muito menos onde estava, a menina, aflita, respondeu:

- O que você vai fazer, pai?

- Como assim o que vou fazer? O que mais se há para fazer numa situação dessas?

Então o velho saiu a andar pelo consultório. Falava coisas do tipo "você não tem idéia do que isso significa" ou "quer que eu pense o que da minha filha ter um filho?", e a cada frase Marina se desesperava. Tentava se mexer para arrumar proteção, mas estava muito fraca por causa dos remédios e dos exames. Quando ameaçava desmaiar outra vez, o pai completou:

- Chamei toda a família. Vamos fazer uma festa de arromba hoje à noite, lá em casa. Precisamos comemorar! Meu primeiro neto... Quanta alegria, quanto orgulho!

E beijou Marina como nunca fizera antes.Nas bochechas, na testa, no nariz. O amor irradiava dos seus olhos, das suas palavras. Reconciliou-se com a mulher e saiu pelo hospital , saltitante. E abraçava todo mundo:

- Meu neto! Eu vou ter um neto! Sou o homem mais feliz do mundo...

Um comentário:

Graffo disse...

Cara, não precisa de convite pro EBC, tu simplismente vai, auahuaha
sexta feira, no estção depois das 6, na frente do bobs
abrz