quinta-feira, 5 de junho de 2008

A torcida sempre decide

Assisti ao jogo entre Boca Juniors e Fluminense por puro amor ao esporte. Gosto tanto de futebol que já vi até partida da segunda divisão do campeonato paulista de futebol society – imagina se perderia uma semifinal de Libertadores?

Fui um espectador decididamente técnico. Observei cada lance sem paixão alguma, apenas analisando os acontecimentos. Afinal de contas, para mim nem haveria para quem torcer sem cometer uma heresia: de um lado o Boca, que há 42 anos não era eliminado por um time brasileiro da Libertadores (além de ser da Argentina); do outro o Flu, que dispensa apresentações (sou Flamengo, mermão!). Mas esse jogo tinha algo especial. Uma coisa que me faz esquecer de tudo e de todos e apenas observar o espetáculo, mesmo que no campo esteja o meu rubro-negro: a torcida.

Não há nada mais lindo no mundo do que um estádio lotado. Já devo ter escrito isso outras vezes, mas não me canso de repetir. Não me interessa se é o Maracanã com 84 mil espectadores ou a Arena da Baixada com seus 17. O que importa é que não haja espaço em branco e nem gente calada. Tem que ter o tempo todo gritos, fogos, bandeiras, fantasias... O futebol é tão mais lindo quando mais animada está a torcia. E ontem, convenhamos, a torcida do Fluminense deu show. A multidão foi quem levou o time nas costas.

Deu gosto de ver o Fernando Henrique fazendo milagres à la Brunão. Melhor ainda admirar a habilidade do Conca e a classe do Tiago Neves. E o que falar da vontade daquele zagueiro, o tal Thiago? Eles não jogam assim. Quem vê futebol, quem acompanha e gosta, sabe que eles não são tudo isso. Ou melhor: poderiam até ser, mas estádio lotado é produto raro no Brasil. Foi a magia das arquibancadas que lhes deu forças. Experimente ver Fluminense e Palmeiras daqui a algumas semanas e tire suas próprias conclusões. Se a arquibancada estiver vazia, o Arouca não vai conseguir marcar nem o poste-matador Alex Mineiro, quanto mais o craque Valdívia. Ontem ele anulou nada mais nada menos que Juan Román Riquelme, o craque da camisa número 10.

O sono já bate à porta, mas não posso me deitar sem comentar sobre o personagem da noite. Todo mundo já vai saber quem é – se é que já não sabe – quando ler este texto. Ele será matéria de “boa tarde” do Globo Esporte, estará na capa de todos os jornais do Brasil e na Placar do mês, irá ao Bate-Bola, ao Bem Amigos e ao Rock Gol de Domingo e, se duvidar, consegue um contratinho milionário num clube qualquer das arábias (é, porque com 34 anos ninguém da Europa vai querer contratá-lo).

Não é para menos: Dodô foi magistral. Entrou para decidir o jogo. Na primeira bola que tocou, sofreu a falta que resultou no primeiro gol. Na segunda, puxou um contra-ataque onde saiu a virada. Na terceira, perdeu de marcar depois de ter roubado uma bola no meio de campo. A quarta... Ok, chega, chega. Agora só importa mesmo dizer que ele ainda fez mais duas boas jogadas e foi merecidamente premiado no fim da partida com um gol que levou o Maraca abaixo.

Enfim, vendo o jogo como estudioso do esporte, foi mais uma daquelas partidas memoráveis, que dá vontade de mandar gravar em fita VHS para mostrar para a criançada daqui a vinte anos. Já vendo com a paixão de torcedor que sou, só resta dormir com a dor de cabeça de quem tem certeza que estaria lá se não fosse um atacante gorduchito de um tal América do México.

Só que ruim mesmo vai ser agüentar o Renato Gaúcho dando entrevistas (de óculos escuros, claro) dizendo que é um dos melhores treinadores do Brasil. Ah, vá te catar.

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