Os sonhos são uma ótima fonte de inspiração para nós, pseudo-cronistas. Diria que se o cão é o melhor amigo do homem, o sonho é o melhor amigo do pseudo-cronista. Principalmente quando falta assunto polêmico para suscitar polêmicas no espaço (buraco) nosso de cada dia. O problema é quando os sonhos insistem em ser recorrentes. Eu, por exemplo, tenho uma forte queda por atendentes de telemarketing. Ontem, mais uma vez, estive sonhando com essas incríveis criaturas.
Não sei o que acontece. Volta e meia essas criaturas me atormentam durante o sono. Acho que desta vez foi porque estou na iminência – só não o fiz ainda por preguiça – de ligar para a TIM para reclamar de uma cobrança indevida e, claro, absurda na minha conta desse mês. Não quero nem ver quantas vezes elas vão estar transferindo a minha ligação. Tudo por causa de um disque-sexo, que é óbvio que eu não liguei (juro).
Aí acordei pensando "caramba, to sem assunto e não posso escrever de novo sobre telemarketing". Caros leitores, um alerta: buscar uma solução para uma enrascada dessas às 6h45 da manhã, um dia depois de um jogo pífio da seleção brasileira (mas que, como era contra a Argentina, vira sinônimo de churrasco), não é para qualquer um. Pensei, pensei, pensei e tudo o que consegui foi ficar mais irritado ainda com essas moçoilas.
Tá certo, é mentira. Minha reflexão me levou a pelo menos uma dúvida, o que já é grande coisa se levar em conta o horário nada favorável. É sempre bom lembrar que todo questionamento leva a uma pesquisa, e que essa pesquisa, por sua vez, produz um conhecimento científico. Não é para tanto, mas vamos à ela: o gerúndio existe na língua portuguesa e é perfeitamente aceito nos meios eruditos, certo? É uma forma verbal como qualquer outra, inclusive essencial em construções do tipo "olhe, seu filho está espancando o meu". O problema dele, do gerúndio, é que normalmente é usado de forma incomum por pessoas irritantes num momento em que a ira é algo mais do que natural para pelo menos um dos interlocutores (quando não ambos). Já falei disso por aqui, é o tal de traduzir a expressão em inglês I will be transferring ao pé da letra. Vira eu vou estar transferindo, claro.
A grande questão. Vamos à ela, finalmente: será que não existe momento certo na língua portuguesa para usar a famigerada construção "verbo no infinitivo + verbo no gerúndio"?
Tem que haver, gente. Não é uma construção totalmente errada do ponto de vista gramatical – pode perguntar para o professor Pasquale Cipro Neto. É uma expressão comumente execrada porque é normalmente usada por pessoas chatas, feias, bobas e burras na hora menos bem-vinda possível, e, como se não bastasse, só e tão somente no lugar da linguagem direta (vou estar transferindo ao invés de vou transferir). Pensei, pensei, pensei e tudo o que consegui foi ficar mais irritado ainda com essas moçoilas.
Ok, mentira de novo. Achei uma situação, mas não garanto nem um pouco que ela esteja correta. Aliás, quem puder me corrigir que por favor o faça; não conseguirei dormir a noite com esse barulho saindo de trás do armário. Imagine a situação: dois amigos conversam sobre suas respectivas amantes, que por acaso são irmãs e moram juntas num loft ao lado da praça Rui Barbosa (isso não ecziste; é só um fruto da minha imaginação). Um deles pergunta "ei, cara, vamos na casa das meninas hoje, às 18h30?" E o outro responde: "Não posso, nobre colega. A essa hora eu preciso estar dirigindo até em casa senão minha mulher me mata. Ela já está desconfiada, sempre me liga para conferir se estou mesmo no trânsito. Vamos fazer como sempre, às 20h00, na hora da nossa 'aula de boliche'".
A história foi mera ilustração, mas diga: está certo, não está?
Um comentário:
Vou estar concordando com você!
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