segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dama de vemelho

Estava num canto, encostado na parede e segurando um copo de whisky. Os ombros meio curvos e a cabeça ligeiramente inclinada para frente não eram nada animadores. Nem parecia que estava numa festa. Um amigo, o anfitrião, já havia desistido de chamá-lo para a pista de dança. Fora uma semana difícil, aquela, para ele, e ver os amigos rindo e se divertindo lhe parecia muito injusto. Só conseguia pensar nos problemas, nos compromissos, nas responsabilidades.

Subitamente, o salão lhe pareceu iluminado. Pela porta entrara uma moça de negros cabelos lisos, lábio finos e delicados, olhos fulminantes de quem sabe o que quer e um corpo que parecia ter sido esculpido dentro daquele vestido vermelho. E ela entrou olhando para ele. O rapaz logo se animou; tomou o whisky de um gole só e se dirigiu a uma cadeira vazia para pendurar seu paletó. Sem tirar os olhos da moça, pôs-se a dançar. Tão logo os amigos o viram requebrando no canto do salão, arrastaram-no para o meio da pista, longe dos olhares furtivos da dama de vermelho.

Bailaram até o amanhecer. Ele buscava a todo instante com os olhos a moça que lhe devolvera a alegria, sem sucesso. Ela parecia ter surgido na festa somente para recuperá-lo das trevas. De fato, conseguira: ele dançou a noite toda, todos os ritmos e com toda mulher que lhe cruzou a frente, como todos estavam acostumados. Só lamentou o fato de não poder rever sua musa. Ao final da festa, perguntava a todos se alguém tinha visto a garota. Ninguém vira.

Ficou arrasado. Aquela era a mulher da sua vida e jamais tornaria a vê-la. Na verdade, já nem tinha certeza se ela era de verdade. Podia ter sido apenas um fruto da sua imaginação. Voltou para casa, voltou à vida, aos problemas, às responsabilidades; e ela sempre lá, a iluminar seus pensamentos quando tudo parecia perdido. A dama de vermelho, um anjo que lhe surgiu num momento de fraqueza.

(Reza a lenda que alguns dias depois, quando ele tornou a vestir aquele paletó, havia no bolso um papel com um nome de mulher escrito e um número de telefone. Mas isso são apenas boatos; jamais saberemos a verdade)

2 comentários:

Anônimo disse...

meio boiola mas gostei. lembra-me um sorriso que ganhei na adolescência e fiquei feliz por dias!! que saudade.
abrç.
(Só dá eu aqui siô.)

Anônimo disse...

(o criminoso sempre volta ao local do crime)
agradeço sua visita no meu blog. que bom que gostou. espero que meus textos [não] lhe sejam [f]úteis. Não preciso de quantidade mas de qualidade de visitantes, como a sua.
1 abraço e volte sempre!!