quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Páginas da Vida

Aquele dia eu devia ter entrado à direita. Ou à esquerda. Mas estava tão cansado que acabei indo reto. Imagina ter que dar a seta e ainda virar todo o volante. Era três da madrugada, não tinha mais pique. Na verdade eu pensava que por lá também dava, que também eu ia chegar em casa. De fato cheguei, mas como demorou.
Já no começo fiquei impressionado. Nunca tinha percebido aquela rua por estas bandas. Quantos neons, quanto colorido. As pessoas davam risadas altas e o clima era de festa. Até me animei para dar uma esticadinha na noite. Parei o carro na primeira vaga disponível. Afobado , eu.
O cara já chegou pedindo "cincão pra dar uma olhadinha". Empolgado, dei; afinal a noite ia acabar muito bem, diferente de como começou. Eu já ouvia os batuques, os acordes, a gritaria. Visualizava tudo aquilo, imaginava como ia ser bom. Esqueceria das preocupações e ia apenas dar risadas. Ah... que sabor! Quanta euforia.
Entrei na primeira fila que me apareceu. Já comecei a dançar, beber, conversar. As pessoas eram simpáticas, a bebida gelada. Música boa, clima ideal. Tudo muito perfeito para ser verdade. Aí que tá: fui confundido, com certeza, com algum encrenqueiro que vivia por lá. Me escorraçaram e que eu nunca mais voltasse! Saí da fila totalmente atordoado.
Peguei o carro e segui meu caminho. Segui pela mesma rua. Devia ter feito meia volta e ido pelo caminho certo, mas não tinha nem organizado as idéias ainda. Eis que me surge outra chance, mais uma esperança. Vaga, "cincão", fila. Agora ia dar certo. Era mais uma tentativa, e agora tudo parecia tão mais organizado, tão mais favorável. Mas não. O encrenqueiro devia ser muito assíduo por ali – e deveras parecido comigo. Saí chutado, mais uma vez.
Agora cá estou, nas lamúrias de uma noite mal sucedida. Uma noite que parece não ter mais fim. Que insiste em voltar ao meu pensamento a cada fechar de olhos. Que ao mesmo tempo foi tão boa e tão ruim para minha pessoa. Foi passageira, cara, desgastante. Inesquecível. O pior é que fica perto de casa: vejo as luzes da janela do meu quarto; fecho os olhos e ouço a música; concentrando até lembro do cheiro. Inesquecível.
E tenho dito.

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