sexta-feira, 10 de novembro de 2006

O segredo da vida

Nada mais enfadonho do que conversar com um cara certinho, politicamente correto. Daqueles que nunca passaram um trote ou fingiram febre para matar aula. Essa pessoas não têm segredos. São mapeáveis, previsíveis. São como ônibus novos, que acabaram de entrar na linha. No começo são legais, mas com o tempo ficam infinitamente entediantes como todos os antigos. Não há nada a aprender com quem nunca se arriscou.
Todos precisam de segredos. Aquelas pessoas extremamente educadas ou forçadamente simpáticas não são encantadoras. Só a imprevisibilidade é capaz de cativar. O que faz nascer um certo feitiço é justamente a falta de obviedade. Quando se sai para velejar, espera-se algumas ondas. Mar muito calmo só serve para dormir.
A curiosidade é natural do ser humano. Ter tudo de mão beijada perde a graça, facilita as coisas. Amamos o desconhecido de um jeito tão fascinante quanto arriscado - por isso anda-se de kart, escala-se montanhas, faz-se excursão para a Namíbia, come-se fora de casa. São tentativas de conhecer novos temperos que despertem o paladar. Tentativas de atingir aquele ponto na mente até então adormecido.
A atração pelo desconhecido nos faz buscar o indomável. Ninguém quer a garotinha que se entrega totalmente logo de início. O bom mesmo é aquela mulher secreta, fechada, que "nunca te dará bola". Elas fazem com que a imaginação vá às alturas nas suposições das respostas para os seus segredos. Taí o porque Paola Oliveira é apenas mais um esquecível rostinho lindo e Juliana Paes segue como uma semideusa conturbada (e conturbante).
Ter segredos é o efeito de viver intensamente. Tenha saldo negativo um dia. Paquere a moça do caixa. Xingue o bandeirinha deliberadamente - xaveque se for a Márcia Regina. Viva a vida. Se arrisque, porque quem não arrisca não vive. O tempo é sagrado e usufrua dele com paixão. Apenas caminhe lentamente sobre os dias, sem deixar pegadas, rumo à noite, à morte. Morte, esta, que talvez seja o segredo desta vida.

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