quinta-feira, 4 de março de 2010

Tio Joel e o amor

Quem já ouviu falar do Tio Joel sabe que sabedoria popular é seu sobrenome. São deles todos aqueles conselhos úteis e precisos sobre como tirar a mancha do carpete ou se livrar do chulé usando apenas casca de laranja e azeite de oliva (desde que, claro, o azeite seja extra-virgem). Dele nada escapa: a tosse contida de uma criança é suficiente para o doutor Tio Joel dizer que tipo de doença ela tem.

Quando diz respeito a relações inter-pessoais, porém, Tio Joel ataca em outra frente. Os conhecimentos continuam lá, porque um homem sábio é sempre um homem sábio, mas ele prefere fugir das dicas úteis e precisas da sabedoria popular para fazer o pupilo refletir usando a boa e velha filosofia popular.

Foi assim quando alguém resolveu perguntar-lhe o que era o amor.

"Filho, o amor é uma coisa complicada. Eu poderia te enrolar aqui dizendo aquelas bobeiras de que amor é quando um olhar encontra o outro e as mãos começam a suar e o coração bate mais rápido e os pés formigam e o estômago entra em parafuso e você, naquele momento, sabe que é ela. Não tem nada disso. Ou tem, mas não acontece tudo de uma vez e não tão de repente assim.

"Quando o amor acontece, você olha para ela e acha que é, mas não tem certeza alguma. Você dá aquela olhada meio de lado, uma giradinha na cabeça meio que pensando 'mas que...?' e vai fazer outra coisa. Quando você menos espera, pode ser no ônibus, arrumando o sifão da pia ou no meio daquele copo de whisky (Tio Joel adora referências pop), ela aparece na sua mente. Puf! E mais uma vez você pensa 'mas que...?', dá uma chacoalhada para ver se bota as idéias em ordem novamente e segue a vida.

"Depois de um tempo, meu filho, essas aparições ficam mais constantes. Você faz menos a pergunta 'mas que...?' e quer estar com ela. Você quer ligar, mas não sabe o que falaria; você liga e desliga antes de ela atender; você manda recados esperando aquela resposta para a qual a tréplica já está até escrita. Se ela responde, ela te ama e o futuro é radioso, tenham vocês 14, 22 ou 40 anos. Se ela não responde, você está sozinho nessa - e esse é o problema com o amor.

"O amor não te deixa. Nunca. Por isso acho que a palavra amor é tão banalizada: amor de verdade só existe um, e você nunca sabe onde e como irá encontrá-lo. Se você já achou o seu, ele vai lhe acompanhar pelo resto da vida, quer ela queria, quer não. Uns viram psicopatas por isso, mas a maioria segue a vida. Ficam tentando achar outro. Tentando e tentando, até que se contentam com menos e acabam se casando - como eu e sua tia.

"Eu tive um amor, mas ela não correspondeu. Por isso sei de tudo isso".

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