terça-feira, 9 de março de 2010

Acidentes acontecem

À parte da tristeza e o sentimento de infortúnio causados, o acidente no futsal do último sábado (que acabou matando o jogador Robson Rocha Castro) serviu para indignar ainda mais os anti-moralistas. Vale frisar que a perda de um atleta AND um ser humano não tem nada que ser comemorado, e que se Deus existisse coisas como essas não aconteceriam. O que indigna os anti-moralistas é o fato de já terem iniciado o processo de caça às bruxas num caso desse.

Um acidente - e é bom que fique bem claro que acidente significa uma casualidade, uma fatalidade imprevista - tem culpados? Bom, sim, se considerarmos que a causa do acidente tenha sido negligência. Mas, por outro lado, mesmo que tenha havido negligência, a resposta pode ser não, pois um acidente poderia acontecer com qualquer um e a qualquer momento - e a negligência, portanto, não seria um fato assim tão determinante.

O ponto aqui é que a força-tarefa empregada na caça-às-bruxas-pós-acidente é diretamente proporcional ao status adquirido pelo desafortunado acidentado. Se em Barretos morre o cantor que estava assistindo ao rodeio na área VIP, o dono do touro é preso em menos de dois dias, e não sem antes processarem toda a linhagem do animal (o de chifres [o touro!]) e seus respectivos criadores. Se morre o Palhaço responsável por desamarrar o saco do bicho, coitado, mal rezam-lhe duas ave-marias.

E não que o saudoso Robson fosse famoso. Pelo contrário. Muitos que leram "o saudoso Robson" na frase anterior tiveram que pensar por alguns segundos ou mesmo recorrer ao primeiro parágrafo do texto para saber de quem se tratava. O jogador falecido não era nem um pouco famoso, ao menos fora das rodinhas especializadas. Mas foi um acidente inusitado. Não é todo dia que alguém morre por dar um carrinho numa quadra de futsal. E, como tudo o que é inusitado, o episódio ganhou as mídias numa velocidade que nem Euller, o Filho do Vento, conseguiria atingir.

Está na mídia, é celebridade; é celebridade, exige respostas rápidas. "Já estamos verificando as circunstâncias e em pouco tempo teremos o nome do responsável", disse a delegada responsável pelo caso. A pergunta: para que se necessita de uma delegada num caso assim? E "responsável pelo caso"? Certo, é claro que é primordial averiguar qualquer caso de negligência, mas já foi noticiado uma centena de vezes que o ginásio onde ocorreu a partida não só tinha permissão para sediar jogos como recebia uma avaliação semestral da Defesa Civil. Isso, por si só, não seria suficiente para isentar qualquer um que não da própria Defesa Civil de uma responsabilidade? E se o único "culpado" pode ter sido alguém da Defesa Civil, órgão do governo, que eles se entendam entre si e deixem de atormentar os responsáveis pelo ginásio e suas famílias com ameaças de prisão.

Acidentes acontecem. Tanto foi com Robson como poderia acontecer com qualquer um. E poderia não ser fatal, até. E poderia nunca acontecer. Essas coisas se dão por combinações de fatores jamais imagináveis - daí ser chamado de acidente. Robson Rocha Costa estava no lugar errado, na hora errada. Era um jogo festivo e ele poderia nem sequer ter sido chamado. Acontece, como poderia acontecer comigo ou com você ou com seu tio com sobrepeso, que tanto jogamos em quadras sem qualquer avaliação de Defesa alguma, que dirá a Civil.

Acidentes são apenas formas aleatórias de Deus fazer sua seleção natural.

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